Monday, October 31, 2011

Houve-se, com alguma frequência, referência à solidão no meio da multidão. Numa época de alienação, especialmente urbana, esta expressão ganha cada vez mais sentido.
Infelizmente, desde há uns anos valentes para cá, tem-se vindo a construir uma mentalidade em que esta solidão não é necessariamente má. Vemos, muitas vezes, esta solidão como um produto da diferença e de que somos especiais... é uma coisa do romântica esta da incompreensão não por culpa própria mas alheia. "É este o preço que tenho de pagar por seguir o meu próprio rumo!"

Deixem-me que vos diga que, ainda assim, há coisas piores.

Nestes tempos de provação observamos um aumento de violência e de depressões mas, na minha completamente amadora visão das coisas, isto não resulta, directa e unicamente, de questões financeiras.
Não, não sou parvo ao ponto de desligar uma coisa da outra porque, pura e simplesmente, seria ridículo...mas não é só.

Vivemos em expectativas, sempre.
Hoje, como ontem, queremos ter sucesso mas hoje mais do que ontem este sucesso surge como um imperativo e não apenas como uma vontade (mais que legítima) de cada um.
Então, o dinheiro não é apenas aquilo que usamos para ter o que queremos mas para SER aquilo que queremos. Hoje, dinheiro passou de meio a fim. Hoje, é a tatuagem dos "escolhidos".

Se o que escrevi parece basófia comunista, lamento. Seria difícil eu estar mais longe do comunismo do que aquilo que estou.
No entanto, o que pretendo, de forma eventualmente torpe, transmitir é que deveriamos ser mais do que dinheiro, deveriamos ser mais do que aquilo que esperam de nós, deveriamos ser mais do que a soma do que é visto por quem não somos nós.

Deveriamos mas não somos.

Thursday, October 27, 2011

Cultura

Não será uma análise ou reflexão sobre o que é cultura e o que dela está excluído. Não duvidando de que é uma discussão muito interessante, parece-me, agora, secundária.

Hoje em dia, andamos todos em alvoroço pelos imensos cortes que por aí se andam a fazer. É a saúde, é a subida do IVA, são os cortes nos salários e outros benefícios do estado social...enfim, é uma linha que corta em toda a ordem.
Uma das medidas tomadas foi o corte ou a diminuição de apoios estatais à cultura (sim, os puristas não concebem o mundo em que expressões culturais têm de se sustentar porque o dinheiro é "mau"...desde que sirva para finalidade diversa de sustentar os próprios) e o aumento do IVA de 6 para 23%.

A indignação é completa, como não poderia deixar de ser, porque isso vai tirar espectadores (obviamente) e porque vai fazer regredir Portugal para o pré-salazarismo (sim, o fenómeno teatral não é um fenómeno localizado mas antes massivo!! Claro...) e vai tirar o emprego a muita gente.

Passando ao lado de algum exagero, concordo com todas as críticas feitas, são mais do que justas...o que acontece é que são, como direi...parvas no momento actual.

Gosto muito de cinema, música e literatura, por exemplo, mas gosto mais de ter luz em casa e de ter uma batata para comer.
Se querem saber, podiam aumentar os preços na cultura ainda mais se não mexessem nos preços da electricidade. Sim, eu sei que uma coisa não está ligada à outra, directamente, mas neste momento parece-me pertinente distinguir o essencial do acessório...e a cultura, por muito que dela gostemos, é acessória ao mínimo digno de sobrevivência que se encontra, também ele, ameaçadíssimo!

Poser-se-á dizer que a história não é escrita com base em gajos como eu mas antes em visionários e artistas e tipos que vêm muito mais longe e seguramente não será um erro. Reconheço a minha limitação utilitarista ou imediatista ou, como gosto de lhe chamar, realista.
O que acontece é que, em virtude desta minha ligação à terra e à carne é virtualmente impossível convencer-me de que não há uma escala a respeitar ou que essa escala não parte da simples existência para tudo o resto. Existir é pouco, concordo, mas sem existir fica mais difícil pensar, escrever, pintar e, até, dançar!

