Friday, August 31, 2007

FTW

Ando a ver coisas que muito me desagradam.
Uma das principais é o valor dado ao pensamento alheio, a vontade de explicar o que não será compreendido e nem merece explicação.


O que aos meus olhos parece absolutamente claro reveste-se, pelos vistos, de um dos grandes mistérios da humanidade.
Não percebo como não é cristalino que apenas se pode expressar uma opinião ou revelar um segredo ou informação relevante a um punhado de pessoas.
É notório que a história da humanidade é muito mais marcada pelas facadas do que pelas alianças...e ainda assim, há muita gente que não entende isso.


Abrir a boca no momento errado e à pessoa errada é um tiro na cabeça.
Em caso de dúvida, naturalmente, a resposta é simples: fecha a puta da matraca!
Não....
O importante parece ser uma aceitação sabe-se lá de quê, parece que foi implantado um gene que obriga uns e outros a explicar porque fizeram isto ou aquilo.


Pior!!!
Quando, à partida, a pessoa com quem se fala já decidiu o que tinha a decidir, uma explicação é, basicamente, uma assunção de culpa...do que talvez nem se seja culpado.
Depois, há este que comenta com aquele que diz àquela que revela a outro...e a distorção é tanta que a verdade deixa de ser o conteúdo e passa a ser a forma.


Se o pessoal só abrisse a boca pra comer, o mundo seria um paraíso.

Como o Mundo Gira e as Certezas Escorrem

Sou avesso a relacionamentos, é uma daquelas coisas que não me agrada mas que infelizmente é verdade.
Sempre evitei aquela coisa de mãos dadas e partilhar, devo ser profundamente egoista até com os meus sentimentos.


Porque assim foi e ainda é, sou uma permanente fonte de insegurança, nunca se sabe quando me irei embora. O que se sabe é que, dando-me aquele arrepio na espinha, desaparecerei rapidamente no meio da névoa e não volto.
Isso faz com que, acredito eu, quem tem um relacionamento estável comigo se torne, caso antes não fosse, ciumenta.
Acho que o único denominador comum nas minhas namoradas era esse....o ciume.


Não sou particularmente apetecível à vista e sou ainda menos apetecível em termos de qualidades.
Então, a ciumeira deve sair da insegurança...

Thursday, August 30, 2007

A maravilha dos Valores

Estou a ouvir o Obama a falar.
Até simpatizo com o tipo, para dizer a verdade, acho-o bem falante e, até, bem intecionado (provavelmente é um sentimento inocente mas....parece-me).
Ãté aqui, tudo mais ou menos normal.
O que me dá nos nervos é quando começa a coisa demagógica que me soa, constantemente, a hipocrisia.
O tipo disse que sempre que fazia merda a mãe utilizava a seguinte técnica:
"Como te sentirias se estivesses no meu lugar?!"
Bem, uma criança sentir-se-ia no sétimo céu!!!
Há alguma coisa melhor para uma criança do que pressão psicológica? Não entende....portanto, é que se foda.
Mas o Obama não...o Obama devia ser daquelas crianças super irritantes que são adultas. Aquelas crianças que, nos filmes, entendem perfeitamente a conjuntura económica que leva à desvalorização da moeda que impede que o pai lhe dê uma bicicleta.
Irritam-me estas crianças, irritam-me muito.
Depois, com este fabulástico exemplo, o Obama dá mais força, ainda, aos histéricos defensores dos direitos das crianças que entendem a palmada pedagógica que faz mais barulho do que magoa como um irmão do espancamento.
É por causa desta treta de que as crianças são feitas de vidro e não devem ser contrariadas, porque se tornarão adultos traumatizados, que se vê o completo desrespeito por valores que deveriam ser impostos e não necessariamente, quando o menor ainda nem tem entendimento, explicados.
Detesto gente extremista, dá-me náuseas.

Wednesday, August 29, 2007

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O Meu telefone ainda sabe o teu número de cor....
.

Amor Próprio

Há mais algum?
Se o amor é independência e bem estar, se o amor é pleno e verdadeiro, se o amor é completude e alegria....
Há mais algum?


O muro que se constroi com pedras de afecto é frágil, não está preparado para o choque.
É verdade que é quente, é verdade que é colorido, é verdade que é agradável, é verdade que é confortável... mas é verdade que não é resistente.
Faz sentido entregar a empreitada da sua construção a outra pessoa que não o próprio?
Faz sentido permitir a entrada de outra pessoa?
Alguém convida as térmitas para dentro de casa?


Com toda a sinceridade, vejo com muito mais frequência os males do amor que os seus benefícios.
Não sei se serão os meus olhos maldosos ou os meus olhos abertos, o que sei é que vejo com uma frequência absurda a construção de todas as estruturas com base naquele muro desmoronarem-se ruidosa e impiedosamente.
Perante isto, faz sentido amar outra pessoa que não a si mesmo?


Apesar de ser uma imagem bonita de se ter, aquela coisa de que alguém vive para nós, aquela pessoa que nos tem como o centro do seu sistema solar, a verdade é que se essa pessoa tiver de escolher qual o par de pulmões que terá de colapsar, escolherá os teus e não os seus.


