Saturday, February 28, 2015

Isto Anda Muito Movimentado mas Prometo Que Não se Repetirá Com Assiduidade!

- Como é? Anda aí um rumor que queres oferecer café ao K!
- Eh pá, vou às compras com o P.inho. Não sei se dá.
- Não me parece bem. Quero café.
- Hmm... ligo mal volte, ainda se deve conseguir.

- Então? Hoje faz-se o quê?
- Nada. Com esta chuva e com o trabalho que vou ter de fazer hoje à tarde e, possivelmente, amanhã de manhã, hoje não se faz coisa nenhuma.
- Não me apetece jantar em casa, hoje.
...
- Então, vens cá jantar. Eu chego praí às 8, aparece quando quiseres.

Porquê? Para quê? Tem de ser Hoje? Dá-me mais jeito amanhã? Hoje não posso?
Nada disso.
A resposta é sempre Sim porque seria a minha também. 
O porquê interessa a quem precisa de justificação para se fazer o que dela se espera; o porquê interessa a quem tem de avaliar se o sacrifício ou a pouca conveniência compensa.
A resposta é sempre Sim.
Quando não se lida com gente fútil a quem dá fanicos, não se precisa de palavras para entender que é agora e não depois; quando não se quer desiludir quem não desilude.

A resposta é sempre Sim e todos seremos menos sozinhos quando temos gente desta, só temos de estar preparados para ser essa mesma pessoa para esta gente.

Ah, não percebo como é que essa gente te faz essas vontades todas! ou Oh X/Y/Z, sempre que o K te liga os planos que temos desaparecem?! ou Como é que tens paciência para esse gajo!!! é, relativamente, recorrente ouvir-se de quem não percebe, exactamente, o que leva a que as pessoas que me são próximas e, por vezes, nem assim tão próximas fazerem-se as vontades, quase independentemente de quais forem.

Não me vou elogiar, já faço mais disso do que devia, para justificar coisa alguma. 
Direi apenas que não sou a mesma pessoa para toda a gente...porque, para mim, quem se dá a toda a gente não se dá a ninguém. Em teoria, as pessoas são todas iguais para mim mas na prática umas são incomparavelmente mais iguais que outras.

...estava cansado, por isso, descansarei

Como eu tenho dificuldade em entender as paixões de algumas pessoas por algumas coisas (que vão desde o que gostam de ouvir como ao que gostam de ver), é difícil explicar o quanto eu gosto de Samba e o porquê de tanto gostar.
Já por aqui disse que o meu único verdadeiro caso de Amor é com o Rio de Janeiro e acho que o meu caso de Amor só existe porque o Samba existe e porque o Samba é Samba.

Parece-me, isto sem muito me debruçar sobre o assunto, que a dificuldade de ser entendido o quanto o Samba é tudo que se quer começa no ponto em que ele se encontra.
Por um lado, os snobeiros não entenderão o quão rico é o Samba e o quanto, a maioria das vezes, é bem tocado porque o Samba nasceu no morro e no morro só se vende droga e é-se pobre.
Por outro lado, quem nasceu com os pés enfiados no Samba nasceu no morro e porque se pensa o que se pensa do morro, quer-se distanciar e reagir contra o que de si é esperado.

Outro problema que se dá com a rama daquilo que se entende por Samba é o que se vende sobre ele.
Fora do Brasil, o Samba é Carnaval e cor e gajas meio nuas e alegria. O Samba não é isso. Fazer Samba não é contar piada e quem faz samba assim não é de nada. O bom Samba é uma forma de oração.
Se alguém perder tempo suficiente, entenderá que o Samba, o bom, é a vida contada de uma forma que pode ser entendida e nem sequer falo de ter uma especial atenção a uma música específica, falo do próprio género.

Percam tempo a ouvir Cartola ou João Nogueira ou Nelson do Cavaquinho e entenderão.
A tamborim, o cavaquinho, o pandeiro, o tambor e a cuíca fazem-nos balançar o corpo ao mesmo tempo que as palavras nos fazem balançar a alma. Percam tempo a ouvir o Tive Sim mais do que a ouvi-lo para se compreender que as palavras têm a tristeza das cicatrizes mas a música tem a leveza da mais garrida das plumas.

Dor e Alegria.

O Ismael Silva escreveu, enquanto tudo à volta se arrepia num frenesim de foguetes, que se vc jurar que me tem amor, posso me regenerar. Mas se for para fingir mulher, a orgia assim não vou deixar.
Redenção e salvação.

O Adorinan Barbosa disse que de tanto levar frechada do teu olhar, meu peito até parece sabe o quê? Taubua de tiro ao alvaro, não tem mais onde furá.
Beleza sem sofisticação. Não precisa de ser erudito para ser bonito.

O Jorge Aragão acha que por favor, não me olhe assim, se não por pra viver só para mim...é tão bom se querer, sem saber, como vai terminar.
Medo da entrega e o frio na espinha que devia esfriar mas só aquece.

Não quero com isto dizer que só no Samba se escreva bem, seria parvo e mentiroso, mas não encontro outro em que tudo se conjugue e seja perceptível aos outros.
A Bossa Nova, por exemplo, que é muito mais bem aceite entre os intelectuais que o Samba não é mais do que o próprio Samba com, permitam-me, menos variedade musical...e eu adoro Bossa Nova. Aliás, os mestres da Bossa não admiravam ninguém mais do que admiravam os mestres do Samba.

E depois há a envolvência quando se lá está.
Não se bebe vivo nem o agora super in Gin. Bebe-se cerveja.
Não se pensa no pé que se usará a seguir. É-se banhado pela chuva tropical.

Quando comecei a aprender estas coisas, que aconteceu por acaso mas já menos por acaso pela mão de uma preta brasileira de quem guardo óptimas recordações, dei-me conta de que porque o antes era mais verdadeiro do que o agora as melhores sambistas não eram novas. A languidez que se precisa no Samba de raiz adequa-se pouco ao Samba da Sapucaí, por isso, se se quer ver sensualidade vai-se ao Bom Sujeito e se se quer ver sexualidade vai-se a um ensaio da Beija-Flor e se as mais das vezes quero sexo, estranhamente ou nem tanto, ser hipnotisado como uma cobra capelo pela flauta que se move à sua frente acontece-me com a sensualidade.

Obrigava a minha nega a sambar para mim e ficava muito feliz. O Samba faz-me feliz e porque não sou naturalmente feliz fico-lhe muito grato.

E agora, para finalizar e para demonstrar o motivo pelo qual não há prazer sem dor nem alegria sem tristeza... e nem beleza sem a soma de todos os elementos...e porque pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza (Vinicius de Moraes, só para se perceber que quem, de facto, é evoluído lhe interessa pouco de onde vem a arte), um bocado de O Mundo é um Moínho do Cartola. Música escrita em resultado da enteada ter virado puta:

Preste atenção, querida.
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida,
Em pouco tempo não serás mais o que és.

Ouça-me bem, amor.
Preste atenção, o mundo é um moínho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho
Vai reduzir as ilusões a pó.

Preste atenção, querida.
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo.
Abismo que cavaste com teus pés.

RESULTADOS vs INTENÇÕES

GRÉCIA

Não se ouve falar sobre muito mais além da Grécia nas últimas semanas e, a meu ver, justificadamente. Joga-se muito com esta situação e, sem querer ser demasiado dramático porque, em tese, as coisas acontecem e a Terra continua a girar, o futuro próximo está meio nublado.
Como percebo pouco sobre a maioria das coisas e um bocadinho mais sobre a remanescente minoria não vou pensar em número, qua tale, mas antes no que acontece quando isto acontece porque como alguém muito mais esperto que eu - cujo nome não recordo - disse, quanto mais longe se consegue ver no passado mais longe se consegue ver no futuro.

Pensará, alguém, que a Grécia é um ninho de comunistas e esquerda extrema? Pensará se não souber o que a Grécia era tanto no passado recente como no mais longínquo.
Pensará, alguém, que a Grécia decidiu mudar radicalmente de vida? Pensará se não se perceber que não foi a Grécia que decidiu, as circunstâncias decidiram por ela.
Pensará, alguém, que a Grécia acreditou que com estes gajos que pôs à frente alguma coisa iria mudar, significativamente? Pensará e, aqui, estará dentro daquilo que me parece ser verdade, resultado de ignorância mas, ainda assim, terá acontecido.