Quando se luta pela sobrevivência prescindimos do que não precisamos e, em última análise, se necessário for, nem sequer precisamos de todos os dedos...

Saturday, October 22, 2011

Um destes dias tive de andar de combóio, o que não é, de todo, um sacrifício. Retirando o carro (quando sou eu quem guia), o combóio é o meu meio de transporte favorito.
Esta viagem, contudo, não correu como previsto porque, como já uma vez me tinha acontecido, a locomotiva pifou e, por isso, além de ter andado não sei quantos kilómetros entre o parado e o muito devagarinho, papei uma seca de mais de uma hora numa estação um pouco antes do meio do caminho.

Desta vez, contrariamente à anterior, tive alguma sorte. Primeiro porque estava uma óptima temperatura para estar fora da carruagem a fumar uns cigarros e segundo porque conheci, a fundo, uma nova amiga.
Quando falei com um ou outro amigo, no dia seguinte, queixei-me, obviamente, do tempo que perdi mas não deixei de dizer que "pelo menos saquei uma gaja". Depois de ter dito isto arrependi-me; não porque me incomode anunciar (especialmente porque ninguém a conhece) nem por ter sido uma tirada a atirar para o chauvinista, o que não sou. Arrependi-me porque não a saquei como, para mim, nunca saquei gaja nenhuma.

Os homens são sacados. Ou de uma forma óbvia, o que é mais raro mas não tão raro como se quer fazer crer, ou de uma forma dissimulada, o que é mais comum mas menos comum do que o desejado porque não somos tão espertos como gostávamos ou como acreditamos.
A mulher escolhe sempre e quem escolhe saca.
Nós andamos, normalmente, às aranhas a ver se a coisa anda para a frente e, quando anda, enchemos o peito porque "sacámos mais uma"! Nada disso. Fomos escolhidos entre tantos outros que querem o mesmo que nós e lutam pelo mesmo pedaço de carne que não é caça, como o imaginamos, mas caçador.

Nesta viagem de combóio foi igual.
Quando saí da carruagem uma miúda saiu atrás de mim (não no sentido de me perseguir mas apenas depois de mim) e perguntou-me já não sei o quê.
Eu estava tão irritado que respondi mas sem, sequer, pensar em mais do que isso apesar de ter reparado num belo para de jegas e nuns lábios carnudos.
Depois, ela tocou-me uma, duas, três vezes no braço enquanto sorria e, lá pela quinta vez comecei a achar que "se calhar ia dar!!" Pessoal, pela QUINTA VEZ!! As quatro anteriores eu devo ter achado que era o vento inexistente ou um desiquilíbrio que nunca existiu!

Ah, para provar que não sou chauvinista nem exageradamente machista, não fiquei a achar menos dela (bem...talvez um bocadinho...).

Thursday, October 20, 2011

Utilizador - Pagador

Este termos entrou no nosso léxico aquando do portajamento das SCUTs.
Este princípio, como o próprio nome indica, indica que quem usa as cenas tem de pagar para as usar.

Sim, não é mentira nenhuma...mas para que pago eu impostos?!

Poderia dar milhares de exemplos ilustrando que este princípio sempre foi usado em Portugal e não me refiro ao facto de sempre termos pago impostos o que, por si só, já faria de nós utilizadores-pagadores. Não, nada disso. Para ser absolutamente sincero, correndo o sério risco de estar enganado, não me lembro de qualquer serviço, de qualquer tipo, onde, desde sempre, não tivessemos de o pagar...depois de o termos pago primeiro com os impostos.

Repare-se nas já referidas SCUTs. Não são nada de novo, são apenas mais auto-estradas em que nos habituámos a circular, durante um curto período de tempo, sem pagar mas que, fatal como o destino (e os impostos), a factura chegou.

Reparem, eu não sou um gajo reenvidicativo sem sentido, tipo o comunismo português, nem sequer pretendo que me resolvam todos os problemas e nem sequer sou gajo de fazer ou participar em greves...mas....pá, para onde vão os impostos pagos?!
Eu sei que esta história de "para que servem" ou "para onde vão os meus impostos" tem um ar de revolucionarismo mas, asseguro-vos, não é o caso.
O que gostava de saber, MESMO, é para onde vai o dinheiro!!

