Monday, September 30, 2013

Uma Cena que Já Cansa

Depois de um dia inteiro de cenas sobre as eleições e nem imagino quantos posts e notícias quanto a esta mesma matéria, acrescentarei apenas mais um (que já é a mais) porque talvez um dia decida dar uma vista de olhos a isto (o que ainda não aconteceu nem me parece que aconteça).

O Porto volta a dar mostras de rebeldia, o que muito me agrada. É muito engraçado que a parte tida como conservadora do territótio seja a que mais anda para a frente mesmo quando nada o parece indicar.
Quando Rui Rio se candidatou e se mandou, directamente, contra o FC do Porto ninguém achou que ele teria hipóteses e nesse ninguém incluo-me. Estava enganado. Estavamos muitos enganados.
A segunda instituição da cidade (FCP) perdeu para a primeira, os Portuenses.
A relação do Rio com o FCP é a prova de que ele é tacanho e com muitos defeitos mas cujas virtudes foram entendidas como maiores pelos que vivem no Porto, onde se inclui um sem número de portistas.
Agora, o Porto elege aquele que, tanto quanto sei, é o único Independente a concorrer a eleições em Portugal. E digo isto porque, tanto quanto sei, o Moreira nunca exerceu qualquer cargo político e, também tanto quanto sei, é um gajo que trabalha, apesar de ter nascido rico. Ou seja, parece-me que Moreira não é político. Moreira está político.

Não sei como lhe vai correr a vida mas, para já, muito orgulho tenho de que o tipo que pagava rendas e luz e que mandava a Câmara pagar um subsídio, por telefone, que estaria eventualmente atrasado levou na cabeça (ou ficou mesmo sem ela). O Porto é rebelde e visto de fora ninguém diria.

Em termos nacionais, a consequência também me parece que se chama Porto.
A derrota do Menezes é a derrota do Passos e do Marco António e do próprio Menezes. A derrota de Menezes é a vitória de Rio e do Moreira e do Pequeno Napoleão.
Em simples: o Poder actual do PSD deve estar ainda sem se conseguir sentar de tanta pancada que a Oposição do actual PSD lhe deu.

A Cidade Invicta ainda tem motivos para acreditar que o é!

Friday, September 27, 2013

Teorias e Realidades

Na última jornada, o treinador do Sporting disse que não pretendia comentar a arbitragem do jogo que empatou. Disse, ainda, que não falava quando era beneficiado e que também não o faria quando era prejudicado... indo mais longe e apelidando de hipocrisia os treinadores dos clubes grandes (onde, suponho, se terá incluido) queixarem-se de arbitragens quando estes são sempre mais beneficiados que os pequenos.
Concordo com tudo o que Leonardo Jardim disse em género, número e grau. Eu e, pelo que ouvi dos comentadores, Portugal inteiro. Foi um exemplo de seriedade e justeza, pelos vistos.
Uns dias antes das declarações a que acabo de me referir, vi um episódio do Marterchef USA em que uma equipa perdeu um desafio e outra, naturalmente, ganhou-o.
Os apresentadores (e jurados) perguntaram ao capitão dos perdedores quem tinha sido o melhor elemento; quem achava ele que deveria ser protegido da prova de eliminação, caso essa decisão pertencesse ao capitão de equipa. O capitão de equipa escolheu um elemento que não o próprio.

Começando pelo último:
Foi, depois, revelado ao tal capitão que ele tinha, de facto, o poder de escolher um elemento da equipa para não participar no desafio que iria decidir qual dos perdedores abandonaria o concurso.
O que fez?
O óbvio. Sem remorso nem vergonha: escolheu-se a si mesmo.
Quando não tinha custos, foi justo.
Quando tinha custos, protegeu o seu rabo.

O caso do Jardim é mais em forma de projecção.
Se a coisa lhe começar a correr realmente mal, vamos ver o quão estóico será. Por quanto tempo evitará a hipocrisia e por quanto tempo não falará de arbitragem e caso nenhuma. Por quanto tempo estará a salvo de ser como os outros.

A Realidade é uma coisa horrível.
Além de imprevisível tem o condão de transformar ficção em...realidade.

Uma outra vez....o Comunismo

Parece, nos últimos tempos, que tenho uma especial aversão pelo Comunismo. Parece mas não é. O que acontece é que tenho uma aversão igual a todos os regimes ditatorias, autoritários, autocráticos, totalitários...e por aí adiante; e acontece que o Comunismo é um deles.

Desta vez, o que aconteceu é que me encontrei por estes dias com uma amiga que me disse que costumava votar BE. Fiquei atónito. Não entendia o motivo pelo qual ela votava em comunistas ao que ela me respondeu que não votava nos comunistas, votava no BE. Ora, evidentemente o BE é Comunista e ela entendeu isso no mesmo momento em que afirmou o que acabei de transcrever.
Disse-me, então, que era como que um voto de protesto. Uma versão em cruz dos Rage Against The Machine (de quem eu gosto muito...apesar de serem comunistas).
Suponho que o motivo dela seja o motivo da maioria absoluta dos que votam no BE mas esta mesma maioria não entende, verdadeiramente, o que faz porque, como já me fartei de escrever, não entendem exactamente o que é o Comunismo.

Como isto é mais forte que eu, tive de lhe dizer que não conseguia entender como se vota em gente não democrática. Que é o que aquela gente é.
A resposta foi aquela que muita e muita e muita gente entende como verdadeira: Ah, não é esse tipo de Comunismo. Eles não são os Soviéticos!
São são. É que não há versões mitigadas de Comunismo. A versão mitigada do Comunismo é alguma Esquerda mas não o Comunismo em si. As pessoas não pensam nisto, como me farto de dizer e mais uma vez comprovei.

