Wednesday, September 18, 2013

Mundinhos

Há uns anos um amigo foi trabalhar para o departamento médico de um clube de futebol. As coisa que ele contou quanto ao relacionamento dos pais com os jovens atletas e mesmo com o clube eram alucinantes para mim. Foi, talvez, a primeira vez em que pensei que não são apenas as crianças que trabalham no campo ou a construir IPhones na China que são vítimas de trabalho infantil; fez-me pensar nos jovens actores, músicos, futebolistas e por aí fora (não deixando de ser engraçado que a Unicef está nas camisolas do Barcelona e o Barcelona vai recrutar crianças como Messi).

O que mais me impressionou, contudo, não foi esta realidade que já tinha imaginado nem o facto de serem os pais a pressionar o departamento médico para que os filhos jogassem desse por onde desse. Ambas as coisas são reprováveis mas previsíveis. Afinal, é de mentalidades como esta que nascem as Cyrus e os Biebers desta vida.
O que me apanhou desprevenido foi isto:
Durante a conversa que tive com este meu amigo não me inibi de criticar aqueles pais que não se interessam pelos estudos dos filhos mas antes pelo facto de eles irem treinar na eventualidade de serem bem sucedidos e assim resolverem o problema a toda a família. Exploração ridícula e a lembrar tempos idos em que os filhos não eram mais do que um investimento para lavrar a terra.

A resposta dele, contudo, foi desarmante: Estás enganado. A diferença não está entre estudarem ou jogarem futebol. A diferença está entre serem trolhas agora ou daqui a uns anos e o pessoal vai sempre a tempo de ser trolha.

Ele estava certo. Quando pensei na envolvência de muitas destas pessoas, pareceu-me que quem estava enganado era eu porque, como acontece a todos nós, usamos as nossas experiências, expectativas e desejos para medir a forma de actuar dos outros.
A maioria absoluta daquelas crianças só iriam ver uma universidade da parte de fora. Não por serem burras mas porque não havia forma de ser diferente. Os pais não podiam prover por estudos e se, eventualmente, pudessem, isso não estaria ainda assim nas suas perspectivas. A diferença, de facto, era entre trabalho braçal e pouco qualificado agora ou depois e havia a hipótese, por mais pequena que fosse, que esse depois não acontecesse porque os pontapés na bola poderiam resultar.

Não direi que foi uma apresentação à humildade.
Direi que foi uma apresentação à realidade.

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