Friday, September 29, 2006

"E a vida é bela porque é imprevisível"

Não sei até que ponto será verdade.
Particularmente acho um desporto divertido tentar vergar o futuro à minha vontade, tentar que 2+2 seja realmente 4.

Há dias em que dispensaria em absoluto a emoção da incerteza do amanhã, muitas vezes acho que trocaria o não sei inerente ao que me trará a próxima curva em favor de um GPS que me levasse exactamente onde queria ir.

Porém, como em tudo que me rodeia e que me consome a alma, não estaria satisfeito com esse sucesso também.
É constante a minha vontade de beber mais, é intrinseca a minha necessidade de não ficar parado, é um vício que não me faz bem esse de precisar constantemente de competir.

Tenho um amigo que adora as sessões de remembering, adora aquelas histórias que se passaram há sei lá quanto tempo em que este fez aquilo e aconteceu aqueloutro e foi super divertido.

Foi realmente divertido, foi realmente um bom tempo, foi realmente memorável...no entanto eu jamais me lembraria não fosse ele.

Exemplo claro de que o amanhã me é bem mais querido do que o ontem é o facto de, por exemplo, uma semana depois de uma viagem memorável ela ter-se quase esbatido da memória real e transferir-se para a memória eventual de um sonho.

Não tiro fotos, não as vou ver mais.
Não conto histórias do que aconteceu, não me parecem interessantes para ninguém além de mim.
A página virou e tá na hora de avançar.

Estupidamente já estou mais preocupado com a próxima viagem que vou fazer do que com aquela que realmente aconteceu, é como engolir sem mastigar.

A força propulsora da minha mente empurra-me e não me deixa parar...e às vezes fico tão cansado...

Tuesday, September 26, 2006

Psiquê?


Sempre gostei do que resulta de uma conversa que o é verdadeiramente.
Não daquelas conversas triviais que também são absolutamente do meu agrado mas das outras que acontecem como que saídas de lugar nenhum. No trânsito, no fim de um filme, na semântica de um suspiro.
É engraçado como a explicação de um conceito próprio e enraizado tem a sensação de terapia.
Muitas vezes (muitas mesmo) tenho uma posição sobre um assunto e sei que a tenho mas não é claro o porquê....
Acontece-me com frequência que no meio de uma defesa do que é para mim uma verdade entender o porquê de aquilo ser para mim, efectivamente, uma verdade.
O enraizamento das crenças tem muito mais de subliminar e de resultado de uma aprendizagem que não se sabe que o é de facto, surge inumeras vezes quando nem se sabe que é aí que nasceu aquele tão veemente acreditar.
Ainda há pouco tempo descobri o motivo que me leva a crer que serei só durante muito tempo e eventualmente de forma perene mesmo...esse motivo não o revelei quando me foi revelado, guardei-o e guarda-lo-ei.
O que é verdadeiramente divertido para mim é que não sou nada de coisa nenhuma e sou muita coisa de variadas coisas.
É engraçado a surpresa que se depara com quem acha que me conhece e depois me conhece de facto, a cara de espanto quando se descobre que não sou nazi e nem sociopata e nem anti 3ª idade e nem suturno e nem chato e nem suicida e nem revoltado é uma constante quando se passa da fronteira criada.
Sou naturalmente fronteiriço, naturalmente ambiguo, naturalmente contrastante, naturalmente incoerente...mas o resultado da mistura é absolutamente díspar da soma dos elementos.
Sou isto + aquilo + a outra coisa + isso ainda + isto + a outra + aqueloutro + EU...e este eu muda tudo.

Monday, September 25, 2006

Linha



Ouvi vezes demais que "a minha perdição foi uma mulher".

Eu tenho a certeza que uma mulher vai ser a minha salvação.

Acredito nisso há muito tempo. Não ando encontrado, nunca andei, sou aquilo que se move por instinto de satisfação, aquilo que não pára para dormir, um carro sem travões, um ímpeto que só pára na parede.

Das poucas vezes que a calmaria venceu o alvoroço havia o dedo de uma mulher envolvido, ou melhor, havia um corpo inteiro de uma mulher envolvido...um dedo não chegaria.

Tenho fobia de parar, tenho fodia de ficar fechado, tenho fobia de dormir. Todos esses actos me parecem perda de tempo enquanto alguma coisa se está a passar.

O que se está a passar? Na verdade acho que nada...mas sinto premente na pele a cerveja que os meus amigos estão a partilhar e eu estou ausente, sinto no âmago aquela batida na cabeça que só faz sentido porque nada mais há para fazer, sinto crivado nas costas aquele telefonema que me pergunta "vamos?" e eu por segundos penso em recusar.

Acho mesmo que a única coisa que não procuro é a mulher, ou porque acredito piamente que não se procura ou porque tenho a plena convicção que não a mereço ou pura e simplesmente porque tenho medo dela.

