Wednesday, July 24, 2013

Confucio

Há uns dias surgiu a notícia que de que a China ia criminalizar a não visitação dos pais pelos filhos.
À mesa, toda a gente ficou chocada menos eu. Não que a ideia não seja, aos olhos ocidentais, uma insanidade mas com um pouco de conhecimento de como as coisas funcionam no império do meio, tanto em termos culturais como em termos da ditadura que é, a estupefacção seria menor.
Aliás, não foi difícil aos repórteres encontrarem chineses tão indignados como os ocidentais quanto à matéria e, correndo o risco de dizer inanidades, como sempre corro, esta indignação de alguns chineses será um dos motivos para que a tal lei tenha entrado em vigor.

Os tipos que mandam na China não são parvos. Podem ser muitas coisas mas parvos não são.

Eles hão-de ter percebido algumas coisas e uma delas é que a modernização chinesa e o nascimento de uma classe média poderia levantar problemas porque se quem nada tem se contenta com pouco quem tem pouco quer mais um bocado e isto tem um efeito exponencial.
Ora, esta lei é a codificação de um costume que se baseia no Confúcio; é passar a letra o costume de que a família é o núcleo essencial e de que é obrigação dos filhos tratarem dos pais. Na verdade, foi este princípio e costume irrevogável (não no sentido do Portas mas no real) que levou a que o pessoal quisesse ter o maior número de filhos que conseguisse para assegurar a velhice, como tinham feito com eles os seus pais e por aí adiante.
Este princípio é, contudo, mais fácil de realizar quando a base é agrícola e quando a miséria grassa porque não é questionado. É a sobrevivência e não o conforto.
À medida que a China se industrializou e o pessoal começou a mandar-se para as cidades aconteceu o mesmo que em qualquer parte do mundo: mais gente mas mais atomizada. Mais oportunidades mas mais gastos...e isto leva a que cada vez mais pessoas tentem libertar-se do peso da velhice e queira que o Estado se encarregue disso.

Foi sempre assim a evolução para o capitalismo e será assim também na China.
Tanto assim é que foi legislado algo cuja necessidade era impensável há uma década.
O Governo chinês quer segurar a tradição e, de caminho, evitar gastos sociais.

A juntar a esta festarola temos o Brasil.
É verdade que isto é uma abstracção do problema, ou seja, é tentar ver o Efeito Borbuleta enquanto ele ocorre, o que torna a hipótese de falhar muito maior mas...
As manifs no Brasil, na minha opinião, foram um alarme que despertou muitas das ditaduras que ainda polulam, assim como a Primavera Árabe o foi para o pessoal daquela parte do globo.
O nascimento da classe média, o que aconteceu com Lula apesar de todos os mensalões desta vida, levou a que a expectativa crescesse, levou a que a exigência crescesse, levou a que o controlo de mentalidades se tornasse mais difícil. JAMAIS pensei que veria brasileiros a exigir melhor saúde e melhor educação em troca de uma mundial de futebol! Nunca! E aconteceu.

Visto isto, os chineses querem continuar a controlar os seus cidadãos com punho de ferro mas isto tornar-se-á cada vez mais difícil à medida que estes tenham outras preocupações além da próxima refeição.
Aliás, com algum conhecimento histórico, é bom de ver que quando os governantes chineses vêm que a coisa está a descontrolar, fecham-se ao desenvolvimento.
Por exemplo, a marinha mercante chinesa era gigante séculos antes das outras serem grandes. O comércio marítimo chinês foi gigante séculos antes de outros povos o tornarem apenas grande. Quando os gajos que mandavam viram que a riqueza estava a crescer fora das suas mãos fecharam a porta...e atiraram a china uns séculos para trás.

Fizeram-no antes e se conseguirem farão novamente.
Eles como os outros (e os outros são todos) impedirão a emancipação o máximo que lhes for possível.

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