Thursday, March 31, 2011

Hoje não dormi. Tem-me acontecido com alguma frequência e, para ser franco, não me incomoda assim por aí além. Vou lendo, vou vendo filmes e deixo o dormir para depois. . ...e era mais ou menos isso. Tenho uma enorme facilidade em falar de lixo, nisso sou muito prolixo, mas custa-me um bocadinho mais (o rei dos eufemismos, este) falar do que se esconde debaixo do tapete (como este é um exemplo perfeito: podia metaforar para o céu mas faço-o para o chão). Sabes, não fui educado para mostrar emoções; isto de abrir o coração e dizer o que se sente vinha sempre com uma mochila de pedras às costas ou, em alternativa, espinhos cravados na boca. . Ok, não é a mais bonita das imagens mas a verdade também não. Claro que as pessoas devem evoluir; claro que devemos aprender o que assimilar e o que deixar no chão, claro, isso é óbvio. Infelizmente, o óbvio não é amigo da realidade de todos. Infelizmente, o óbvio está, muitas vezes, do outro lado da porta que não se consegue abrir. Infelizmente, o óbvio poderá ser o vento que beija as velas de um barco ancorado. Infelizmente, consigo vê-lo mas não consigo tocá-lo. . O máximo, até hoje, que te consegui dizer foi que tudo na minha vida passa e tu continuas aí. É um gosto agridoce, este. Se por um lado fico feliz porque posso sempre descansar em ti os meus olhos, por outro entristece-me que nada mais fique tempo suficiente para ser, mais que visto, contemplado. Nada disto é culpa tua. É, no que te diz respeito, muito mais uma virtude do que outra coisa qualquer, uma virtude que me facilita a vida, uma virtude que me protege de tempestades e de desertos. . No fundo no fundo, o que queria dizer mas acho que não mereces ouvir, é que me sentiria perdido sem ti. Não saberia para onde navegar; e sim, descobri isto quando me pareceu que a luz ia enfraquecer e me vi definhar com ela. . Ah, e não mereces ouvir porque é mais um peso do que um elogio, não mereces ouvir porque não deves sentir que tens mais responsabilidade do que a que imaginas ter. Não mereces porque as preocupações tolhem as cores e, como egoísta que sou, não posso correr, sequer, esse risco. ...e era mais ou menos isso.... (parte de uma conversa que nunca acontecerá ou excerto de uma carta que nunca será escrita)

Tuesday, March 29, 2011

...e poderíamos pintar isto de várias formas. Seria possível fingir uma maior indiferença. Seria acertado com o que se veio fazendo ao longo do caminho diminuir o impacto. Mas não, não se fará tal coisa porque não se pode mentir tanto. Quando se está a afogar é ridículo fingir que não se sente a água. Quando estamos numa guerra não faz sentido algum ignorar o tiroteio. Quando se tem a pele a arder é insano não se pedir água. Há muito a enganar mas não tanto assim. Parecido com o you can fool some people sometime, but you can´t fool all the people all the time. Mentiras poderia inventar muitas mas verdade, agora, só há uma. Sem ti fico sozinho.

Wednesday, March 23, 2011

Ouço com muita frequência ser dito que morrer é fácil, difícil é viver.
Sim, talvez seja de facto verdade mas interessa? Interessa a facilidade ou a dificuldade? O sofrimento, no caso de se optar pelo difícil tem algo de redentor? Provou-se? Alguém viu? Vale a pena a provação?
Sem conotação metafísica, ainda que a expressão possa ser verdadeira, não há motivo para se optar por subir quando se pode chegar ao mesmo sítio descendo.

O diferença da escolha vida/morte é pouco diferente da escolha ir/ficar. Em ambas fazemos uma avaliação e tomamos uma decisão. Optará por ir quem nada tenha a perder ao fazê-lo e optará por ficar quem estiver em situação inversa.
Sim, nem mesmo em escolhas extremas deixamos de ser egoistas ou materialistas. Nem mesmo quando confrontados com realidades inexpugnáveis conseguimos ver além da evidência de que somos os que temos; não o que temos materialmente mas a tudo o que temos, desde o material ao afectivo e, se pensarmos bem, quantas vezes não se confundem estas duas coisas?

