Wednesday, September 25, 2013

Ainda antes de saber como verbalizar a coisa tinha a dúvida quanto ao facto de padecer de misantropia, erimitismo ou solipsismo. Uso estes três termos porque são os que me ocorrem para eventualmente descrever um sentimento a que não chamo solidão porque não o entendo como um peso ou algo que aconteceu contra a minha vontade.

Misantropo não sou.
Não sinto, exactamente, uma aversão, em maior ou menos medida para com a humanidade. Não me parece que me tenha desapontado com ela porque nunca me apontei. Se algum dia a eventual ilusão se quebrou aconteceu antes de ter consciência disso. Ou se foi depois, continuei sem me aperceber.
O pessoal quer preoteger o seu próprio rabo, foi o que sempre pensei e, até agora, não me parece que, como regra geral, esteja errado.

Eremita não sou mas gostava de ser.
Não vivo em lugar deserto e longe da civilização. Também não tenho vontade de me penitenciar e não amo com particular intensidade a natureza.
O motivo pelo qual pondero o Eremita tem que ver com a vontade e o à vontade com que vou sozinho. É um sentimento de solidão agradável no sentido em que não conheço quem vejo nem o que vejo mas, factualmente, solidão não é. Até me agrada ficar um ou dois dias sem ver gente (ou até mais) mas não me sinto confortável, neste momento, a pensar em ser o Thoreau.
Gosto que me deixem em paz, é mais isso.

Solipsista tende a ser mais verdade.
A título de exemplo, sempre me custou ler poesia e romances e que tais. Tenho um desinteresse intrínseco ao que se passa, subjectivamente, fora de mim. É verdade que não se passa o mesmo em todas as formas de arte. Gosto muito de música e gosto muito de cinema mas em ambos os casos este meu desinteresse é desviado pelas cores e paisagens e pelas notas musicias mais do que pelos diálogos e letras; gosto do impacto que provoca em mim. Não tanto o impacto que criou aquela música ou aquele filme.

O problema com todas estas considerações pseudo-intelectuais e atinentes a uma enorme profundidade de pensamento tem que ver, apenas, com escolha.
O Misantropo assume-se assim enquanto pode escolher a sua misantropia.
O mesmo para o Eremita.
O mesmo para o Solipsista.

No momento em que a realidade e o devir empurram qualquer pessoa para a posição em que esta não goste/não tenha contacto/não se interesse por pessoas toda esta construção de cachimbo na boca se torna, só e apenas, em infelicidade e solidão.
Se eu fujo para a floresta porque quero, tudo bem. Se fujo para a floresta porque me empurram, tudo mal.
Se me fecho em casa porque quero, tudo bem. Se me fecho em casa porque não posso sair, tudo mal.

Todas as manhãs, em África, a gazela acorda e sabe que tem de correr mais que o leão mais rápido ou será morta. Todas as manhãs, em África, o leão acorda e sabe que tem de correr mais do que a gazela mais lenta ou morrerá de fome.
Não interessa se és uma gazela ou um leão, quando o sol nascer é bom que estejas a correr!
Christopher McDougall



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