Eu tenho pra mim que aqueles que querem ser amados desalmadamente são os que não conseguem amar-se, ou porque se acham produto com defeito ou porque odeiam o espelho.
Enfim.... ninguém vai gostar mais de mim do que eu.

Saturday, August 25, 2007

Impressiona-me como é fácil manipular...
Ainda agora, uma mulher, super misteriosa e super complicada, andou umas horas ao compasso da minha música.
SMS de merda... contacto teoricamente desinteressado.... lembrar que ela existia... dar conta que se lembrava que eu existia... enfim, uma técnica manifestamente ultrapassada e ineficaz.
Como não havia o risco de eu ser apanhado de surpresa, conheço melhor estes jogos do que a minha própria casa, respondi... e fui respondendo.
Ora, fui encaminhando a coisa como me interessava, desenhando os passos dela para ela pisar o chão, indirectamente sexual.
Bem, como não gosto de deixar qualquer espaço para recuos e argumentos rídiculos do tipo "não foi isso que quis dizer", lá a forcei a deixar, por escrito e de quase livre vontada "onde estás? há alguém na tua vida?" e "vem aqui ter comigo".
Foda-se... como eu sou bom!!! (ou como ela é idiota....um dos dois)
Bem, obviamente, porque aqui estou, não fui ter com ninguém.
No seu perfeito juízo, nem ela esperaria que eu saísse de casa, apressadamente, para sabe-se lá o quê.
Então, porque sou muito boa pessoa, lá lhe disse que "aí não vou! se quisere, porque é tarde e estamos cansados, vais para um hotel e mandas-me uma mensagem com o nome do hotel e número do quarto... se quiseres, vemos um filme que está a dar" [ahahahahahahahaha - gargalhada interior].
Posta nesta posição de desastre eminente, respondeu-me que "a ideia era óptima mas... não tenho coragem pra te encarar assim logo na primeira vez que nos revemos".
Nem respondi.
Fodeu-se (ou não se fodeu).
Será que o namorado ia gostar?

Friday, August 24, 2007

As paredes tremeram.
Dentro de casa só se encontravam móveis e um aquário com um triste peixe dourado dentro.
Quando Pix chegou à porta de casa, não ousou entrar, preferiu esperar que chegassem os seus pais....não confiava que aquele estremecer de estrutura não terminasse em colapso.
Enquanto esperava, reparou que as outras casas estavam perfeitamente imóveis e que o chão onde apoiava os pés não manifestava qualquer desagrado, estava quieto, como sempre esteve.
"Foda-se - pensou Pix - não percebo nada disto.
Quando saí estava tudo tranquilo, quando volto continua tudo tranquilo menos a minha casa que abana como uma vara".
Continuou por perto mas sem entrar.
Continuou a esperar os seus pais mas não havia maneira de estes chegarem.
Continuou a ver que as outras casas nem se mechiam.
Continuou a sentir a terra firme e sólida aos seus pés.
Como Pix nunca foi a criança mais paciente do reino, começou a ficar irritado com a casa que abanava abanava e não caía.
Na verdade, começou a achar que estava a ser ameaçado... pareceu-lhe que a casa zombava dele.
Do nada, parecia-lhe que a casa se ria perante o medo que infligia a Pix, o medo de não ter onde dormir e nem um tecto que o protegesse.
A irritação de Pix, em poucos segundos, transformou-se em raiva. Os olhos raiaram de sangue e o coração acelerou.
Pegou no isqueiro, tirou gasolina do tanque de um carro e acendeu a casa.
A casa deixou de tremer e ardeu a toda a força...em segundos era cinza e não mais tremia.
Pix olhou para as cinzas e disse:
"Burra de merda!!!
Pensavas que eras capaz de me foder?
Pega!!!! TREME AGORA!!!"
Como bem se vê em baixo,
há lugares onde nem o Lord quer entrar.
.

"So I run to the Lord,
please help me Lord
Don't you see me prayin'?
Don't you see me down here prayin'?


But the Lord said,
go to the devil
The Lord said,
go to the devil
He said, go to the devil
All on that day


So I ran to the devil,
he was waitin'
I ran to the devil,
he was waitin'
Ran to the devil,
he was waitin'
All on that day"



[Sinnerman
Nina Simone]

Credulidade

A credulidade deve ser o único defeito que alimento naqueles que me são queridos.
O inverso da credulidade sou eu, o cinismo.
Esta coisa de confiar apenas na própria sombra é uma cruz muito pesada, porém, necessária.
Não vejo bem no mundo, aos meus olhos, até exaustiva prova em contrário, todos são uns fdp prontos a cravarem uma adaga nas costas dos outros ao mínimo sinal de fraqueza ou ao mínimo indício de vantagem.
Assim, porque não durmo e estou constantemente em alerta, instigo e alimento nos que partilham o meu espaço aquele sentimento de que, por natureza, as pessoas são boas.
Deixo-os dormir, descansados, enquanto eu monto uma guarda que, para eles, é desnecessária.
Naturalmente, de vez em quando eles desiludem-se e eu passo-lhes a mão pela cabeça ao estilo de "todos nos enganamos... aquele fdp representa uma minoria" e eles voltam a dormir e eu volto para o meu posto.
Custa-me que se desiludam de vez em quando mas pior que isso é a desilusão genética, a incapacidade de confiar em quem quer que seja porque, simplesmente, não se consegue.
Ontem disseram-me "um dia vais ter a tua vida... como vai ser pra eles depois?!", ao que respondi que "não vai haver problemas, tranquilo".
A verdade oculta é, no entanto, outra... Eu nunca os vou abandonar e nunca vou ter a minha vida.

