Friday, December 24, 2021

TRABALHOS IMPOSSÍVEIS

 Como acontece um bocado em tudo, não vejo que esteja a viver a parentalidade como a maioria dos pais que me rodeiam. Bem, é certo que estou a partir do princípio que o que dizem corresponde à realidade o que poderá ser um erro que já não deveria cometer.

A primeira das coisas será a de ser o trabalho mais difícil do Mundo.

Ora bem...sinto que os gajos que andam a limpar as cenas do petróleo em profundidade, no meio do Pacífico, têm um trabalho mais difícil do que eu que ando a correr pela casa.

Considero que é um trabalho bastante fácil, na verdade, considerando a quantidade de mentecaptos que o desempenham.

Ah, mas o difícil é fazer bem!! e é bem capaz de ser mas a própria definição de o que é fazer bem não é a mais fácil das empreitadas.

A principal merda que me chateia é que vou falhar. É muito desagradável saber que por muito que me empenhe a coisa nunca será perfeita e, por isso, nunca será bem sucedida.

Estou na merdosa posição de ter de aceitar que estou a fazer o melhor que posso e que isso terá de bastar...coisa difícil - mas que já aceitei - para quem vê o Mundo como binário entre vitória e derrota. Vitórias morais são para losers e é isso que eu tenho de aceitar que serei, na melhor das hipóteses.

 

Outra das coisas é o novo ambiente em que isto se anda a desenvolver.

Não gosto e não serei o gajo que quer ser o melhor amigo dos filhos. Não gosto. Não quero.

A BabyG há-de ter os seus amigos e amigas mas não serei eu. Quero ser o gajo que está lá sempre mas para confidente precisará de outra pessoa - talvez a Mãe. 

A minha principal preocupação é que Ela esteja preparada para o que aí vem e não que goste de mim. Seria hipócrita dizer que não me interessa nada mas é verdadeiro dizer que me interessa menos.

Há uns dias, soube que um gajo estava chateado porque o filho - bebé - estava a dar muito mais atenção à mãe do que a ele. O que é um inversão completa das coisas: o pai precisa da atenção do filho.

Bichas.

Se eu tiver de ser o polícia mau, é isso que serei (dizer serei é o tempo verbal errado). O que aqui interessa não é que a BabyG me aprove. Eu não preciso de aprovação.

...e como em tudo o resto na minha vida, as pessoas em geral não percebem o que ando a fazer e, muitas das vezes, quem sou. Possivelmente algo de que sou responsável.

O que se vê ou naquilo que se concentram é no facto de ser quem impõe a Lei e que é relativamente insensível a choros se os considerar necessários. 

O que não se vê ou naquilo em que não se concentram é no facto de ser eu - e mais ninguém - que se deitará no chão de um shopping para brincar com a BabyG se isso parecer divertido para ela.

 

Mas há mais.

Apesar de um filho ser a maior alegria do Mundo e um amor ímpar, incondicional e eterno e a maior e mais importante obra da minha vida, a verdade é que passo a vida a ouvir o caralho desta gente queixar-se.

Claro, não se queixam no Insta nem quando têm um público superior a duas pessoas mas é apanhá-los sozinhos e a vida desta gente - que ama de uma maneira que nem a Florbela entenderia - é vivida num dos círculos do Dante.

É porque dormem pouco;

É porque não têm tempo para nada;

É porque as avós isto e os avôs aquilo;

É porque estão na idade terrível de (qualquer idade serve!).

Pá...por falta de experiência, não saberei dizer o quão difícil é a BabyG mas eu - em público e em privado - não acho a minha vida difícil. É claro que a Mãe ajuda uma enormidade mas eu não estava a contar que continuasse tudo como antes...

Por fim, neste capítulo, sinto-me rodeado por génios, de apenas nos dermos ao trabalho de ouvir.

Há uma coisa que repito, com insistência, para que algumas pessoas me entendam: todos nós conhecemos burros mas, depois, se perguntarmos a todas as pessoas no Mundo se são burras a resposta será negativa...o que significa que há uma dissonância clara entre a realidade e a ficção. Se todos conhecemos gente burra, como é possível não haver gente burra?!.