A única certeza que temos quando nascemos é que um dia iremos morrer. O fatalismo começa ainda quando as células se estão a dividir e acabas apenas quando se desintegrarem.

Monday, March 21, 2011

Portugal na Televisão

Não há esquina em que não se ouça falar mal dos políticos portugueses. Não me atrevo a dizer que quem deles mal diz está errado porque não está mas o mais dramático não é isso, o mais dramático é que eles somos nós e nós, anónimos com opinião sem expressão junto das massas, não temos púlpito que nos enalteça a vaidade nem tacho que nos acalente os bolsos.
Em suma, Eles têm um motivo suplementar para serem os idiotas de 5 caras que são e Nós, bem, Nós nem por isso.

Porque me ocorreu isto?
Eu não visito muitos blogs e comento bem menos do que os que visito. Há um deles, mais virado para discussão de ideias, no qual participo com alguma regularidade e nesse mesmo blog devo estar a criar anticorpos (o que me agrada e diverte, assumo).

Ora, um desses anticorpos é o Português anónimo e o Português político. Quero eu dizer, é aquele que, nas suas palavras, é a favor de liberdade de opinião e da democracia mas ele, Português anónimo, é todo pluralista quando concordam com ele, como o Português político.

Isto somos nós. Ele sou eu e eu sou todos e todos somos o governo e o governo é os políticos e os políticos somos nós.
Como se pode esperar que a democracia o seja quando os anónimos, os menos expressivos, aqueles que não têm muito a ganhar ou perder com uma discussão não são democráticos? Como se pode esperar que quem pode tirar vantagens as não tente a todo o custo quando quem não pode faz a mesmíssima coisa para nada?

Olhem, eu gosto de otários!
Sem otários a vida seria tão interessante como o circo sem palhaços...só que palhaços demais também não fazem bem ao circo...

Saturday, March 19, 2011

Gosto de viajar sozinho. Não me sinto só nem tenho medo.
Já fui com amigos e já fui com família e se é verdade que nunca tive uma experiência traumática, com uns ou com outros, via-me forçado (por uma questão de bom senso) a ter horários e vontades em conta que não eram, necessariamente, as minhas.
Sozinho, faço o que quiser, quando quiser e ainda tenho a vantagem (foi a parte mais difícil, assumo, mas a que mais me enriqueceu) de ser forçado a conviver de perto com uma cultura que não é a minha...ou dou em doido...apesar de gostar de estar sozinho às vezes preciso de falar.

Outra das razões que me levou a aventurar-me sozinho foi o meu gosto pelo pouco comercial. Não me refiro, unicamente, a lugares mas também a actividades.
Os meu amigos, como eu, gostam de cerveja e mulheres, daí que as nossas férias resumem-se, em grande medida, a isso (o que não critico...entre nós e em conjunto é impensável visitar museus. Pode ser parvo mas não é menos verdade).

Para uma breve ilustração, conto, resumidamente, o que mais me marcou na minha viajem ao Nordeste Brasileiro:
Estive em lugares belíssimos! Uns previamente preparados e outros onde decidi ir já depois de lá ter chegado, alguns com poucas horas de antecedência. No entanto, passando as praias, as caipirinhas, os forrós e achés, os pequenos-almoços colectivos, a funcionária da prefeitura que se dispôs a levar-me a jantar porque o que eu queria não encontrava, marcou-me um lugar chamado Itapipoca.

Itapipoca apareceu-me por acaso. Não lá ia. Apenas lá tive de passar para ir de um lugar a outro, era um ponto entre A e B.
Cheguei eram umas 2 da manhã. Fui despejado na praça central e teria de apanhar um ônibus na manhã (não sabia qual nem a que horas). Sentei-me, assim, num banco estranho, numa cidade desconhecida e com tudo o que tinha na mão, desde dinheiro a passaporte (a roupa preocupava-me menos).
À minha volta havia um enorme número de prédio degradados e muitos mas mesmo muitos desalojados. Muita gente a dormir na rua. Via tudo isto por entre uma penumbra rasgada, aqui e ali, por asmáticos lampiões.
Estava rebentado. Não dormia há mais de 18 horas e tinha feito uma viagem de 5. Estava muito pouco confortável, tanto fisica como animica e emocionalmente, factos potenciados por estar onde não sabia, no meio de quem não conhecia e sem saber quando partiria.