O que, na realidade, aconteceu é bastante simples de entender. No momento em que se não tem mais a perder ou que se julga não ter nada a perder, o que, internamente, é a mesma coisa, faz-se qualquer coisa.
A experiência Grega, recente, com governos de coronéis não os deveria impelir para qualquer tipo de extremismo; o entendimento que, neste momento, o corte com a Europa a levará a muitos e muitos anos de buraco não os deveria querer fazer espiar esse futuro, até porque devem conhecer a Argentina que entrou onde entrou com a vantagem comparativa de ter moeda própria.
Os Gregos, ou alguns, saberão tudo isto mas parece-lhes que a coisa não pode piorar, então foram para os pretensamente radicais.

O que vai acontecer? Divido-me entre o nada e o pouco...ou a biqueirada para outro lado.
Os Gregos chegaram ao sa foda e pode ser que se fodam e, com ele, nós.

O problema com este tipo de jogos ou sentimentos é que do outro lado há mais pessoal.
Neste momento, não me parece que a maioria queira a Grécia fora da Europa. Infelizmente, tal não me parece dever-se a um qualquer sentimento de solidariedade - um fato que nunca serviu à Europa - mas ao pensamento de que, neste momento, será pior mandar a Grécia às urtigas a segurá-la.

Os perigosos radicais de cachecol qualquer coisa sabem disso melhor que os compatriotas e o radicalismo deles está a esfumar-se, como acontece a todos os que têm responsabilidades maiores do que bradar contra. Os perigosos radicais de cachecol percebem que, se não souberem fazer bem as contas, os outros vão chegar ao mesmo tipo de comportamento que os Gregos: sa foda, mandá-los embora não deverá ser pior que ficar com eles.

O problema disto é que a UE é o maior período de paz que a Europa consentiu em toda a sua história, que não começou ontem.
Se a UE se desmorona não será, apenas, um problema económico.
A Rússia esfregará as mãos, a China esfregará as mãos e passaremos, provavelmente, para a efectiva e anunciada queda do Ocidente.

(gostaria muito de falar sobre os gajos do Syriza que, como acontece de Este a Oeste, hoje em dia são aquilo a que se chama comunicadores e não outra coisa. Deixámos a substância em benefício da mensagem porque se entende que a aparência é melhor - e mais rápida - que a realidade. 
É um dos males maiores da Democracia.)

EVOLUTION

As pessoas não mudam. 
Estava a pensar sobre isto há uns dias. Sou dos que acham que, realmente, as pessoas não mudam mas dei por mim a tentar definir o momento em que as pessoas se tornam nas pessoas que não mudam.

Porquê?
Eu era uma criança muito diferente do adulto em que me tornei. Era extremamente sociável, bem disposto sem restringir destinatários. 
Parece-me que se juntou a fome com a vontade de comer, naquela altura; uma criança adulta (o que normalmente é entendido como engraçado e que, agora, me irrita muito) com coisas para dizer, imitações de figuras públicas para fazer e que, lá como cá, gostava muito de escrever, quando aprendeu, mas já não lá como cá, tornava esse gosto público.

Primeiro filho, primeiro neto, primeiro muitas outras coisas. Muito apaparicado, muito amado, muitas outras coisas.

As pessoas mudam? Ainda lá não chegámos mas as crianças mudam.

Na adolescência, desde o seu início até mais ou menos o meio ou mais para o fim, a coisa meio que se alterou mas não extremamente.
Deixei de ser tão sociável mas ainda tolerava uma vida social activa. Já era manifestamente mais agressivo e menos tolerante mas, ainda assim, não o misantropo em que me fui tornando.
Por exemplo,
ainda para o meio e final da adolescência fui ganhando prémios e vendo publicadas cenas que fazia e não quero com isto falar da qualidade da minha prosa mas antes do facto de ainda a mostrar...sendo certo que no final da adolescência já usava heterónimos.

A memória mais clara e precisa da minha mudança, não que não conseguisse identificar outras mas não é um trabalho a que me queira dar ou que me fizesse, agora, particularmente bem, é a do momento em que passei a perceber que conseguia sacar gajas e isto aconteceu relativamente tarde.
Fui para casa de uma amiga minha com um outro amigo meu e, a dado momento, chegou uma amiga da minha amiga. Linda, loira, mais velha que eu, boa, extrovertida, enfim, daquelas que o bar pára quando aparece e aponta para o que quer.
Pensei: meu Deus... é muita areia para o meu camião mas, na realidade, não foi. Poderia dizer que bati imensas teses e a ludibriei mas não foi o caso. Ela gostou e eu gostei e a coisa deu-se. 

O que aconteceu?
Não sei, nunca perguntei. Não estive com ela muitas vezes, não me apaixonei, não nada. 
O que aconteceu?
Varria-a sem saber que o estava a fazer e fui ganhando prática. O Mundo nasceu de novo e com ele um outro gajo. Não sei se melhor ou pior mas que gostava muito mais de si e que começou a recuperar o tempo perdido com toda a voracidade com que conseguia.
Sem esta gaja não teria tido visitas do outro lado do Atlântico porque me queriam conhecer nem me teriam querido em Milão nem me teriam querido como quiseram.

Foi uma coisa boa?
Eu gostei e gosto mas depende sempre do que se quer da vida...

Então, as pessoas mudam?
Depende, suponho, do momento em que pensemos nas pessoas ou da magnitude da mudança.
Apesar de tudo quanto disse, sempre tive um mau feitio terrível, sempre quis em vez de daqui a bocado, sempre me incomodou ter menos do que queria e mais ainda menos do que entendia merecer... mas não era a mesma pessoa que sou agora ou ainda não era pessoa.

No meio de tudo isto, como é evidente, há muito mais; há muitos mais momentos importantes que formaram a minha visão do Mundo e como lido com ele; há muitas cicatrizes, há muitas nódoas negras, há muitos ossos partidos, há muita alegria, há muita carne, há muita sorte e algum azar.

Uma amiga minha, casada com um dos meus melhores amigos, começou a namorar com ele ao mesmo tempo que eu comecei a namorar com a minha primeira namorada.
Como sempre me dei bem com mulheres - não todas, claro - ela não é excepção e, muito no início, disse-me que tanto eu como o meu amigo, com quem ficou, precisávamos que uma mulher nos pusesse a mão porque caso contrário iríamos estragar.
Achei muita graça e não achei nem acho que ela estivesse enganada. Gajos como nós não podem ficar sem ter quem os segure porque não lhes vai fazer bem. 

Sou, como vocês, a soma de todos os momentos pelos quais passei, dos mais relevantes aos mais insignificantes. 

Nós, pretensamente adultos, não mudaremos mas podemos afinar ou desafinar.
Há quem julgue, por exemplo, que uma experiência de quase morte muda as pessoas e posso dizer que assim não é. Pode fazer com que nos contrariemos durante algum tempo mas, depois, o curso do rio volta ao mesmo.

Morrer muda tudo, quase morrer não muda nada.

O ELEMENTO PSICOLÓGICO

Como não escondo, o que interessa, em última instância, é o resultado, a meta, o fim, a finalidade. 
Se quiser ser absolutamente honesto, deveria ainda interessar-me mais porque se o fizesse teria menos problemas com isso. Se apenas e só o resultado me interessasse seria mais lambe botas e mais contido porque a força bruta é, muitas vezes, contraproducente...mas isso levaria a um assunto mais profundo que, de momento, não me interessa que se consubstancia no sinto-me muito frequentemente mais burro que os burros porque os burros ignoram e eu sei...e mesmo assim faço o mesmo.

Mas o elemento psicológico.
A importância do elemento psicológico, em puro, existe porque as motivações apontam para o que acontecerá. Se soubermos porque fez alguém alguma coisa entenderemos o que fará em situações similares no futuro. E isso é importante porque se conseguirmos manipular essa intenção poderemos manipular o resultado.
Se as pessoas acharem que estão numa determinada situação em que não estão farão o que fariam se estivessem e teremos o que queremos, contra a vontade da outra pessoa que não sabe que não está onde pensaria estar.

Aliás, o sistema jurídico, por exemplo, baseia-se na intenção quase em absoluto e a intenção não é mais do que o elemento psicológico.

O elemento psicológico em quem não me interessa pessoalmente só me serve para o resultado;
O elemento psicológico em quem me interessa pessoalmente serve-me para tudo.

Não me interessa o elemento psicológico de uma mulher que me quer levar para a cama. Interessa-me que me queira levar para a cama.
Não me interessa o elemento psicológico de uma pessoa que faz o que quero que faça. Interessa-me que faça o que quero que faça.
Não me interessa o elemento psicológico de alguém que me favorece. Interessa-me que me favoreça.