Outro argumento maravilhoso, que também foi usado, foi o seguinte: Não me digas que és do CDS. É que isso é a mesma coisa mas do outro lado!
Não! Não é a mesma coisa!!
A mesma coisa seria se eu apoiasse um partido chamado, vá lá, Partido Fascista Português ou Nazis Lusitanos.
As pessoas continuam sem entender que não há polo oposto aos comunistas no panorama nacional (telvez o PNR mas este pertence a uma franja que sabe bem o que é e o resto de Portugal sabe também). As pessoas continuam, mesmo as supostamente educadas e evoluidas, o que representa o Comunismo.

Ah, mas se os Comunistas são tão pouco expressivos nos votos por que perdes tempo com isto, Kaiser?
Por vários motivos...
É incrível a representação mediática que estes tipos recebem quando comparada com a sua representatividade parlamentar. É incrível. É desproporcionado. É propaganda (não no sentido de vendas de Coca-Colas mas no sentido totalitário do termo) de borla veículada por quem, acredito eu, nem a entende.
E embora os portugueses sempre tenham entendido, ainda que de forma quase reflexiva, o que estes tipos representam e por isso nunca os deixaram ter peso real (daí a constante pouca representação parlamentar mesmo em tempo de crise), a verdade é que não estamos livres de que os votos úteis nos possam levar a um Grillo nacional.

Cansa-me falar disto. Mas irrita-me muito mais esta caricatura que em nada se assemelha à realidade.

Wednesday, September 25, 2013

Ainda antes de saber como verbalizar a coisa tinha a dúvida quanto ao facto de padecer de misantropia, erimitismo ou solipsismo. Uso estes três termos porque são os que me ocorrem para eventualmente descrever um sentimento a que não chamo solidão porque não o entendo como um peso ou algo que aconteceu contra a minha vontade.

Misantropo não sou.
Não sinto, exactamente, uma aversão, em maior ou menos medida para com a humanidade. Não me parece que me tenha desapontado com ela porque nunca me apontei. Se algum dia a eventual ilusão se quebrou aconteceu antes de ter consciência disso. Ou se foi depois, continuei sem me aperceber.
O pessoal quer preoteger o seu próprio rabo, foi o que sempre pensei e, até agora, não me parece que, como regra geral, esteja errado.

Eremita não sou mas gostava de ser.
Não vivo em lugar deserto e longe da civilização. Também não tenho vontade de me penitenciar e não amo com particular intensidade a natureza.
O motivo pelo qual pondero o Eremita tem que ver com a vontade e o à vontade com que vou sozinho. É um sentimento de solidão agradável no sentido em que não conheço quem vejo nem o que vejo mas, factualmente, solidão não é. Até me agrada ficar um ou dois dias sem ver gente (ou até mais) mas não me sinto confortável, neste momento, a pensar em ser o Thoreau.
Gosto que me deixem em paz, é mais isso.

Solipsista tende a ser mais verdade.
A título de exemplo, sempre me custou ler poesia e romances e que tais. Tenho um desinteresse intrínseco ao que se passa, subjectivamente, fora de mim. É verdade que não se passa o mesmo em todas as formas de arte. Gosto muito de música e gosto muito de cinema mas em ambos os casos este meu desinteresse é desviado pelas cores e paisagens e pelas notas musicias mais do que pelos diálogos e letras; gosto do impacto que provoca em mim. Não tanto o impacto que criou aquela música ou aquele filme.

O problema com todas estas considerações pseudo-intelectuais e atinentes a uma enorme profundidade de pensamento tem que ver, apenas, com escolha.
O Misantropo assume-se assim enquanto pode escolher a sua misantropia.
O mesmo para o Eremita.
O mesmo para o Solipsista.

No momento em que a realidade e o devir empurram qualquer pessoa para a posição em que esta não goste/não tenha contacto/não se interesse por pessoas toda esta construção de cachimbo na boca se torna, só e apenas, em infelicidade e solidão.
Se eu fujo para a floresta porque quero, tudo bem. Se fujo para a floresta porque me empurram, tudo mal.
Se me fecho em casa porque quero, tudo bem. Se me fecho em casa porque não posso sair, tudo mal.

Todas as manhãs, em África, a gazela acorda e sabe que tem de correr mais que o leão mais rápido ou será morta. Todas as manhãs, em África, o leão acorda e sabe que tem de correr mais do que a gazela mais lenta ou morrerá de fome.
Não interessa se és uma gazela ou um leão, quando o sol nascer é bom que estejas a correr!
Christopher McDougall


Se pudessemos prever o que saberemos já o saberimos

Popper

Monday, September 23, 2013

Todos diferentes Todos iguais? Nã...

Ontem viu-se o treinador do Benfica mandar umas sapatadas a uns polícias e a puxá-los e, pelas imagens insonorizadas, a dizer uma ou outra coisa que deverá estar longe de então Sr. Agente? Tudo bem? . Isto aconteceu na sequência de uma invasão de campo de uns quantos adeptos que foram convidados a bazar e que respeitaram essa ordem mas um ou outro (pareceram-me 2) não estavam para aí virados e, então, a polícia teve de os apertar um bocado. A intervenção da polícia pareceu-me claramente proporcional.

Apesar da vergonha que isto constituiria para mim caso fosse benfiquista, não me senti particularmente preocupado. O JJ fez o que não devia e sofreria as consequências que teria de sofrer (sendo certo que se tivesse sido detido no momento também não me pareceria exagerado). Um péssimo exemplo, sem dúvida, mas que como todos os maus exemplos apenas haveria de ser punido e não crucificado.

O que me surpreendeu foi o depois e o agora.

As reacções dos comentadores dos outros clubes pareceu-me, até, comedida. Só os vi a ter a mesma reacção que eu: incredulidade e reprovação. Evidente, não?
Não.
Um ou outro tipo benfiquista - não todos, valha-nos - disseram que era o final de um jogo tenso e tal e que a adrenalina e cenas e que a coisa não foi nada que mereça relevo porque coitado do adepto e tal.
É fabuloso, não é?