Então, a revelação do meu prazer quase erimita cristalizou-se:

Passou um carro perdido na estrada e parou ao meu lado. O que queria? Assaltar-me? Não. Queria saber se estava tudo bem. Porque estava ali e o que esperava. Quando lhe disse que desistira do ônibus e que já esperava um taxi, recebi, em resposta, que havia um taxi na cidade e que este só começava a trabalhar pelas 5 da manhã (cerca de 2 horas depois...contando que o horário era respeitado, o que no Ceará é tudo menos certo). Foi-se embora.
Depois, dois dos desalojados fizeram o mesmo. Vieram ao meu encontro. Além de quererem saber o mesmo que o condutor, ainda me ofereceram café, daquele que estavam a fazer no passeio. Emocionado, declinei. Não por nojo ou coisa que o valha. Declinei porque não podia beber nada quente, estava já suficientemente abraçado pelo bafo de calor nordestino.
Em agradecimento, tanto pelo café como pela companhia como pela simpatia, fui ao boteco aberto e comprei a cerveja que consegui transportar nos braços. Então, todos no jardim, afundamos as preocupações. As deles, bem reais e dolorosas, e as minhas, que se resumiam a ter de esperar e precisar de uma cama para dormir...
A finalizar esta pequena aventura:
1) vi boias frias! Não pensei que ainda existissem, sempre achei que eram coisas de novela de época. Não, não eram. Um camião de caixa aberta transportava todos os que conseguia. Iam sair agora, madrugada ainda noite, e voltariam....bem, não sei;
2) os meus amigos foram bater à porta do taxista porque eu estava cansado e queria partir.

Nunca teria visto isto acompanhado.
Ninguém sairia de um lugar com bares e tudo mais para se meter onde nem sequer sabia exactamente.
Nunca teria passado por Itapipoca e seria, hoje, bem mais pobre.

Friday, March 18, 2011

O Meu Telemóvel Foi-Se

Acabo de perder o telemóvel (na verdade, furtaram-mo porque se eu sei onde o deixei e se quando lhe ligo está desligado...).
Poderia falar do imenso mal estar que me causa porque quando se perde assim uma coisa perde-se mais do que a coisa e o que ela custou (e este custou muito) mas não me apetece. O leite foi derramado, nada a fazer.
Porque acabei de participar o ocorrido à polícia, lembrei-me do motivo por que não gosto de funcionários públicos. Não, desta vez não correu mal mas a anterior, que relatarei, correu e só não correu pior porque quando a coisa ia azedar a sério apareceu um agente com dedo e meio de testa.

O que aconteceu e como aconteceu, em resumo (porque seria maçador demais contar tudo) foi o seguinte:
Furtaram o cartão de multibanco à minha mãe. Sim, poderia ter sido apenas perdido mas, de facto, não foi. A menos, claro, que o cartão, ciente de que tinha uma casa para governar, tivesse ido ao Pingo Doce para se abastecer.
Ora, a coisa começou assim:

EU - Boa tarde, queria apresentar queixa porque o cartão multibanco da minha mãe foi furtado.
PSP - Sim senhor. Bem, o meu turno acaba daqui a 15 minutos e o meu substituto deve estar a chegar. Seria melhor ser ele a tomar conta da ocorrência.
(pacientemente, porque estava acompanhado da minha mãe, acedi esperar 10 minutos para não lhe complicar a vida e, especialmente, para não me irritar)
- Os 10 minutos passaram e do substituto nada. Então, o PSP resmunga entre dentes e com o outro PSP ao lado que ia apanhar trânsito, que não lhe pagam para isto, que ainda ia para longe...e sai-se com esta pérola:
PSP - Bem...talvez o melhor fosse apresentar a queixa amanhã...Não preferem assim?
EU - Não. Se preferisse assim tinha cá vindo amanhã. Se vim hoje é porque prefiro hoje.
(e a temperatura a aquecer, manifestamente.)
PSP - Pois...mas se fosse um advogado a apresentar talvez fosse melhor...
(há tipos com muito azar)
EU - Isso não será problema nenhum nem temos de esperar por amanhã. Eu sou advogado e, se me der uma folha de papel, apresento a queixa, já, escrita por mim.
(naturalmente, isto não lhe interessava porque se assim fosse, além de tudo que já tinha de escrever - um extensíssimo formulário com, talvez, 4 alíneas - teria de copiar aquilo que eu viesse a escrever...naturalmente, declinou)
PSP - Então, o cartão extraviou-se.
EU - Não. Se se tivesse extraviado estaria inactivo, perdido em algum lado. Como repara do extracto que lhe mostrei, foram efectuados pagamentos e levantamentos depois do extravio. Como isto aconteceu, é furto.
(se fosse extravio, era só preciso preencher o formulário. Se fosse furto, como era, tinha de participar ao MP e, depois, oh cruel destino, investigar. Investigar? A Polícia?!)
PSP - Já vou chegar atrasado a casa (eram umas 17.30), tinha de me aparecer isto. Olhe, se não sabe quem foi e nem exactamente onde o deixou, é extravio.
EU - Olhe: já lhe expliquei o conceito de furto e o motivo da diferença entre isto e extravio. Se quiser, pegue no código penal e verá que tenho razão. Se tem pressa para ir embora, se o seu colega não aparece, se não lhe pagam horas extraordinárias é problema seu e do Estado. Se quiser ir escrevendo o que entende, muito bem. Quando chegar o momento de assinar não assino e começa tudo outra vez!
(foi aqui que o outro PSP começou a ver que aquilo não ia acabar bem. Tinha toda a razão, eu já não via coisa com coisa e dali a queixa formal contra aquele idiota faltavam uns 3 minutos. Isto era óbvio para todos e, como acontece nestes momentos, já pouco havia a fazer, o ódio estava a tomar conta de mim)
PSP1 - Ó PSP, faz lá como o Sr. Dr. diz, a queixa é dele e ele é que sabe. Acalma-te lá!

A partir daqui a coisa correu menos mal.
O que fica é este exemplo de, mais do que incompetência, falta de vontade de fazer o trabalho para o qual também eu lhe pago. O que fica é este exemplo de habituação a que se aceite esta leviandade de alguns agentes de autoridade. Não tivesse eu o mau feitio que tenho e não fosse eu advogado e, o mais certo, seria ir e voltar no dia seguinte, como foi sugerido. Aliás, enquando estava na esquadra apareceu um casal de velho que, pelo que percebi, teria sido ou ameaçado ou agredido e foi-lhe sugerido o mesmo que a mim: voltem amanhã! E eles, coitados, fizeram mesmo isso.

Wednesday, March 16, 2011


Homenagem à vitoriosa Beija-Flor (porque ganhou e porque é a minha escola favorita) com a imagem e enorme capacidade respiratória da Raínha da Bateria!

ps: ponderei mudar a minha preferência para a Mangueira por causa do Cartola mas...não aconteceu.

Tuesday, March 15, 2011

UNIVERSALIDADES

Cada vez que vemos noticiários ou lemos jornais somos bombardeados com certezas. Concordo que é muito difícil, ou virtualmente impossível, que quando tomamos uma posição não estejamos convictos de estar certos caso contrário não o fariamos...contudo, o mínimo que se pode pedir a alguém, especialmente quando esse alguém tem uma plataforma que torna generalizada a sua opinição (não no sentido de convencer mas no de que muitos tomarão conhecimento dela), é que tenha o mínimo de formação e informação histórica.

O exemplo mais recente e flagrante prende-se com o médio-oriente e magrebe (sim, um dos meus assuntos favoritos).
A ideia norte americana, que, em grande medida, é também ocidental, de que se pode exportar a democracia, novamente, ocidental é, em si, mais do que desfazada da realidade, portadora de uma soberba que em nada se adequa ao suposto espírito missionário que a apoia.

