A Vitória da Irracionalidade
Apesar de opiniões discordantes de pessoas que pensam que me conhecem bem mas estão erradas, sou - a maioria do tempo - bastante racional.
Não tento ser um gajo cerebral mas sou, da mesma maneira que não tento ser realista mas sou e da mesma maneira que não tento ser irascível mas sou. Na verdade, a maior luta e o que impele os outros a pensar que sou todo instinto é a minha irascibilidade...quem for perfeito que atire a primeira pedra.
Há uns tempos, em casa dos pais dela, aquando de uma das primeiras visitas com a nossa filha, as pessoas estavam a falar da possível reacção do cão (a minha preocupação a respeito foi verbalizada) e a dizer que achavam que ele se ia portar bem.
Disse-lhes que não tinha problema com o cão porque o cão não tem culpa da mesma forma que não tem consciência; se der merda a culpa não é dele, é vossa, se eu não estiver presente, e minha, se estiver.
Isto que disse não me levanta qualquer dúvida e mantenho sem hesitar.
É assim que entendo os animais.
A nossa gata é um sonho mas, ainda assim, precisa de ser disciplinada - entenda-se: o máximo que se pode disciplinar uma gata.
Não vou dizer que ela não me irrita porque, de vez em quando, irrita-me mas não me lembro de alguma vez ter resmungado com ela enraivecido e nem de lhe ter feito mais do que sacudir o pó das patas traseiras. Nunca foi e nem é minha intenção infligir dor e muito menos magoar.
Outro exemplo será o facto de - como o cão - ser da minha responsabilidade estar atento e evitar que, por um qualquer motivo, ela magoe a minha filha. Foi-se permitindo uma aproximação gradual e ela é muito carinhosa com a BabyG; roça-se nos pés e cheira-lhe a cabeça (sempre que chora com vontade, a gata vai para perto para ver o que se passa como se quisesse fazer alguma coisa para ajudar, o que é espantoso).
...mas ontem, enquanto a menina chorava, ela veio por cima das costas do sofá e preparava-se para estender a pata (ia a meio) em direcção à cabeça.
Mandei-lhe uma chapada que não foi forte porque a apanhei de viés e disse-lhe - sim, palavras para uma gata! - SE LHE TOCAS COM A PATA PARTO-TE A PUTA DO PESCOÇO! e, ouvindo isto, Ela veio ver o que se passava. Relatei o que acabei de vos contar e, mesmo uns instantes depois, repeti que lhe partia o caralho do pescoço.
E isto é estúpido. Ninguém sabe isto melhor do que eu...e, naquele momento, se lhe tinha arranhado a cara a probabilidade de ver o pescoço rodado ao contrário era muito alta...mesmo sem culpa, por ser um animal, e mesmo eu sabendo de tudo isso.
Não senti, conscientemente, nada do que se vê nos filmes e se lê nos livros quanto a ser Pai mas é capaz de ter acontecido alguma coisa de que não dei conta...
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