Friday, August 23, 2013

Novamente, Bourdain...

Não sei o que me levou a ver, novamente, o episódio do No Reservations em Lisboa mas a verdade é que o vi.
Tenho ideia que já aqui falei dele e do quanto me desgostou pelo provincianismo e a excessiva referência à crise, aos preços e à escuridão em geral. Não sou a favor de que se minta mas sou a favor que se mantenha a ideia geral que conforma um programa e o No Reservations, independentemente do lugar onde vai (e já foi a lugares bem mais desgraçados do que Lisboa) tende a ser divertido e colorido, o que não aconteceu por cá.

Desta vez, contudo, decidi ficar irritado com outra coisa. Decidi, também, extrapolar o que se pensa saber de onde quer que seja para onde quer que estejamos.
O Lobo Antunes disse aquilo que entendia dever dizer e quanto a isso pouco há a dizer (embora me tenha apanhado de surpresa quando referiu que a heroína era mais barata que os cigarros durante o Estado Novo). Relatou aquilo que entendia dever relatar e da forma como terá apreendido a experiência da ditadura.
Pareceu-me manifestamente exagerado mas como não vivi o período penso que me é permitido ter uma visão mais fria ainda que eventualmente mais precisa.

Ora, em voz off, ainda durante esta entrevista ou conversa com o Lobo Antunes, o Bourdain extrapolou a forma como o escritor falava e entendeu por bem dizer, ilustrando com maneirismos a decorrer, que aqui ainda se falava em sordina sobre Salazar e que ainda se sentia o peso da ditadura passada.
Não é verdade.
Eu vivo aqui e sei que não é verdade.
Pode ter sido mais um prego para dinamizar a já imensamente presente penumbra e ambiente depressivo mas pura e simplesmente não é verdade.

Levou-me isto a pensar, naturalmente, o quanto daquilo que vemos, lemos, ouvimos vindo de outros lugares onde nunca estivemos pode ser mentira, manipulação ou simples ignorância de quem transmite.
Eu sei que o No Reservations não pretendia ser um documentária mas sim um programa sobre comida mas o facto é que o caminho que trilhou passou a tender mais para o primeiro do que para o último. E se o caminho é este, pede-se mais.

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