Em termos pessoais, como não poderia deixar de ser porque sou o que sou, interessa-me quase em absoluto. E quase porque a factura da realidade faz-se pagar e eu sei que se faz pagar. E quase porque oblitero o que se pode pelo que se quer. E quase porque, ainda que dolorosamente, o fogo adora a gasolina.

O problema que se vai colocando é que quando me interessa este elemento passo a exigir muito mais e nisso não me sinto especial. Bem, talvez seja especial na quantidade e qualidade que exijo mas não na exigência em si.

Detesto impor comportamentos a quem quero, apenas, que os tenha e, por isso, não o faço sempre que consigo evitar o que é a esmagadora maioria das vezes.
Já não me importo de parecer que imponho comportamentos a quem os quer ter mas não se sente confortável a tê-los. Não me faz sentir parvo, faz-me sentir que facilito a vida a quem merece.
Gosto que me toquem porque quero e não porque têm pena de mim. Melhor. Se me quiserem tocar porque têm pena e eu percebo, a merda arde muito rapidamente. 

Não gosto que me magoem mas se não me pretenderem magoar, fico menos irritado. O seu contrário dá o resultado inverso.
Não gosto que se defendam usando as minhas características, marca de cobardia que muito me incomoda especialmente porque sinto que não mereço ser assim tratado. 

O que se pode tem limites, o que se quer não.
Admito, a custo, as limitações dos outros quanto ao que conseguem fazer mas já sou muito menos tolerante quanto ao que querem.
Admito, a custo, que a força não acompanhe a vontade mas já não o seu contrário.

O que interessa isso?
Mais uma vez, como o elemento psicológico, é uma nuance quase imperceptível mas que, para mim, é decisiva.
Posso não receber o que não se pode dar. Natural. Evidente. É a vida.
Posso não receber o que não se quer dar. Não. 

Esta pequeníssima diferença e que, por vezes, quase não se consegue detectar, pode fazer com que a recordação seja boa - o que muito prezo - ou má - o que desprezo.

É possível que achem que sou demasiado sensível a tudo isto e, provavelmente, estarão certos. Lamentavelmente, como todos nós, tenho os meus pontos sensíveis que tento a todo o custo esconder porque mais do que não gostar deles expõe-me e eu detesto sentir-me exposto.
Podem, também, pensar: meu amigo, é a vida. Toca a todos. As pessoas nem sempre têm o que merecem e, uma outra vez, estarão certos.... e voltaremos ao assunto que não quero que se prende com a minha burrice:

Eu convivo muito mal com a desilusão e, por isso, estou permanentemente atento. Permanentemente em estado de alerta.
Não me importo que a coisa corra mal se eu souber que vai correr mal porque, ao fim de contas, meti-me onde sabia e não culpo ninguém por isso.
Sentir que não consegui enxergar nada do que me rodeava deixa-me em estado de completa apoplexia... e eu nunca senti que não conseguia enxergar nada. Engano-me muitas e muitas vezes mas nunca completamente.

Cansei-me.
Ainda me apetecia, quando comecei, falar sobre o que as pessoas conhecem delas e os custos que estão dispostas a sofrer e infligir para se defenderem e o que não entendem e que os outros entendem.
Mas cansei-me.

Thursday, February 26, 2015

O João Donato compôs o Simples Carinho para, sem saber, a Ângela Rô Rô cantar e disse-lhe que amar é sofrer, eu vou te dizer mas vou duvidar. Querendo ou não, o meu coração já quer se entregar. Como se não bastasse, explicou-lhe, também, que te sinto no ar, na brisa do mar, eu quero te ver...pois ontem à noite, sonhando acordada, dormi com você.

Não estará muito enganado. Sem sair da brasilidade, o Mestre Cartola não achava coisa diferente, ainda que com mais arte, e o Vinicius de Morais pensava coisa semelhante, ainda que melhor escrito.
A Monica Vitti, dirigida pelo Antonioni no La Notte, disse ao Marcello Mastroiani que quem me dera não existir porque não te posso mais amar.

A diferença principal entre um vírus clássico e isto é que os outros vírus não se querem apanhar. Melhor. Este também não se quer mas quando se fica doente não se pretende curar.

Se se ler suficientes historietas de cordel e se se prestar a atenção ao que os politicamente correctos nos dizem, todos dizem que este estado é uma maravilha porque nos faz sentir bem e a vida tem mais cor e a felicidade banha-nos como se fosse o nosso chuveiro privativo. 
Não é. Quem acha isto não sabe daquilo que fala porque, possivelmente, nunca viveu; pode, contudo, dar-se que estas mesmas pessoas sabem que estão a mentir mas recusam-se a revelar que quando lhes aconteceu doeu muito. E dói muito.

O Amor é a história da negação. 
Faz-se o que não é característico; faz-se o que se não consegue evitar; com aquela pessoa somos outra pessoa; estamos num estado de vida suspensa em que a outra é a máquina que nos ventila os pulmões.
Tudo isto é horrível. É exactamente o contrário de completo que se propala quando deste assunto ouvimos falar. Não é?
Não, não é.

O Amor é a história da negação.
Somos mais felizes porque outra pessoa está mais feliz; se estamos suspensos na ausência, o dia é banhado de cor e o azul desbotado passa a turquesa; não queremos mais nada mas daquilo queremos tudo.
Mas eu não faço nada para ficares contente. Eu só não gosto quando estás triste e prefiro quando estás contente. Pois. Alegria e dor partilhada.
Dei por mim a querer que a segunda-feira chegue e eu detesto segundas-feiras. Pois, há quem apresse a passada e não pare para comprar cigarros.

Coisas pequenas, ouço-vos dizer. 
Têm razão. São pequenas. São, até, insignificantes...mas esquecendo que a vida é um amontoado de insignificâncias e não de momentos decisivos, esquecendo que as insignificâncias são muito mais o todo que a parte, digo-vos que estes nadas são o que interessa mais e mais revela o quanto vos querem ou o quanto significam para quem quer que seja.
É o telefonema à terça-feira porque sim e não o de aniversário. Há uma terça-feira todas as semanas, o que a torna mais vulgar, e um aniversário por ano, o que o torna mais raro mas é na ausência de importância que se encontra aquilo a que se dá valor. Não digo isto em termos absolutos, digo-o neste sentido: uma pessoa não se esquece de respirar e isto acontece todos os segundos.

O Amor é a história da negação.
Se forem daquele tipo de pessoas que precisa de controlar tudo e compreender tudo o que rodeia para conseguir apertar os calor à realidade, compreenderão que não há descontos de tempo. Não se pára de se ser porque, neste momento, se não quer. 
Quando, ostensivamente, uma pessoa destas se desliga da realidade, ainda que por apenas 1 hora - que é todo o tempo do mundo - está a negar-se. Pode, depois, detestar-se, mas não se arrepende porque mesmo este assombro de insanidade foi alimentada e podia ter sido diferente,

O Amor é a história da negação.
Se forem daquelas pessoas que têm uma clara visão do certo e do errado (vamos esquecer ambiguidades e cingir-nos ao certo e errado social, para facilitar), compreendem que há coisas que não se fazem. Coisas que se ultrapassadas não são meramente desagradáveis mas propensas e estragar a ideia de decência que se tem.
Quando, ostensivamente, uma pessoa destas se desliga da realidade, o mais que pode, ainda que apenas por 1 hora - que é todo o tempo do mundo - está a negar-se. Pode, depois, detestar-se, mas não se arrepende porque mesmo este assombro de insanidade foi alimentada e podia ter sido diferente.

O Amor é a história da negação.
Uma barragem, como uma corrente de aço, é uma obra de construção forte que se demora dar forma mas quando se consegue parece perene. É para isso que se fez tanto uma coisa como outra, para, potencialmente, durar para sempre. Não convém a barragem ruir nem a corrente partir.
O que acontece, contudo, é que naquela altura pensa-se que tudo é para sempre sem saber que o para sempre, sempre acaba.
Ontem não se imaginava que isto acontecesse, aconteceu; ontem não se imaginava que aquilo se dissesse, disse-se; ontem não se imaginava que o que rodeava era uma ilusão, hoje sabe-se.

Quero com isto dizer que o Amor não é para sempre?
Não. Quero dizer que acredito, piamente, que nem sempre o pra sempre, sempre acaba. Quero dizer que tudo é possível, mesmo quando tudo aponta para o seu contrário. Quero dizer que o pra sempre, nunca acaba quando se nos apresenta como devia.
Pode nunca acontecer, pode nunca se encontrar mas ele existe.

