Pais Imprestáveis
Ainda durante a gravidez, houve uma meia dúzia de pessoas que me perguntaram quem nos ia ajudar quando a criança nascesse.
A mãe e eu não são pessoas suficientes? perguntei no primeiro par de vezes mas, depois, percebi que existia uma presunção de que eu não iria fazer merda nenhuma, por isso seria necessário que a mãe dela ou a minha estivessem presentes.
...e assim continuou.
Ainda na maternidade, a pergunta voltou a surgir por parte da parteira e, se não estiver em erro, de mais uma das enfermeiras.
Depois da maternindade, na primeira consulta de pediatria a coisa voltou mas, desta vez, não sob a forma de quem vos vai ajudar mas antes com uma extensa lista de necessidades que teriam de ser supridas para que a mãe se pudesse dedicar à criança; coisas como, por exemplo, cozinhar.
Não tomei nada disto como pessoal porque, no final de contas, nenhuma destas pessoas me conhece mas fiquei meio aterrorizado com a ideia de que os homens não fazem nenhum. Aliás, pior que isso: uma vez que se tratam de profissionais que fazem disto vida, todas estas recomendações e preocupações e sugestões haverão de ter chegado acompanhadas de experiência adquirida.
Sempre achei que era dos mais imprestáveis dos homens no que à lida da casa diz respeito mas, pelos vistos, estava enganado.
O meu raciocínio quanto ao meu papel é simples:
a figura do pai, pelo menos nesta fase inicial, é de mero facilitador, não é quem conduz, é quem vai ao lado.
Faço o que consigo e facilito o mais que posso...e nem acho que faça muito.
Mudo fraldas, dou leite, vou às compras, cozinho, trato das burocracias e por aí fora mas sempre na retaguarda.
É a mãe que tem de acordar a meio da noite para dar de mamar e é a mãe que a acalma quando eu já não sei mais o que fazer. É a mãe que, muito primeiro que eu, sabe que é fome ou cólicas ou manha ou qualquer outra coisa.
Eu pergunto cenas e tenho uma ou outra opinião mas, em geral, tento fazer o que me mandam.
(tudo o que escrevi é verdade mas serve, também, como lembrança de que o meu feitio é uma merda.
Esqueço-me, de vez em quando, que é um bebé e irrito-me com o choro e com não saber o que ela quer. Fico irritado quando a mãe demora mais do que eu e a bebé achamos que devia - o meu feitio de merda é capaz de ter ido nos genes, juntamente com o meu nariz.
...mas que, pelos vistos, há homens bem mais imprestáveis do que eu, isso parece que há)
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