Repare-se, historicamente, que o movimento democrático demorou séculos a instalar-se e, em nenhum país, tal aconteceu sem um enorme derramamento de sangue. Como é possível que se pretenda implantá-la em meses? Não é possível e o dia-a-dia mostra-nos isso.
Repare-se, ainda, que não é possível impor a um povo o que ele não quer. Disso há um sem número de exemplos mas, sem sair da problemática, temos o Afganistão como exemplo acabado. Quantas vezes foram invadidos e quantas vezes tal foi bem sucedido? Nenhuna e o dia-a-dia mostra-nos isso.
Pior dos piores é ainda a ligação, parva e desconcertante, de que a democracia vai acabar com o derramamento de sangue e que, no caso iraquiano em concreto, facilitar o acesso a matérias primas sem um ditador a controlá-las. Pois, deixem a democracia chegar ao Iraque e vamos ver o que a democracia dominada por xiitas em clara em óbia maioria vai fazer pelos sunitas e pelos curdos. Menos sangue? Nem menos nem de outra cor. Quanto às matérias primas (petróleo, neste caso) há que ter em conta que nunca a produção de petróleo no Iraque foi tão baixa, nem mesmo quando o não podiam vender.

O Universalismo não é uma realidade e nunca o será. É de tão impossível alcance como fazer com que toda a humanidade goste de morangos e despreze as laranjas.
Nós não somos nem temos de ser iguais. Nós não queremos ser iguais. Nós, enquanto povo soberano de um qualquer estado, tribo ou qualquer organização que seja, queremos ser respeitados e, no máximo, ajudados. Nós não queremos ser propriedade de quem quer que seja, independentemente da capa usada, tanto de salvador como de tirano.

Acredito, piamente, que todos querem a paz mas apesar do conceito poder ser entendido como universal nem ele o é. A paz tem custos, assim como a guerra, e a definição dela depende de como forem avaliados os seus custos.
Sim, todos queremos a paz mas a paz não é igual para todos.

Friday, March 11, 2011

Farto-me de encontrar gente hiper-sensível, nas minhas viagens virtuais. Juntamente com estas pessoas sensíveis andam, normalmente, os apoiantes das suas agonias, aqueles que "percebem perfeitamente" aquilo por que estão a passar.

É tudo mentira.

Esta gente não se preocupa em conhecer ninguém, escreve a mesmíssima coisa, leia o que ler, e tem a mesma opinião que lê. Afinal, é muito mais fácil concordar e manter este círculo de aduladores acéfalos.
Este tipo de adulação é, ainda, um dos maiores responsáveis por este estado das coisas. Este cinzentismo estéril, esta terra por arar, este quadro por pintar. Faz-me lembrar, na verdade, aquelas mulheres que são incapazes de informar os seus parceiros de que não estão a ter o prazer que pretendem e, depois, queixam-se às amigas disso mesmo. Este tipo de mulheres são mal fodidas a pedido; os intelectuais de vão de escada que acreditam no que muitos deles dizem (e que o fazem na esperança de ouvir o mesmo) são mal fodidos porque não sabem o que é bem foder.

E volta-se à cruel realidade das coisas:
As críticas, por muito negativas que sejam, têm a virtude de potenciar uma, eventual, ruptura e, por isso, um, eventual, crescimento.
Os aduladores são o fio de prumo da mediocridade, nivela toda a gente por baixo e, assim, nunca ficam sem pé.

The stones from my enemies
these wounds will mend.
But I cannot survive
The roses from my friends.

Wednesday, March 09, 2011

Por vezes, esqueço-me de pestanejar. Infelizmente, não é tão pouco comum como parece, a mim acontece-me frequentemente.
Se tiver de o reconhecer, também não respiro como a maioria de nós. Susto a respiração sem quaqluer explicação lógica, médica ou de outro tipo, apenas porque acontece; é um reflexo e não uma intenção.

Outra coisa que me deixa menos feliz do que deveria é a incapacidade de parar de pensar. Tento muitas soluções; começa no UFC, passa por comédias românticas de terceira categoria e, de vez em quando, apenas por paragens no escuro, sem dormir mas também sem estar verdadeiramete acordado. Nada resulta.