Thursday, August 23, 2007

Solidão


Onde?
Umas vezes, achei que me sentia sozinho mas acho que não era aquela solidão de que sofrem os sofredores.
Por definição, entende-se só como aquele que se encontra sozinho e solidão aquele sentimento depressivo de que, como disse, está só.
Como não teria a menor graça eu sentir as mesmas coisas que os outros e da mesma forma e nas mesmas circuntâncias, eu sinto-me sozinho quando estou acompanhado.
Por exemplo, estou há mais de 24 hs em casa, por opção própria e sem qualquer motivo espeial, e sinto-me bem... não sei se feliz mas bem.
Gosto do sofá e da televisão, gosto do meu zapping descontrolado, gosto de passar de Bebel Gilberto para Slipknot porque sim.
Não sou particularmente fã de roupa, então, a minha pele só sente boxers e t-shirt sem mangas enquanto aqui estou.
Recusar qualquer destas minhas coisas é apertar-me o pescoço, preocupar-me com o que ela quer ouvir incomoda-me, pensar no que ela quer ver irrita-me.
Então, quando me renego sinto-me só, divorciado da minha única companhia....que sou eu.
Não gosto de pessoas, não gosto das gentes, não sou social nem sociável, não sou do dia corrido mas antes da noite calma.
Não tenho jeito para repartir as minhas rédas, custa-me verdadeiramente.
Poderia ser uma apologia ao solipsismo ou a uma vida de heremita mas não é.
Não sei o que é.
Não me importo de não saber.
Não lamento a minha natureza, lamento o meio ambiente.
Entendo mal a incapacidade de umas pessoas se entenderem.
Bem, pior que isso é o idiota que se injuria a si próprio, dando uma lista detalhada dos seus defeitos, para que quem o escuta o contrarie.
É muito fácil descobrir este último tipo de idiotas, é só concordar com eles, é só dar-lhes razão, do tipo "sim, concordo que a solução para o teu caso seja, de facto, o suicídio".
Ora, depois deste tipo de concordância, o idiota que tenta a velha e ultrapassada filosofia inversa, fica muito chateado e poderá, dependendo do tipo de idiota que for, contra argumentar os seus argumentos, aqueles com os quais concordaram com ele.
Porquê?
Porque ele, realmente, é um fdp que não tem nada que se aproveite dentro dele, exactamente como disso, no entanto, camufladamente e esperando a confirmação de quem o ouve, ele acha-se um gajo do caralho.
Acho que conheço 2 idiotas deste tipo, não me lembro de mais.
Com 1 deles deixei de conviver há muito tempo, com outro deixei de conviver recentemente.... e o sentimento de alívio é enorme.
Como se repara das coisas que coloco por aqui, não sou permeável a idiotices alheias, no entanto, sinto o meu espírito gritar de dor quando convivo com gente que não respeito.
Não que seja incapaz de os mandar foder, na verdade, sou mais que capaz de o fazer, no entanto, só o facto de abrir a boca e dirigir-me a eles cansa-me e faz-me sentir idiota como eles.
Há quem me confunda com este tipo de idiotas.
A diferença, brutal, é que eu me tenho, aberta e deliberadamente, em muito boa conta, não escondo que gosto de mim e, pra ser sincero, incomoda-me que me tenham uma elevada estima.
Os meus defeitos mostro-os para não me confundirem com aquilo que não sou.
As minha virtudes escondo-as para as revelar, como presentes, a quem merece.
Se achares que deves ir pra puta que pariu, vai mesmo, não te vou impedir.

Wednesday, August 15, 2007

Tenho dificuldades em saber quando demais é demais.
Além de me ser extremamente complicado distinguir o momento em que não devo forçar mais, nunca me sinto satisfeito.
Há uns dias atrás uma amiga enviou-me um poema,
.
"O meu mundo não é como o dos outros,
quero demais, exijo demais;
há em mim uma sede de infinito,
uma angústia constante
que eu nem mesma compreendo,
pois estou longe de ser uma pessimista;
sou antes de tudo uma exaltada,
com uma alma intensa, violenta, atormentada,
uma alma que não se sente bem onde está,
que tem saudade… sei lá de quê!"
.
Tenho uma grande facilidade de me ver como diferente mas uma absoluta incapacidade de me ver como especial.
Não olho para o lado como os outros, não me sinto aqui porque não sou de cá.
A vida é das coisas mais divertidas que se pode encontrar.
Tirei um curso e tenho a profissão que queria, sou até bastante competente no que faço... mas a minha profissão não me esgota.
Quando estou em ambiente laboral assalta-me violentamente esta coisa de não ser de cá, as conversas não me interessam, a cordealidade desagrada-me, os rituais não são meus, as roupas apertam-me....enfim....
Ninguém adivinharia o que faço se me conhecesse fora do horário de expediente, serei, provavelmente, o contrário do que de mim se esperaria.
Não gosto de barba feita, não gosto de fato, detesto gravatas, odeio sapatos e, especialmente, cansa-me ter de falar horas sem dizer palavrões.
Um palavrão na hora certa resume umas 10 linhas e transmite o que não se consegue fazer de outra forma com tamanha clareza mas, dizem-me, é indelicado.
Já me convidaram, há anos atrás, para fazer o que eu gostaria de fazer...mas se o meu prazer se torna obrigação tou fodido.