Se um dia um polícia me mandar parar e eu estiver alcoolizado posso garantir que vou ficar tenso. Para ser honesto, quando a polícia me manda parar e eu não tenho motivos para temer nada ainda assim fico tenso. Posso mandar-lhe uns estalos?
Se um dia receber a notícia que um familiar faleceu e partir uma montra num momento em que presumo estarei tenso e com a adrenalina a mil e um polícia tentar impedir que continue a destruir cenas, posso dar-lhe um soco?

A PSP apressou-se a dizer que ia mandar para Tribunal (expressão tão fascinante como imprecisa) e logo também isso foi notícia.
Poderia ser diferente?
Bem sei que o JJ parece inimputável porque o ano passado também disse, sem contemplações ou inuendo linguísticos (que não consegue fazer, claro), que o árbitro não marcou não foi por não ver mas sim porque não quis.
Algum dos gajos da arbitragem fez alguma coisa? O próprio árbitro a quem o JJ acusou de ser currupto disse alguma coisa?
Nã....

Tenho para mim que o JJ anda assim tenso porque sente o terreno a fugir-lhe dos pés e percebeu que foi emascolado pelo Cardozo com a conivência da Direcção. Então, bora a ser macho com a polícia (?) e, de caminho, dizer que quer defender os adeptos do Banfica (ele, benfiquista desde pequenino e ele que nada de estranho viu quando o Luisão insultou os queridos adeptos).

Não desejo mal ao JJ, por muito que ele me irrite e por muito que ache que ele não sabe ao certo a competência que possui e a que lhe falta.
Desejo que JJ seja punido pelo que fez e, honestamente, severamente punido ainda que dentro do razoável. É que, não sei se repararam, quando o JJ se mandou para a polícia houve umas quantas cadeiras, em consequência, que ficaram tensas e se mandaram, também elas, para cima da polícia.

Dura lex...

Calvino

Este FDS que passou li uma biografia de Italo Calvino. Não é uma biografia classica mas antes uma composição de cartas e artigos e entrevistas do próprio sobre si mesmo. Fui ler porque achava que devia.

Da leitura da coisa o que me parece mais interessante sobre Calvino foi um sentimento que transmitia sem receio de que preferia ou sentia-se mais livre quando escrevia coisas sob encomenda do que quando escrevia por moto próprio. Achava o Calvino que quando escrevia as suas cenas tinha necessidade de as justificar porque, afinal, o que poderia interessar o que era eminentemente seu aos outros? Estava a chateá-los sem que eles pedissem para ser chateados.
É uma perspectiva interessante que entendo muito bem. Só é realmente engraçado porque, como se sabe, muita gente se interessa pelas cenas dele sem pedir qualquer justificação.

A outra coisa que me pareceu muito interessante foi a sua relação com o Comunismo e, mormente, com Estaline.
Li várias coisas que não me lembro de ter lido em outras paragens. Por exemplo, diz Calvino que na época em que se juntou aos Comunistas entre a verdade e a revolução, escolhe-se a revolução! para remeter para canto as barbaridades de Estaline. Não digo que seja novidade mas de forma explícita nunca tinha visto.
O divórcio com o Comunismo é, também, muito interessante mas aqui já não vejo interessante como significado de único. Isto parace-me muito comum. Calvino, como muitos e muitos pretéritos Comunistas, percebeu que não poderia sê-lo depois de perceber o que aquilo realmente era. Percebeu que não foi a libertação de classes mas o seu aprisionamento e não foi igualitário mas exactamente o seu contrário. Descobriu, ainda, que os artistas eram grandes apoiantes do movimento mas que deixavam de existir enquanto artistas se apanhados dentro das fronteiras da coisa.
Foi, ainda assim, honesto quando nos disse que não desconhecia as atrocidades só que como elas estavam muito longe não pareciam reais... e quando foram reais...

Gostei mas, sem nada que ver com o que escrevi, levantou-me um problema enorme: os escritores que tenho em maior consideração adoram Borges e eu não gosto de contos. Mas parece que vou ter de ler.

Friday, September 20, 2013

Ontens...

Os velhos do Restelo existem em todas as gerações e somos, virtualmente, todos nós.
Como já por aqui escrevi, senti-me entre as lágrimas e o riso quando dei por mim a pensar coisas como és muito novo, não perceber ou isso de DJ não é fazer música e muito menos tocar música!, e por aí fora.
A potencialidade para Restelarmos está entre todos nós. Vem com as rugas. É uma chatice. Quase tão chato quanto os dois dias de que preciso, agora, para curar uma ressaca. Não é justo. Costumava ser mais resistente...

Nas coisas importantes, contudo, sou menos velho. É verdade que me incomoda que o pessoal passe o tempo agarrado ao telefone (contacto visual está demodé), é verdade que me entristece que os miúdos de hoje não andem a brincar pelas ruas como há algum tempo atrás. Mas, no geral, não desejo o retorno.

Como os defensores dos bons costumes que querem voltar ao que Deus pretendia por exemplo quanto aos gays. É indiferente que a história humana seja, de facto, pan-sexual. É indiferente chuvas de enxofre e tal. É, assim, um regresso ao passado (existente ou não) mitigado. Escolhe-se as características, como se isso fosse possível.
Como os gajos, em Portugal, que acham que estamos pior agora do que antes e que devíamos voltar ao que já fomos. Bem. Eu, como acredito a maioria, é amiga da sua sanita, um objecto muito mais raro no antigamente. Outra coisa que me agrada, por exemplo, são lâmpadas! Gosto particularmente de ver por onde ando, ainda que isso possa parecer menos entusiasmante para quem gosta de viver no perigo. Agrada-me, ainda, que o pessoal tenha sapatos e não enfrente filas para a distribuição de pão e por aí fora.

É evidente que nem todos ficamos contentes com o progresso e que o progresso, em abstracto, nem sempre o é.
O probelma dos românticos do ontem é que querem um que não existiu. É uma coisa mística. Uma coisa heremética. Uma coisa asséptica.
A realidade é uma outra coisa...

