Monday, October 21, 2013

Todos gostamos de histórias inspiradoras. Aquelas histórias, muito desenvolvidas por Hollywood mas não só, de superação de obstáculos, o self made man, o tipo que luta contra aquilo em que não acredita em benefício da sua consciência.
Alimentamo-nos de bordões que nos dizem que o mais importante é fazermos aquilo de que gostamos, ideais de vencer com base nos valores e na crença de que estamos certos.

Em resumo, tentam vender-nos fé.

O que, as mais das vezes, dá cabo destas construções todas é a realidade. A realidade não é muito complacente com ideais.
Se pensássemos a vida como se analisam estatísticas seríamos confrontados com o que realmente acontece e menos com aquilo que gostaríamos que acontecesse ou que nos dizem que pode acontecer.
Fala-se, constantemente, do 1%. Daquelas pessoas que são imensamente ricas e que compõe uma ínfima parte dos 100%. Ora, por muito que nos queiram vender que este 1% resulta de uma conjuntura tal, pura e simplesmente, não é verdade. O 1% é a estrutura. Um 1% que pouco varia e que, assumo o risco de o dizer, é maior agora que se fala dele do que antes quando dele não se falava.

O grande problema, como sempre, é a escolha que poderíamos ter de fazer entre a realidade e a ficção. Será que preferíamos que nos dissessem que a probabilidade de um filho de agricultores de subsistência é que ele próprio o venha a ser? Será que preferíamos que nos dissessem que, independentemente das suas qualidades (ou falta delas), os filhos dos 1% continuariam a sê-lo?
Não, não preferiríamos.
Se preferíssemos não haveria Euromilhões, essa fresta de esperança de que a fantasia se sobreponha à realidade dos que mais jogam. Até porque, evidentemente, o Euromilhões destina-se aos 99%.

Por exemplo:
Ontem estava a ouvir falar da África do Sul e lembrei-me que só soube o que era o Apartheid quando ele já não existia. Não era tema de conversa ao jantar porque ninguém àquela mesa sabia ou se interessava pelo que se passava depois da soleira da porta.
Descobri, pelos meus próprios meios, o que era a Bossa Nova e quem era o Vinicius de Moraes e quando se faz algo deste tipo pelos próprios meios é tarde. É mais tarde do que deveria ser.

Não quero, de forma alguma, criticar quem me edocou ou o meio a que pertenço. É, meramente, uma demonstração fáctica, ainda que superficial, admito, do motivo pelo qual o 99% e o 1% mudam muito pouco ou nada.

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