Tuesday, August 14, 2007

A Morte de Marte

A criação nasce de rupturas e nenhuma das rupturas é mais forte que a morte.
Aquela coisa de encantamento por uma morte bonita ou útil ou qualquer merda parecida nunca foi uma imagem que entendesse.
Não há mortes gloriosas, apenas existem, quando muito, mortes úteis.

Devo ter morrido umas duas ou três vezes.
Não tenho bem a certeza, acho que a primeira nem a senti e só agora a encaro como tendo acontecido.
Preferia nunca ter morrido, preferia nunca me ter recriado, preferia a continuidade, pelo menos significaria que nada havia a mudar e que nada havia mudado.

Todas as vezes que pereci foram úteis, afastaram-me do que era e aproximaram-me daquilo que devo ser... mas nunca quis.
A cada último suspiro que dei esvaiu-se o que de mim, legitimamente, esperavam. Houve uma doçura que se tornou cada vez mais amarga e um sorriso que se foi fechando e uma janela que se foi escurecendo para não permitir olhares intrusos.
Os beijos foram-se esbatendo e as agressões foram-se tornando cada vez mais nítidas e presentes.

Não tenho vontade de morrer outra vez, cansa-me a constante construção de novos alicerces e novas divisões.
Nestes dias que se vão passando, pareço-me mais com quem, realmente, me criou.
Estou, de facto, menos Lobo....o que me agrada.
Não me puderei habituar a esta faceta menos sangrenta, ouço os tambores de guerra ao longe, já os sinto a entoar e nesse momento, Fenris terá de se levantar uma outra vez e uma outra vez fazer o sangue jorrar sobre a relva.

Eu gosto da paz
mas a paz não gosta de mim...
Uma das coisas que me agrada é poder dormir tarde...
A história de ser bicho da noite na versão radical e sou demais já me atraiu.
Hoje em dia, não me vejo (como já gostei de me ver) como um predador embrenhado nas brumas esperando o momento certo para atacar um belo par de peitos.
Não sei se estarei velho ou se evoluí alguma coisas nestes anos mas a verdade é que, agora, gosto da noite porque é sinal que estou acordado e que ninguém me chama nem a merda do telefone toca.
Não me importo de estar sozinho na noite e nem me incomoda não ter com quem partilhar este ou aquele pensamento...até porque, quase de certeza, seria uma perda de tempo.
Alegra-me não ter de me deitar e deleita-me não ter de acordar.
Devem ser aqueles pequenos prazeres de que tanto se fala e que me escapam, na minha vida não há coisas simples, nem sequer os prazeres.
A televisão está ligada e nem sequer sei o que está a dar.
A luz da secretária está acesa e os meus olhos estão pregados na tela.
É pouco mas sabe-me bem.
Pela primeira vez em meses (talvez anos) não me sinto colérico nem aprisionado em casa.
Não estou habituado a esta sensação de sossego mas hoje vou alimentá-la, vou-me manter acordado ainda por umas horas, vou aproveitar, não sei quando este estado de nirvana voltará.

Insignificância

Quando não consigo evitar, tenho uma ou outra conversa mais pesada com uma ou outra pessoa.
Uma das últimas foi sobre a inesquecibilidade das pessoas, a capacidade de elas nunca terem existido, volvidos alguns anos.

Ora, eu não acredito que alguém seja inesquecível para quem quer que seja.
O facto de o nome ser lembrado e o aspecto físico não torna a pessoa marcante, o que muitas vezes acontece é que o papel da pessoa é, de facto, marcante....mas não a pessoa em si.

É, talvez, o tornar a pessoa num objecto de adorno do passado.
Um bibelot que fica bem naquela cómoda mas que não tem sentimentos, não tem vontades e não tem pulsar.
Muitas vezes, a face é visível mas o conteúdo fica na sombra.
Chega-se ao ponto de, instintivamente, ser lembrada uma cena da nossa vida em que a personagem tem uma ou outra fala mas que depois disso desaparece.
O que Ela fez quando foi pra casa, o que Ela fez quando saiu de casa dela, o que Ela gosta de comer acaba por não existir porque não envolve a personagem principal.....quem a recorda.

Será esse o destino de todos.
Eu passarei a pó na vida de quem se cruzou comigo muito antes de me tornar pó na minha existência própria.

Triste?
Não, a capacidade de memória é limitada, temos de nos libertar da tralha de vez em quando.

