Friday, September 04, 2020

Os Medos e os Traumas

 Os meus poucos dias profissionais entre a parentalidade e as férias foram muito poucos, embora assim não parecessem, e, além de muito poucos, foram muito desocupados.

Ao fim de um certo tempo, também eu, como o comum dos mortais, passo a falar com pessoas (poucas, é verdade mas...na ausência de poder ler e de youtube...em tempo de guerra todo o buraco é uma trincheira) e, agora, todas as conversas que têm comigo andam à volta da recente paternidade, especialmente quando do outro lado está outra pessoa que procriou recentemente.

 

É uma visão do inferno, não é?

Pois. Nem sempre.

 

Hoje, uma mãe contou que o marido mede incansavelmente o filho. Parece que no mês em que cresceu menos do que devia - presumo que menos do que a média estimada - o gajo panicou um bocado.

Porquê?

Porque é baixo. O filho ser baixo, como ele, aterroriza-o.

Pensei no tamanho das pilas. É certo que ninguém quer ter pila pequena mas o tamanho da pila é uma obcessão muito mais própria do que alheia.

Este gajo teme na pele do filho o trauma que sofre.

 

Uma outra, mãe menos recente, contou que um dos lados da família padecia de uma formação esquisita nas unhas.

Não era uma deficiência; não era uma mal formação; não era uma doença. Era esquisito.

Quando uma criança qualquer nasceu, a mãe desta mãe foi ver as unhas do ou da recém nascida antes de qualquer outra coisa.

A forma das unhas há-de tê-la apoquentado toda a vida e há-de ter sofrido com essa coisa esquisita.

 

...eu não estou a ver paralelismo na minha situação.

Os outros estão preocupados ou interessados em saber se a menina vai ter olhos verdes, como eu. Não me interessa por aí além.

Poderia estar preocupado com ela vir a ser gorda mas, excluindo saúde, não estou muito. Não lhe desejo isso porque não é cool ser gozado por ser gordo e há-de ser pior ser gorda...mas eu não só sobrevivi como me dei bem com isso. 

Tenho receios?

Prefiro que não tenha o meu mau feitio;

Prefiro que não seja tão infléxivel como eu;

Prefiro que seja mais política do que eu;

Prefiro que saiba perdoar e esquecer melhor do que eu.

 

Mas isso não está na pele e nem na cor dos olhos e nem no tamanho das pernas e nem na forma das unhas. E ainda vai demorar algum tempo a ver-se.

Eu gosto que a minha filha seja bonita, não se enganem! Agora...não é nem nunca foi a minha principal preocupação.

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