Saturday, October 18, 2014

O Que Mais Me Interessa Interessa Pouco

DOMINGO À NOITE

De vez em quando, se estivermos atentos, apanhamos momentos que se pudessemos guardar seriam muito úteis para que as outas pessoas soubessem quem nós somos e como somos sem que precisássemos de dispensar muitas palavras ou demasiado tempo.

Domingo passado tive um desses momentos. Quando parei e vi o que se estava a passar não consegui evitar rir-me muito...e sozinho, como todos os bons lunáticos fazem.
Que momento foi este?
Estava sentado na mesa de jantar a ler, como faço com muita frequência, e com a televisão ligada, o que faço sempre. Até aqui, nada a dizer de muito especial.
O caso concreto, contudo, era este: Estava a ler Noam Chomsky ao mesmo tempo que via/ouvia intercaladamente a Casa dos Segredos. Um oxímoro em movimento.

Podia, agora, se fosse essa a minha intenção, dizer que não estava com atenção à televisão, estava ligada porque está sempe mas seria mentira; o que acontece, na realidade, é que gosto tanto de ler Chomsky como de ver a Casa dos Segredos.
É parvo e virtualmente impossível de explicar uma coisa destas a muita gente... uns acharão Chomsky insuportável e outros acharão isso mesmo da Casa dos Segredos. São dois círculos que não têm elementos em comum, certo?
ERRADO! Têm-me a mim!

O QUE ME INTERESSA

Há uma miúda que parece (uso o termo parece mas não me parece, na realidade) ter desenvolvido um interesse em mim. As circunntâncias são-me claramente nefastas por muitos motivos, o que me impede de tratar este tipo de assuntos da forma como estou habituado: como um leão trata de uma gazela.
Isto causa-me, portanto, desconforto. Primeiro porque a miúda é muito boa e gira e segundo porque se eu falhar não estou em situação de me ir embora e não me voltar a cruzar com ela.

Porque uso o termo parece se não o queria usar?
Porque há inconsistências na abordagem. Há uma vontade muito forte de me picar se estiver mais gente presente e uma vontade ainda mais forte de evitar picar-me quando estamos só os 2; há uma tentação, concretizada, de me tocar quando está mais gente presente e uma tentação ainda maior de não o fazer quando estamos só os 2; há um perseguir quando me ausento para parte conhecida mas um desviar fortíssimo para me pedir o número de telefone.

Confrontadas estas coisas, haveria algumas hipóteses a ter em conta:
a) estou a perceber tudo mal;
b) é uma teaser;
c) ainda não está preparada para um gajo como eu, ainda que o queira.

Agora o título deste mini-post:
Ainda que alguma das alíneas possa estar certa (e eu acho que a c) tem fundamento), o que se descobriu - não eu mas uma outra pessoa - é que ela tem namorado há uma porrada de anos! Acresce a isto que não é leviana - facto que presumo baseado na experiência de observar pessoas e nada mais.
Ora, isto explica TUDO!

O que lhe está a acontecer é o que acontece à maioria das pessoas: o hábito faz a relação e não o contrário. Vai andando até não dar mais e costuma não dar mais quando aparece um incentivo para que a correia se quebre.
Que eu saiba, nunca estive do lado do hábito mas sei que estive muitas vezes do lado do gajo que quebra o hábito.

Isto interessa-me muito! O comportamento interessa-me muito!
Ela interessa-me menos.

PESSOAS

É mais um dos muito oxímoros que as pessoas têm dificuldade em entender: adoro o comportamente humano, gosto pouco do humano em si.
Não gosto de falar ao telefone, não gosto de grandes festas, não gosto de pessoas novas, não gosto de conversas de circunstância, não gosto de casamentos - uma forma pior de festas, não gosto de jantares grandes - uma forma de festa entre a festa e o casamento.
Gosto muito de ver pessoas, gosto de ver como resolvem os problemas, gosto da forma como sentem os problemas, gosto de observar as alterações de comportamento e entender o que as leva a isso.

Estas breves linhas que precedem encerram o motivo pelo qual eu gostava - e gosto - tanto do House. À minha dimensão de não génio entendo-o muito bem!
Percebo porque evita perguntar coisas porque as pessoas tendem a mentir;
Percebo o motivo de preferir ver o que fazem do que o que dizem;
Percebo e compreendo o toda a gente mente;
Percebo a falta de vontade de perder tempo com pessoas e, ao mesmíssimo tempo, a incontrolável curiosidade e paixão por elas.