Friday, August 10, 2007

Passado Revisitado


Este ano, para infelicididade e tristeza minha, não vou fazer as férias que gosto e me habituei a fazer.
Nem são nada de especial, em termos gerais, mas são as que gosto.
As coisas não correram como previsto e o imprevisto que aconteceu impede-me de ser idiota e ir de qualquer maneira.
Enfim, adapto-me bem às adversidades e já assumi pra mim que não vou, então, o samba regressará noutra altura.
Bem, as mini mini férias que vou fazer incluem uma deslocação daquilo que nós chamamos de 3 Duques mas sem a Daisy, somos 3 gajos.
Há bastante tempo que nem sequer saimos juntos os 3, um dos elementos esteve fora do país durante quase todo o ano e o contacto (com este 3 porque os outros 2 continuaram a pugnar pelo estatudo de absoluta estupidez que é imagem de marca do trio) foi mantido por E-mails sem qualquer sentido e apinhados de "só comes cães" e "és uma puta nojenta" e "a única ranhura que usas é a do Visa" e tantas outras dentro do género.
Ora, o 3 voltou.
O 2 está a uns quilómetros de distância.
O 1 está a escrever.
Está planeado que o 1 e o 3 se juntem ao 2 em alguns dos dias que se avizinham, a reunião está próxima e, para este evento, a única palavra que sai da boca de qualquer um dos 3 é MEDO ou, então, MUITO MEDO.
Não sei muito bem o que vai acontecer mas é seguro que devemos voltar mais magros, mais cansado e a necessitar de uns dias de férias das férias.
Lembro-me da imprevisibilidade dos nossos encontros desde há anos e anos atrás.
A coisa começou com uma sequência de cerca de 2 meses em que todos os fins de semana o 3 ligava ao 1 e dizia-lhe "pá, não tou com muita vontade de sair mas queria apanhar um arzito. Vamos tomar um café?"
Do outro lado, o 1, que é fraquíssimo, dizia "Ok, vamos lá..tou como tu. Cafezito e voltamos."
O 1 e o 3 saíam de casa às 22 e regressavam com o dia já plenamente em actividade.
Foram 2 meses assim.
Quando já nem o 1 nem o 3 e nem ninguém se conseguiam acreditar que o que faziam era tomar café, optou-se pelo termo "dar uma voltita" e aí apareceu o 2.
Destas aventuras, as únicas coisas constantes eram horas e horas numa mesa de bar a virar cervejas como se o stock mundial de cerveja acabasse nos minutos seguintes.
Depois de constatar que a cerveja não ia acabar, passava-se para o Wiskey para nos certificarmos que este ainda existia.
Quando o bar fechava, depois de um "foda-se!! já?!" seguia-se um "e agora? não vamos pra casa fazer nada...."
E este era o ponto de não retorno e o imprevisível.
Muitas vezes saíamos do nosso código postal e íamos para outros, sem haver uma explicação lógica para isso, outras ficávamos no mesmo código postal e atacávamos a carne conhecido e outras ainda íamos mesmo às estações de serviço comprar wiskey, copos e gelo e levávamos a festa para casa.
Não sei como vai ser desta vez mas não estaremos em casa e nem no nosso território....o que torna tudo muito mais perigoso e imprevisível.
Bem, sa foda, é a puta da loucura.

Wednesday, August 08, 2007

Claro que Sim!!!

Telefonema:
"Fenris, tou aqui com um problema fodido pá... preciso da tua ajuda!"
"O que precisas? Diz aí!"
"Pá, é por causa da (.......). Ela fez isto e tenho de resolver mesmo, não há outra maneira!!"
"Claro, passa lá no escritório quando quiseres entre hoje e amanhã, no fim de semana não dá mas se quiseres, marcamos pra semana."
"Ok...amanhã apareço, a que horas te dá jeito?!"
"Quando quiseres, quando quiseres....."
"Obrigado, abraço."
O quando quiseres, no caso, seria o mesmo que dizer qualquer hora é péssima.
Estou tão enterrado que já nem sei para onde me virar, vai ser claramente um inferno.
Porque não expliquei isso?
Porque não sei dizer que não quando acho que amigos precisam de mim... é uma idiotice mas é assim.
Depois de desligar o telefone apeteceu-me esbofetear-me, a minha agenda parece um arco iris.
Deixei de anotar as coisas pura e simplesmente e optei por dar-lhes também cores.
Pra quê?
Bem, supostamente para distinguir os "vida ou morte" dos "em morte cerebral" e dos "tem de ser agora".
Faz sentido?
Absolutamente nenhum, é uma estupidez daquelas que deveriam ganhar prémios e serem louvadas pelos mesmos gajos que ainda assistem a programas do Mr Bean.
Tou fodido e, neste caso, nem sequer mal pago....é de borla mesmo....
Também, só me deve aniquilar parte das férias e uns quantos fins de semana.

