Monday, August 20, 2018

O Sérgio e Eu - uma luta contra a Pós-Verdade

O FC Porto venceu este fim-de-semana o Belenenses por 3-2 e cada uma das equipas beneficiou de um penalty.
Quando vi o penalty contra o Porto na TV pensei: foda-se, mas isto não é penalty! e depois vi o penalty a favor do Porto e pensei a mesmíssima coisa.
Em suma: uma pessoa racional e honesta considerará que ou não é nenhum ou que são os dois.

Uns minutos depois, vi o Sérgio Conceição dizer foi utilizado o mesmo critério em ambos os lances o que é a forma mais honesta possível no contexto do futebol nacional.

O problema com que o Sérgio se depara é igual àquele com que se deparam quase todos os não-mentecaptos em todos os panoramas e em todas as actividades: a honestidade prejudica.

Ah, K, mas isso sempre foi assim! e estarão do lado da razão mas não tenho conhecimento de outro momento em que tal se tenha revelado tão determinante e extremo.
Exemplo: isto passou a ter a designação oficial de Pós-Verdade. Reparem: foi preciso dar uma nome a isto o que, por si só, demonstra a existência de uma necessidade contínua de designar este comportamento de forma sucinta e facilmente perceptível.

Apelo às emoções e às crenças pessoais, em detrimento de factos apurados ou da verdade objectiva.
Isto, enquanto crescia, chamava-se mentira.

...e é por isso que o Sérgio está mais ou menos fodido, como os mais de nós que ainda atribuem os termos verdade e mentira ao que é dito.
Esta insistência do Sérgio em ser honesto leva a que fique exposto e, por conseguinte, a que o clube fique exposto também.
Enquanto o Sérgio assume que ou são os dois ou não é nenhum, o SLB vem, em comunicado, dizer que o Porto foi porcamente beneficiado;
Enquanto o Sérgio assume que ou são os dois ou não é nenhum, o treinador do SLB vem dizer que no último jogo ganharam por 2 mas podiam ter sido 7 ou 8!! só que não podiam.

Ora,
porque, hoje, as pessoas confiam no que se diz e não no que comprova, a honestidade está pelas ruas da amargura e, com ela, a decência e o próprio sustento de uma sociedade.

Eu aplaudo o Sérgio - sempre foi assim porque ele sempre foi assim. Tem defeitos e é destemperado, muitas vezes, mas sempre o tive como honesto - mas estes aplausos não vão adiantar nada quando ele for despedido ou insultado por dizer o que vê e se recusar a apelar às emoções e às crenças pessoais, em detrimento de factos apurados ou da verdade objectiva.

Tristemente, acho que isto que descrevi é um dos muitos motivos que me levam a sentir desconfortável no Mundo em que me insiro.
Este fim-de-semana fui dar um passeio para o meio do monte e, como acontece sempre de há anos para cá, pensei caralho, eu ficava aqui, agora!. E não pensei isto em termos de revolta mas em termos de paz; não é um pensamento belicoso mas pacífico.

Não estou com vontade de me rebelar contra a sociedade;
Estou com vontade de não colaborar com ela.


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