Apesar de à primeira vista não parecer, não sou um gajo intempestivo. À medida que o tempo passa vou-me tornando cada vez menos mas nunca fui tanto quanto parecia.
Havia uma ideia, que não cultivei mas que também não desmenti (a menos que mo perguntassem directamente), de que o Inferno estava ao virar da esquina, a irritação iria dar lugar a raiva em muito pouco tempo.
Porque aconteceu isto?
Porque, de facto, passo da irritação à raiva com uma velocidade enorma mas demoro a chegar à irritação e isto, pura e simplesmente, não se vê porque não há, em mim, exteriorização.
Parece, também, que tomo decisões radicais à velocidade da luz, o que também é errado. Apenas o faço quando não tenho, de facto, tempo. Em todos os outros casos eu até demoro algum tempo a decidir, só não demoro nada a executar. Mais uma vez, a parte invisível de ponderação não aparece por isso pensa-se que decidi tudo entre o dizer e o fazer, o que não é, de todo, verdade.
Sou, ainda, bom a aguentar as consequências sem me queixar. A fraqueza de ser incapaz de exteriorizar, em palavras ou actos, sentimentos que não me agradam - sem terem, necessariamente, de ser maus - também evita que passe por coitadinho ainda que, como todos nós, às vezes o seja.
Apesar de este parecer um exercício masturbatório não o é. Estas evidências de bons traços de carácter, se é que o são, têm na sua sombra a incapacidade de lidar, por exemplo, com o fracasso. Aprendi, mais ou menos, a aguentar o erro mas não o fracasso.
Gente estóica tem disto...
É como a mobília que parece impecável mas se desfaz mal abrimos uma gaveta porque está infestada de térmitas.
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