Wednesday, May 19, 2021

VELHOS SÃO OS TRAPOS!

 ...só que não.

Eu sei que não é muito woke da minha parte rebelar-me contra a noção de que somos como o vinho e merdas desse tipo. A impressão que tenho é que não somos. Aliás, atente-se que o tema velhice ou seus primos tem povoado estas merdas que para aqui escrevo, o que sinto como uma prova de que a idade me tornou mais chato e, consequente e dolorosamente, menos sexy.

Haverá vantagens?

Capaz. Depende a quem se perguntar.

É óbvio que sei mais merdas do que sabia há vinte anos atrás, pelo que sou mais inteligente do que o penedo que transportava o meu nome há uma quantidade de anos que prefiro não quantificar.

É uma vantagem mas talvez não compense.

Há uns anos descobri ser diabético; há menos anos - provavelmente em consequência - tive uma amigdalite que me fez acabar em coma induzido e nos intensivos; há um par de dias parti o mindinho por pontapear a perna do sofá; hoje fui operado a uma paneleirice na orelha.

Queixar-me-ei do meu corpo estar a desistir de mim?

Bem. Não. Não acho isso ou, se for o caso, não me retira horas de sono.

Todas as mazelas físicas que descrevi foram ultrapassadas com facilidade e rapidez. O meu corpo (e a minha cabeça, também) reagiu e defendeu-se galhardamente. Quando acordei do coma estava, até, com uma cor decente e enfardei, no imediato, dois panikes mistos.

Foi fixe? Não. Mas fiquei orgulhoso de ser o gajo que acho que sou e que enfrenta este tipo de coisas sem dramatismo e com confianças.

...o que me fode na idade é o gato escaldado.

À medida que o tempo passa um gajo vai-se escaldando em muitas e diferentes coisas e, como o gato, ganha-lhes medo...vá, receio, para não parecer tão cagarolas.

É por isso que a guerra é uma coisa de jovens;

É por isso que corridas de fórmula 1 é coisa de jovens.

A inconsciência é uma das virtudes da juventude.

Mas depois, 

um gajo passa a ponderar demasiado e a prever em excesso e a reconhecer consequências.

Umas pessoas chamarão a isto maturidade e eu chamarei bichice.

Eu não gosto de bichices e sinto-me cada vez mais bicha.

Ah, K, tu és zero bicha comparado com as pessoas que eu conheço.

É. Provavelmente.

O problema é que sou muito mais bicha do que o K que, por exemplo, começou este blog.

E isto é um bocado dramático.

O Wilson traçou, assim, o perfil do House: tu detestas-te mas admiras-te!

Com as devidas distâncias porque não sou tão dramático assim, isto aplica-se a mim. Não me detesto (ainda que algumas vezes aconteça) mas admiro-me incomparavelmente mais do que gosto de mim. Isso sempre foi um bocado assim.

Infelizmente, estou em crer que admirava mais o K que vou deixando para trás do que aquele que vou encontrando.


PS. estou a ler O Lobo da Estepe, do Hesse e descobri que, não sei bem onde, será um livro daqueles que se dá na escola a adolescentes.

A impressão que tenho é esta: nenhum adolescente deveria ter de ler isto. Primeiro, por pedir uma experiência que nenhum adolescente tem e Segundo, porque este tipo de livros a pessoas impreparadas fará retroceder em décadas o prazer da leitura.

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