Calvino
Este FDS que passou li uma biografia de Italo Calvino. Não é uma biografia classica mas antes uma composição de cartas e artigos e entrevistas do próprio sobre si mesmo. Fui ler porque achava que devia.
Da leitura da coisa o que me parece mais interessante sobre Calvino foi um sentimento que transmitia sem receio de que preferia ou sentia-se mais livre quando escrevia coisas sob encomenda do que quando escrevia por moto próprio. Achava o Calvino que quando escrevia as suas cenas tinha necessidade de as justificar porque, afinal, o que poderia interessar o que era eminentemente seu aos outros? Estava a chateá-los sem que eles pedissem para ser chateados.
É uma perspectiva interessante que entendo muito bem. Só é realmente engraçado porque, como se sabe, muita gente se interessa pelas cenas dele sem pedir qualquer justificação.
A outra coisa que me pareceu muito interessante foi a sua relação com o Comunismo e, mormente, com Estaline.
Li várias coisas que não me lembro de ter lido em outras paragens. Por exemplo, diz Calvino que na época em que se juntou aos Comunistas entre a verdade e a revolução, escolhe-se a revolução! para remeter para canto as barbaridades de Estaline. Não digo que seja novidade mas de forma explícita nunca tinha visto.
O divórcio com o Comunismo é, também, muito interessante mas aqui já não vejo interessante como significado de único. Isto parace-me muito comum. Calvino, como muitos e muitos pretéritos Comunistas, percebeu que não poderia sê-lo depois de perceber o que aquilo realmente era. Percebeu que não foi a libertação de classes mas o seu aprisionamento e não foi igualitário mas exactamente o seu contrário. Descobriu, ainda, que os artistas eram grandes apoiantes do movimento mas que deixavam de existir enquanto artistas se apanhados dentro das fronteiras da coisa.
Foi, ainda assim, honesto quando nos disse que não desconhecia as atrocidades só que como elas estavam muito longe não pareciam reais... e quando foram reais...
Gostei mas, sem nada que ver com o que escrevi, levantou-me um problema enorme: os escritores que tenho em maior consideração adoram Borges e eu não gosto de contos. Mas parece que vou ter de ler.
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