Crashs e Cenas
Li uma vez a história abreviada de Nathan Rotschild, o tipo que terá dito que não lhe interessava quem fizesse as leis desde que ele controlasse o dinheiro (parafraseando).
Na City há uma coluna que tem o seu nome, a coluna onde ele se encostava e dava ordens enquanto o pessoal dava o suor para as cumprir. As pessoas sabiam que ele estava lá e olhavam-no e estudavam-no; afinal de contas ele era o Oráculo reencarnado o que, ao que parece, não era necessariamente a maior hipérbole do mundo.
Ainda assim, tudo é um jogo de percepções.
Por falta de memória e, também, por falta de vontade de desenvolver pesquisa, contarei aquilo que me interessa sem muitos pormenores porque aqui, como em quase todo lado, o que me interessa é a moral da cena.
O Nathan tinha espiões que iam ver e analisar as coisas que se passavam no mundo in loco para que as informações de que dispunha fossem as melhores e mais fidedignas, bem como as mais rápidas. Não era um segredo, o resto do pessoal do metier também sabia disto...e o Nathan sabia que eles sabiam.
Ora, quando se estava a dar uma batalha fundamental entre Inglaterra e França, batalha que decidiria a guerra, o Nathan mandou gente para ver como aquilo corria e para que lado ia cair a vitória.
Quando o informador chegou, disse o Nathan que a Inglaterra iria ganhar e, acto contínuo, Nathan mandou os empregados venderem tudo que tinham na City...porque sabia que os outros sabiam que ele sabia; quando todos perceberam o que se estava a passar, começaram, também, a vender tudo por pensarem que Inglaterra tinham perdido.
No momento em que os preços tombaram para mínimos ridículos, Nathan comprou tudo e, ao que parece, multiplicou a sua fortuna várias vezes. Sem nada produzir, claro, só com base no logro.
Esta história veio-me à mente quando vi o crash causado, supostamente, pelo Portas e o aumento dos juros da dívida.
Sem negligenciar as ramificações do caso, é imprescindível que se perceba que as empresas que caíram não perderam, factualmente, nada. Quer porque os preços voltaram a subir quer porque não pararam de produzir nem de vender nem de pagar salários nem de gastar electricidade nem nada de semelhante.
É evidente que isto traz complicações mas os únicos que terão perdido dinheiro (e até isto pode ser discutido) foram os que ganham dinheiro à custa das firmas e não com as firmas. Aqueles a quem a produção ou o prejuízo ou o lucro é indiferente. Aqueles que compram a descoberto e que nunca mas nunca viram, em concreto, o que compram e vendem.
Não quero com isto dizer que devemos descurar a importância bolsista mas tudo tem de ser visto com moderação e calma.
É o pânico que leva a más decisões; foi o pânico dos outros que multiplicou a fortuna do Nathan.
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