Sim, já vi gráficos que o explicam e cenas desse tipo mas, perdoem-me, não fico convencido!
Não consigo ir a nenhum centro de saúde ou hospital sem pagar (dir-me-ão que pago menos do que o que o serviço custa mas também não lá vou com nenhuma frequência e, de novo, sou utilizador-pagador há anos), tenho enormes dificuldades em fazer 500 metros de asfalto sem pagar e, só a título de exemplo, nunca andei de borla na escola.
É isto que quero dizer: Para onde vai o dinheiro?!

Assinado, hoje, por:

Utilizador-Pagador.

Tuesday, October 18, 2011

Eu sei que a coisa anda meio repetitiva mas, infelizmente, não tenho conseguido sair dela.
Hoje, no entanto, a abordagem é outra.

Ontem, pela primeira vez em muito tempo, não me foi possível seguir os noticiários. Não, a televisão não pifou e não, não estava com uma tal ressaca que me impedisse de sentir a presença de luz na cara.
Não me foi possível porque, pura e simplesmente, não aguento mais.

Sou um adepto da verdade, sempre fui. Não gosto que me mintam e prefiro saber tudo. Apesar de acreditar que a ignorância é uma benção este princípio só funciona quando anda entre os arbustos e não o vemos, caso contrário, não somos ignorantes e muito menos seremos abençoados.
O problema é que estou no limite quanto à capacidade de ver e ouvir milhares de minutos por dia o quanto estamos fodidos... e estamos mesmo. O que sucede é que, agora, começo a achar que me chega ver um morto uma única vez e não um sem número de vezes. Sim, eu sei que está morto e nada há a fazer mas poupem-me os olhos.

É uma sensação muito desagradável, para mim.
Esta conjuntura adicionada a mais umas especiarias que temperam a minha vida começam a produzir um péssimo refugado que me faz pensar "ah...então é por coisas como esta que o pessoal se vira para a droga e para a bebida...".

Levem-me daqui.
Para onde, não sei e o pior é isso mesmo. Todos os outros lugares, sejam eles quais forem e onde forem paracem, agora, melhores que este.

Saturday, October 15, 2011

Na sequência do Post anterior...

Como seria de esperar, a reacção ao OE 2012 foi e está a ser violentíssima. Não me refiro à oposição nem aos comentadores políticos porque esses, tanto uns como outros, sentem ter de reagir violentamente sob pena de não serem ouvidos e, tragédias das tragédias, deixarem de ser lembrados.
Não. A reação anda pelas ruas.

Já ouvi bastantes cidadãos comuns a cederem, para já verbalmente, à violência e a prestarem-se, também verbalmente, para já, a irem para a rua partir umas coisas.
Ora, Portugal não é um país violento (por mais que O Crime ou o Correio da Manhã o queiram fazer crer) e nós que o compomos somos gajos porreiros que não se chateiam a sério.
Alguns dirão "até ao dia..." e poderão muito bem estar certos...a questão é que a nossa história recente, para não ir mais longe, mostra-nos que o "nacional porreirismo" impera. Revolução de flores sem mortos e uma ditadura que é chamada de fascista mas que quando comparada com as verdadeiras ditaduras fascistas (espanhola ou italiana, para não ir à alemã) quase empalidece de vergonha.

Dir-me-ão que "ah, mas isso é uma cena boa, somos civilizados!!" e eu não me atrevo a discordar! Ninguém quer guerra, ninguém quer destruição, ninguém quer morte!
O que me causa alguma estranheza é como é que um dos poucos países que saíram incolomes na Europa sem uma enorme destruição continua na cauda. Os alemães, italianos, espanhois e até ingleses tiveram catástrofes recentes que os deixaram de joelhos e aí estão, uns no topo do pelotão europeu e todos à nossa frente.

Somos um exemplo de correcção mas tenho a certeza que esta nossa virtude não é alheia ao marasmo em que vivemos e viveremos.