Parece-me igual nas crianças. 

Vai deixar de haver crianças sobredotadas porque são todas.

 

Dito isto...

...não poderei estar seguro a 100% de que as coisas que eu faço sejam tão altruístas como as pretendo.

Sempre apreciei ordem, por isso não posso excluir que faça o que faço só porque é assim que EU quero que seja.

Queixar is for bitches!, pelo que não é coisa que faça, mesmo quando tenho motivos para isso. Queixas resolvem merda nenhuma, daí sentir que é uma perda de tempo e uma ofensa à minha masculinidade. Poderá, portanto, dar-se o caso de estar a ensinar que só coisas sérias merecem atenção e não vontadezinhas...e exagerar na distinção entre ambas.

Volta e meia, é indispensável que se perceba que há quem mande. Uma lição muito importante para que se entenda que essa merda de medalhas para todos, independentemente do lugar, é uma estupidez que Darwin nunca aceitará. E é preciso aprender, desde cedo, que o Mundo não é nem justo e nem o que de diz dele.

Tipo: por muitos peluches e animações que te digam que os hipopótamos são impecáveis e simpáticos, a realidade é que matam em barda.

A realidade está-se a cagar nas tuas ideias e vontades.

...mas, se calhar, deixar acreditar no Pai Natal.

Não fui montado para o equilíbrio e isso é um problema.

 

Ah, Kaiser, és demasiado intransigente!

É.

Em primeiro lugar, caguei no que acham ou deixam de achar de mim.

Em segundo lugar, é bem capaz de ser verdade...e isso não é fixe. 

Wednesday, May 26, 2021

#PAIN

 É muito engraçado este post seguir-se ao anterior. Talvez até irónico. Mas, agora e hoje, é engraçado.

Depois do último escrito e de uma forma sincopada deu-se que parti um dedo do pé (obrigado BabyG por me fazeres andar atrás de ti), fui operado a uma orelha (programada e não urgente), apanhei uma gripe fodida (talvez, uma vez mais, obrigado BabyG), cortei-me num dedo (nada de especial mas foi o encher do copo) e tive de meter uns pares de Clonix por causa dos dentes (curiosamente, o pior que me aconteceu porque sou hiper bicha com tudo que envolve dentistas).

Em quanto tempo toda esta merda me aconteceu? Não chegou às duas semanas.

A minha moral foi com a puta que pariu! 

Individualmente, nenhuma destas maleitas me chatearia por aí além - excluindo o que envolve dentistas; Quando parti o dedo, por exemplo, fui dizer-lhe acho que parti um dedo mas não fui além disso e, no dia seguinte, só fui ao hospital porque entendi a mais que sugestão como razoável. Por mim, não teria ido.

...mas tudo junto...caralho! A minha moral zarpou e o meu bom-humor estava em lugar nenhum para ser encontrado.

Mas não servem estas linhas para carpir mágoas.

Hoje, quando pela primeira vez em duas semanas não tive dores (é certo que o dedo ainda me dói mais ou menos mas nem sequer me chateia, na verdade) parecia que o Sol tinha nascido passado meio ano de noite fechada!

Não posso garantir se foi felicidade ou alívio mas foi impecável de qualquer forma.

Fez-me ponderar se não será mais por isto que há masoquistas do que pelo desejo de ser dominado. Fiquei a achar ah, se calhar é por isso que o pessoal se chicoteia e merdas. Quando deixa de levar com o couro no couro a sensação é impecável!

Mas continua a ser coisa que não me atrai. O alívio é porreiro mas é um bocado estúpido andar ao encontro da dor.

Volta e meia sou capaz de me castigar por ser burro mas não é físico e nem sequer é uma imposição para o posterior alívio. É o equivalente ao reforço negativo que se dá aos cães, por exemplo: aprende-se mais depressa com a dor, não é?

Bem, hoje o Sol raiou e tudo é melhor e mais fácil quando assim é. E não é só para mim.