Atormentados

Gosto muito de banda desenhada, especialmente das que têm super heróis... ou melhor, definidos como super heróis mas que, na verdade, são de carne e osso e com todos os vícios inerentes.
Um dia destes, falava com uma amiga sobre este assunto de banda desenhada (a propósito do Silver Surfer que adoro e do Quarteto Fantástico que detesto - com a devida referência ao divertido e tolerável Tocha Humana), fico sempre contente quando encontro alguém que goste do tema e quando é mulher, além de contente, fico surpreendido.
Ora, começámos a falar deste e daquele herói e quando as coisas passam do cérebro pra boca parecem tornar-se, subitamente, claras e reais.
Manifestei o meu profundo desagrado pelo Sr. Fantástico e pela Mulher Invisível (que não a Jéssica Alba....essa agrada-me muito), pelo Homem Aranha (dá-me literalmente náuseas) e pelo Capitão América, pelo Cyclops (foda-se, protótipo de corno manso) e mesmo pelo Super Homem.
Em contrapartida, manifestei o meu profundo agrado pelo Lobo, pelo Surfista Prateado, pelo Hulk, pelo Thor (versão banda desenhada, acho mais divertida e colorida do que a versão mitológica) e, em lugar de especial destaque, o Spawn e o Wolverine.
Ela riu-se e disse-me que só gosto dos atormentados.... fiquei meio estupefacto mas, de facto, ela tinha razão.
Nunca me revi, nem em criança, nos elevados padrões morais dos rosinhas super heróis que poupam os inimigos e não sacam as gajas que entendem porque....isso seria errado.
O idiota do Super Homem demora anos para comer a Lois Lane, o camelo do Peter Parker vive uma vida miserável de fotógrafo quando poderia ganhar rios de dinheiro de outra forma, o Capitão América....bem.... o Capitão América basta ter o terrível nome que tem. Capitão é só péssimo, América é só desprezível....
Sempre fui mais o Spawn que é recrutado pelo infernos mas, ainda assim, anda a rebentar os criminosos como se não houvesse amanhã.
O Wolverine que quer, basicamente, que vá tudo pó caralho e ainda assume que quer comer a Jeane Grey sem medo da felicidade.
O Surfista Prateado....bem, esse é só o que é, e isso é admirável.
Pessoas sem conflito interno são extremamente chatas, personagens de ficção então....
Aquela coisa subliminar de que o bem triunfa sobre o mal, ambos em estado puro, é das maiores balelas que foram inventada. Ainda hei-de ver a bondade servir de colete anti-balas mas até hoje ainda não vi.
Dar a outra face pode até fazer sentido quando se fala de uma chapada, no entando, quando se trata de um raio cósmico, não há tempo para virar a cara, já foste!
Todas estas linhas, eventualmente, para dizer o quê?
Bem, acho que me vejo no Wolverine de unhas cortadas e no Spawn sem ter a pele queimada.
Duvido que seja uma personagem torturada mas não vou andar com as cuecas por cima das calças de certeza.

Monday, August 06, 2007

Será Tão Complicado?


É muito comum dizer-se que não se entende as mulhres, especialmente quando são homens a abrir a boca.
Não me parece verdade, nem sequer as acho tão complicadas como isso.
Sinto-me tentado a dizer que é uma afirmação idiota, no entanto, não o farei porque não sei se quem a diz realmente acredita nela.
Eu fui criado por mulheres.
Não frequentei jardim infantil nem nada do género, até à idade escolar convivi com mulheres em tempo quase integral (muito porque a minha avó era quase cega e não podia controlar-me na rua).
Depois disso, comecei a ter amigas. Felizmente consegui separar a carne do espírito e não comi nenhuma amiga... o que me abriu as portas à psique feminina.
Não acho a mulher um mistério e isso não me incomoda.
Não vejo encanto nenhum naquilo que não conheço e não consigo controlar, então, estou até agradecido pelas pedras que me conduziram a não ser surpreendido pelas acções femininas.
Daqui poderia retirar-se que me farto de comer gajas.
Não acontece.
Além de, acredito eu, não ser o protótipo de gajo bom, há uma coisa que é bem mais definitiva e me impede de andar à caça desenfreada.
Não tenho paciência nenhuma para um determinado tipo de joguinhos.
Apesar de eu saber exactamente o que vai sair da boca dela e de saber, também, exactamente o que ela quer que eu faça e o que vai resultar dessa minha actuação, raras vezes entro nessas.
Já mandei gajas bem boas ir dar uma curva porque elas achavam que deixar-me comê-las seria um prémio único, então, teria de levar a jantar e esse tipo de merdas... quando elas eram chatas pra caralho.
Não me prendem a uma mesa, sóbrio, durante horas para ouvir merdas sem qualquer interesse nem minimamente divertidas.
Há um tempo atrás, infrigi as minhas regras e levei uma miúda a jantar.
Achava-a muito bem feita e bonita e, até, interessante... dentro do chato.
Pensei"foda-se Phenris, vamos tentar.... há tanto tempo que não alinhas num esquema destes, pode ser que estejas enganado ou que as coisas tenham mudado...".
Pois, fodi-me mal fodido.
A meio do jantar já tinha uma de tinto alentejano nas ventas e ia partir pra outra.
(A dada altura, no jantar, ela diz-me que "não gosta nada que fumem à mesa, mesmo depois de ela ter acabado de jantar"...fodeu-se, ri-me e acendi um cigarro).
Quando o jantar acabou, garrafa e meia de alentejano depois, ela decidiu pedir sobremesa.
Pensei "ah é? pera aí!" e comecei a pedir irlandeses novos uns atrás dos outros.
Acabei, naturalmente, bêbado e ela sóbria....mas sobrevivi.
Lá fomo embora e quando a deixei à porta de casa ela diz-me "não queres tomar alguma coisa? Sobe..."
Pois.... "não vai dar, tenho de me levantar cedo amanhã".
O que queria ela?
Provavelmente outro jantar e, eventualmente, um namorado... não há foda merecedora de tal sacrifício.
Outras vezes, aparece-me (isto raramente) a gaja boa da discoteca para falar comigo.
Depois de se abanar insistentemente na pista e ter 40 gajos a babarem-se, ela, A matadora, vem abanar-se à minha frente.
Tropeça sem querer e olha-me sensualmente pedindo desculpas....
Em dias bons, respondo "de nada" e sigo o meu caminho, em dias maus pergunto "não precisas de disfarçar, se queres diversão, diz directamente".
Não tenho paciência para que me façam de parvo e pensem que fazem de mim o que querem, independentemente da copa que usem.