Bem, não tinha sido isto que planeara escrever, por isso, numa penada, regressarei:
O pessoal precisa de uma válvula de escape, algo que alivie a pressão e eu sugiro que sejam encontrados e, se não à justiça, trazidos à praça pública o pessoal que nos enterrou nestes últimos anos.
É preciso algum sangue para que se evite rios dele.

Friday, October 14, 2011

Orçamento 2012

Tenho muito a apontar aos portugueses e quando digo "portugueses" também me incluo, naturalmente. Apesar da multiplicidade de defeitos que encontro no nosso biotipo tenho de dizer que somos um povo estoico e esta nossa capacidade de adaptar e entender as adversidades tem sido claramente manifestada nos dias que se vão sucedendo desde o defunto e não saudoso governo.
Uma das provas desta capacidade que se torna evidente é a pancada aplicada pelos portugueses à esquerda mais esquerda nacional: nesta época de provação, os portugueses têm, ainda, a presença de espírito para entender que a resposta não é a putrefacta lenga-lenga de "não pagamos" e "os mercados e os bancos são o demónio" e "declara-se guerra ao trabalhador". Os portugueses podem ser, até, incompetentes mas parvos não são de certeza; todos sabemos ao que cheira, ainda, a URSS, a China ou, até, a Venezuela.

Quando ouvi o OA de 2012, contudo, senti um estremecimento.
A maioria das medidas desagradam-me mas não me parecem o fim do mundo. É preciso trabalhar-se mais meia hora por dia? Trabalha-se. É preciso menos feriados? Seja! Eventualmente menos férias? Siga. Agora...cortar ambos os subsídios aos funcionários públicos que ganham mais de 1.000,00€...bem...parece-me excessivo.

Dir-me-ão que é necessário e eu posso até concordar...mas empurra-nos para onde não queremos ir.
A única forma de fazer com os cidadãos (funcionários públicos ou não) encarem os sacrifícios pedidos com coragem e determinação é que estes entendam que os fazem para salvaguardar o que têm, para que não fiquem sem nada e para que a luz ao fim do túnel não seja um combóio. Quando estas crenças não chegam ou já não existem, como dizemos cá em cima, "tá tudo fodido!".
Hoje em dia (com culpa de todos, naturalmente, e não apenas do estado) os subsídios não têm a função que tinham aquando da sua criação (presentes natalícios e fazer umas coisas giras nas férias) mas uma nova; hoje, os subsídios são como que um valor incluido no acervo familiar para fazer face a despesas e a dívidas...se falta, as dívidas batem à porta e não têm resposta e se não têm resposta vêm as inevitáveis penhoras e se vêm as inevitáveis penhoras o dinheiro, curto, deixa de chegar e não há emprego que salve da miséria.

Com este conjunto de apreciações quero dizer o quê?
Bem, quero dizer que quando sentirmos que nada temos a perder isto deixa de ter salvação e podem pedir os esforços que quiserem. Sociedade pacíficas são construídas às costas da classe média porque é a classe média que sonha em subir ou que tem uma vida decente que não quer perder. Quando a esperança for embora com o livro de cheques temos aquilo que todos tememos: A Grécia!
Virão agora, seguramente, as greves. Por princípio, sou contra greves, especialmente neste momento em que nunca tanto precisamos de trabalhar, mas com isto dos subsídios...terei de dizer que se fosse funcionário público também ia para a manif.

É isto que me apraz dizer quanto a este tema (perdi a paciência para escrever mais e estou, até, algo deprimido com tudo isto): se nos deixam sem nada, esqueçam a colaboração.

Saturday, October 08, 2011

Tento não me preocupar muito com a justiça. Evito os célebres "porquê eu?!" e "que mal fiz eu para isto me acontecer?!" porque, à vista desarmada, e não tenho outra, não fazemos coisa nenhuma para que as desgraças se abatam sobre nós ou para que nos cubram de ouro e mirra. É verdade que podemos e devemos trabalhar e esforçar para que possamos atingir um determinado resultado e que "quanto mais trabalho mais sorte tenho"...mas em última análise pode sempre acontecer qualquer coisa para a qual não estávamos preparados e para a qual em nada contribuimos.

