Thursday, December 23, 2010

Natal

O Natal de há uns anos para cá tem mais de deprimente do que de alegre.

Há algumas justificações para isso, há fundamentos para o Natal não me dizer grande coisa. Na verdade, poderia peroar as grandes injustiças mundiais e a cena do devia ser Natal todos os dias mas de hipócrita tenho pouco e apesar de me pensar em problemas civilizacionais penso incomparavelmente mais naqueles que me batem à porta.



Então,

a minha família não é fervorosamente católica e acho até que parte dela não é católica de todo. Eu...bem, eu fui influenciado pelo catolicismo e se tivesse de ser alguma coisa seria católico, contudo, felizmente, não tenho de ser coisa nenhuma.

Depois, há o facto da minha família ser manifestamente pequena. No Natal, portanto, não vejo nem encontro ninguém que não veja ou encontre diariamente. O jantar de Natal é como os outros com outra toalha de mesa.

A finalizar, a pequena família que tinha desarticulou, como acontece a tantas outras, e, porque desarticulou, esta quadra que nos entra em casa como sendo a de família atira um pouco mais de terra para a defunta e quase inexistente união familiar.



Por mim, nem festejava porque nada tenho para festejar mas não posso.

Não serei eu a abrir os olhos dos outros e atira-los contra a parede que é a realidade.

Tuesday, December 21, 2010

MaiseMaiseMaiseMais

Não tenho talento para milhares de coisas e, uma delas, é beber água.
Constatei, depois de anos do mesmo problema que nunca tinha identificado, que não me é possível beber água sem que alguma me escape da boca.

O movimento é constante: pegar numa garrafa ou num copo cheio (não sou de colocar só metade porque me parece sempre insuficiente, independentemente da sede que de facto sinta), puxá-lo em direcção da boca, abrir a mesma o mais que me for possível e despejar. Escancarar a boca, dilatar a garganta e atirar água lá para dentro.
Muitas das vezes fico cheio, muitas das vezes recebo mais do que preciso mas nunca mais do que o que quero porque, como em quase todas as pinceladas que vão tocando a tela, quero tudo, aguente ou não.
Então, como não podia deixar de ser, parte da água arremessada não encontra o espeço com a velocidade de que precisa e salta fora para, imediatamente, ser substituida por mais e mais até que a fonte seque.

Mais devagar, vai fazer-te mal ouvi mais vezes do que consigo contar mas, apesar de saber que a razão assiste a quem me avisa, nada muda: quero mais, quero tudo, quero agora!
E se a água acabar? Bem, isso não é um problema de monta, apenas terei de encontrar outra coisa para me invadir e não deixar nada de seco.
E se a água for excessiva? Bem, não é se for, é mesmo mas, por mais estranho que pareça, é essa incessante vontade que aproxima os temerários e afasta os audazes.

Monday, December 20, 2010

Não sinto falta de coisa alguma.
Não espalho notícias deste tipo por aí porque para uns seria uma enorme desilusão e para outros uma afirmação de uma desejável e invejável qualidade. Nenhum dos dois estará certo mas preocupa-me mais os primeiros.

As pessoas que abrem as suas portas para que entres, descanses ou seja lá o que for merecem sentir que estás lá bem e que desejarás, mais tarde ou mais cedo, voltar. A moeda de troca da hospitalidade, para todos nós, é a gratidão e a importância que lhe devemos.
Sinto-me mal por não me ser tão indiferente como marisco, apesar de lhes ter apreço a verdade é que não sinto a sua falta.

Aqueles que entendem esta triste característica como uma qualidade pensam, em geral, que é uma afirmação de força de carácter e o zénite da independência. Enganam-se.
Contrariamente à crença generalizada, as mais das vezes, pessoas como eu não sofrem de falta de buracos que, como na maioria, são preenchidos com carinho e atenção dos outros. Pessoas como eu têm um buraco tão grande que não pode ser preenchido e de tão imenso sempre que é alimentado nem sente a terra cair-lhe dentro.

Não tenho medo do apocalipse nem dos seus cavaleiros.
Afinal, o que me poderão eles fazer?

Thursday, December 16, 2010

Infelizmente, não sou o único que se vê de forma distoricida quando se tenta analisar. Felizmente, contudo, neste particular, tenho a capacidade de o saber apesar de ter, também, a estúpida capacidade de, quando me dá jeito, o ignorar.

O facto de as pessoas dizerem, a maioria das vezes, o que querem ser e não que são é uma característica que me irrita profundamente em quem não conheço e me enternece em quem conheço.
A ideia da pretensa modernidade é o reflexo directo deste tipo de comportamento. O princípio de que ninguém é de ninguém tornou a perniciosa promiscuidade em latente realismo e a maneira correcta de ver a vida. Não direi que é a inversão de valores mas antes uma reorganização que me desagrada.

O mundo feminino em que fui criado e, talvez por isso, aquele que tenho como sendo certo (em itálico porque o certo e o errado depende muitas vezes do lado da rua em que estamos) não se coaduna com esta modernidade generalizada.
Mentiria se dissesse que na maioria generalizada das vezes não me beneficia ou não é, por um curto espaço de tempo, o ideal mas...
Não quero virgens nem putas e, se me dessem a escolher, apenas, entre estes dois casos seria miseravelmente infeliz.
Não quero quem me deixe solto nem quem me tenha constantemente amordaçado e, também neste caso, a ter de escolher seria miseravelmente infeliz.

É mentira que seja liberal.
É mentira que não me faça diferença o que quem eu gosto anda a fazer.
É mentira que quero que me deixem em paz.