Talvez o alívio para Elas seja ainda maior que o meu!

Wednesday, May 19, 2021

VELHOS SÃO OS TRAPOS!

 ...só que não.

Eu sei que não é muito woke da minha parte rebelar-me contra a noção de que somos como o vinho e merdas desse tipo. A impressão que tenho é que não somos. Aliás, atente-se que o tema velhice ou seus primos tem povoado estas merdas que para aqui escrevo, o que sinto como uma prova de que a idade me tornou mais chato e, consequente e dolorosamente, menos sexy.

Haverá vantagens?

Capaz. Depende a quem se perguntar.

É óbvio que sei mais merdas do que sabia há vinte anos atrás, pelo que sou mais inteligente do que o penedo que transportava o meu nome há uma quantidade de anos que prefiro não quantificar.

É uma vantagem mas talvez não compense.

Há uns anos descobri ser diabético; há menos anos - provavelmente em consequência - tive uma amigdalite que me fez acabar em coma induzido e nos intensivos; há um par de dias parti o mindinho por pontapear a perna do sofá; hoje fui operado a uma paneleirice na orelha.

Queixar-me-ei do meu corpo estar a desistir de mim?

Bem. Não. Não acho isso ou, se for o caso, não me retira horas de sono.

Todas as mazelas físicas que descrevi foram ultrapassadas com facilidade e rapidez. O meu corpo (e a minha cabeça, também) reagiu e defendeu-se galhardamente. Quando acordei do coma estava, até, com uma cor decente e enfardei, no imediato, dois panikes mistos.

Foi fixe? Não. Mas fiquei orgulhoso de ser o gajo que acho que sou e que enfrenta este tipo de coisas sem dramatismo e com confianças.

...o que me fode na idade é o gato escaldado.

À medida que o tempo passa um gajo vai-se escaldando em muitas e diferentes coisas e, como o gato, ganha-lhes medo...vá, receio, para não parecer tão cagarolas.

É por isso que a guerra é uma coisa de jovens;

É por isso que corridas de fórmula 1 é coisa de jovens.

A inconsciência é uma das virtudes da juventude.

Mas depois, 

um gajo passa a ponderar demasiado e a prever em excesso e a reconhecer consequências.

Umas pessoas chamarão a isto maturidade e eu chamarei bichice.

Eu não gosto de bichices e sinto-me cada vez mais bicha.

Ah, K, tu és zero bicha comparado com as pessoas que eu conheço.

É. Provavelmente.

O problema é que sou muito mais bicha do que o K que, por exemplo, começou este blog.

E isto é um bocado dramático.

O Wilson traçou, assim, o perfil do House: tu detestas-te mas admiras-te!

Com as devidas distâncias porque não sou tão dramático assim, isto aplica-se a mim. Não me detesto (ainda que algumas vezes aconteça) mas admiro-me incomparavelmente mais do que gosto de mim. Isso sempre foi um bocado assim.

Infelizmente, estou em crer que admirava mais o K que vou deixando para trás do que aquele que vou encontrando.


PS. estou a ler O Lobo da Estepe, do Hesse e descobri que, não sei bem onde, será um livro daqueles que se dá na escola a adolescentes.

A impressão que tenho é esta: nenhum adolescente deveria ter de ler isto. Primeiro, por pedir uma experiência que nenhum adolescente tem e Segundo, porque este tipo de livros a pessoas impreparadas fará retroceder em décadas o prazer da leitura.

Tuesday, April 13, 2021

Velhos do Restelo

Não sei se há Velhos do Restelo ou só velhos.

Felizmente, não me ouvem dizer no meu tempo é que era! porque não acho que fosse. O Mundo não era perfeito na altura, não é perfeito agora e não vai ser amanhã. A impressão que me dá é que o pessoal acha o antes mais espectacular porque eles estavam lá e faziam-nos assim. Não será, talvez, a valorização de um contexto mas uma valorização própria.