Pequenos exemplos:
Uma vez o House disse que quase morrer não altera nada, morrer altera tudo. Parece uma parvoíce como o caminho faz-se caminhando e só não é porque não há outra maneira de fazer um caminho, como todos sabem, mas a crença geral é a de que uma experiência de quase morte muda tudo; Não muda, apenas pode fazer um pequeno desvio durante algum tempo.
O Gone Girl do David Fincher causou revolta em muita gente por ter terminado como terminou. A mim não. É por coisas como essa que acho o Fincher o maior. Quando todos esperavam a vitória do moralismo sobre o materialismo e o conforto foram defraudados. Porquê? Porque o Fincher retratou o que é e não o que se diz ou parece. Entre a moral e o sofá as pessoas vão escolher o sofá, ESPECIALMENTE se os outros não souberem que teve de acontecer uma escolha.

A miúda de que falei antes é um exemplo acabado também deste post:
Não é que eu não a quisesse ou queira comer. Se ela se põe na recta, apanha! Mas neste momento, interessa-me muito mais a forma como ela vai resolver o dilema dela. Isso é-me muito mais atraente e isso faz-me perder muito mais tempo do que a imaginá-la nua.

Ps. sem descurar do facto de ter percebido que as glandes mamárias dela são ainda melhores do que o que pensava, o que não é despiciendo.

Saturday, October 11, 2014

Já Quase me Esqueci como se Escreve

INSEGURANÇA

1
Como já escrevi mais vezes do que o devia, as pessoas olham para as outras e avaliam-nas segundo os seus próprios parâmetros. Quando vêm alguém a olhar para o chão pensam que as estão a evitar se for essa a artimanha que as próprias usam para evitar pessoas, nunca lhes ocorre que estão à procura de uma moeda que lhes caiu.
É a natureza humana, não o descuro, e como também sou humano é também a minha natureza mas como conheço o facto tento escapar-lhe.

Há uns tempos atrás conheci uma miúda a quem achei graça (âmbito estritamente profissional) e como fiquei com boa impressão, não tentei criar dificuldades.
A dado momento, o comportamento dela para comigo mudou e, como sempre, andei a vasculhar as minhas memórias para tentar perceber onde falhei no tacto involuntariamente porque voluntariamente sabia que não o tinha feito.
Não encontrei resposta além da insegurança que a miúda sentiu quando percebeu que lhe era desconfortável lidar com areia que a sua camioneta não comportava.

Como a miúda era e é neófita, fui dando uns apertões leves (que foram sentidos como violentos) só para me deixar em paz. Resultou mas, ainda assim, não fiquei ressabiado com ela. Neófita.

Uns dias depois ela veio falar comigo e disse-me o que a tinha desagradado.
Não direi em concreto porque é desinteressante e nem utilizarei qualquer metáfora porque me é impossível encontrar uma tão insignificante. Nunca lá teria chegado.

Parece que a coisa se resolveu e espero que assim seja mas não estou certo.
Normalmente, a maioria das pessoas diz metade do que quer e pensa que a coisa está sanada e para mim até está porque não me interessa.
Problema? INSEGURANÇA

2
A questão da liderança é-me muito cara. Gosto da teoria e da prática (voltará em 3) mas se não se pensar nela ainda antes de a ter o trilho encontrará muitos pedegrulhos.
Da minha experiência pessoal - relativamente parca em ser liderado, um pouco mais extensa a liderar e muito grande a ver isso acontecer - a maioria das pessoas em postos de liderança (os intermédios, entenda-se) está preocupada e chicotear a sua equipa e em laurea-la para o exterior.

O que quer isto dizer?
Internamente, trata-a pior do que devia. Entende-se não apenas como hierarquicamente superior mas também intelectualmente e, naturalmente, isto nada tem de mal se for verdade mas ainda que seja verdade - ou especialmente se for verdade - tem muito de mal quando se esfrega tal coisa na cara dos subordinados.
Só um idiota acha que alguém pisado faz mais e melhor. As pessoas fazem mais e melhor se perceberem o que estão a fazer e por que o estão a fazer para ti. As pessoas pisadas fingem que fazem e fingem que te têm apreço mas na realidade fazem o estritamente necessário ou mais que isso porque, no seu âmago, estão a pensar vai paró caralho!.

