Egipto
O que se passa agora no Egipto é bastante inquietante. Não apenas por conta do número de mortes e da forma como aconteceram (e suponho continuem a acontecer) mas também porque pode ser a janela que nos mostra o que acontece quando se tem aquilo que se pede.
Quando se mandou embora o Mubarak o mundo rejubilou. Eu fiquei contente mas senti-me algo tenso porque penso, primeiro, em termos de realpolitik. Não tenho orgulho nisso nem o sinto como gratificante mas por defeito de personalidade e também profissional tenho tendência para um imediato e agora pouco tempo depois de consumado um facto.
O e agora acaba de acontecer. Não foi a eleição do Presidente. O meu e agora tendia para a democracia em si, quando entra, realmente, em prática.
Vemos o que acontece num país sem qualquer tradição democrática. Um país que poderá, até, saber o que quer mas que tem demasiados entraves para lá chegar sem derramamento de sangue. A Democracia também é suja.
Falando, agora, da sujidade da Democracia.
A Democracia, como qualquer outra forma de governação, teve de lutar pela sua sobrevivência ou pelo seu nascimento. Não é costumeiro (para dizer que seria caso virgem) alguém ou alguma estrutura abrir mão do poder em favor de outra pelo que a implantação das Democracias modernas (aquela em que vivemos e as outras que encontramos pelo mundo) tiveram a sua génese na violência, quer maior quer menos mas sempre violência.
Hoje parece que esquecemos que as transições ou as próprias guerras não são campos floridos. Porque nos sentimos civilizados perdemos a noção de que, por exemplo, em Guerras morrem pessoas e que essas pessoas, as mais das vezes, são inocentes. Ora, parece que nos choca que morra gente na Guerra mas não a Guerra em si. Os drones são o próximo passo para que as Guerras levadas a cabo pelos ricos possam ser feitas sobre toalhas de linho.
A transição para uma Democracia nunca foi muito diferente de uma Guerra. Até envolveu o próprio vocábulo acrescido de Civil. O truque de magia em que se passa de Ditadura para Democracia só fazia sentido na cabeça do Bush e, talvez, de mais meia dúzia de mentecaptos.
A tradição não se faz em 6 meses e a Democracia também não.
Então, o que é que o pessoal vai fazer?
Por muito estranho que possa parecer talvez não devesse fazer nada. Eu sei que é uma postura muito pouco humanista mas para se fazer alguma coisa terá de se encontrar um novo Mubarak. E se for essa a solução não vale a pena imaginar que a coisa é democrática.
Se algo for imposto (quer expressa quer tacitamente) o próprio conceito de Democracia está morto à partida mas a questão é, também, por quanto tempo será admitido o assassinato de gente que, ainda pior, é transmitido na TV (a julgar pela Síria ainda é capaz de durar).
Temos, então, aquilo que me parece ser o confronto entre a realidade e a realidade que conseguimos aguentar.
A Democracia não pode ser imposta. A carnificina não pode ser admitida.
O Egipto só é uma surpresa para alguém para quem o Iraque também o foi. E devem ser cada vez menos pessoas.
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