Por exemplo: há uns dias, o Rui Jorge - seleccionador dos sub 21 - disse que os jogadores de ontem não tinham a mínima hipótese no jogo de hoje e a plateia ficou chocada! A plateia, todos mais velhos, acharam aquilo uma barbaridade...mas não é!

Quando estava a ver o Portugal - Espanha em rugby (e, reparem, nenhuma das duas está remotamente perto do topo mundial) disse-lhe foda-se...nós jogávamos a 10 kmh. Estes gajos são muito mais rápidos e mais forte! e são mesmo! A minha selecção de há 20 anos era capaz de lá pôr 1 gajo!

Obviamente, estamos a comparar o incomparável. Obviamente havia gente ontem tão ou mais talentosa do que a de hoje. Obviamente, talvez os de ontem se treinassem hoje, com as mesma condições e a mesma ciência talvez fossem melhores.

MAS o ontem era pior do que o hoje e acho isso quase transversal.

...contudo, quando vejo o caso do Ivo do TCIC ou ouço o pessoal a falar de projectos quando não são projectos ou conceitos novos quando não são conceitos novos ou ouvir Rihanna como se isso alguma vez venha a ser Allman Brothers...

Sinto que o Mundo está a desintegrar-se e vem aí uma desgraça! E aí, talvez seja eu o Velho do Restelo, ainda que considere que estou apenas a ser realista.

Bem, pelo menos um gajo consegue ir para as Filipina por 500,00€, não é? Então, tudo vale a pena.

Monday, April 05, 2021

MIGUEL SOUSA TAVARES E AS SUAS ENTREVISTAS

 Houve tempos em que não era do meu conhecimento que o pessoal tinha agendas e que falava do que não sabia (afinal, apareciam na televisão!) e que dizia merdas para ganhar o pão.

Depois, fui aprendendo cenas e o espelho partiu-se. Foi só mais um passo na direcção do cepticismo ou do que muitos poderão chamar de cinismo.

Eu achava sabes tudo como o Miguel Sousa Tavares espantosos, o mesmo tratamento merecendo, por exemplo, os gajos do Eixo do Mal; sim, alturas houve em que não achava esquisito que um documento como o orçamento de estado com milhares de páginas fosse comentado meia dúzia de minutos depois.

Era mais estúpido do que sou hoje, é verdade. Espero que muito mais estúpido do que sou hoje mas isso é mais incerto.

....e regressando:

Evito com propósito as entrevistas do Miguel Sousa Tavares mas, volta e meia, sou apanhado na rede. É um bocado como um acidente na estrada ou a CMTV. Às vezes demoro meia dúzia de minutos para o mas que caralho estás tu a fazer, K?! 

Hoje, estava a entrevistar um advogado cujo nome me escapa. Já o vi antes. É capaz de ser conhecido e, até, competente mas fico sempre com a pulga atrás da orelha com os advogados mediáticos cá do burgo.

Apanhei a parte José Sócrates.

A primeira que ouvi foi sobre prova indirecta e o que isso seria. 

Miguel Sousa Tavares disse que no despacho de acusação (eu li o despacho, disse com pompa) consta algo como o empréstimo de Vale do Lobo foi feito quando o Vara era administrador e como conhecia José Sócrates, acusaram-no!

O advogado disse-lhe que nos termos em que me descreve, isso não é prova indirecta. Não é preciso ser jurista para o saber.

Ora, é evidente. Se for como o Sousa Tavares diz que é, pura e simplesmente assim, não faz nenhum sentido...mas algo me diz que não é (eu não li o despacho de acusação).

E o que me leva a achar o que acho além do mero senso comum? Veio um minuto depois.

O Dr. não acha inadmissível que o TICÃO tenha dois juízes com interpretações tão diferente?!

O Dr. achou um bocado inadmissível (o que me choca, sem mais) e sugere ou que se mandem para lá mais juízes ou que se acabe com o TICÃO. 

 Pá... 

(estou com a televisão em ruído branco enquanto escrevo isto e dei agora que estou a ouvir a Fátima Campos Ferreira. Foda-se que não falho uma, hoje!)

É justo achar que dois Juízes são insuficientes? Talvez seja. Estou, até, inclinado a achar que serão.