Saturday, August 04, 2007

Traumas


É incrível as coisas que se fazem às pessoas....
Assusta-me no que as pessoas passam a acreditar se lhes for repetido vezes e vezes sem conta, especialmente quando crianças ou asolescente mas, infelizmente, também quando adultas.
O exemplo que me lembrei, hoje, foi de uma menina (em termos de idade, mulher mas em termos de força interior, menina).
A primeira coisa que reparei nela foram os peitos, uma coisa que me hipnotizou mal me apareceu à frente.
Volumosos, firmes (aparentemente) e muito bem delineados.
Tratei de arranjar um encontro com aqueles peitos sem que tivesse tecido a obstruir, o que aconteceu algum tempo (não muito) depois.
Foda-se.... eram exactamente o que previa!
Fiquei maravilhado e como uma das características que me marca é de ficar verdadeiramente entusiasmado com aquilo que me agrada, passei dias e semanas e meses a brincar com eles.
Havia, no entanto, alguma coisa que não jogava...
A lingerie não acentuava devidamente aquelas obras de arte, era tristonha e disforme quando aquele par de divindades mereciam um palco apropriado.
Quando a coisa evoluiu e a confiança cresceu (na verdade, quando me apareceu com uma lingerie que nem vontade de a comer me dava) perguntei-lhe:
"Foda-se... porque usas tu essas merdas?! Tu sabes que isso não te faz justiça e se não te faz justiça não me empolga em nada!"
Foi então que se soube que ela tinha vergonha das mamas....porquê?
Porque a mãe dela a tinha feito acreditar que peitos grandes não eram elegantes e nem coisa de senhora de bem.
Como me incomoda tudo que atenta contra a humanidade, no meu jeito alegre e doce de ser lá lhe perguntei se "foder é coisa de senhora de bem. É que a tua mãe há-de ter fodido porque tu nasceste!".
Estranhamente, aquela afirmação causou algum mal estar.
Depois de ela ter digerido que a mãe era idiota, lá foi acreditando que eu gostava tanto de a ver nua porque realmente era um espectáculo bonito de se ver e que não devia ter duas tendas elásticas a segurar tão delicadas porcelanas.
Ela apaixonou-se por elas da mesma maneira que eu me tinha apaixonado à primeira vista.
Começou a dar-lhes (e a mim) a casa que elas mereciam, começou a dar o valor devido ao que usava por baixo da roupa.
Perante isto, sempre fiquei na dúvida porque o pamonha do namorado dela nunca tinha tomado uma atitude (o que nos leva de volta ao pamonha) e porque aquela mãe complexou, desnecessariamente, aquela filha.
Bando de filhos da puta.
Se o namorado não dizia nada para que ela passasse despercebida e ninguém a quisesse.....fodeu-se, levou uns belos pares de cornos por moi même.
Se a mãe a queria ignorante quando ao prazer de foder... fodeu-se, porque se o namorado dela não fazia direito (e não fazia) eu fiz.
Ela acordou para a beleza que tinha com ela e eu senti que o meu trabalho estava feito.
Fui-me embora.

Friday, August 03, 2007

Porque não gosto de Políticos



Poderia procurar exemplos conhecidos de todos, começando no maoista Durão que se transformou em Social Democrata a Zita Seabra (se não estou em erro) que lhe seguiu o mesmo caminho mas sem a desculpa de ter sido comunista apenas no pré 25 de Abril.

Poderia, até, usar os casos de corrupção que por aí saltam mais que marmotas, no entanto, não o farei.

Na verdade, os casos acima descritos resultam de processos judiciais ou de comunicação social ou, ainda, de actos analisados em resultado de imagens televisivas ou mesmo de discursos que, eventualmente, poderiam ser mal interpretados.

Ora, para tentar ser o mais fiél possível ao que vi e não ao que me contaram ou ouvi por terceiros, lembrarei um gajo que frequentava a minha faculdade.


