Thursday, September 12, 2013

Pico de Hubbert

O Pico de Hubbert é um modelo matemático que nos revela o ponto a partir do qual a produção mundial de petróleo começará a decrescer. Trata-se de uma estimativa (um educated guess) porque o ponto em questão só poderá ser realmente comprovado depois de acontecer.
Mais termo técnico, menos termo técnico, o Pico de Hubbert é uma evidência imensamente depressiva mas que se aplica ao que quer que pretendamos aplicá-lo.

É muito comum, por exemplo, ouvirmos dizer de forma discriminada que o melhor ainda está por vir, algo absolutamente impossível de afirmar porque o melhor da nossa vida só será visto depois de passado e ponderado todo o caminho. Ou seja, o melhor pode já ter passado e não sabemos ainda que o possamos intuir.
Não é muito diferente o tipo de raciocínio que temos de desenvolver para qualquer outro aspecto da nossa vida ou, mesmo, da vida dos outros. Acreditamos que a nossa capacidade de resistência é sempre um pouco mais à frente mas podemos ultrapassá-la sem darmos por ela; acreditamos que mais um wiskey não fará qualquer diferença mas um desses mais uns vai ser o responsável pela perda de memória da noite anterior; acreditamos que vamos sempre arranjar uma gaja melhor (seja melhor de mais boa ou melhor de melhor mulher) mas podemos acabar com uma galdéria; acreditamos que o sol nascerá de novo para nós no dia seguinte mas podemos não voltar a vê-lo.

Usamos, ainda assim, uma forma ou outra de Pico de Hubbert. Tentamos prever quando o pico irá acontecer mas, contrariamente ao petróleo que é gerado pela natureza, tentamos controlar o desenvolvimento dos acontecimentos que inevitavelmente acontecerão.
Estudamos para que o conhecimento nos proteja do desconhecido;
Usamos cintos de segurança e capacetes para que o idiota que vai no outro caso não acebe connosco;
Fazemos análises regulares para que os assassinos silenciosos sejam aniquilados antes de terminarem o serviço;
Obrigamos os restaurantes a terem uma bancada para a carne, outra para o peixe e uma terceira para que não sejamos contaminados por um qualquer micróbio;
Construímos edifícios jurídicos e edifícios de facto para que quem se porta mal e nos coloca em risco seja devidamente castigado e isolado.

Fazemos tudo o que podemos ou, pelo menos, tentamos fazer todo o possível para que o devir não venha ou para que ele venha vestido como entendemos que o deve fazer.
No entanto, com todos este truques e todas estas preocupações e com todas estas inovações civilizadas, só iremos saber qualquer coisa depois desta acontecer.

A vida é tragicómica.
Não é só trágica porque seria imensamente depressiva e não é só cómica porque senão nada fariamos por ela.

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