Faço, ainda, apologia à santa estupidez. Aquela estupidez que vemos nos outros mas que estes não a reconhecem ao espelho. Aqueles alheados dos problemas do mundo, aqueles que se confrontam com a mentira e a rudeza mas que mesmo assim a não reconhecem.
Gostava de ser assim mas, infelizmente, quem sabe da existência desta santa estupidez não é capaz de nela viver porque apenas quem não conhece nada é abençoado com a virtude de nunca se sentir perdido.

Monday, March 07, 2011

Efeito Borboleta

O Efeito Borboleta é uma das integrantes e, até, conformadoras da Teoria do Caos. Sem ter vontade de entrar em grandes detalhes (por falta de paciência e de vontade), simplificando a coisa, diz-se que o bater de asas da borboleta pode potenciar um tufão noutra parte do planeta.
É fácil ver por que razão esta teoria e este efeito me atraem: Tudo influencia Tudo, independentemente do tamanho e do impacto imediato.

Ora, passou-se algo de muito parecido no médio oriente.
Novamente sem entrar em profundas considerações hostóricas e culturais, que seriam importantes caso fosse minha intenção dar uma aula, o que despoletou tudo que agora vemos foi qualquer coisa como isto:

Um comerciante tunisino, daqueles de rua, tinha uma balança para o auxiliar no seu trabalho. Ora, o Governo (por intermédio de forças de segurança e por motivo que desconheço) confiscou-lhe a dita balança.
O comerciante dirigiu-se, então, à esquadra (ou equivalente) para a recuperar e tal não veio a acontecer.
Desesperado, o comerciante encharcou-se em gasolina e imulou-se no meio da estrada. Ao tirarem-lhe a balança privaram-no do negócio que lhe dava cerca de $10 por dia, dinheiro usado para sustentar a família (mãe e irmãs que se encontravam a estudar).
Isto viu-se, soube-se e a rebelião começou.

Ou seja, a Tunísia, o Egipto, a Síria, o Bahrein, Omã e por aí fora (ainda não acabou) teve numa balança o dedo que premiu o gatilho.

Isto não é a primeira nem a segunda vez que o, digamos, insignificante é a gota que transborda o copo, nada disso. Não é original mas é, indubitavelmente, o bater das asas da borboleta.

Nota: Para não tornar este post ainda mais longo e mais sofrível, farei apenas uma referência.
Reza a lenda que o asco sentido por Che Guevara contra os EUA começou (ou nasceu) numa razão mais simples e bem menos ideológica do que o capitalismo ou coisa que o valha. O início terá sido num bar, na juventude de Che, quando um soldado americano, bem mais corpulento e preparado do que Che, se meteu com a sua namorada e humilhou o pequeno argentino.
No princípio era o verbo, a palavra vem depois.

Friday, March 04, 2011


Gostava de dizer que sou um homem de gostos simples mas isso seria mentira. Se pudesse beberia, regularmente, Mumm ou Veuve Cliquot e não dispensaria um bom caviar acompanhado de Louis XV com vista para a Portofino.
O que torna tudo muito estranho, como é habitual em gente policromática e, até certo ponto, esquizofrénica, é que as coisas complicadas que enunciei deixam-me satisfeito mas não feliz.

A felicidade, quando penso nela, é a fotografia. Não, não como uma casa mas como um bar. Uma cerveja de pé na areia e muito pouco mais.
É parecido com a minha relação com o feminino. Comer muitas deixa-me satisfeito mas o que me deixaria feliz seria ter uma.
Parece-me que, por falta de comunicação, homens e mulheres têm uma ideia errada uns dos outros em variados aspectos. Um desses aspectos é o mais importante deles todos: as fantasias.

