Tuesday, October 26, 2010

As nossas cicatrizes mostram-nos um caminho.
Quando queimei as pernas em miúdo, por ter deixado cair-lhes a sopa em cima, aprendi que devo ter mais cuidade com o que está quente e, inevitavelmente, mais cuidado a comer a sopa.
Quando levei 8 pontos no tornozelo por ter pisado parte de um vaso escondido no meio de erva alta, enquanto corria, aprendi que devo ter mais cuidado onde piso, especialmente quando não consigo ver o chão.
Quando recebi não sei quantos pontos na testa porque tentei dar uma cabeçada num tipo e este, bem mais esperto que eu, baixou a cabeça, aprendi que temos de ter cuidado quando queremos magoar porque, algumas vezes, magoamo-nos a nós.
Exemplos destes poderia dar milhares e todos eles me foram úteis, foram avisos para evitar que algo de mal (e algumas vezes, de bom) me voltasse a acontecer.

Agora, as cicatrizes emocionais são bem piores. As cicatrizes emocionais encaminham-nos como uma mão cega; é como se estivessemos a escolher livres de condicionalismos sem, de facto, estarmos.
É muito estranho... é o mais próximo que encontro de forças sobrenaturais... até as descobrirmos.

Partilho com algumas pessoas cicratizes, deste segundo tipo, similares. Podem ter um desenho diferente mas radicam na mesma origem: o mau exemplo de relacionamentos afectivos a que fomos expostos.
É minha firme convicção que somos aquilo que somos por acção ou reacção: acção quando tentamos seguir aquilo a que fomos expostos (para o bem e para o mal) e reacção quando queremos fugir de exemplos que não pedimos ou escolhemos mas a que estamos expostos.

Há aqueles que, depois de verem como uma má relação funciona, tentam desesperadamente provar, a si próprios, que aquilo não lhes vai acontecer; assim, passeiam-se pela rua a olhar para eventuais sinais de felicidade eterna e perene; como sozinho a palavra relacionamento não faz qualquer sentido, estão sempre metidos num e dão corpo e alma para que a estrada se pavimente de amor e compreensão.
Querem muito aquilo com que sonham e não encontram obstáculo inultrapassável...até que batem na parede; querem o afecto que imaginam mas que desconhecem.

Há outros, contudo, que fazem exactamente o contrário. Hoje em dia, de acordo com as mais recentes trends, são aquilo a que chamam de indisponíveis emocionalmente.
Estes segundos não andam à procura de sinais pela rua, andam, isso sim, com os olhos enterrados no chão; como companhia é sinónimo de relacionamento, andam sozinhos.
Contrariando a postura dos primeiros, desconhecem o afecto com que outros sonham mas não se esquecem da falta dele; como animal ferido, não estão preocupados em encontrar o paraíso, estão, isso sim, preocupados em fugir ao inferno.

A virtude, como em tudo na vida, está no meio. A virtude está em saber quando aceitar e quando recusar mas poucos de nós nasceram para ser virtuosos.
Se há esperança para uns e para outros?
Sim.
Para uns, a esperança é que os sinais que procuram o sejam de facto; que revelem o que se lá pode encontrar, sem falsidade.
Para outros, a esperança é que alguém lhes levante a cabeça; que alguém esteja disposto a provar que acima deles há céu.

Friday, October 22, 2010

Superficialidade

Muitas vezes forço-me a ser o que não sou. Não é uma questão de aparência, não o faço para impressionar ou chocar outros, o que acontece, na realidade, é que me vejo de uma forma que nem sempre corresponde aos actos; é um pouco como o reflexo do espelho onde a minha mão direita passa a ser a esquerda não porque pretendo que o seja mas simplesmente porque acontece.

A minha superficialidade é um desses casos.
Como não procuro relacionamentos porque acho que esses aparecem encaro a minha vontade de sacar fêmeas como as necessidades que tenho de suprir para sobreviver, como por exemplo comer.
Então, basta-me que sejam giras e boas, nada mais que isso.
Ora, infelizmente, tal não corresponde à verdade, apesar de ser o que, genuinamente, penso e, claramente, acredito.

Descobri a falha neste pensamento e, até, postura, há alguns anos atrás.
Conhecia, á algum tempo, uma mulher bonita e boa que andava a querer comer há algum tempo. Por razões ou motivos que desconheço, a oportunidade apareceu e, sem, sequer, pensar dois segundos, decidi agarrar-me a ela.
Contrariando alguns dos meus princípios mais básicos, marquei um jantar com ela (não gosto de jantar com quem não conheço verdadeiramente porque, quando corre mal, não tenho como escapar rapidamente).
Sentei-me e deparei-me com um decote generoso...que me abriu o apetite. O pior veio depois....
Ela era chata (ou chata para mim). Sem sentido de humor, sem queda para a parvoíce (o que, no meu manual, é imperdoável) e demasiado séria com assuntos demasiado adultos... e com um pedido que não se faz a seco: "importas-te de não fumar?".

