Friday, August 18, 2006

The Fly

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"It's no secret that a liar won't believe anyone else"
A projecção dos medos.
Olhando com atenção para quem te rodeia e para o tipo de medos, ou falta deles, vê-se com maior ou menor exactidão o que constitui a personalidade e os olhos com que se vê o mundo.
Parece de todo natural que um tipo que diz sempre a verdade desconfie muito pouco que lhe mintam.
Poder-se-á chamar de inocência...que até é, no entanto, é muito difícil pensar-se numa qualquer coisa que não faz parte de nós.
Se pra ti é de todo natural dizeres a verdade, reveste-se de estranho o facto de te mentirem.
O mesmo vale para o mentiroso...mas ao contrário.
Veja-se por exemplo um tipo que seja assassino a soldo.
Este passará a vida a olhar por cima do ombro porque o quotidiano dele é ser a mosca que observa o próximo alvo.
Agora eu, que nem sou (muito) esquisofrenico, porque teria medo de ser assassinado?
Não me ocorre porque é um mundo onde não vivo e é, supostamente, um risco que não corro.
É como aquele teu amigo forreta. Ele é forreta porque tem dinheiro, quem não o tem não tem qualquer necessidade de o poupar.
Eu sempre perdi muito tempo (ou ganhei) a observar como as pessoas andam, que tipo de passo utilizam, pra onde olham, o que temem....
Foi um hobby que se transformou profissão, hoje a minha competência, capacidade e eficiência dependem em larga medida da minha capacidade de ouvir o que não se diz.
Coisas inofensivas.....
Por exemplo, pra onde olham quando falam contigo, a alteração de um tom de voz, tiques nervosos...esse tipo de coisas.
Para potenciar movimentos e palavras reflexivas e não pensadas fui-me aperfeiçoando na arte do picar, na arte de irritar, na arte de chamar mentiroso sem o dizer, de duvidar sem o fazer claramente, de repetir a mesma coisa 10 vezes sem repetir palavras... o Torturador dos Tempos Modernos.
Em consequência, não tomo as palavras como inocentes, ainda que o sejam.
Em consequência,vivo em permanente alerta.
Em consequência, "trabalho" 18 horas por dia (as que estou acordado).
Se é saudável? Não, não acho que seja.
Se há saída? Não, não acho que haja.

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