Pois, mas por que estás sozinho? Porque, ainda que seja um lugar comum do tipo que detesto, porque ainda não aconteceu, mesmo quando achei que ia acontecer. A minha crença não mudou, acredito no mesmo, o que devo é ter estado enganado antes...e nada garante que não me engane outra vez e outra vez e outra vez e outra vez e, tendencialmente, para sempre; o que não vai acontecer é deixar de procurar o que quero e não vou aceitar menos porque já sei o que é muito mas ainda preciso de saber o que é o tudo.

Isto tudo são, para mim, evidências.
Agora, entraremos naquilo que podem ser particularidades.

Ouve-se, dos mesmos politicamente correctos, que o Amor é liberdade e cada um é cada qual. Não é.
Voltando à brasilidade, que nestas coisas nos é amplamente superior, quem ama cuida e quem cuida não deixa solto.

Podem todos vocês, cientes da vossa independência e personalidade do século XXI, revirar os olhos mas Amor é posse. É o és minha e eu sou teu e não o vivemos isto juntos mas somos independentes.
Não, não somos.
Não és independente se a tua alegria depende de outra pessoa. És sozinho.
Não és independente se a tua incomodidade é ultrapassada pela comodidade de outra pessoa. És sozinho.
Não és independente se temes que os teus actos afectem a outra pessoa. És sozinho.
Não és independente se preferes que te façam mal a ti que a outra pessoa. És sozinho.

É uma posse consentida. Não te obrigam ao que quer que seja, não queres diferente porque não consegues diferente. 
És minha e eu sou teu, e ambos são pronomes possessivos porque pronomes vamos ser o que der sem nos incomodar muito e cada um é cada qual não existem.

Com tudo isto, não sei dizer se, em geral - em particular saberia mas não me apetece - somos mais fortes ou mais fracos quando atacados pelo vírus mas sei que, durante algum tempo, pelo menos, somos mais felizes e, ainda que doloroso, talvez seja melhor ser feliz durante algum tempo do que não saber o que isso é.

És minha e eu sou teu.
Não um bocado. Toda. Todo.

Não sei quantos de vocês, se forem realmente sinceros, alguma vez sentiram todo o corpo e alma de alguém clamar o vosso nome.
Eu tive essa sorte ou esse azar. É essa sorte que me faz saber o que encontro e o que tenho e é esse azar que me faz saber o que encontro e o que tenho.
Ouçam esse tipo de chamamento e vejam como conseguem fugir dele. Até porque para ouvir esse chamamento não basta que ele exista, só o conseguem ouvir se o quiserem porque, caso contrário, não é mais que ruído.

Agora, entremos, por muito pouco tempo, em particularidades ainda maiores.

Eu sou batido nesta coisa de pessoas e sentimentos. Não os alimento, na verdade fujo deles, mas como pessoas me interessam sempre tive muita atenção ao que fazem, ainda que não ao que dizem. E este é o ponto: não ao que dizem.

A maioria das vezes, permito que quem gosto se sinta bem nem que para isso renegue o que existe pelo que pensa existir mas não o consigo fazer quando discordo do resultado que daí virá.
Nem sempre forço a que as coisas sejam ditas para as ouvir, ainda que, por ser humano e, por isso, fraco, também o faça; a maioria das vezes as coisas precisam de ser ditas para que quem as diz as entenda e as veja.
Não sei que mais dizer. Não sei o que isto é. Não sei explicar. Sabes. Não queres e isso não é aceitável porque não se jogam banalidades, não se entrou na loja, de repente, para comprar arroz, arroz que existe em todas as lojas. Vieste à porta desta e nesta há o que quase não se encontra. Podes não querer comprar, podes decidir não entrar, podes preferir produtos brancos mas o que não podes é não saber o que aqui há; o que não podes é não saber ou dizer não saber o que não vais comprar.

...e acabando mais ou menos como se começou, porque tenho cenas para fazer:
Só não poderá falar assim do meu amor
este é o maior que você pode encontrar.
Você, com a sua música esqueceu do principal, 
que no peito dos desafinados,
no fundo do peito, bate calado.
Que no peito dos desafinados também bate um coração.

Saturday, February 21, 2015

Estou Com Alguma Pressa...O Que Quase Me Envergonha

EUSÉBIO E O PANTEÃO

Quando se começou a dizer que o Eusébio ia para o Panteão começou-se a cheirar o pedantismo parvo que varre a comunicação social.
Ah, um futebolista?! Onde já chegámos!!!

Bem, a mim só me pareceu mais rápido do que devia e nem o facto de ser benfiquista (o Eusébio, claro) me importou muito.
O futebol, ainda que reles aos olhos dos intelectuais, é muito mais importante para o mundo do que os próprios dos intelectuais; quantos idiotas hão-de ter franzido o olho mas têm a Margarida Rebelo Pinto na mesinha de cabeceira? quantos idiotas hão-de ter franzido o olho enquanto viam uma conferência do Gustavo Santos? quantos idiotas hão-de ter franzido o olho enquanto lançam loas ao José Rodrigues dos Santos e à sua...vamos dizer arte em itálico e reforçar a ideia para que não se pense que não estou a ser ofensivo.

Importância não é o polissílabo mas a sua ausência. Só se deve lançar mão do complicado quando o simples não chega.
Tenhor por aqui colado em qualquer lado um poema do Pessoa que se lê de cima para baixo e, depois, de baixo para cima; percebem-se perfeitamente os dois, nenhum deles é excessivamente ornamentado.
Peçam ao Chagas para fazer assim uma coisa enquando muda a graduação dos óculos.

Diga se você me quer ou não /


Diga se comigo é feliz /

Todo mundo sabe/

O que existe entre nós dois/

Diga tudo agora e não depois./



Nosso amor não é cinema/

Desses de 1100/

Nosso amor não é comédia /

Pra dar risos pra ninguém/



Quanta gente me pergunta/

Se ao seu lado vivo bem/

Eu não minto, digo tudo:/

Sem você não sou ninguém/

...e a essência do que é simples.
É mais ou menos isto que eu quero e, na verdade, tive.
 
Nosso amor não é cinema desses de 1100
Nosso amor não é comédia pra dar risos a ninguém
Não é para ser visto com pipocas, não é para ser engraçado nem para ser seguido de oh que fofo é sério, é tenso, é denso, é o que é e não o que devia ou queria que fosse.
 
quanta gente me pergunta se ao seu lado vivo bem
A imperceptibilidae de entender que aquilo dá aquilo e que aquilo faz alguém feliz. Não interessam as cores e a ordem; não interessa o que parece nem o que pensam; não interessa se é o que se quer ver ou se deseja à pessoa que pergunta.
E porque só isso interessa e porque a quem é perguntado se deu ao trabalho de responder, ainda que talvez não devesse
Eu não minto, digo tudo, sem você não sou ninguém.
 
Da mesma maneira que o cérebro ordena palavras desordenadas para lhes dar sentido, dando-se muitas vezes o caso de inventar palavras que lá não estão para que sinta que percebe, o mesmo fazem as pessoas quanto ao que não compreendem: como podes tu estar com aquele animal (podendo não usar o termo animal)?
Porque ele só é um animal para vocês, que não o conhecem.
Atravessem a rua no momento em que um carro vai a passar e vos pode atropelar e vejam se são os vossos coninhas ou o meu animal que se atira para a frente para não serem vocês ou eu a apanhar com o carro.
(esta última é uma citação mais ou menos fiel de uma situação real)
 
E eu nem quero diferente.
Entende-se a banalidade, estranha-se a particularidade....e eu não quero ser banal e nem ter nada banal porque não sou um cinema desses de 1.100.

Monday, February 16, 2015

A APARENTE QUEDA DE MITOS

Como ainda é demasiado recente, tudo, para assumir como permanente usei o aparente mas de aparente tem pouco.
Começa em literal e encaminha-se para o metafórico, do palpável para o intangível.
É preparar, vem raiva porque sou pouco dado a desilusão.

O FÍSICO

Como é sabido, procuro pouca coisa fora e alimento-me, basicamente, dentro de portas. Não é algo que planeei desde miúdo nem de que me orgulhe particularmente. É possível que por fora seja o herói que Sérgio Godinho descreveu como o cobarde que corre prá frente e por dentro seja uma outra coisa.
Independentemente disso, como o que conta é o resultado, não me dei mal com esta independência feroz e, por vezes, atroz.

