Porquê a Arte?
Ultimamente tenho cozinhado mais. Uns 4 ou 5 dias por semana, talvez mais próximo dos 5 que dos 4.
Juntamente com esta actividade mais acentuada, tenho, também, ouvido mais música porque o tenho feito exactamente enquanto cozinho.
Ontem, depois de dar uma reviravolta nos CDs à procura de alguma coisa para ouvir deparei-me com o OK Computer dos Radiohead, um CD que não ouvia há bastante tempo porque, desde há uns tempos para cá, tenho andado mais virado para o Jazz e a Bossa e o Choro e o Charlie Parker e o Monk e o Getz... enfim, a idade vai-me apanhando e vou dando mais valor à harmonia e a execução do que à força bruta que me acompanhava na época do grunge e afins.
O CD começou a rolar e, para ser sincero, já não me lembrava do alinhamento do disco. Conheço o reportório completo dos Radiohead mas não necessariamente onde andam todas as músicas e como se agrupam.
Então, a dado momento, no momento certo, naturalmente, começou a dar a Lucky, umas das minhas músicas favoritas. Naquele momento deixei de ser capaz de cortar cebolas ou marinar carne; deixei de conseguir ver medidas e alourar cenas; naquele momento não conseguia raciocinar para além da melancolia arquitectónica de uma extraordinária beleza e de uma voz que nos leva para longe onde as cores se esbatem e tudo é sentimento, tudo é um aflorar de sentidos. Para uns será dor e para outros será prazer.
Depois da música acabar lembrei-me, por exemplo, que não consigo ouvir música enquanto estou a malhar uma menina porque ouvir música, para mim, implica exactamente ouvir e muito pouco mais; não sou capaz de desenvolver decentemente duas actividades que ocupam tanto...
Então porquê a Arte?
Nestes dias em que vivemos, todos nós, imersos em economia e euros e taxas de juros e marginais e impostos directos e indirectos, sentimo-nos incapazes ou a padecer de uma fobia que não conseguimos identificar.
Mas é isso que são, Estes Dias. É muito provável e desejável que, a dado momento, os dias sejam outros mas com a Arte, seja ele qual for desde que nos agrade, os dias não são outros, são sempre os mesmo.
O dinheiro e as coisas palpáveis definham, a Arte não!
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