Wednesday, September 18, 2013

Mundinhos

Há uns anos um amigo foi trabalhar para o departamento médico de um clube de futebol. As coisa que ele contou quanto ao relacionamento dos pais com os jovens atletas e mesmo com o clube eram alucinantes para mim. Foi, talvez, a primeira vez em que pensei que não são apenas as crianças que trabalham no campo ou a construir IPhones na China que são vítimas de trabalho infantil; fez-me pensar nos jovens actores, músicos, futebolistas e por aí fora (não deixando de ser engraçado que a Unicef está nas camisolas do Barcelona e o Barcelona vai recrutar crianças como Messi).

O que mais me impressionou, contudo, não foi esta realidade que já tinha imaginado nem o facto de serem os pais a pressionar o departamento médico para que os filhos jogassem desse por onde desse. Ambas as coisas são reprováveis mas previsíveis. Afinal, é de mentalidades como esta que nascem as Cyrus e os Biebers desta vida.
O que me apanhou desprevenido foi isto:
Durante a conversa que tive com este meu amigo não me inibi de criticar aqueles pais que não se interessam pelos estudos dos filhos mas antes pelo facto de eles irem treinar na eventualidade de serem bem sucedidos e assim resolverem o problema a toda a família. Exploração ridícula e a lembrar tempos idos em que os filhos não eram mais do que um investimento para lavrar a terra.

A resposta dele, contudo, foi desarmante: Estás enganado. A diferença não está entre estudarem ou jogarem futebol. A diferença está entre serem trolhas agora ou daqui a uns anos e o pessoal vai sempre a tempo de ser trolha.

Ele estava certo. Quando pensei na envolvência de muitas destas pessoas, pareceu-me que quem estava enganado era eu porque, como acontece a todos nós, usamos as nossas experiências, expectativas e desejos para medir a forma de actuar dos outros.
A maioria absoluta daquelas crianças só iriam ver uma universidade da parte de fora. Não por serem burras mas porque não havia forma de ser diferente. Os pais não podiam prover por estudos e se, eventualmente, pudessem, isso não estaria ainda assim nas suas perspectivas. A diferença, de facto, era entre trabalho braçal e pouco qualificado agora ou depois e havia a hipótese, por mais pequena que fosse, que esse depois não acontecesse porque os pontapés na bola poderiam resultar.

Não direi que foi uma apresentação à humildade.
Direi que foi uma apresentação à realidade.

Monday, September 16, 2013

Portugal e a Europa

Fui acompanhando, no FDS passado, as conferência que se realizaram por iniciativa da fundação do Pingo Doce e achei que alguns dos participantes estiveram muito bem e outros estiveram, na novilíngua que hoje se usa, menos bem (é como chamar crescimento negativo à recessão).

O que ouvi com uma posição mais próxima da que me parece certa foi o Pequeno Napoleão, também conhecido como Paulo Rangel. Também eu acho que o maior risco que se corre com a desagregação europeia é a Guerra. Também eu acho que já se ouve um ou outro tambor: a cena da Catalunha em Espanha, as tensões belgas, os encobertos problemas nas Balcãs (encobertos pela vontade de permanecerem na Europa que lhes mantêm os machados debaixo da roupa), a tensão milenar Turquia X Grécia e, ainda na Grécia, a convicção de que os Coronéis ainda não voltaram porque a Europa ainda não se foi embora.
Disse, ainda, o Rangel (e isto desconhecia em absoluto) que na Hungria paga-se 300,00€ mensais para que as mulheres usem o véu islâmico. Sendo que o crescimento do Islão na Europa pode consubstanciar-se num problema sério quer pelo seu crescimento demográfico quer porque se a crise se agudizar este crescimento demográfico será mais extremista.

Pareceu-me, também, que os painéis eram excessivamente germanófilo.
Foi feita uma ode às enormes e verdadeiras qualidades germânicas. Desde o eles já pagaram pela II GM, passando pelo enorme rigor com que tratam tudo o que fazem e que faz todo o sentido a posição que tomaram no que conerne à Europa ou à sua alienação progressiva da Europa.
Se eles já pagaram pela II GM ou não eu não sei mas sei que as pessoas podem e devem perdoar mas já não esquecer. Há uns tempos saiu uma notícia de que os gregos teriam calculado quanto perdoaram à Alemanha por conta da indemnização de Guerra e o mundo indignou-se.
Eu não me indignei.
No momento em que os gregos (como nós) lutam pela sobrevivência é pedir demais que se esqueçam dos seus carrascos passados e presentes.
As virtudes alemãs encontram paralelo nos seus defeitos e esquecê-lo é perigoso.

Não quero com isto dizer que nós, Portugal, somos alheios ao nosso fracasso. Nada disso. Somos responsáveis, ainda que indirectamente porque elegemos mal, pelo atraso e por termos comprado banha de cobra a quem não devíamos.

O que não se deve perder de vista é o resultado de certas atitudes.
Foi por causa de uma enorme crise que o Hitler venceu a Alemanha. Foi por causa da miséria que o ressentimento alemão pelos termos da derrota na I GM não desapareceram e floriram na II.

A Europa é, historicamente, o mais bárbaro dos Continentes, apesar de agora gostarmos de chamar animais a habitantes de outras latitudes.
Há umas semans ouvi um dirigente alemão dizer que pertencia à primeira geração da história alemã que não viveu um período de guerra e que isso era uma riqueza inestimável.
Ele tem razão e o Pequeno Napoleão também. Convém que o pessoal não se esqueça.

Justiceiros

Parafraseando uma frase cujo autor não me lembro, pobre do país que precisa de heróis. A questão dos Justiceiros não é muito diferente.
Nos filmes e livros do Batman temos que as autoridades da cidade perseguem-no por este fazer justiça pelas próprias mãos e, contrariamente ao que resulta da impressão geral com que todos ficamos, eles não estão errados. O que nos é vendido, contudo, é que a corrupção é tão forte que a única forma de fazer justiça é por um gajo mascarado e cheio de poderes que não precisa de coisas como julgamentos e provas para fazer valer a sua bússula.