Bem, a coisa correu tão mal que os meus melhores amigos durante o jantar foram o vinho tinto (que tive de aviar praticamente sozinho - outro crime...num jantar destes não se recusa vinho - e o jovem irlandês que visitou a mesa por três vezes) e, quando já não aguentava mais, mandei-me para os cigarros porque, obviamente, a companhia não me merecia qualquer esforço... e infelizmente ainda tive de aguentar a sobremesa que ela decidiu pedir.

O desastre foi, contudo, ainda pior!
Quando, finalmente, a refeição terminou fui levá-la a casa e, quando lá atracamos, ela perguntou-me se queria entrar.
Aí estava!! O momento de comprovar o quão supérfulo eu sou!! Gaja insuportável mas portadora de pele que me agradava!!!
E o mundo acabou... "não, é melhor não...tenho de acordar cedo amanhã".

Foi terrível, descobri que aguento muita coisa mas não mulheres chatas...

Wednesday, October 20, 2010

LUV

Não sou muito apreciador de histórias de amor. O que gosto mesmo é de histórias sobre o amor.
A diferença entre uma coisa e outra pode ser ténue ou até inexistente para muitos mas, para mim, é o mesmo que acontece quando um jantar está no ponto ou salgado; a diferença teórica não é muita, afinal, é apenas mais um punhado de pequenos grãos, mas a diferença prática é imensa.

Então, qual, aos meus olhos, a grande diferença?
Bem, uma história de amor é o resultado. É uma sequência de acontecimentos que apenas têm interesse porque desembocam num determinado ponto.
Uma história sobre amor é, basicamente, o inverso, em termos de foco de interesse. É o percurso e não o fim, o que torna tudo mais intenso, porque efémero, e realista, porque não tem de termina (e poucas vezes termina) em felizes para sempre.

A beleza do amor não está nos abracinhos ôcos ou nas vagas e aéreas declarações de sentimento. Sim, faz parte do quadro mas da mesma forma que o fundo de um quadro; está lá ao serviço mas não é o fundamento, não é o que levou o pintor a cria-lo.
Não, a beleza do amor é a sua tragicidade. Todos os amores são trágicos. Em último caso (o último dos últimos) o objecto do amor morre ou, então, morremos nós e a coisa acaba; aquela coisa que é tão intensa tem os dias contados, como a nossa vida... o para sempre não existe e ainda bem porque, caso existisse, passaria do arrebatador que é para o normal e ordinário de uma peça de louça em cima de um armário.
Não queremos perder e é isso que o alimenta.

Mais ou menos como isto,

http://www.youtube.com/watch?v=GfC6CCtZjxk

Monday, October 18, 2010

Narciso era capaz de muita coisa mas incapaz de deixar de admirar o seu reflexo.
Somos todos um pouco assim. Não necessariamente quanto ao nosso aspecto mas quanto ao que somos, ao que conseguimos e ao que não conseguimos mudar.

A truta luta, incessantemente, contra a corrente. Tenta ir para onde não consegue e, ainda assim, não desiste. A explicação mais simples para isto poderia prender-se com a sua estupidez, aquela que habita os que insistem nos mesmo erros, aquela que nasce da incapacidade de reconhecer batalhas perdidas, a mesma que antes foi coragem mas redundou em cegueira. Sim, pode ser isso...
Outra explicação, contudo, prender-se-á com a incapacidade de fazer diferente. Há muita coisa vestida de estupidez que, na verdade, o não é. Sim, podem atirar-me à cara que a inadaptação é outro sinónimo de estupidez mas...será justo assumir que não se muda toda a ordenação das nossas células por mera falta de vontade?

Deixem que vos diga: é muito provável que o rei da estupidez seja este que vos escreve.
Há muitos actos que pratico, muitos pensamentos que me fustigam, muitas reacções que me saem das mãos porque não as consigo impedir. Há momento, até, em que já sei, antes, que irá dar asneira, depois. Então porque insisto? Porque não consigo evitar.

Exemplo acabado desta incapacidade (ou estupidez) é o facto de ter o desejo de que todas as pessoas (mormente mulheres) que se cruzaram durante algum tempo comigo sejam felizes. Quero, genuinamente, que encontrem a felicidade e nunca mas nunca me senti mais feliz ou satisfeito porque alguém chorou por mim ou sofreu por de mim gostar. Esta é a mais verdadeira das verdades.
Não me magoa que me apareçam com namorado novo, que casem, que tenham filhos e que eu, invariavelmente, continue solteiro. Mais que não me magoar, é o que lhes desejo.

A única coisa capaz de me magoar, contudo, é que me esqueçam. Avancem, sejam felizes...mas não me esqueçam!
Sim, provavelmente é a corrente que nunca conseguirei vencer mas também nunca me pensei mais sábio que a truta.

Friday, October 15, 2010

Xiaobo

Como será conhecido da generalidade das pessoas, o nóbel da paz deste ano é Liu Xiaobo e, por ser do conhecimento geral parace-me desnecessário desenvolver sobre o porquê.
Poderei, contudo, dizer que, na minha opinião é mais que justo e numa altura em que a China se posiciona, cada vez mais, como uma enorme e poderosa nação económica é, também, uma demonstração de coragem porque...a reacção Chinesa era mais que previsível.