Externamente, dentro da estrutura que as tutela, este líder intermédio cobre de laudas os seus colaboradores directos. São todos um sonho e imensamente inteligentes, quer o sejam ou não.
Porquê?
Porque só alguém extremamente capaz pode ser superior hierárquico de tanta genialidade.

Por que motivos uso os intermédios?
Simples. Porque este tipo de merdas não rola com facilidade onde o ar é mais rarefeito, onde a coisa ou acontece ou não e não se pode disfarçar.

Pensem, por exemplo, nisto: Se vcs estiverem rodeados por 10 pessoas e 8 dessas 10 acharem que vcs são umas bestas podem achar que bestas são as 8 porque não vos entendem...e podem estar certos. Da minha experiência, contudo, quando muita gente acha uma mesma coisa tende a haver motivos para isso. Convém, pelo menos, conceber que talvez vcs sejam mesmo umas bestas.

Por que motivo são estes intermédio - que são a maioria - tão incapazes ainda que de si mesmo acham outra coisa? INSEGURANÇA

3
Para mim, apesar de muito ter lido sobre coisas ligadas à liderança mas não especificamente sobre liderança - e não o faço porque precisamos de saber mais sobre pessoas/política/psicologia e a própria condição humana para liderar do que de organigramas - liderar resume-se a 2 coisas: Exemplo e Compreensão.

Exemplo:
é preciso que as pessoas que pretendes que te sigam vejam e não apenas ouçam o que tu fazes.
é preciso que as pessoas vejam que não as estás a mandar fazer coisas enquanto ficas ao telefone a bajular a tua própria chefia e que vais almoçar durante 3 hs enquanto eles partem pedra.
é preciso que não subsistam dúvidas quanto a fazeres, pelo menos, o mesmo - em termos de empenho - daquilo que pedes sendo muito vantajoso fazeres mais.
é preciso levares a candeia e se ele for atrás não se vê nada.

Compreensão:
é preciso que as pessoas entendam o motivo que leva a que sejas tu e não outra pessoa a liderar.
é preciso que as pessoas entendam que o que pedes que seja feito é relevante e faz parte de um todo, todo esse que também convém que saibam qual é para verem a sua porca na engrenagem e entendam a sua importância.
é preciso que as pessoas percebam que não és burro e que tens competência para o que fazes. Competência essa que não tem nem deve ser exclusivamente técnica porque as pessoas não são lideradas por quem sabe mais de uma determinada matéria mas por quem é capaz de as levar do ponto A ao ponto B.

NÃO PODES SER INSEGURO

4
Falando, agora, de mim em específico (egocêntrico aguenta pouco tempo):
Um dia destes estive reunido com uma mulher que não conhecia mas que me conhecia a mim. Não visual ou carnalmente mas sabia coisas sobre mim.
Por natureza, importo-me pouco com isto, sendo que a minha principal preocupação é parecer o que sou e não outra coisa.

Pormenores da coisa são desinteressantes. O que aconteceu é que me relembrei de algo que andava perdido no vácuo há muito: Gente esperta é perigosa.

Ela é esperta, muito esperta.
Ela é segura, muito segura.
A coisa pareceu que me correu bem mas é impossível ter a certeza e a minha única consolação é que correu como tinha de correr. Agora, alea jacta est

O que me pode ter safado foi isto:
apesar de ela ter conhecimento bastante alargado sobre o que eu fazia, como fazia, com quem fazia e tudo o resto, não me conhecia a mim e para isso estava menos preparada.
Gente esperta e confiante gosta de controlar o ambiente e esforça-se por isso mas, como é humana, não pode deixar de estremecer quando é apanhada na curva.

O que aconteceu foi isto:
a conversa foi levada para onde ela não contava e gente deste tipo não desiste, adapta-se.
Ora, por muito talento que se tenha, quando perante o desconhecido temos de nos adaptar mas adaptar lança-nos uns metros para um lugar onde não contávamos estar e, por isso, menos controlado.
No esforço de recuperar controlo, ela teve de abrir mão daquilo que não queria: mostrar-se!

Não foi uma competição...mas se tivesse sido eu tinha ganhado.
Em contrapartida, a maioria da faca e a maioria do queijo está com ela, pelo que o resultado em si terá ou dois vencedores ou 1 e se for só 1 não vou ser eu.

Foi divertido. Espero que aconteça mais vezes porque de gente chata estou farto!