O mesmo acontece, mais ou menos e com as devidas proporções (o pessoal não pode ser todo o Christian Bale nem a Michelle Pfeifer nem a Rebecca Romijn), nos lugares reais onde nos encontramos. Sem carros top mas com palavras que substituem os make my day do Clint.

É muito fácil, especialmente agora, meia dúzia de pessoas parecerem cavaleiros brancos porque denunciam tudo e mais alguma coisa com ou sem factos ou provas do que dizem. A impressão que temos é que eles estão certos e isso bastará. O problema é que não bastará.
Quando deixamos de precisar de provar que um corrupto ou outro o é (ainda que o seja) estamos mais próximos de também nós, que não somos corruptos nem nada de parecido, podermos levar uma patada baseada apenas na impressão que se dá.
E é olhar para um livro qualquer de temos idos (mais ou menos, não precisamos de ir muito longe) para percebermos onde acabaram pessoas que levavam a espada e o escudo da justiça nas mãos e onde acabaram os outros quando os primeiros passaram a ter força suficiente para que as suas impressões se tornassem factos.

 Não gosto de Justiceiros, por mais que tenham razão no que dizem e por mais que sintamos que estamos a ser enganados por quem dirige.
Não gosto...

Thursday, September 12, 2013

Pico de Hubbert

O Pico de Hubbert é um modelo matemático que nos revela o ponto a partir do qual a produção mundial de petróleo começará a decrescer. Trata-se de uma estimativa (um educated guess) porque o ponto em questão só poderá ser realmente comprovado depois de acontecer.
Mais termo técnico, menos termo técnico, o Pico de Hubbert é uma evidência imensamente depressiva mas que se aplica ao que quer que pretendamos aplicá-lo.

É muito comum, por exemplo, ouvirmos dizer de forma discriminada que o melhor ainda está por vir, algo absolutamente impossível de afirmar porque o melhor da nossa vida só será visto depois de passado e ponderado todo o caminho. Ou seja, o melhor pode já ter passado e não sabemos ainda que o possamos intuir.
Não é muito diferente o tipo de raciocínio que temos de desenvolver para qualquer outro aspecto da nossa vida ou, mesmo, da vida dos outros. Acreditamos que a nossa capacidade de resistência é sempre um pouco mais à frente mas podemos ultrapassá-la sem darmos por ela; acreditamos que mais um wiskey não fará qualquer diferença mas um desses mais uns vai ser o responsável pela perda de memória da noite anterior; acreditamos que vamos sempre arranjar uma gaja melhor (seja melhor de mais boa ou melhor de melhor mulher) mas podemos acabar com uma galdéria; acreditamos que o sol nascerá de novo para nós no dia seguinte mas podemos não voltar a vê-lo.

Usamos, ainda assim, uma forma ou outra de Pico de Hubbert. Tentamos prever quando o pico irá acontecer mas, contrariamente ao petróleo que é gerado pela natureza, tentamos controlar o desenvolvimento dos acontecimentos que inevitavelmente acontecerão.
Estudamos para que o conhecimento nos proteja do desconhecido;
Usamos cintos de segurança e capacetes para que o idiota que vai no outro caso não acebe connosco;
Fazemos análises regulares para que os assassinos silenciosos sejam aniquilados antes de terminarem o serviço;
Obrigamos os restaurantes a terem uma bancada para a carne, outra para o peixe e uma terceira para que não sejamos contaminados por um qualquer micróbio;
Construímos edifícios jurídicos e edifícios de facto para que quem se porta mal e nos coloca em risco seja devidamente castigado e isolado.

Fazemos tudo o que podemos ou, pelo menos, tentamos fazer todo o possível para que o devir não venha ou para que ele venha vestido como entendemos que o deve fazer.
No entanto, com todos este truques e todas estas preocupações e com todas estas inovações civilizadas, só iremos saber qualquer coisa depois desta acontecer.

A vida é tragicómica.
Não é só trágica porque seria imensamente depressiva e não é só cómica porque senão nada fariamos por ela.

Portugal X Brasil

Vi o jogo em directo e confirmei aquilo que penso sobre a Selecção Nacional e fiquei a saber mais um bocado sobre o Neymar.
Quanto ao jogo, Portugal jogou sem 1 titular, CR, e o Brasil jogou sem quase meia dúzia deles, se contarmos com o Óscar que passou o jogo quase todo no banco. Ah mas o CR é melhor do que os brasileiros que não jogaram. Completamente verdade. Mas, ainda assim, CR não é igual à soma de Hulk + Marcelo + Daniel Alves + Fred + Óscar... O pessoal pode correr e saltar mas o Brasil estava incomparavelmente mais desfalcado.

Comprovou-se, ainda, que Portugal tem, apenas, 1 jogador de excepção (CR, claro) e, vá lá, 2 jogadores muito bons (Moutinho e Nani...sendo que quanto ao Nani...). O resto são banais ou banais um bocado menos banais, quer porque nunca foram nada de realmente especial (Patrício, João Pereira, Vieirinha, Miguel Veloso...) quer porque estão a passar o prazo de validade (Bruno Alves e Raul Meireles, por exemplo).
A realidade é esta: temos equipa mais que suficiente para nos apurarmos para o Mundial mas tenho algumas dúvidas de que, por exemplo, a Rússia não seja melhor. Comparar-nos (como alguns iluminados pretendem) com Espanha, Alemanha, Brasil e que tais é uma completa imbecilidade. Não quer dizer que num jogo específico não possamos ganhar mas não somos, nem perto, concorrência séria para elas.

Depois Neymar.
Neymar irrita-me um bocado. Quando ele tinha aquela crista ridícula dava-me a satisfação de pensar ah, é um otário como os outros. Porque nas entrevistas dele que vi, nos jogo que deitei os olhos e mesmo na forma como o via comportar-se pareceu-me um gajo impecável...e é triste ser-se genial, impecável e rico. Devia ser proibido. Aquela crista era uma esperança de estupidez que se perdeu.
Neymar apanhou na tromba como se de um jogo a sério se tratasse e, só por isso, malhou uma assistência para golo, passou meia equipa portuguesa para marcar golo e ainda foi a parte principal do terceiro.
Não reagiu, fisicamente, às provocações que recebeu mas ainda hoje metade da selecção deve ter o rabo a arder.