No que diz respeito ao meu corpo, sempre foi usado como uma arma de combate mas menos bem tratado porque nunca lhe fiz revisões.
Apesar de, como ad nauseam tenho escrito e começa a incomodar, sempre ter sido gordo fui também um desportista de primeira linha em todos os desportos que pratiquei; não era fácil de entender como puxava mais que quase todos e menos fácil era de perceber como era rápido e ágil a puxar isto tudo. Mais esquisito é o facto de eu não gostar particularmente de desporto mas, aqui, ambas as coisas se juntam: eu gosto de ganhar e ser melhor e para isso o corpo precisou de colaborar com a mente desse por onde desse.

Nada de doenças; nada de ossos partidos (de forma relevante); nada de lesões chatas; nada de nada.
Ferro! Nem a bebida nem os cigarros nem a pancada nem nada me parava e havia muita dificuldade para me abrandar.

Agora, tenho uma merda crónica - de que nunca mais falarei aqui - que não será, em princípio, particularmente grave nem fará de mim um exemplo de estoicismo. Não será feito um filme de loas à minha bravura.
O que acontece é que Ferro já não sou e essa merda deu cabo de mim.

A coitada - por ser nova e por eu ser o que sou - não estava a perceber o que estava a acontecer:
Não vale a pena ficar assim, isto não é nada de extremamente preocupante!
Pois, como pode entender que obrigar-me a encarar cuidados e algumas restrições e visitas de rotina é o mesmo que sentenciar-me à negação? Não pode. As pessoas não são assim...

Mas, normalmente, não vão aceitar a consulta em X porque ainda nem começou o tratamento. Eles primeiro precisam de saber o que é..
Sim, não estou a duvidar de si nem da sua competência. Quero que tente marcar e depois eu trato do resto.

Marcou.
Não percebeu que é a minha maneira de reagir a quem me faz mal. Mesmo quando é o meu corpo.

Pronto, tem aqui a receita e agora é para começar hoje.
Pois...hoje não vai dar. Devo começar amanhã.

Assim será.
Não percebeu que não gosto de ser controlado nem receber ordens. Mesmo quando é para o meu bem.

Não é suposto ser derrotado por dentro.
Não é suposto dar de mim.
Não é suposto falhar.
Não é suposto ser outra coisa que não a que quero.

Quinta-feira era de Ferro. Hoje não sou.
Amanhã estarei melhor mas não hoje.

A MENTE

Ligo e desligo muito depressa.
Deixei de falar com um amigo meu durante quase 10 anos porque, uma vez e com alguma razão, me disse que da próxima me dava um soco. Admiti não lhe bater. Não admiti a ameaça;
Deixei de falar com um familiar muito próximo durante 2 anos - mora a 100 mtos de mim - porque uma vez me virou a cara. Admiti não reagir. Não admiti a falta de respeito.
Com muito sacrifício mantenho contacto com quem me deu vida e apenas o faço por outra pessoa que me merece mais consideração do que a que dispenso a mim mesmo. Desiludiu-me uma vez. Não me desilude mais.
Nestes casos, como em outros, precisaram de me pedir desculpas de forma clara. Não foi preciso ser humilhante nem nada de exagerado: Lembras-te daquilo? Desculpa. Não se resolveu porque raramente se recupera o que se perde mas voltou ao possível.

Dou tudo o que quero dar mas nada do que não quero.
Conversa em SMS 1:
Gosto muito de ti...estou cheia de saudades.
Não respondi e desapareci, até agora, do mapa; não quero ligações emocionais. Erro de SMS.
Não quero dar.

Conversa em SMS 2:
Não me queres dar boleia, K?
Claro. O problema é que não me parece que chegues...
Contigo chego sempre...
Ainda não tinha acabado de ler e já tinha as chaves do carro na mão. Queria-me o corpo e com isso não tenho problemas.

Agora, não sei que dizer nem fazer...o que é mentira. Sei tanto uma coisa como outra mas como não quero, para mim é o equivalente a não saber.

Por muito ofensivo que isto possa parecer, nunca quis ser o para sempre de ninguém. Quando gostei quis sempre que fosse para sempre - poderia eu querer menos? - mas mais que isso precisava de saber que eu era o máximo na vida de quem quer que seja. O número 1. Tudo meu. O resto era pequeno quando comparado comigo.
Quando as coisas acabavam - e acabaram sempre - eu sabia que tinha conseguido o mais importante: EU SOU O GAJO PELO QUAL TODOS SERÃO MEDIDOS!!!
E fui. E sou.

Agora...
Porque não mudas? ou algo de parecido ouvi eu hoje.
Não sei. Não quero. Não posso. Não consigo...
E isto é tão mais horrível pelo facto de querer o que é pior que não querer porque...perco.

É uma mistura de querer muito e medo... ouvi também.
Há meia dúzia de semanas seria o mesmo que levantar-me em ombros. Sim! Sou muito de tudo! Isso assusta! É assim, querida!.
Hoje tive dificuldade em ver algo de bom nisto.

É péssimo tudo isto, mas piora.

Passou-me tudo pela cabeça. Passaram-me coisas que não sou capaz de escrever porque tenho dificuldade em admitir.
Pensei bom, é partir para o ataque ainda a meio da conversa e meia dúzia de passadas depois já sabia coisa nenhuma.
Comprei o fato de enfermeira para ti. Vais buscar-me depois da festa? li no telemóvel. Trabalho amanhã, não vai dar responderam os meus dedos. Eu que tenho dificuldades em contar quantas directas apliquei no, vá, último ano para satisfazer a carne. Trabalho amanhã...foda-se, que burro.

Ouvi, também, de outro lado, quem se vai foder és tu! Pois sou ou pois estou.

Haverá muita gente a pensar que isto é bonito; que é para isso que se vive; que precisamos de alguém.
Não quero. Não posso. Não devo...
....e não sei querer um bocado de coisa nenhuma.

Pensei que o gosto muito de ti e sinto muito a tua falta e o tenho ciúmes do que é meu e o pensei em ti o fim.de.semana todo me iam inflar o ego e retornar-me ao pavão que sempre fui.
Obviamente não aconteceu.
Obviamente aqui estou, fora de dia, fora de hora, fora de tudo porque tenho raiva a sair-me pelos poros e preciso de a destilar porque as pessoas não merecem pagar pelos meus problemas.

Ia dizer que o meu corpo pagaria mas, como já escrevi, também já teve mais crédito.

LOVE AFFAIR

É um dos meus filmes favoritos e é difícil explicar porquê.
Em tese, é a história de dois gajos noivos que encornam os respectivos. Tudo que detesto. Uma das minhas ex adorava as Pontes de Madison County, aquilo a que chamo uma pêga.

Porque é diferente o Love Affair?
Bem...
Há anos atrás um gajo falou-me daquilo que descrevia como Os Perdidos (sim, muito antes do Lost). Então, os perdidos eram, para ele, gente que deambulava no mundo e que, de vez em quando, se encontrava uma com a outra; uma coisa meia metafísica, eu sei, mas não me parece mal.

No Love Affair encontraram-se perdidos. Gente que não sabia que se queria porque não se conhecia. Gente que - pelo menos ela - achava ser feliz porque, descobriu depois, não conhecia a felicidade.
Eu entendo isto. Eu entendo o fogo que consome a alma e o desatino de ter de ser agora.
Neles não vejo culpa. Neles vejo a criança que vê a luz pela primeira vez. Não era só luxúria, também era luxúria.

Nem posso dizer que não seja uma coisa adolescente.
As pessoas constroem vidas e fazem planos e têm responsabilidades e acomodam-se. Não tenho nada a opor. Tudo que disse se consubstancia em ser adulto. A felicidade, para os outros, é muito ligada a segurança e previsibilidade. A vida, para os outros, é desagradável se parecer uma montanha-russa porque enjoa e os picos não compensam as depressões.
Tudo certo. A realidade é a irmã feia da fantasia mas é muito mais bem sucedida.

Compreendo mas não entendo...
Acho que está certo mas sou incapaz de aceitar.
Serão todas essas pessoas - provavelmente vocês - mais felizes que eu dentro da felicidade que entendem como tal.
O mundo é mais harmonioso quando controlável e isso é bom.

Eu não sei.
Eu não consigo.
Saber da existência do mais e ficar com menos não é algo que os meus olhos consigam fixar.

Entendam-me:
Não acho que seja eu quem está certo. A realidade e a vivência desmentem-me.
Perguntem-se é isto:
Será que eu me importava que a pessoa que está comigo soubesse que o que a fazia feliz era outra coisa que não eu?!
Pareço ouvir um coro de NÃOS e a maioria de vocês está a mentir porque a maioria de vocês entende como muito mais terrível estar sozinho.

É provável que estejam certos...
Se o meu corpo me falhou por que não a razão?