Sem querer assumir-me como o protótipo ou arquétipo do universo masculino devo dizer que, apesar da imensa boa vontade demonstrada por algumas das mulheres que passaram na minha vida, a maioria delas tinha uma ideia enviezada do que eu queria e de quais as coisas que me faziam trepar paredes.
Começando pelos erros, devo dizer que o strip raramente é uma boa opção. Há essa ideia impregnada de que os homens gostam de ver mulheres despirem-se ao som da música. Não posso dizer que é falso mas o que asseguro é que para esse tipo de performance é preciso arte...e não há nada menos estimulante que pessoal desingonçado acrescido do trabalho extra de se ir despindo.
Outro dos erros tem que ver com sapatos, mormente, saltos altos. Mais uma vez, para resultar precisa de todo um conjunto de coisas que os façam resultar e se sobreponham ao risco de se apanhar com um salto na cara (been there, done that).

Por outro lado, há enormes acertos. E algum desses acertos resultam exactamente do oposto da preparação.
Algumas das mais excitantes aventuras que tive, nesse particular, nem sequer levaram a que algum de nós tivesse ficado nu. Umas envolveram apenas baixar de calças, outras levantar de saias e pouco mais do que isso.
Outras, óptimas também, iniciaram-se apenas com uma palavra bafejada ao ouvido e, neste caso, quanto mais lasciva melhor, quanto mais ordinária melhor, quanto mais decidida melhor. Não me digam que querem fazer amor, digam-me que querem foder, ou melhor, não me digam sequer que querem foder, digam-me que precisam foder.

Isto nada tem de complicado. O que complica é a ideia de uma produção hollywoodesca quando não é o que se quer. Não me mostrem o Titanic com o paquete monstro ou os super efeitos especiais pulvilhados de dólares. Mostrem-me o Cães Danados, uma história com pouca gente e quase toda passada no armazém, com vontade, emoção e paixão que os dólares, sozinhos, não compram.

Para finalizar e enfatizar esta coisa que apenas os diálogos resolvem deixo-vos com isto:
Uma certa noite, estava a falar com uma amiga sobre a necessidade de vocalizar quando se está na cama. Como ela não percebia exactamente o que eu queria dizer, expliquei-lhe que é muito importante, pelo menos para os homens, coisas simples como "fode-me" ou "agora quero que me comas por trás".
A resposta? "Porque hei-de eu dizer fode-me se é isso que ele está a fazer?!"

Need I say more?

Wednesday, March 02, 2011

Pelos vistos, se colocarmos um sapo numa panela com água e formos aumentando a temperatura da água de uma forma progressiva este será cozido sem dar por ela e sem tentar escapar.
Não somos todos assim?

Nunca olharam para uma situação que entendem como incomportável, intolerável e decadente e, ainda assim, viram lá pessoas como se nada de anómalo se passasse? Pois, seguramente que sim.
Agora, já imaginaram que pensam o mesmo de vocês e de mim e de todos os outros? Já imaginaram que como nós fazemos na janela dos outros há quem faça na nossa? Já imaginaram que estarão, neste preciso momento, a olhar para nós e a pensar "como é possível? eu não tolerava nem admitia aquilo, caso fosse a pessoa que agora observo".

Não, não se trata de uma apreciação valorativa minha. Já tive muito de moralista mas, hoje em dia, tenho muito pouco.
Trata-se, apenas, de atestar a evidência de que é incrível aquilo a que nos conseguimos adaptar, todos nós. Pior: atestar que nos habituamos, como o sapo, ao aumento da temperatura que nos rodeia ao ponto de encontrar, visivelmente, a água em ebulição e, ainda assim, não nos parecer quente demais.

As revoluções fazem-se assim.
Um dia, quando estamos todos no caldeirão, a cozer, vem um tipo que nos olha da janela e decide, mais do que observar, dizer "pessoal, a água está a ferver! Mais cedo do que mais tarde vocês estão cozidos" (o que, em bom português se equivale a fodidos).
É, se pensarmos nisso, a constatação de uma evidência por quem se encontra relativamente afastado do quadro, um coisa parecida com aquilo que caiu na moda dizer-se, que nos concentramos na árvore e não vemos a floresta.

Por ter tudo isto como uma evidência, tento, regularmente, sair do caldeirão para saber, exactamente, onde estou metido mas, em boa verdade, tenho a certeza que nem sempre consigo ou consigo muito menos vezes do que o que devia.
Agora, quem ainda não percebeu isto...