Wednesday, October 03, 2018

NOSTALGIA

...não sou nostálgico numa medida semelhante mas ainda mais do que não sou mentiroso.
Não sou mentiroso mas minto, ainda que raramente;
Não sou nostálgico e quase nunca sinto nostalgia.

Hoje, por causa de uma merda que queria fazer para ser simpático com quem merece, meti-me até aos joelhos numa rede social.
Na tentativa de encontrar quem procurava - o que não aconteceu - tive de vasculhar umas quantas pessoas que temos em comum de há uns 15 anos atrás, talvez.
Essas pessoas em comum, continuam a dar-se todas umas com as outras; algumas têm filhos; outras estão casadas; algumas têm um negócio próprio; outras fazem outras merdas.
O traço comum é que se continuam todas a dar-se como nós (sim, eu também) nos dávamos há, seguramente, mais do que uma década.

(neste ponto, devo dizer que a minha opinião quanto ao que se demonstra nas redes sociais não mudou: é uma versão idealizada que não corresponde à vida real. É uma bocado como o óbvio facto de que a Olivia Wilde não caga.
Assumirei, contudo, por facilidade de raciocínio, que todos são felizes como parecem)

Enquanto me expus a estas fotografias, não pude deixar de sentir pena de ter ido para um outro lado e não ter tribo.
Para tentar ilustrar o que quero dizer:
Disse-me uma amiga: À porta da estação estavam uma quantidade enorme de gajos a tentar evangelizar as pessoas que saíam e a mim...NADA!!! É óbvio que eu não quero ser convertida mas nem sequer tentarem?!

Este sentimento é básico e triste mas assola os mais desenvolvidos de nós porque....humanos.
It´s nice to be asked não é?

Foi um bocado este sentimento básico que me apoquentou por uns momentos.
Qual o motivo de se continuarem a dar e não se lembrarem de mim?
Como é possível festejarem aniversários e não me convidarem?

A realidade, pura e dura, é esta:
Estes gajos continuam a dar-se da mesma maneira que sempre se deram e eu passei a ser uma outra coisa.
A mentalidade de tribo é reconfortante mas monocromática e monocromático, para mim, só em fotografia.

Estava a vê-los e a lembrar-me que nem todos me agradavam já na altura e esse sentimento só poderia piorar.
As piadas ou expressões são as mesmas que eram há 20 anos e eu já não sou isso.

Imaginei, por isso, uma distopia em que a minha integração era possível.
Uma realidade paralela em que eu quero ser convidado para casamentos e baptizados e aniversários e jantares e merdas. A realidade é que não quero.
Formou-se uma selectividade na minha memória que tolheu a vivida realidade que foi a última e penosa vez que estive com eles.

Estou preso à sociedade por um fio e por Ela.
A esmagadora maioria das vezes, eu não quero conviver com o que há porque o que há não me interessa.

E, ainda assim, deu-me para a paneleirice que descrevi e descrevi porque não tenho vergonha de quase nada e porque a minha segurança, não sendo inabalável, desapareceria se me limitasse a dizer uma coisa, sentir outra e fazer uma terceira.

Foram uns minutos de merda.
Depois, o sol dissipou as nuvens.

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