Ps. Eu regresso!!! Provavelmente mais parvo que nunca!!! Eu regresso sempre!!!

Saturday, February 14, 2015

COISAS ESQUISITAS

PODE ENGANAR-SE TODA A GENTE, SEMPRE?

Há uns dias, o advogado do 44 deu uma entrevista na RTPInformação sobre a ignomínia sofrida pelo dito 44.
Então,
mas que mal há em pedir dinheiro emprestado a um amigo quando se tem dificuldades financeiras?
Bem, depende sempre das dificuldades financeiras. Um prato de sopa não é bem um Classe S; umas calças para o filho não é bem viver no bairro mais rico de Paris enquanto se faz doisa nenhuma; uns cobres para a renda da casa não é bem viajar em primeira classe...
E pedir dinheiro emprestado a um amigo com quem o Estado - que o 44 liderava - tem negócio também não é bem o mesmo que pedir ao Zé da Esquinha, especialmente quando o Zé da Esquina, ainda que seja chulo, é mais digno que o 44.

ele não queria que a sua vida privada fosse devassada, por isso é que era em dinheiro vivo e não por transferência. Além disso, o dinheiro podia ser preciso em Portugal e ele estava em Paris.
Ficou-se a saber, portanto, que o 44 tinha tanta vergonha que não queria registos informáticos. Preferia o trabalho de levantar - pagar a alguém para ir buscar - pagar a alguém para levar - esconder o dinheiro na travesseira para, depois, entregar a quem devia.
O 44 tinha vergonha mas não se importava de gastar dinheiro neste circo nem de andar carregado de dinheiro na rua. Talvez esteja habituado ao peso porque carrega a consciência há muito....mas pensando melhor, que consciência?
Ficamos, também, a perceber que não há transferências bancárias para Portugal. Aqui, é só em cash e envelopes.

e a distribuição dos processos, e as acções disciplinares contra os juízes da relação, e o blog dos magistrados...isto é uma podridão!
E depois o jornalista perguntou-lhe se isso tinha que ver com o Carlos Alexandre e se a já não confiava na justiça.
Ah?! Eu nunca disse isso! O Carlos Alexandre é um sonho de homem e eu confio na justiça!
Evidente! É como eu usar na mesma frase o nome da tua mãe e a profissão de puta. Nunca teria nada que ver uma coisa com a outra, era uma mera coincidência. Como falar de corrupção e do 44 na mesma frase.

É a mais completa falta de vergonha com uma pitada de insulto a todos nós. Bem, nem todos. Houve uns idiotas que fizeram uma excursão à cadeia (!?) de camioneta para apoiar o 44.
O que merecia esta gente? Pena ou Pancada e não costumo ter Pena, está sempre em falta.

MUDA SE OLHARES?

Não me lembro exactamente qual o filósofo que defendia que o facto de olhar para o objecto o muda. Quando aprendi isto era muito miúdo e achei parvo. Aliás, continuei a achar parvo durante muito tempo até que coisas acontecem.
Poderia usar para este caso o facto, por exemplo, de ter visto durante muitos anos azul nos meus olhos até que me convenceram que são verdes; podia, por exemplo, falar daqueles borrões em que as pessoas vêm coisas diferentes na mesma coisa. Não o vou fazer porque encontrei algo mais evidente, há uns tempos.

Então,
conheço um par de gémeas há muito tempo. Conheci-as quando deviam ter uns 12 anos e, naquela altura, eram o clássico que temos de gémeas.
Passados alguns anos, aqui deveriam ter uns 16, já não eram a mesma pessoa. Uma delas sofria de anorexia e dos problemas psicológicos que isso acarreta e a outra não.
Porque me lembrei disto?
Primeiro porque voltei a encontrar uma delas e perguntei-lhe pela outra ao que a que encontrei respondeu está na mesma... Percebi o que era na mesma e não toquei mais no assunto.

Segundo porque:
antes de se sentir na pele (própria ou alheia, se for suficientemente próxima) há coisas manifestamente parvas.
Neste caso, a miúda que sofria (sei que continua a sofrer mas não a vejo há muito, por isso baseio-me no passado) de anorexia era muito bonita e estava a léguas de ser, sequer, cheinha. Eu, como a maioria de nós, não entende como se não vêm evidências não entendendo, também, que as evidências são mais que efémeras.

Transpondo para o meu assunto favorito: EU.
Há muito que venho perdendo peso. Como era gradual e distendido no tempo nunca notei mas volta e meia encontrava gente que não me via há muito e lá me dizia que estava mais magro (como é sabido, eu sou gordo).
Desde há uns três meses, por motivos que começam a ter explicação, perdi, realmente, bastante peso. Foi aparente mesmo para mim quando reforçado com ter ficado sem roupa para vestir.

Como ligo uma coisa há outra?
Eu continuo a ver-me gordo e só digo ver-me e não ser porque...bem. Vou reformular para sentir que estou a ser mais honesto: Eu continuo a ser gordo mas menos, ou seja, não é uma alteração de estado mas antes uma alteração de medida.
Dizer-me que assim não é não resulta porque quando olham para mim mudam-me mas não intrinsecamente.

Eu vejo-me como me vejo ainda que muito tente ver-me como sou.
Lá fora devo ser uma coisa mas cá dentro sou outra.

Quem está certo?
Importa pouco. O que importa é que somos o que somos, somos o que acreditamos ser e somos o que os outros vêm em nós e nada disto é objectivo e muito menos coincidente.

SOU DEMASIADO INDEPENDENTE

Ouve-se muito disto nas encalhadas e como não conheço a maioria das encalhadas e tenho dificuldade em entender como a independência de uma mulher é uma coisa má, tendo a encarar como uma desculpa para o clássico ninguém te pega.
Pode é ser um defeito meu.

Eu não gosto de pessoas fracas e muito menos de mulheres fracas. Não me entendam mal, já papei algumas e não me causa nenhum transtorno se tiver de papar mais. Afinal, prefiro bife mas não tenho nada contra feveras, apenas prefiro uma coisa à outra.

Então, qual o meu problema com mulheres dependentes? A maioria das pessoas que me ouvem e não me conhecem têm a ideia de que sou machista e só as quero para me trazer cerveja e cozinhar.
Bem, é um problema relativamente complexo...

Eu preciso de ter respeito profundo por quem está comigo. Não que destrate quem respeito menos; para ser honesto, tenho muito pouco hábito de bater em gente mais fraca porque me faz sentir sujo...
Não dá para mim alguém que me deixe fazer tudo que quiser; não dá para mim alguém que ache que eu tenho sempre razão; não dá para mim quem não se defenda mesmo que para isso tenha de me deixar algumas feridas; não dá para mim quem não se aguente nas próprias pernas (e espero sempre que sejam umas belas pernas).

Porquê?

Porque o minha tendência natural é anular a outra pessoa. Não o quero - daí ter escrito o que acabei de escrever - mas é como o escorpião...é a minha natureza.
Tenho de estar constantemente atento para não ir mais além do que devo. Preciso de me policiar para impedir que o meu mau génio se torne o centro de tudo; não podem alimentar o meu rio porque transborda.
Eu não vou comendo, eu engulo. E nisso incluem-se as pessoas.

Porque se me deixarem ser tudo aquilo que naturalmente sou, perco o interesse. Quero ter alguém ao meu lado e, por definição, esse alguém tem de existir senão volto a estar sozinho.
Não quero que precisem de mim, quero que me queiram porque se só precisarem eu não quero.

SE as mulheres independentes estão certas (e não me vou alongar sobre ser ou não independentes) não deveriam querer ser outra coisa só para terem uma pila em casa.
Esperem e comprem um dildo ou, como fazem os homens, à falta de melhor opção: o equivalente a putas no masculino (que não sei o que chamar).

OS JOGOS QUE NÃO FAÇO...SEMPRE

Ao arrepio da humanidade, costumo fazer joguinhos com o que não me interessa e não o contrário.
Ah, mas isso é como todos nós! Não és especial! pareço ouvir. Podem estar certos quanto ao não ser especial mas não no isso é como todos nós.

Como é mais ou menos sabido, não tenho deficit de neurónios e nem pouco conhecimento sobre como as pessoas reagem a certas situações. Tenho muito interesse nisso e dedico-me às coisas em que tenho interesse.
Eu sei que se habituar determinada pessoa a um determinado comportamento ela vai sentir falta quando o comportamento mudar;
Eu sei que se passar 1 ano a dizer bom dia a alguém e, de um momento para o outro, deixar de o fazer ela vai sentir;
Eu sei que se enviar 1 sms de hora a hora a alguém e depois passar 1 dia em silêncio a coisa vai causar desconforto;
....e sei tudo isto porque fiz e faço todas essas idiotices. Sei criar a abundância para depois fazer sentir a escassez. Aliás, perdoem-me a imodéstia - que já muitas vezes devem ter perdoado ou então já bazaram - sei fazer tudo isto com mais arte do que a maioria porque, como já disse, apesar de conversar com pessoas não me interessar particularmente as pessoas interessam-me muito.