A vida é caos.
Não é possível prever, por exemplo, que um tipo que se imola dará lugar à Primavera Árabe, e deu. Não é possível imaginar que um país paupérrimo seja invadido porque se inventou que eles teriam armas de destruição maciça, e foi.

Somos e seremos animais. Animais racionais, é certo, mas essa racionalidade joga contra nós quando esta nossa capacidade neuronal nos indica o caminho para a chegada e, depois, vem uma puta de uma onda que manda tudo abaixo.
A nossa racionalidade impele-nos para grandes feitos, que continuaremos a atingir, mas também para a perplexidade de que por muito que controlemos não controlaremos tudo.

Baixemos os braços?!
Não. Se baixassemos os braços iamos fazer o quê?

Thursday, October 06, 2011

Quem olha à volta é levado a crer, quando apenas se encontra a pele, que estamos numa época de inovadores e de liberdade e de livre expressão.
Pura mentira.
Não que a liberdade ou o livre pensamento seja, nos dias de hoje, coartada por ditaduras (menos onde elas existem, obviamente) mas porque se foi desfiando e, movimento contínuo, agrilhoando neurónios por uma invisível mas extremamente forte linha. Não é uma lição nova mas o mais perigoso dos inimigos é aquele que desconhecemos, aquele de quem nunca ouvimos falar ou, no limite, o que passou a lenda e, por esse mesmo motivo, se tornou mais folclore do que realidade.

Hoje somos todos enviados para a mesma morada mas julgamos ter trilhado o nosso caminho, pensamos ter lá chegado pelos nossos próprios meios e, orgulhosos, plantamos uma bandeira de individualidade. O problema é que de tantas bandeiras individuais se faz um colectivo.

Reparem, por exemplo, nas expressões da moda como "a pior traição é trair-se a si mesmo" ou "sou frontal" ou "carpe diem". É tudo uma parvoice, se pararmos para pensar nelas.
O "trair-se a si mesmo" como o pior dos pecados é estúpido ao ponto de se entender que é mais grave uma ferida auto-infligida do que magoar um terceiro qualquer que nada tem que ver connosco. Como pode um acto que apenas é devido ao próprio sobrepor-se a quem nada com ele tem que ver?
A frontalidade é uma desculpa para a má educação. Hoje o pessoal acha que tem o direiro de dizer o que quiser porque isso é "frontalidade". Não, isso é estupidez. É tão importante o que se tem a dizer como a forma como se diz. Não é a sobrevalorização da forma sobre o conteúdo, é a ligação entre a forma e o conteúdo.
O "carpe diem" então... é a pior coisa que saiu do "Clube dos Poetas Mortos". Carpe Diem é o hoje sem consequências do amanhã e só assim pode viver quem sabe que amanhã vai morrer ou quem é mentecapto.

Isto são tudo afirmações de liberdade?
Não, não são.
A liberdade não é ou não deve ser constrangida por Hollywood; a liberdade não é seguida de um produto que nos faz sentir realmente livers, como uma Coca-Cola; a liberdade não é "they say jamp and you say how hi" mesmo quando não percebemos que nos estão a mandar saltar.

Tuesday, October 04, 2011

É muito difícil, nos dias que hoje correm, entendermos o que se passa com o pessoal que emite opiniões políticas. Ou melhor, é difícil entender quando tentamos ver o mundo como um todo coerente onde a incoerência é a anomalia; ou melhor ainda, é difícil entender quanto acreditamos que o que se procura é a coerência e que quando falhamos nesse objectivo o fazemos sem querer porque, naturalmente, não somos perfeito.

