They Will Not Live In Shame! They´re Gladiators! e Coisas Difíceis de Explicar
Há uns anos fiquei muito satisfeito quando escolhi uns óculos de sol mais baratos em detrimento de uns outros mais caros. Não só os mais caros eram mais caros como, naturalmente, a marca que tinham gravada nas hastes era mais susceptível de ser reconhecida e admirada.
Preferi os que gostava mais. Não por serem mais baratos (porque não os ia pagar) e nem por ser uma afirmação anti-burguesa qualquer. Gostei mais dos mais baratos. Foi só isso.
Acho que é a segunda vez que escrevo sobre isto, pelo que não foi uma coisa de somenos para mim. Foi, isso sim, qualquer coisa parecida com uma afirmação de personalidade e de carácter. O que dizia que não interessava não interessou. O que pregava ser irrelevante foi irrelevante.
Era o Eu que me orgulhava de ser. Apesar de um momento menor, funcionou como acho que tudo funciona: nada é independente. Um bocado é tudo.
Esta estorieta para dizer que tenho uma relação igualmente visceral quando acontece o contrário. Minto. Tenho uma reacção muito mais visceral porque espero corresponder ao que exijo de mim mas tenho muito pouca margem para falhar no que considero ser exigível.
O meu orgulho e o meu ego são medonhos em qualquer circunstância.
Quando fazem de mim o destruidor de paredes, dá para ser medonho para os outros;
Quando fazem de mim parvo ao demonstrarem que talvez sejam demasiado inflados, dá para ser medonho para mim.
...e aqui surge a parte em estrangeiro do título deste postal.
É uma citação do Any Given Sunday no momento em que o médico que escondeu um diagnóstico do jogador é despedido e confrontado com a sua falha deontológica.
Diz-lhe, então, em tradução livre: Tu pensas que eles são como tu?! Eu sei o que ele me ia dizer "ponha-me a jogar!! Eles não vivem com vergonha! Eles são gladiadores!!
Neste caso, não é o meu ego a falar (acho): eu também não vivo bem quando envergonhado. Estou a ter uma dificuldade imensa em reagir como acho que devo mas como não quero porque a minha vida sempre foi noutro sentido.
E isto está um bocado a acabar comigo.
Por um lado, o que me faz sentir assim talvez seja uma desmesurada e despropositada noção de honra ou de valor próprio;
Por outro lado, o que me impede de desistir é esta irresistível tentação de nunca perder e nunca dar uma batalha como invencível.
...mas está a ser muito difícil.
Por ser realista, temo um bocado que perceba tarde onde esta merda vai parar da mesma forma como decidi tarde que a dor na garganta era uma merda que me fez acordar nos intensivos.
...mas isto é quase impossível de explicar a pessoas que não sejam como eu. Ou, pelo menos, próximo daquilo que sou ou que fiz ou que faço.
O After Life do Ricky Gervais é sobre um gajo - na primeira temporada - que diz que a possibilidade de se suicidar é como um super-poder: a qualquer momento, é um sa foda! e ninguém pode fazer nada.
De uma forma menos fictícia, se a memória não me falha, o Hunter S. Thompson tinha decidido que se mataria antes de tal possibilidade lhe ser vedada pelo tempo. Fez mesmo isso.
O que acabo de escrever não só parece como é, de facto, dramático. Em momentos normais da minha vida concordaria com ambas as cenas e nem pensaria duas vezes.
A personagem do Gervais tem razão: no fundo, no fundo, nada interessa.
O Hunter tem razão: quando eu já não puder ser eu, não vale mais a pena.
Agora, concordo na mesma mas o enquadramento faz tudo parecer mais sombrio. A época é sombria. Eu não tenho vontade nenhuma de ser sombrio (apesar de sexy).
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Findo este relambório que nada tem de exagerado enquanto o escrevi e muito menos foi feito para instilar pena, há uma outra explicação para tudo isto, explicação que há algum tempo verbalizei ao telefone:
Pá, se calhar só sou mimado e não gosto de fazer o que não quero!
É melhor, não é?
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