Qual a diferença mais aparente entre isto e o que toda a gente faz?
Eu faço isto para ter carne e não para ter espírito.

Não sejeito a este tipo de merdices as pessoas por quem tenho interesse real.
Eu sei que parece um anacronismo ter este tipo de trabalho para quem me diz pouco e recusar-me a tê-lo para quem me diz muito mas, na minha cabeça, só assim faz sentido.

Reparem:
se quiser alguém comigo durante algum tempo - eufemismo para muito tempo ou coisa pior - não faz sentido que ela esteja com outra pessoa que não eu desde o início. Se me empenho para que estejam comigo quero que esteja comigo; de olhos bem abertos desde o início.
É verdade que muitas relações começam com logro. Mais que verdade, até é normal. Afinal de contas ninguém veste a sua pior roupara para ir sair, certo? Errado. Eu uso.

O que tu tens, é isto! Não é só isto mas também é isto. Não acordo sempre bem disposto; não sou sempre agradável; nem sempre me lembro de lavar os dentes; fumo, bebo, como e, agora, parece que sou um bocado doente; provoca-me e eu respondo sem meiguice; se me chateares vou comprar cigarros e nunca mais volto.

Coisa diferente é quando o negócio é sacar:
Lembrei-me agora de ti, por isso estou a ligar (naturalmente, não foi o que aconteceu); Claro que me interessa potaria (com U até me interessa, com O interessa-me nada mas não vais ter tempo de descobrir); Claro que me lembro da primeira vez que te vi, como poderia esquecer (muitas das vezes as próprias não se lembram que tiveram de escrever o próprio número no meu telefone porque eu já não consegui mas isso interessa?!).

Não preciso que gostem de mim mas às vezes quero.

AMOR OU MEDO?
(este vai ser mais curto porque estou a ficar cansado de escrever e ainda preciso de fazer coisas)

Preferes que te amem ou que te temam? é uma questão metafísica antiga que nem me lembro se já falei aqui.
Em resumo:
Normalmente, ama-se quem nos ama ou, pelo menos, gosta de nós. Nessa medida, temos mais liberdade e confiança com elas, pelo que é mais fácil arriscar em comportamentos que essa pessoa possa não gostar.
Ah, mas faz-se tudo por amor! Não, não faz. Por tesão, talvez, por amor, não. A maioria não tem problemas em desapontar quem os ama porque sabe que vai ser perdoado. É por isso que se magoa mais quem está mais próximo não é o que se diz?
Medo é outra coisa. Quando se teme pensa-se mais porque, digam o que disserem, a dor é mais disuasiva que o prazer. Reparem, por exemplo que o treino com reforço positivo (dar um biscoito a um cão quando ele acerta) é mais fofo mas muito menos eficaz do que o de reforço negativo (dar um choque a um cão quando ele erra).

Não é bonito mas a realidade também não.

As pessoas que me interessam prefiro que gostem de mim mas um bocadinho de medo não lhes faz mal;
As pessoas que não me interessam é-me mais ou menos indiferente mas a reacção mais natural será de temer do que de gostar o que, a bem da verdade, até é mais útil, pelo que já disse.

Para que não julguem que me tenho em demasiada boa conta, vou dizer qual o motivo pelo qual é mais fácil temer-me do que gostar de mim:
As pessoas não são perigosas só porque são espertas ou só porque são más ou só porque são poderosas ou só porque são destemidas ou só porque são superiores ou só porque já derrotaram os outros antes ou só por motivos que enaltecem as suas próprias qualidade.

No meu caso, o perigo até pode surgir por qualidades que colocam outros em sentido mas não é o que vejo e já tive muita experiência a respeito:
É sabido e claro que eu não me importo de apanhar. Não tenho medo de apanhar. Não gosto mas não fujo. Não é que seja particularmente valente ou corajoso, é que não gosto de quem sou quando penso em recuar.
...e a questão é esta mesma. Tu podes ser melhor, tu podes ser mais inteligente, tu podes ser mais tudo!! Mas está disposto a apanhar? É que se não estiveres, é bom que penses duas vezes e, por sobrevivência, que tenhas algum medo...

Saturday, February 07, 2015

DISCOS PEDIDOS

Este título é muito parvo. É uma coisa pretensamente irónica; é um mecanismo que as pessoas como eu às vezes usam para defender um princípio que foi às urtigas.
Então porquê? Não é como se te pudessem atirar à cara a tua parvoíce. Afinal, nada te identifica aqui. Nada conduz para a tua vida real.
Pois. Tudo verdade. Não se desse o caso de ter tentado resolver um problema com o post que precede. Na verdade, esta merda anda tão confusa que não sei se tentei resolver ou engrandecê-lo. Como todos nós, tenho dois hemisférios cerebrais, um que, supostamente, se controla e outro que é mais selvagem. Não estou certo que o selvagem não tenha levado a cabo um ataque que não vi e tenha convencido o educado, sem ele saber, que piorar não era possível.

Como diz o pessimista ao optimista isto não pode piorar ao que o optimista responde ai pode, pode!

Então, estou numa posição fodida.
Para quem estiver habituado a ler o que por aqui anda, agarre-se porque tenho os dedos presos e dificilmente sairá, hoje, algo de genuinamente interessante ou, sequer, bem escrito. Tou fodido. Isto seguirá o mesmo diapasão.
É tentar ordenar. Mas quanto se consegue ordenar um vómito?
Então...

A SITUAÇÃO
Tenho-me em boa conta.
Tento não me achar mais do que o que sou mas acho que sou esperto e como tenho um enorme interesse por pessoas - ainda que não pelo que elas dizem - consegui aprender a vê-las sem precisar de as ter à frente.
Da mesma maneira, avalio o risco: quem pode tentar queimar-me, quem é mentiroso, quem é fraco, quem é forte, quem me interessa, quem está a mais onde se encontra...e quem me pode foder (hoje é a festa do verbo foder e não com o sentido que mais me agrada).

A maioria de nós pensa neste foder como seja prejudicar e, nessa medida, eu não sou diferente. A diferença está no que é prejudicar.
O que me escapa do controlo prejudica-me. Qualquer coisa. Por isso, rejo-me por princípios básicos que evitam esta dependência alheia.
Sou um aforrador. Sempre fui. Se for despedido amanhã será desagradável mas estou pronto.
Sou um aforrador. Sempre fui. Se me decidir despedir amanhã será agradável e estou pronto.
Sou centrado. Como sou mau a demultiplicar concentro a minha energia em pouca coisa e como estou habituado a ter sucesso (ainda que com falhanços clamorosos que me marcaram muito mais) não me agrada dispersar ou alterar a minha ordem e ritmo.
Sou simples. Apesar de construções mais ou menos complexas e mais ou menos sofisticadas para obter resultados, o resultado é simples; a meta é simples. Eu quero aquilo, agora é só ir buscar.
Sou só. Preocupar-me com coisas externas complica-me o objectivo.

Para simplificar, num filme chamado Heat (com um elenco de luxo mas um filme de merda - o que prova que até na merda se encontram pérolas) a personagem do De Niro diz que temos de estar preparados para largar tudo em 10 segundos (acho que é esta a unidade de tempo). É isto. É o que quero e é o que sempre fiz. Uma mala de mão tem de chegar para tudo.

Aqui, eu não vi chegar. Quando dei por mim, já cá estava. Foi assim com todas as minhas relações que o foram. Aconteceram e eu não consegui evitar. Sempre foi assim...

O ONTOLÓGICO
Pensei que não seria má ideia escrever uma palavra de 20 pontos para salvar esta desgraça.

A ideia de que basta dizer para existir é a mesma que leva a que basta não dizer para não existir e é uma ideia que me agrada.
Agrada-a também.
Será verdade?
Em princípio, por muito desconexo que seja, até acho que é. Se o psicológico é tudo, o que se consegue esconder-lhe é determinante.
É parecido com saber se uma árvore faz barulho se cair e ninguém lá estiver.
A resposta é simples: faz. Se não dissermos o que sabemos ser verdade torna-o mentira? não.