O Real Madrid comprou Bale para fazer dupla com CR e assim combater a dupla Messi e Neymar.
Dentro daquilo que vi, não vai chegar... Messi é evidentemente melhor que CR e Neymar é evidentemente melhor que Bale. O problema vai ser quando, se Neymar continuar como está, a dúvida deixe de ser entre Bale e Neymar mas entre CR e Neymar (Messi ainda está a outro nível mas...nunca se sabe).

Aliás, e só para rematar, esta dicotomia Messi X CR só existe para tornar a coisa mais picante e vender mais jornais e camisolas porque a dicotomia não existe. É Messi e depois CR, evidentemente.
É parecido com a dicotomia Porto X Benfica. Vamos ser sérios. Não existe a concorrência e luta que se diz. É olhar para quantos campeonatos o Porto ganhou nos últimos 20 anos e compará-los com o Benfica.
Não existe comparação, pois não?

Tuesday, September 10, 2013

Francesca Borri

A Francesca é uma repórter de guerra italiana que anda pela Síria. Não chegou lá agora. Segundo a própria, foi pra lá antes do mundo saber o que era Homs.
Vi hoje, no Courrier Internacional, uma peça dela sobre a Síria que me impressionou. (caso o pessoal queira ler... http://www.cjr.org/feature/womans_work.php ).

Parte do que por lá se lê não foi, para mim, muito revelador nem resultou numa epifania. É óbvio que os jornais querem sangue e não uma análise cuidade de porquês; é óbvio que não sabemos, sobre a Síria, o que deveríamos saber; é óbvio que o jornalismo hoje é entretenimento e terror, nada mais que isso.
Ainda assim, houve duas partes do relato que me surpreendera.
Um deles deixou-me profundamente estupefacto e outro deixou-me horrorizado (e o primeiro desagua no segundo).

ESTUPEFACTO

Nunca me passou pela cabeça que uma peça de um jornalista que se encontra num cenário de guerra pudesse valer mais ou menos 50,00€. Vamos esquecer que, como era óbvio antes de o ver escrito, todos os bens (desde comida, bebida a dormidas e deslocações) vêm o seu preço multiplicar neste cenário. Vamos esquecer que os freelancers como a Francesca não têm ajudas de custo e aqueles 50,00€ são para tudo.
50,00€?!
Estes freelancers devem ser desvairados, missionários no verdadeiro sentido do termo ou coisa pior...magnânime mas pior para os próprios.

HORRORIZADO

Fiquei em choque quando ela contou que um colega (não me lembro se masculino ou feminino) lhe deu as indicações erradas para onde estava a decorrer uma manifestação e a direcção que recebeu a enviou para os braços de snipers. Isto para ganhar os 50,00€ do trabalho em exclusivo.
A barbárie não tem, pelos vistos, cor, etnia, geografia nem ética.
É chocante.

A finalizar, quando fui buscar o link para o colocar aqui, distraidamente vi o primeiro comentário colocado por um gajo qualquer que diz algo do género: Eh pá, escreves muito bem...mas ninguém te está a forçar para ficares na Síria. Escolheres estar aí é uma prerrogativa tua mas não te venhas queixar de que as pessoas não ficam incomodadas por uns horríveis Sírios matarem outros horríveis Sírios .
Se isto não é um dos sinais do apocalipse...

Crazy, Stupid, Love

Este FDS vi o filme que serve de título ao post e gostei. Gostei porque - parece-me - é uma comédia romântica que não vive de trocadilhos fáceis nem de uma sequência inesgotável de sketches.
Havia uma história que se tornou previsível mas não se pode pedir tudo a um género que não foi criado para o fornecer.
Mas não é minha intenção fazer uma crítica à fita. Não foi isso que me chamou a atenção até porque apesar de ter gostado não foi um filme que me tenha marcado (como também, repito, não terá sido a intenção do realizador).

O gajo que é traído pela mulher desconhece como se sacam gajas. Depois de muito tempo em cativeiro (e tendo apenas malhado a mulher em toda a sua vida - arrepio e esgar de dor) anda à toa e não se sente capaz de entrar na arena novamente.
Encontra, então, um especialista da modalidade que o ensina o que fazer mas as lições adiantam coisa nenhuma. Ele muda de roupeiro, de sapatos e nada... as pérolas que lhe são dadas nada resolvem.
Então, depois de muitos falhanços ele consegue sacar uma gaja. Este sacanço, contudo, não resulta de nenhuma das técnicas aprendidas. Apanhou uma que achava sexy a insegurança dele e a sua falta de talento.

E foi aqui que reconheci, em parte, o que me aconteceu.
Depois do tipo ter malhado a gaja tudo mudou. Passou a ser capaz de utilizar os instrumentos que o professor lhe tinha dado. Os instrumentos, contudo, só puderam ser usador porque ele tinha adquirido confiança. Tinha percebido que era capaz!

Eu sou capaz de apontar o exacto momento em que isto me aconteceu. Não a data, porque sou péssimo com isso, mas o momento.
O meu caso não era tão grave como a do tipo do filme. Nem perto disso. Já tinha malhado fêmeas e já sabia que era capaz de as sacar. O que eu descobri foi que era capaz de sacar um tipo de gajas estratosférico (para mim, estratosférico).
Naquele momento, bem, depois daquele momento, deixou de me fazer diferença quem eram ou como eram. Se gostava delas, aí estava eu, sem qualquer problema.

Passei a sacar mais. Passei a sacar melhores.
Se me perguntarem se nunca falhei a resposta é óbvia: Sim.
Mas quando deixei de encarar isto como uma impossibilidade acertei bastantes. E acertei exponencialmente mais do que tinha acontecido até à data.

Coisas pequenas que mudam tudo.