É justo achar que para haver um TIC deste tipo mais vale não haver nenhum? Não tenho conhecimento técnico para isso, pelo que apesar de achar uma ideia esquisita não a posso excluir sem mais.

Mas o problema é outro:

Quando duas pessoas têm uma interpretação muito díspar do que quer que seja, a esmagadora maioria da vezes uma delas está errada. Ou muito mais errada que certa. Ou é um puto de um penedo. Ou tem interesses que o forçam a entender as merdas de uma determinada maneira.

E, no caso concreto daquilo que falamos, o que acontece às decisões? Discordando-se - ou não se discordando, na verdade, mas isso são contas de outro rosário -, recorre-se. Do recurso haverá uma decisão que dá razão ao, neste caso, Juiz ou não.

Portanto:

J1 acha uma merda;

J2 acha uma merda muito diferente.

Os Js de outro lado vêm dizer com quem concordam.

Agora, o que ninguém se lembrou de dizer ou perguntar (nomeadamente o Miguel, que entrevistava) era qual dos juízes do TIC leva mais chumbada nos recursos.

Se houver um que vê muitas mais decisões suas revertidas em sede de recurso do que o outro (e há!) deixa de ser estranho que tenham entendimentos muito diferentes e passa a ser muito estranho como é que o gajo que entende mal à força toda ainda lá anda.

Portanto, o problema pode não ser terem entendimentos tão diferentes mas antes um entender tão mal, coisa que não terá passado pela cabeça de ninguém.


Isto é só triste, não é?

Mas o pessoal tem de ganhar o pão e tentar ser relevante mesmo tendo de se fingir o enfant terrible de 70 anos.

Tuesday, March 09, 2021

CONFIANÇA

Poderá pensar-se que tenho trust issues e poderá pensar-se bem.

A minha perspectiva é, contudo, outra; ainda que não diametralmente oposta.

Tentando trocar por miúdos:

Se se disser que tenho dificuldade em confiar, não estarão errados mas, numa media relativa, isto não faz de mim desconfiado. Isto faz de mim realista e, eventualmente, instruído.

Por norma, aqueles que, epidermicamente, julgam o meu realismo como cinismo são menos tolerantes com a humanidade do que eu. 

Eu olho para os que me rodeiam como aquilo que são e não como aquilo que eu gostava que eles fossem. Não espero que gente que nada me deve se esforce além do razoável para me respeita e aquilo que quero e também não lhes levo a mal.

Em última análise, todos procuram sobreviver e bem estar e isso, naturalmente, é egoista. Gente como a Malala, por exemplo, são anomalias que nos dão esperança mas tratam-se de bugs e não de um sistema operativo; logo, surpreende-me que a Malala exista mas já não que o gajo que me serve um café não seja como ela.

Obviamente, muita (a esmagadora maioria) das gentes que acredita muito na humanidade e que se surpreende com a sua crueldade também não são a Malala.

E eu também não sou.

 E é por isto que, por vezes, se chama de trust issue mas não é. Não confio o meu cu na mão dos outros porque a principal preocupação dos outros é o seu próprio traseiro. E isto não é criticável.

E é por isto que não sou moralista. É por compreender a imperfeição humana e a sua fraqueza que a aceito e não a desprezo nem vilanizo.

Todo o camelo é capaz de dizer ai, lembra-te que quando apontas o dedo a alguém tens muitos mais a apontar para ti mas não entendem que o mesmo se aplica aos próprios! Bem, a menos que tenham o dom de meter uns quantos no rabo ou decepá-los. Aí é capaz de funcionar.

...mas eu sofro de trust issues e isso é um defeito que, como tudo o resto, resulta tando dos genes como do meio e do que escrevi.

Geneticamente, enganar-me é algo que nada aprecio. Admito que me engano - como o Izzy admitiu a derrota - mas dói-me muito. Eu sei que enganar-me não é o fim do Mundo, caso em que já teria acabado uma carrada de vezes, mas que parece, parece.