Mas, na verdade, o que mais me impressionou não foi a atribuição do prémio (uma vez mais, mais do que justo) mas a posição do nauseabundo e podre PCP.
Quando começava a pensar que, se calhar, tinha uma aversão injustificada por este partido sou forçado a ficar pela impressão passada.
Estes tipos (os defensores dos direitos do povo, os baluartes das classes mais desprotegidas e afins...) entenderam como injusta a atribuição do prémio. Porquê? Porque a China é comunista e quando o mínimo que poderiam fazer (caso possuíssem dois neurónios) era distanciar-se de um regime que em anda se preocupa quanto a direitos fundamentais e afins, colaram-se a ele.
Ridículos, de terceira categoria e tudo mais que se possa dizer sobre eles.

Mais!!!!
Compararam a atribuição deste nóbel ao do Obama.
Sim, concordo que o de Obama foi forçado, imerecido e, de resto, reconhecido pelo próprio que não era justo. Sim, foi eminentemente político. Sim, foi mais uma previsão do que ele poderá vir a fazer do que o que fez.
Agora, o Xiaobo? Este tipo anda em frente a tanques desde 89!! Este tipo, numa admirável entrevista, disse qualquer coisa como "sim, estou preparado para ir preso. Se aqui se vai preso por lutar pela democracia e se eu luto pela democracia aqui, o mais natural é que vá preso". Este tipo que deitou fora uma promissora carreira como professor longe da China para voltar para, inevitavelmente, ser preso!

Idiotas!!
Depois admiram-se que o BE lhes dê no rabinho!!
Idiotas, mil vezes idiotas!

Wednesday, October 13, 2010

Ciclicamente, naqueles momentos que me fazem ter vergonha posteriormente, leio e ouço gente que é entrevistada (gente famosa) responder que se voltassem atrás não mudariam nada.
Bando de idiotas acéfalos.

O que poderia tolerar, ainda que a custo, seria que esta afirmação de perfeição total se prendesse com o facto de que todos os erros passados (vamos imaginar, por um momento, que esta gente erra) os levaram a onde estão agora...mas não faria mais do que tolerar porque, se não formos ocupados por apenas um neurónio, é natural que sem erros estariamos, hoje, melhor do que estamos.
Quão idiota se é quando questionado se pretendia corrigir o que fez, tornando o erro em acerto, a resposta é negativa? Muito mas muito idiota.

Como não me tenho por maior idiota do mundo, apesar de concorrer para o título, quando pensei no que responderia a esta pergunta a reacção natural foi a de que "mudaria muita e muita coisa...fiz muitas asneiras e, infelizmente, continuarei a fazê-las". Óbvio e claro.
Contudo, a resposta mais elaborada a esta mesma pergunta deixou-me e deixa-me tenso e preplexo.
É verdade que, se tal me fosse permitido, emendaria muito do que fiz; apesar de ter acertado em muitas decisões não acertei todas e, caso pudesse, mudaria o que de mal fiz. O problema, contudo, é relativamente mais complicado: apesar de querer, será que conseguiria fazer diferente? É a diferença entre a vontade e a realidade.

Wednesday, October 06, 2010


Há uns dias atrás vi uma notícia que dava conta de que uma repórter mexicana tinha sido assediada por uma equipa de futebol americano (deve ter sido toda) quando pretendia entrevistar o quarter back, de origem mexicana.
Sem saber mais, achei de mau gosto mas não estranho; quem alguma vez fez parte de um balneário com uma equipa masculina sabe que nada de edificante lá se diz e, como acontece em quase todos os ajuntamentos masculinos, o nível etário desce para o equivalente a uma criança de 6 anos.
É daquelas coisas... é mau, deve ser reprovado mas, quando não passa do limite das bocas, acaba por ser relativamente previsível, tanto para mim como para qualquer jornalista, masculino ou feminino.
Depois, contudo, deparei-me com a dita repórter.
A repórter em questão é a que consta da imagem que publico e esta imagem descreve, literalmente, a forma como ela se apresentou para a entrevista.
Antes que me chamem de machista (que já fui mas não sou) ou coisas piores, não deixo de reprovar o comportamento masculino apesar da jornalista se ter apresentado como stripper (ou pior) e com roupas compradas na cenoura. Sim, também eu acredito que apesar dos pesares merece o mesmo respeito que uma pessoa que se tivesse vestido normalmente para quem vai exercer a sua profissão (que, ao que parece, não é de stripper).
Isto para dizer que o ditado que reza que "à mulher de César não chega ser séria, tem de parecer" devia ser ensinado na primária. Apesar dos pesares, sem que isto, mais uma vez, sirva de desculpa, devemos defender-nos, proteger-nos e evitar colocar-nos a jeito para que os problemas venham ao nosso encontro.
Não vou para o meio da claque do Benfica, na Luz, gritar "PORTO!!". Apesar de isso não ser justificativo de uma grande carga de porrada, é previsível que tal acontecesse.