Saturday, September 07, 2013

Assad, Síria e os Ditadores

Há uns dias estive a ver o Piers Morgan (felizmente apresentado por outro que não om próprio) e, como tem acontecido todos os dias, o assunto foi se os EUA deveriam ou não bombardear a Síria.
Neste episódio em particular, aconteceu uma coisa a que se chamou Townhall Meeting que consistiu em ter plateia, basicamente, e em pedir que eles levantassem a mão ou não conforme concordassem ou não com uma pergunta qualquer e colocar algumas questões quando a vez lhes tocasse.

A dada altura, falou um Sírio-Americano (adoro como nos EUA o pessoal é quase sempre outra coisa que não apenas norte-americano) que disse que era apoiante do regime de Assad e que este era apoiado pela maioria da população e que entendia que os EUA estavam a meter-se onde não eram chamados e que a oposição são terroristas e por aí fora (acho que só se esqueceu de dizer que foram os gaseados que se gasearam).
Pensei que aquilo ia pegar fogo mas não. O apoiante do Assad não foi molestado de forma nenhuma. O máximo que aconteceu foi um dos comentadores do programa lhe ter dito que se ele é apoiado pela maioria da população não se entende o motivo pelo qual não convoca eleições. BINGO!

Ora, não há ditaduras sem apoios.
A questão que se deve colocar sempre (e que recebe, quase sempre, a mesma resposta) é quem apoia o ditador.
Estaline não teria aguentado sem apoio e nem Hitler e nem Mugabe e nem Hassam e nem os Al-Saud e nem Salazar e nem, pasme-se, Assad.

Não me surpreendeu que alguém viesse defender Assad até porque nestes casos, as mais das vezes, defender o ditador é defender-se mas já me surpreendeu como pode um gajo dizer que a maioria o apoia. É uma perda de noção do ridículo.
Fez-me lembrar o Presidente do Benfica, salvas as devidas proporções, a defender o JJ. É evidente que ele defende o JJ porque defender o JJ é defender-se.

Thursday, September 05, 2013

Empatia

A empatia é um sentimento que sempre apreciei nas outras pessoas e alimentei-o nelas sempre que me foi possível.
Um dos principais motivos para ter esta apreciação e para a alimentar é porque não fui educado para o ter. Não é uma coisa que lamente porque já aconteceu nem critique por não me ter sido incutido de uma forma ou de outra. As pessoas são produto das suas experiências e são estas e essas pessoas que transmitem o que aprenderam tornando este, como outros, um ciclo difícil de quebrar.
Acresce que por muito que a empatia faça as pessoas sofrer parece-me que quem dela padece acaba por sofrer mais embora o não saiba. É que quem não se liga não se desilude mas...também não se liga.

Como em tudo o resto que nos rodeia, é possível encarar o que quer que seja como um defeito ou uma virtude. O Egoismo é mau para os outros mas bom para os próprios; o Sacrifício é maus para próprios mas bom para os outros. Enfim, como há muito foi dito pelo Frederico Nish, as virtudes são avaliadas de fora.
A Empatia não é muito diferente ou não é nada diferente.

Vi agora uma reportagem sobre o Lamar Odom e por isso veio-me este tema à cabeça.
O Lamar é um basquetebolista de excepção e juntamente com esta sua excepcionabilidade vem o facto de ser toxicodependente, ser apanhado a guiar alcoolizado, destruir relacionamentos como se destroem hamburgers e por aí fora.
A mentalidade com que fui educado revela-me, simplisticamente, que ele é uma besta! Ganha milhões e milhões e é incapaz de se manter na linha. Não há nada que desculpe estes milionários bestas que são a quintessência do pobre menino rico.
A mentalidade que gosto de ver nos outros revela-me, contudo, que o Lamar cresceu num lugar terrível (drogas violência e afins), tinha um pai ex-militar e heroinómano que o abandonou (a ele e à mãe) quando ainda nem tinha 10 anos, teve uma mãe que morreu quando ele tinha 12 anos com cancro, teve um irmão que morreu baleado há pouco tempo e por aí fora... Um tipo que viveu isto e se tornou equilibrado seria um tipo excepcional e não normal.

O meu problema, contudo, é difícil de ultrapassar.
Como se repara deste blog desenvolvo algum esforço em compreender o motivo pelo qual o que acontece acontece. Dou-lhe imenso valor. A chave para evoluir consiste em compreender para, se possível, evitar o eterno devir de coisas más.
Mas este é um esforço intelectual e abstracto. Algo que, frequentemente, designo como compreender ser diferente de perdoar.

É fundamental, por exemplo, sabermos o que aconteceu ao Lamar para ele ser como é. Não por causa do Lamar mas por causa de todos os outros a quem pretendemos privar uma infância de completo infortúnio.
Mas! Para mim, isto não perdoa o Lamar. Ele deve apanhar como os que não tiveram a sua infância miserável porque, ao fim das contas, as pessoas que ele prejudica (imaginemos alguém que ele atropelava enquanto alcoolizado) têm muito menos culpa do que ele e não merecem ver o seu sofrimento desmerecido porque aconteceu a alguém algo com que nada tiveram que ver.

Empatia: Benção Vs Maldição.
...em baixo escrevi eminência quando queria ter escrito iminência.
Este meu analfabetismo funcional no que concerne às tecnologias impede-me de conseguir editar depois de escrito (e nem sequer é a primeira vez mas estou muito irritado com esta merda, agora).

Voto Universal

O direito ao voto foi uma coisa que foi evoluindo com o tempo, como é sabido.
Já foi um direito que apenas quem tivesse um determinado património poderia exercer, já esteve vedado a analfabetos, a mulheres e, em certas circunstências, a todos.