Quanto ao meio, a estória seria muito longa e muito dolorosa, coisas para as quais não estou virado, mas, sem gastar letras que não me apatecem, vi muito gente enganar gente que nunca mereceria ser enganada e isso nunca mais me abandonou. E a esta gente que fez o que não deveria ter feito castiguei-os e não vejo que vá deixar de os castigar algum dia.

Do que escrevi, resulta que me faz sentir muitíssimo estúpido desiludir-me quando sei muito bem como as pessoas funcionam. É muito parvo ficar-se fodido e estarrecido com um cão que ladra. É demasiado primário saber-se o que vai acontecer e espantar-se quando acontece.


...mas isto não me sai barato, o que é só mais uma manifestação de que não é por se ter lido As Origens do Totalitarismo ou O Estrangeiro que se é inteligente.

Eu sou capaz de dizer a alguém que só pode contar comigo até certo ponto, o que se dá o caso de ser verdade e aplicável a todos.

Agora, digam-me o que pensariam de alguém que vos dissesse bem, podes confiar em mim mas nunca completamente!

Pois.

Teoricamente é admirável.

Na prática é estúpido.

Monday, January 25, 2021

ACABOU O CIRCO ELEITORAL

 Confesso que até me incomoda dar tanto tempo de antena às eleições mas é tão curioso socialmente que se torna irresistível (nerd, confesso-me).

Vai ser um bocado desgarrado porque nunca penso muito antes de put pen to paper.

 

Isto de gritar fascista! é um mal nacional.

Anda tudo desgarradamente a chamar fascista ao Chega!. Ora, isto é dar a este partido um mérito que não lhe reconheço, o mérito de ter uma qualquer ideologia.

O Chega! apresenta-se como sendo de Direita mas tem - repare-se na TAP - um discurso obviamente de Esquerda. O Chega! cavalga a pós verdade e anda com o vento que bate naqueles que se entendem como injustiçados. 

Não há ideias; há o que dá jeito.

 

A soberba progressista é um outro elemento, na minha opinião, que muito oxigénio deu ao Chega! Eu acho que haverá de se trilhar um caminho progressista em muitíssimos aspectos mas é preciso ententender o que muitos destes progressistas não entendem.

 Estou seguro, por exemplo, que há muita gente que não é homofóbico mas a quem a palavra casamento faz estremecer quando utilizado para o mesmo sexo. Mas para esta gente pela rama, as pessoas imaginárias que descrevi serão uns idiotas...e os idiotas revoltam-se contra os progressistas e apegam-se a quem finge que os entende.


Ninguém aprendeu nada com o Trump.

 

O que, incompreensivelmente, parece ser difícil entender é que as pessoas sentem-se injustiçadas e enganadas; é alucinante que não se ligue uma coisa à outra.

Começa-se no Sócrates, passa-se pela Casa Pia, vira-se pelo Supremo, esbarra-se com o Futebol, toma-se a nomeação do magistrado para a Europa e desemboca-se nos sobreiros para...todos serem entendidos como gatunos.

O Chega! não é uma doença.

O Chega! é um sintoma.

 

...e o Costa?

Além das críticas partidárias, não vi perder-se tempo com o facto óbvio de que não apresentou um candidato apenas para não perder e ficar mal na fotografia.

Ah, ele queria lá o Marcelo! diz-se por aí mas não é verdade. O Costa preferia um amigo mas percebeu que não conseguia lá pôr nenhum.

O Costa será, talvez, o maior oportunista político de que tenho memória e vai indo pelos pingos.

 

....e o BE e o PCP?

A extrema - EXTREMA! - esquerda levou uma pancada de que espero não se levante.

O PCP perdeu o Alentejo (!) para o Chega! e as pessoas ainda não se dão pelo problema?!

Há uma imensa parte da população que está farta desta gente toda e vai virar-se para um messias que, como todos (vá, quase todos), vendem banha da cobra a quem estiver suficientemente desesperado para a comprar.

 

Se esta merda assim continua - e não vejo que melhore nos próximos tempos - quando as legislativas chegarem a coisa vai azedar.