Era Para Fazer Parte do Anterior Mas Houve Problema Técnico
Queria fugir a este assunto como queria fugir da neurociência antes mas...Sa Foda.
É esquisito achares graça/gostares/interessares-te tanto pelos meus defeitos (parafraseando, não decorei).
É esquisito achares graça/gostares/interessares-te tanto pelos meus defeitos (parafraseando, não decorei).
Pois, eu não acho. Volta-se a um assunto antigo e que me é muito grato: As Pessoas Interessam-me!
No mesmo sentido do que escrevi no post anterior, vamos vivendo e aprendendo e, muitas vezes, nem é exactamente aprendendo mas reconhecendo padrões relativamente ao que acontece quando fazemos alguma coisa ou quando nos fazem alguma coisa a nós. Somos todos os cães de Pavlov e eu sou também.
Assim, vamos percebendo que apesar de tudo quanto nos dizem em contrário - quero saber tudo (não queres), tudo em ti me interessa (não interessa), estou contigo para o que der e vier (não estou) - o que realmente acontece é que queremos que os outros nos façam sentir bem e quantos menos problemas, melhor.
Queremos ajudar se não nos custar muito; queremos aturar se não nos for demasiado exigente; queremos ser o ombro e a rocha se não tivermos de ser mais fortes ou mais duros do que aquilo a que estamos disposto.
Então, inconscientemente, pretendemos que fiquem felizes connosco e corresponder ao que de nós se espera para que não choquemos ou nos tornemos um fardo demasiado pesado para que continuem a suportar-nos.
Eu não sou assim. Ou melhor, eu não sou assim para os outros.
Não posso, em sã consciência, que ainda acho que tenho, querer ter o que os outros têm quando tudo o que eu quero é extraordinário e não ordinário.
Se o que me interessa é a pessoa, o que me interessa não é o que ela parece ser ou, inclusivamente, o que ela pensa ser mas antes o que é. Toda.
Se a pessoa me interessa, não quero que me mostre o que quer mas o que não quer também ou, especialmente, o que não quer. Eu não quero o ordinário.
Se a pessoa me interessa, o que me vai fazer desinteressar é expor-me as virtudes mas antes os defeitos. Convive-se com virtudes mas vive-se com defeitos.
No Bom Rebelde, a personagem do Robin Williams (RIP), diz ao miúdo quando fala sobre a sua falecida mulher qualquer coisa como isto: Sabes...quando penso nela a primeira coisa que me ocorre não é o momento em que a conheci ou quando algo de magnânime aconteceu. Lembro-me que ela se peidava à noite... Uma vez deu um peido tal que acordou e eu disse que tinha sido eu.
Excluindo a questão escatológica (a imagem é terrível e nunca teria em mim o mesmo efeito), percebo-o muito bem. São as particularidades das pessoas connosco que nos tornam especiais. São aquelas coisas que ninguém sabe que fazem do que temos mais do que o que os outros têm. É o que te dizem a ti e que não dizem aos outros. É o que ambos reconhecem e que nada diz a quem vê da janela.
São os defeitos. Não são as virtudes.
O House (há quanto tempo não falava disto?), quando começou a ter um relacionamento com a Cuddy entrou em colapso porque percebeu que não tinham quase nada em comum. Não gostavam das mesmas coisas, não gostavam dos mesmos lugares, não gostavam das mesmas pessoas...então ele entrou numa busca incessante (ou quase) por algo que tivessem em comum porque, caso contrário, a relação estaria votada ao insucesso.
A dado momento, ela percebeu o que ele estava a fazer - porque incrivelmente mal sucedido - e disse-lhe: Para quê?! Achas que eu quero algo comum?! Se eu quisesse algo comum estaria com outra pessoa. E além disso...comum é comum...aborrecido.
Ela tinha razão e ele também. Ela porque viveu, de facto, algo nada comum. Ele porque o relacionamento não sobreviveu ao extraordinário. Mas isso interessa menos. O que interessa é isto: Comum é Comum.
São os defeitos. Não são as virtudes.
E reparem nisto: não há pessoa que diga que nós somos menos que a soma de todas as partes. Ora, se é isto que nós somos, quando mostramos parte das partes escondemos o que o somatório dará. Em última análise, em tese e sendo excessivo - como é meu costume - passamos a nossa vida rodeados de estranhos e não devíamos querer ser estranhos para toda a gente.
É por isso que quem me conhece mais de perto me acha ainda mais esquisito do que quem me conhece de longe.
Sabem aquela história de que descarregamos em quem nos é mais próximo? Dou o que consigo e o que não consigo para não o fazer. Gosto muito de quem gosto e não suporto a ideia de que paguem por eu gostar. Nem sempre consigo evitar mas esforço-me mesmo muito e quando falho sinto-me na merda durante muito tempo.
Sabem aquela história de que a ausência cria mais vontade de encontro? Detesto a distância. Quando era algo que, supostamente, deveria fazer ferver esfria-me. Joga nas minhas fraquezas. O meu instinto é ser solitário, foi o que aprendi, e a ausência faz-me voltar a cogitar que sozinho é melhor. É instinto porque não quero que assim seja mas assim costuma ser.
Sabem aquela história de que se dá valor quando se perde? Não. Não. Não é suposto dar-se valor depois, é suposto dar-se valor agora! Depois, muitas das vezes, é tarde. Quero que quem eu gosto saiba que eu gosto, agora! Depois de magoar é tarde porque não se magoa as pessoas de quem se gosta.
....e de volta aos defeitos.
Eu falo muito mas não gosto de falar de mim.
Eu apalpo muito e estou a evitar apalpar agora.
Eu apalpo menos porque tu és tu.
Eu falo de mim porque tu és tu.
Diria muito de mim se eu continuasse a apalpar independentemente do que a apalpada sentisse? Diria que continuaria a apalpar porque era isso que eu queria fazer e o interesse alheio seria relativamente indiferente.
Diria muito da outra pessoa que continuasse a não falar dela mas de todas as outras coisas que não interessam? Diria que continuaria a ser o mesmo para ele e para todos e o vivido seria relativamente indiferente.
É como a questão do peido mas muitíssimo mais elegante.
Sabem quando sacam uma gaja, à noite, vão para a cama e acordam com outra no dia seguinte (eu não durmo com pessoas mas a imagem é suficiente)? Quando se deitaram, mais do que bêbado, é provável que ela estivesse maquilhada e com push up cenas e sei lá que mais. De manhã, acordou borratada e com mau hálito.
Isto não é problemático. O serviço está feito e amanhã é outro dia.
Mas é isso que queremos todos os dias?
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