Há uns anos, um amigo disse-me que não lhe parecia desajustado que o voto dependesse da educação. Não o vetaria apenas a analfabetos mas também a outras pessoas e, segundo percebi (não me lembro se o perguntei expressamente e, se o fiz, qual a resposta que obtive), apenas pessoal com um curso superior teria direito a escolher o futuro do país.
Ora, em termos eminentemente teóricos, a ideia não é completamente desajustada e, dependendo da forma como a entendemos e defendemos, também não é, necessariamente, algo parecido com racismo intelectual.
Mais uma vez em teoria, é lógico achar que quem tem acesso a um nível de educação superior tem, também, uma maior capacidade de entender a complexidade mundial e política e identificar o que serão promessas reais e concretizáveis e o seu oposto.
Em teoria tudo isto é verdade.

Infelizmente, a prática é uma coisa diferente.

Poderia, por exemplo, em termos apenas lógicos e intelectuais dizer que o Totalitarismo é um sistema que poderia muito bem funcionar caso o tipo certo estivesse à frente. Seria muito melhor que a Democracia ou qualquer outro sistema porque um iluminado ajudar-nos-ia. Se ele estivesse certo e fosse melhor do que todos nós, maravilha.

O problema é que coisas destas nunca resultaram porque, infelizmente, iluminados, ditadores, fundamentalistas, extremistas e, pasme-se, licenciados são todos humanos e, como tal, todos imperfeitos e, como tal, todos corrompíveis e, como tal, incapazes de aceder a algo parecido com poder sem, se não controlados, se perderem.
Os avanços históricos no nível de vida, de resto, não vieram dos licenciados ou dos grandes líderes políticos por si só. Afinal, como humanos, só o pessoal que está mal quer ver as coisas mudarem porque quando se está bem a coisa está perfeita.
Gatos gordos não caçam ratos.

Também me irrita ver que o Menezes tem sucesso no Porto fruto, em parte, de uma ignorância latente;
Também me irrita que o George W Bush tenha sido eleito e re-eleito embora a sua burrice tenha sido sempre clara (vi uma notícia que indicava que a meio do segundo mandato o Bush tinha tido quase um ano de férias);
Também me irrita que, para se aproveitarem da falta de atenção das pessoas os políticos lancem a confusão com qualquer tema para, por baixo do pano, fazerem o que entendem sem que o pessoal perceba.

Tudo isso e muito mais me irrita mas o regresso à repressão seria pior. Não para todos mas para a esmagadora maioria.

Tuesday, September 03, 2013

Churchill na mouche

Estou habituado a que Churchill seja reverenciado por muita e muita gente como um grande estadista. Já li uma ou outra biografia sobre ele e, para ser sincero, não sou assim tão admirador dele quanto isso. Não que o ache vulgar, nada disso, só não o acho assim tão extraordinário.
Aliás, o síndrome de herói estadista que ilustra Churchill é adoptado para muitos outros (ok, alguns outros) dirigentes políticos da sua altura. É muito comum dizer que comparados com os de ontem os de hoje não prestam.

Ora, as circunstâncias são outras. O tempo é outra e também o são os desafios. Não discuto que os dirigentes da IIGM seja virtuosos mas, convenhamos que também assim a história nos ensina, que quando o tempo é de guerra torna-se relativamente mais fácil ocultarem-se defeitos.
O George W. Bush foi eleito para um segundo mandato e não me parece que seja possível imaginar que isso se tenha devido a outra coisa que não o envolvimento nas guerras e na necessidade de, quando nos sentimos ameaçados, nos juntarmos e formarmos o maior monolito possível. É uma questão de sobrevivência.

Mas nada disto tem que ver com o título desta coisa.
Há uma citação de Churchill que acho absolutamente admirável e que, na minha opinião, revela tudo o que ele era: desde voluntarioso a amante de bebida, desde destemido a amante de um bom charuto: When you´re going thru hell, keep going!
Um tratado à simplicidade, objectividade, pragmatismo e realismo.
O problema é quando um gajo não consegue continuar.

Twerking de Cyrus

Vi os VMA em directo e, como previa, perdi a maioria do meu tempo. Excluindo o show do Timberlake pouco mais se aproveitou e não posso deixar de lamentar profundamente a ausência de, sequer, uma guitarra em palco durante todo o espectáculo.
Enfim, a culpa foi minha que já sabia ao que ia e fui na mesma.

O que mais deu que falar, previsivelmente, foi a actuação da Miley Cyrus. O pessoal ficou em choque quando ela twerkou o Thicke porque lhes pareceu excessivo e de muito mau gosto. Bem... isso nem se quer me incomodou muito. Tudo o resto ou a totalidade da coisa é que me deixou, vá lá, enojado porque, felizmente, ela não me é nada.

A ideia generalizada da coisa, nas palavras dos outros e da própria, é que aquilo, bem como o seu último clip, serviu para que as pessoas entendam que ela já não é a Montana mas sim uma mulher (?) de 20 anos. Para tal, há que parecer completamente alucinada (em que o alucinada inclui um qualquer tipo de psicotrópico), com ar reles, quase sem roupa, simular uma traseirada com outro gajo e simular que o dedo de espuma que tinha servia ora para uma masturbaçãozita ora para simular um pénis.
Não sei de onde surgiu esta ideia de que as meninas são anjos e as mulheres são umas vadias. Há uma música, suponho que da Rita Lee, em que elas diz que não é freira nem puta e a moral da vida é um bocado essa: Não temos de escolher entre uma coisa e outra e, sem ser moralista ou demasiado paternalista, é muito triste que as crianças que olham para a Cyrus possam pensar que aquilo significa a transição para a idade adulta.

Talvez o mais importante e relevante seja o trabalho infantil desenvolvido por crianças como a Cyrus (e os Biebers e os Michael Jacksons e os Brumas e os Culkins e por aí fora) e o facto de elas se transformarem na fonte de rendimentos dos pais ou, pelo menos, o concretizar de um sonho dos pais por via dos filhos, quer seja quanto a uma carreira ou quanto a um Ferrari.
Quando os pais vêm os filhos como um cheque a que se habituam perdem o seu poder de os educar. É aquela coisa de querer ser amigo dos filhos; os pais não são nem devem ser os amigos dos filhos...senão chamar-se-iam amigos e não pais.