Wednesday, October 16, 2013

Vinicius Há 100!

Dia 19 fazem 100 anos que Vinicius apareceu na Terra.
Quando Vinicius morreu ainda eu não tinha consciência de que por aqui andava o que só não me entristece porque se já a tivesse seria mais velho e se não me incomoda envelhecer a verdade é que prefiro ser mais novo.

O meu problema com Vinícius é transversal. É um problema que se prende com aquilo que entendo ser, intrinsecamente, mais importante do que o que se dá aos outros que não conhecemos: aquilo que damos aos nossos.
Esta tendência para tornar terrenas as pessoas leva-me a pensar que será difícil ser o Pai que todos merecem aquele que se casa com 8 mulheres diferentes e que vai trocando umas pelas outras. É-me difícil chamar a isto outra coisa que não egoísmo ou leviandade mas... o que ele terá tirado aos dele deu aos outros e eu sou um dos outros; sendo egoísta, fico contente mas não gostava de ser gerado por semelhante figura.

Esquecendo a objectividade...
1)Como Gilberto Gil, também a minha vida tomou um rumo diferente com o Chega de Saudade. É arte pura tornada simplicidade. É curto. É rápido. É tudo em muito pouco. É a génese do samba (como descrito no Samba da Benção), a tristeza glorificada como beleza e a certeza de que não existe amor sem sofrimento.
2)Um tipo cujo nome não recordo terá dito que o Vinicius poderia ter sido o maior baluarte da língua portuguesa caso não se tivesse envolvido com a música popular. 
Ou seja, não é de hoje que não se entende que a beleza e a arte não é feita para alguns e quando alguém faz algo de admirável que todos entendem e apreciam a arte é multiplicada. A música popular fez Vinicius como ele a fez a ela e se o facto de a Garota de Ipanema ser a música mais gravada da história não fez nada pelo Português...
Prova disto é que eu não me lembro do nome do gajo que criticou mas todos sabemos quem é o Vinicius.
3)O Vinicius, com o Jobim e o João Gilberto, inventaram a Bossa Nova. Se pensarmos em termos regionais, a música mais emblemática do Brasil é o Samba mas se pensarmos em termos globais, é a Bossa.
Para quantos (onde me incluo) o Brasil antes de ser o Rio de Janeiro ou a Amazónia era a Bossa Nova? A bandeira brasileira tem o nome de Vinícius.
4)Há uns anos vi um espectáculo no Mezzo que me fez ter saudades do antigamente. Era o Jobim, o Toquinho e o Vinícius (acho que a Miucha também mas não tenho a certeza). O Vinicius deambulava entre o piano do Tom e uma mesa que lá havia, sempre acompanhado de um cigarro e de um escocês no copo.
Não era um espectáculo limpo. O oxigénio estava conspurcado. O pano de mesa era ao xadrez. Era a vida. Quero-a assim: bonita mas com o seu sujo. Não quero trepar sem suar nem.

A finalizar, transcrevo uma história do Chico Buarque que me fez rir alto e que demonstra porque Vinicius era Vinicius:
"Uma vez, lá em casa, perguntei pro Vinicius se ele acreditava em reencarnação e, se acreditava, como ele queria reencarnar.
Ele me respondeu:
Ah, queria reencarnar como eu mesmo mas com um pau um pouquinho maior." 


0 Comments:

Post a Comment

<< Home