Quando Pedro Passos Coelho estava, ainda, na oposição disse que não iria admitir que o PS subisse impostos com o seu beneplácido. Ora, tal não veio a concretizar-se porque acordou com o mesmo PS a referida subida.
Fiquei fodido! Detesto que me mintam!
Passado pouco tempo, o mesmo Pedro Passos Coelho, convocou uma conferência de imprensa para se desculpar (fiquei de queixo no chão quando o ouvi dizer, expressamente, que pedia desculpa aos portugueses) por não ter respeitado a promessa feita.
Eu, que estava fodido, desculpei. Não porque me agradassem as subidas de impostos mas porque quando me pedem desculpa, porque fizeram mal ou porque não fizeram o que diziam que iam fazer, tendo a respeitar o pedido, especialmente o primeiro.
Ora, houve uma avalanche de críticas não porque faltou ao prometido mas porque pediu desculpa!!!
Na voz dos idiotas e mentirosos que nos andaram a governar, não tinha do que se desculpar (essa ENORME humilhação) porque temos de fazer o que temos de fazer e ponto!!

Outro exemplo é mais recente.
O mesmo Passos Coelho, agora PM, veio assumir que num determinado assunto tinha dito mais do que devia. Trocando por miúdos, enganou-se e fez mea culpa.
Mais uma avalanche de críticas porque um PM não se pode enganar!!
Isto é o mesmo que dizer "se te enganares, amigo, nunca assumas! Mente!"

É no meio destes idiotas que se sentem iluminados e que arfam transparência e responsabilidade que nos encontramos. Entre gente que aponta erros, que em alguns casos existem, mas que quando outrém os assume, dando-lhes razão, é um idiota porque além de se ter enganado ainda assume que se enganou!!
É o país que temos.
É a iletracia funcional que nos envolve.

Ontem vi uma coisa muito engraçada que, para mim, até fica bem neste enfiamento.
Um tipo olhava para uma tela de computador e dizia que aquilo era uma bichice porque um gajo tinha a pila na boca. O outro, que estava ao seu lado, diz-lhe que como uma punheta é, tecnicamente, ter uma pila na mão, o pessoal todo o bicha.

Saturday, October 01, 2011

As obras de arte são, para mim, aquelas que revelam o que todos queremos ou quisemos dizer mas que nunca fomos capazes. Muitas das vezes nem sequer sabemos disso até o ver/ouvir/ler cristalizado nas palavras/melodias/pinceladas de quem nos enfia isso na cara.

Há muitos motivos para nem todos conseguirmos fazê-lo. Seria óptimo que o único motivo para essa incapacidade fosse, apenas, um dom que nasce com uns poucos de nós.
A verdade, muitas das vezes, é mais crua do que isso, a verdade, muitas vezes, é que somos cobardes, medrosos, merdosos e portadores de tantos outros predicados do mesmo calíbre; a verdade é que não queremos que seja verdade, não queremos ser nós a ficar presos num passado, não queremos que outros sejam mais para nós do que nós para eles.

Há uns anos apanhei isso no "Problema de expressão" dos Clã. Foi uma música que ganhou uma enorme e merecida notoriedade porque, especialmente para nós portugueses, o "só pra dizer, que te amo...e até parece que estou a mentir, as palavras custam a sair, não digo o que estou a sentir...digo o contrário do que estou a sentir" é a passagem a som o que todos já sentiram. Uns porque, de facto, não encontraram as palavras e outros porque não tiveram a coragem de as usar. Para uns e para outros: PARVOS!

Agora apareceu o Someone Like You da Adele. O caso deste é um problema mal resolvido, um amor que acabou apenas para um dos integrantes passados e que serve de âncora passada a uma vida presente.
A quem isto nunca aconteceu?
Este tema nem sequer é novo. O que surge como uma tempestade que tudo leva é, na minha opinião, alguma sanidade no desvario. Alguma resignação na verdade. Alguma compreensão no meio de uma tempestade de tristeza. Há um desejo de felicidades a quem prosseguiu. Não é um presente envenenado, é só um presente.

No meu caso, por exemplo, consigo explicar exactamente o que sinto e penso, e faço-o aqui, com outro nome e outra cara porque não conseguiria fazê-lo de outra forma. Porque não consigo fazê-lo de outra forma. Não é uma personagem, sou eu...mas sou eu sem roupa e nisso sou como os outros, não gosto de ter frio.

Enfim, nas sábias palavras do House "everyone is miserable", por isso, porque seria eu diferente?