Este gajo era, como todos os supostos radicais e verdadeiros imprestáveis, portador de uma enorme ideologia e sentido de política.

Também como todos os supostos radicais e verdadeiros imprestáveis, fazia da campanha para a Associação de Estudantes (quando ainda lá não estava) a sua actividade primordial e a Associação de Estudantes em si (quando lá chegou) a sua obra.

Ainda como todos os supostos radicais e verdadeiramente imprestáveis, adorava ouvir-se e ter umas quantas gajas acéfalas (e feias como a puta que pariu, a minha faculdade estava ocupada por este tipo de fêmeas) a asmirá-lo.


Qual a corrente ideológica dele?

Ora, como todo o estudante que está lá pra muita coisa mas não para estudas, era comunista... na verdade, não era comunista, era Anarco-Sindicalista.

Nunca, até à data, havia visto um anarquista lutar pelo poder mas, possivelmente, eu não sei ao certo o que é anarquia....ou o gajo era só e simplesmente, idiota.

Nunca gostei dele (mas, também, é práctica habitual).


Como não sou assumidamente crítico e a primeira coisa que reparo em alguém é nas incongruência e defeitos, sempre disse, aos que me rodeavam, que aquele gajo era um palhaço.

Naturalmente, como a maioria das pessoas (felizmente) ainda vai acreditando que as palavras que alguém diz são verdade era comum ouvir "És sempre a mesma merda, não gostas de ninguém".

Como frequentemente acontece, apesar de eu ser o demónio disfarçado de gente, costumo ter razão no perfil que desenho das pessoas.

Não decidi, ainda, se é uma dom ou uma maldição mas que acerto...acerto.


O que aconteceu?

Bem, o Anarco-Sindicalista (ainda acho um termo metido ao elaborado sem sentido absolutamente nenhum) deu uma virada à direita.

Sim, à direita, não à esquerda, o que ainda seria aceitável.

Vi-o, há uns tempos na televisão, investido da sua nova função de defensor da moral e dos bons costumes e não pude deixar de sorrir e pensar "foda-se Fenris, tu tens muitos defeitos mas que és bom, disso não há dúvias!!!".


Ainda me dou com algumas das pessoas que tiraram o curso comigo e, quando o assunto veio à baila, lá fizeram justiça e disseram que eu tinha razão (também, pior do que o que aconteceu, só se ele aparecesse com uma suástica tatuada no braço).

Foi usado aquele célebre termo (pelo menos para mim) de puta política, com o devido respeito, que é muito, pelas prostitutas que, apesar de tudo, desempenham a sua função de forma linear e coerente.


Posto isto, alguém me faz acreditar que os politicos e as suas politicas estão ao serviço do público?

Haverá, ainda, uma pessoa que consiga dizer-me isto e manter um rosto sério?
Enfim....

Thursday, August 02, 2007

"They say time will make all this go away,
but it's time that has taken my tomorrows and turned them into yesterdays.
And once again that rising sun is droppin' on down
And once again, you my friend, are nowhere to be found."
Walk Away
Ben Harper

Toque


Um certo dia num certo lugar numa hora incerta o tempo fechou-se e fez a vontade a quem não o queria para nada.
Era uma imagem do cume de um monte, um casebre com um quarto, um dia nublado, uma aragem fria, um carro pequeno, uma chegada apressada e uma partida que não se queria.
Foram dois e voltaram um, chegaram sedentos e partiram calmos, encontraram-se separados e despediram-se juntos.
Uma, séria e tensa, ciente do perigo.
Outro, calmo e despreocupado, crente na fome passageira.
O mundo dela era ordenado e de linhas previsíveis, sabiam todos os que a rodeavam que aquele rio iria levar àquele mar e que não haveria qualquer afuente que a desviasse do leito.
O mundo dele nem sequer era. Não havia um destino, não se vislumbrava um destino qualquer, apesar de se deslocar a uma velocidade alucinante.
Não os viam juntos e nem imaginavam que eles trocavam mais do que um cordeal cumprimento.
Uma vivia pelos traços que haviam sido delineados, outro saia do asfalto que lhe tinham construído e saía para a terra.
Uma era doce e amável, outro azedo e áspero.
Sempre que o outro parava para pensar o que ali se passava, a única coisa que lhe ocorria era "acidente prestes a acontecer", uma tentava acreditar que ali nem sequer se passava nada.
Uma confidenciou ao outro que muitas vezes havia pegado no telefone com a firme convicção de lhe dizer que o melhor seria parar o comboio antes que este embalasse, confidenciando-lhe depois que mal ouvia a sua voz os seus planos caíam por terra e ela não conseguia sair no apeadeiro seguinte.
Uma disse ao outro que se estremecia quando o ouvia não conseguia imaginar como iria aguentar não o ver.
O outro sentiu o comboio acelerar.
No fim das contas, ambos estavam certos, o carril não aguentava a velocidade a que o comboio se deslocava. Aliás, estavam certos ambos e o resto do planeta que, apesar de os apanhar a meio da viagem, sabiam que esta não seria longa.
Uma voltou para o leito.
Outro voltou para a terra.