Reparem ao ponto a que cheguei!
Se alguém acha que vale a pena empurrar coisas para baixo do tapete, sou eu! E estou aqui a dizer que talvez arejar seja melhor.
Sabem porquê? Porque estou fodido.

Ainda dentro do Ontológico:
Tenho, neste momento, 3 amigos que me são realmente próximos e que me conhecem (2 mulheres e 1 homem).
Esta semana, no início, estava a dizer a uma delas que me senti um bocado ansioso e ela perguntou-me o que se passava no trabalho. Disse-lhe que nada de especial mas como nunca estou contente, às vezes dá-me disto ao que ela perguntou mas estás a picar-te com alguém? Já deu confusão?! e não, não tinha dado.
Então estás apaixonado porque nunca ficas ansioso. Em vez de sentimento de vazio tu bates e se não bateste...
Estava certa. E foi a primeira vez que me disseram essa palavra. Não a usara antes. Não pude não a usar depois.
O princípio ontológico é verdadeiro?

O QUE ME FODE
Vamos começar pelo que me envergonha mais e talvez ainda consiga chegar onde devo em crescendo.

Eu sou esquisito...
Dou muito valor a quem me ajuda sem ter de o fazer e ajudar-me é, muitas das vezes, distrair-me e evitar que entre em zorba. Ajuda-me fazerem-me rir; ajuda-me trocar músicas com pessoas; ajuda-me que me chamem parvo; ajuda-me que me perguntem se está tudo bem mesmo quando respondo evidentemente o que é quase sempre.

A partir de um certo ponto, que é onde estou, fode-me (verbo foder , olé).
Quando quero criar distância não me ajuda que haja uma música que une pessoas, especialmente quando é uma música que ouço às dúzias de vezes. Acho que o Rui Veloso dizia que não se ama alguém que não ouve a mesma canção ou qualquer coisa de semelhante. Seguramente uma metáfora para muitos, uma coisa muito literal para mim.
Uma das músicas, que não a que me referia em cima, que enviei contempla uma frase que é usada na descrição desta coisa onde escrevo: siga onde vão meus pés, que eu te sigo também. Foi a única frase da música de que se falou sem que ela soubesse que é a minha favorita...daí usá-la aqui.
As minhas variações de humor têm sempre o seu quê de imperceptível. Fico muito irritado com uma frase ou expressão de que não gosto, por exemplo, algo que não afectaria ninguém a não ser eu... e agora é perceptível o que me faz variar de humor, é perceptível, visível e palpável. Sinto-me dependente. Isso está a acabar comigo.

Um dia desta semana fui ao clássico lavar-me em porcas ao ritmo de samba. Os meus dois passa tempos favoritos!
Foi uma maravilha! Cerveja, Samba, Porcas...tudo. Fiquei feliz porque sou feliz com Samba e não dei pelas porcas.
Eu queria estar lá. As porcas queriam-me lá mas eu não queria que lá estivessem as porcas.
Hmm...há quanto tempo está aquela porcar a rebolar o rabo em ti? perguntou-me ele. Há bastante tempo. Até me cheguei um bocado para trás para ver se ela não estava a perceber e parece que não é sem querer.
Parece!? Estás à espera que seja ela a desapertar-te as calças e escolher o hotel?! Então?!. Não lhe disse que não me apetecia porque ele percebeu. Como me conhece há muito e sabe o que esta merda me custa e me fode (vamos na 1.0000.0000 utilização do verbo) só me disse Tás apaixonado e não voltou a tocar no assunto.
Neste caso, podia ser mas já não era a 2ª vez que ouvia apaixonado porque já me tinha apanhado a dizê-lo.

Dia seguinte, ressacado e com 3 horas de sono, fui trabalhar a pé, contente e muito contente porque tinha vindo do Samba e dei por mim a apressar a passada para chegar mais depressa ao escritório. Sempre que dei por ela passei a andar mais devagar por imposição. Afinal que merda é esta, pá?! Isto não pode ser assim! Acalma-te!
Pois...mas é assim. Dizer-me que não é deixou de me ajudar.
Puta que pariu a teria ontológica.

A finalizar... foi um dia muito mau porque se conjugou a ressaca e a falta de sono com a minha contínua diminuição de força anímica para me controlar. Fui. Fui mesmo. Fui muito. Não sei se recupero.

ELA
Ela é esperta.. muito mais esperta que eu.
Ela sabe para onde isto vai. Não sei se já lhe aconteceu. Não sei a intensidade (porque a intensidade também existe por comparação).
Presumo muita coisa. Isto pode ter-lhe já acontecido mas não pode ter acontecido muitas vezes. Isto pode ser coisa nenhuma mas tudo aponta em sentido inverso. Isto não é o que se quer mas não é possível saber se não é o que se precisa.

Eu percebo o problema da verbalização e nunca me preocupou muito. Raramente preciso que me digam o que já sei e quando digo raramente não me lembro da última vez que precisei.
Aqui também não preciso. Aqui quero! E o que eu quero é muito mais difícil de controlar do que o que preciso. Eu vivo sem o que preciso mas tenho muito mais dificuldades em viver sem o que quero.
Então porquê?
Ainda não me permiti decidir porque ambos os casos são catastróficos:
Porque a quero no mesmo barco. Porque preciso que ela perceba que já caiu do precipício e que quando isso acontece não se pode pedir para para a meio
ou
Porque estou demasiado empenhado e sinto-me demasiado exposto para confiar no que sei...que neste momento está transformado em penso saber.

Estou a ser sádico ou inseguro?
De uma maneira ou outra, estou fodido e detesto-me por isso porque não sou uma coisa nem outra mas se me quiser, e conseguir, ainda agarrar à minha preservação, torço por sádico...e nem isto sei se é verdade.

Eu não posso ficar dependente de toque para ficar tranquilo;
Eu não posso ficar dependente do bem estar de outra pessoa para não ficar preocupado;
Eu não posso esperar um dia por uma puta de uma meia hora que satisfaria um rato e nunca um elefante;
Eu não posso andar nesta paneleirice de guardar recordações adolescentes;
Eu não posso estar, neste preciso momento, preocupado se vou mostrar isto ou não e com isso ajudar/prejudicar;
Eu não posso depender. Eu não posso depender. Eu não posso depender. Eu não posso depender. Eu não posso depender. Eu não posso depender. Eu não posso depender.

Eu sou mais. Eu sempre fui mais.
Eu não posso! Eu não posso!

Agora, o que queria evitar e não vou conseguir (também, de tanto falhar evitar, não ia agora mudar a temática. Que se Foda).

Então:
O chegaste tarde não significa nada, em concreto, para mim. Chegar tarde não existe a menos que seja prejudicado pela precedência da morte, caso em que nem se consegue dizer que chegaste tarde.
Tarde a quê?!
Não se chega tarde a onde se não está e tu não estás.
Não se chega tarde onde não se sabe se alguma vez se chegou e a isto eu já não posso responder. Não sei onde estiveste mas sei que agora não estás.

Não sou completamente imbecil, apesar de parecer. Eu sei o que estas merdas custam. Já passei por elas.
Eu sei o que é ficar com a vida de pés para o ar. Eu sei a tempestade que isso acarretar.
Eu sei tudo isso. Eu compreendo tudo isso. Eu compreenderia um não vale a pena ou um eu não consigo e vou manter porque alterar é mais difícil do que estou disposta a suportar.
É provável que não gostasse mas compreenderia.

Agora, Tarde nunca é.
Não pode ser Tarde se for único porque, por definição, é imprevisível e não usa relógio.
Não pode ser Tarde para se ter, o que pode ser Tarde é para se perder.

Para que fique claro!
EU não sou mentiroso nem manipulador com as pessoas de quem gosto. EU quero mesmo o melhor para elas, muitas das vezes com prejuízos próprios. Por isso:
Não sei onde isto vai parar e não vejo como vai parar;
Sozinho eu não estou a conseguir e não posso, até por questões físicas, desaparecer;
Nem para desistir estou a reunir forças.

Não vejo como isto possa acabar bem para qualquer um de nós. Acho que não há chance de apenas um de nós se foder.
Detesto isto!!! E apesar disso não queria estar em mais lado nenhum.

PS. Nunca releio o que escrevo, como quem acompanha sabe, daí não ser novidade que também o não farei neste caso. A diferença é que este deve ter sido uma verdadeira agressão à língua portuguesa e tem o condão de estilhaçar coisas que acho e sei de mim porque, pelos vistos, não sou de forma eterna esse monstro de vontade.

Não é que tenha vergonha, ou não escreveria, mas não preciso de olhar para as minhas cicatrizes.