Quando gosto não quero que me deixem. Não quero que me deixem sob qualquer pretexto, quer em paz quer em guerra, quer fisica quer animicamente, quer em sentido figurado quer em sentido literal.
Posso até dizer o contrário mas, se o fizer, ou não gosto ou, estupidamente, estou a mentir.

Tuesday, December 14, 2010

Inesperado

Algumas das mais brilhantes descobertas da minha vida vieram de onde não esperava. Sim, não serei caso único, longe disso, mas é uma fenómeno tão intrigante como estranho.
Se procurar ingredientes devo procurar a cozinha;
Se procurar filmes devo procurar o (extinto) video clube;
Se procurar arte devo procurar uma galeria.

Tudo isto está certo, seria, até, uma parvoice procurar o que quer que seja longe do seu habitat natural...contudo, as maiores pérolas que encontrei não se encontravam nas ostras, como seria de prever.

Um desses exemplos é a música (parte manifestamente importante dos meus gostos e prazeres).
Descobri Nina Simone enquanto via o filme Nikita, por exemplo. Nikita era uma assassina profissional obcecada por Nina Simone.
Naquela altura era ainda mais ignorante e pensei, até, que o nome da artista era inventado, para efeitos das história (afinal, quem se poderia chamar Nina Simone?!), contudo, passado algum tempo (bastante, diga-se) ela reapareceu na minha vida e não mais me deixou.
Para quem possa ter dúvidas do porquê: http://www.youtube.com/watch?v=PgvQvCbGy_c

Ainda dentro do fenómeno música, tenho mais uma memória para contar. Nada de novo, mesmo neste blog, mas, ainda assim, interessante.
O meu gosto pelo samba não é de hoje mas, como acontece em quase tudo que requer bom gosto, também não me acompanha desde que nasci.
Por incrível que pareça (e eu sei que parece) fui para o Rio de Janeiro por causa do samba. Sim, quando todos achavam (e ainda acham, sem dúvida) que ia à procura de gajas, a verdade é que fui para visitar a Lapa e tantos outros lugares que me pintava a alma de bamba.
Bem, regressando: quando fiz 27 ou 28, não me recordo ao certo, fui festejar desde as, talvez, 3 da tarde até quando fosse; eu e outro amigo deslocamo-nos onde nos servissem cerveja sempre que o pedissemos (e com rapidez) e uma horas depois e muitas cervejas mais tarde vimos um cartaz que anunciava um concerto para essa noite.
Foi decidido ali. Uma cantora que desconheciamos, reportório que nunca tinhamos visto mas um estilo que me agradava. Fomos e descobrimos e, desde esse dia (o que marcou, por sinal, a estreia da artista fora do seu país, descobri mais tarde) nunca mais faltei a um show dela por cá.
Para quem tiver curiosidade: http://www.youtube.com/watch?v=-Kv2uX8NSRU

O que interessa encontra-nos mas, pelo sim pelo não, devemos continuar a procurar.

Saturday, December 11, 2010

SYLVIE VAN DER VAART


Depois da coisa a passar pró depressivo anterior, a Sylvie porque:
1) É a prova que existem mulheres de jogadores de futebol bonitas e com bom ar (cfr. porcas que pulvilham a vida do CR, todas elas);
2) É a prova que não é um cancrozito que impede a luz de brilhar;
3) É a prova que não tenho inveja dos jogadores de futebol, em geral, mas posso ter de um ou outro, em particular;
4) É a prova que existe gente feia (ou menos bonita, como lhe queiram chamar) porque não se pode dispender o mesmo tempo a todas as obras de arte;
5) É a prova que posso até andar a rastejar a custo mas não estou morto.

Idiotices que se Confundem com Heroísmo

Uma vez, não sei bem onde, vi ou li que é muito fácil admirar gente extrema. Não deixo de concordar... da mesma maneira que não me parece um feito de monta e nem sequer a atingir ser assim.

Digo-o por experiência própria (não no que concerne a ser admirado, o que me interessa pouco e menos ainda se é verdade), extremismo, qualquer que seja, não é nem (perto de) admirável.
Sim, de vez em quando dá a aparência cool de despreocupação por regras ou constangimentos morais e, de longe a longe, é muito útil para que não nos perguntem porquê de tão óbvia que será a resposta mas, repetindo o que nunca é demais, nada tem de admirável.
Dará boas personagens televisivas mas pouco mais. E são boas porque não temos de as aturar, daí acharmos graça e daí a eterna alegria na desgraça alheia.

Exemplos práticos e recente:
Há uma semana que não saio de casa (até hoje e, como surgirá, por motivo especial). Sei porquê e não me apetece repetir, em princípio, estará ultrapassado.
Durante esta semana vegetei. Respirei porque não consigo evitar, comi porque seria demasiado pesaroso verem-me sem sair e, ainda por cima, sem comer e, por fim, peguei hoje no primeiro cigarro.
Porque saí?
Porque esta prisão domiciliária que me apareceu redundou no facto de não ter dormido hoje. Revirei todos os lençois, imaginei tudo, contei carneirinhos (que muito prezo) e, sim, isso também; por duas vezes...e nada.
Acrescente-se a isso que, por outros motivos desejo estar incomunicável (telemóvel desligado desde ontem mas não posso fazer o mesmo ao de casa) e aqui estou, uma semana depois, de directa, sem sono, sem vontade mas claramente a recuperar.

Quem me perguntou porque me fechei? Quem me perguntou porque desapareci?
Ninguém. Ninguém tem coragem.

Por isso, meus amigos, fodam-se os românticos extremos, fodam-se todos e eu com eles.
Precisamos de ter força é para compromissos, acordos...A árvore da liberdade (como um idiota uma vez disse e milhões de idiotas disseram depois dele) não tem de ser regada com sangue patriótico de tempos a tempos. Isso só deve acontecer em último caso, quando estiverem para a cortar.