Foi uma mulher que me trouxe ao mundo e será outra que me salvará, isso parece-me certo.

Há dias em que tudo o que quero é menos, menos tudo e ao mesmo tempo mais do que não tenho e a maioria das vezes nem quero.

Eu quero paz...mas acho que ela não me quer...

Conquistar


Não acredito na conquista de outro ser humano, no meu caso de uma mulher e no caso de quem me queira de um homem.

A conquista é a arte do encobrimento.

Sempre que se quer alguém ou alguma coisa recorre-se ao engrandecimento daquilo que consideramos serem qualidades e ao escamotemanto daquilo a que chamamos defeitos.
Ora, se se mostra aquilo que se não é mas antes aquilo que, convenientemente, se quer parecer inicia-se uma mentira, um equivoco.

A conquista, a corte ou outra coisa qualquer que se lhe queira chamar tem um tempo de vida designado e tem, reconheço, a sua utilidade.
Também eu uso (ou tento) esse emaranhado de ruas esquivas e estranhas para conseguir aquilo que quero.

Aquilo...não aquela.

Eu gosto daquele pedaço de carne que atravessa a rua, eu gosto daquele par de pernas que percorre a calçada, eu gosto daquele peito que incha com o inspirar...eu gosto da carcaça.
Não acho mal querer aquele corpo por empréstimo durante um tempo, não vejo nada de grotesco em desejar despi-la e ter nisso o início e o fim da coisa.

No caso que descrevi a conquista faz sentido, a parcialização da verdade é suficientemente duradoura pro hiato necessário e os podres aguentar-se-ão tranquilamente na penumbra.

Mas...e quando queres mais?
E quando te interessa mais o recheio que a carcaça?
E quando quiseres passar mais tempo com ela do que o plástico permite?

Pra quê conquistar???

Todas as poucas pessoas que passaram pela minha vida viram os meus defeitos bem antes das virtudes.
Não quero que quem priva comigo mais que meia dúzia de vezes e três quecas esporádicas ignore o tanto de errado que há em mim.
Quero que saibam onde colocam os pés, quero que saibam pra que lado corre o rio...pra quê começar pela maravilhada ilusão se ela durará menos do que uma maré cheia?

Sou fã do descartável, não vejo mal algum nisso, a satisfação é um fim em si e nada tenho a opor que seja rápido e visceral e não volte segunda vez.

Para que se possa fazer uma travessia longa, no entanto, é mais útil saber navegar na tempestade do que na calmaria.

É uma ideia romântica (que juro practicar, desta vez não são meramente palavras) de quem nem é tão romântico quanto isso...
Quando se envolvem pessoas elas merecem saber a verdade.

Os defeitos são a prova de que me queres.
Das virtudes gosta-se, os Defeitos amam-se.

Sunday, September 24, 2006


Definitivamente o tempo não anda como eu gostaria que andasse, na verdade nem quer saber de mim.
A areia e o mar já desapareceram,
já não estão uns quantos tipos em volta de uma mesa de madeira com copos de cerveja à frente,
já não vejo o redentor da janela do carro...
Não sou dado a depressões e nem a saudosismo e nem a maldizer a minha sorte, no entanto, são já duas as vezes em que sinto muito uma partida e são também já duas as vezes em que não encaro o amanhã de sorriso nos lábios.
Amanhã estarei firme e forte de novo, mas hoje permito-me sentir que nem sempre a vida é justa e nem sempre se está onde se deveria.

Saturday, September 02, 2006

Vida

E ainda assim o sol nasce.
E ainda assim a relva não pára de crescer.
E ainda assim as aves migram.
E ainda assim eu saí em pé e firme da tempestade.
É incrível o que a mente suporta e o castigo que uma chicotada invisível pode inflingir.
A minha chicotada chamou-se espectativa e perspectiva de uma aurora diferente.
Não me tornou infeliz e nem triste, acordou-me.
Às vezes tenho a sensação que quem lê o que eu escrevo fica com a imagem de um tipo que não gosta do que é...a verdade é que eu gosto muito de mim mas, como acredito que toda a gente, há aspectos que deveriam ser melhorados.
Parece-me, e já me foi dito, que parecerei um tipo que acha que não merece o amor de ninguém...falso também, mereço todo o amor da minha família e dos meus amigos, já de uma mulher no sentido de companheira...acho que não.
O que eu sou é difícil de definir, acredito que mais difícil que na maioria dos casos.
Eu escrevo merdas que rimam (não acho que seja poesia) mas facilmente dou um biqueiro na tromba de quem me irrita.
Sou capaz de dar a vida pelos meus mas tou-me absolutamente nas tintas pra quem não me diz nada.
Acordo de bom humor mas uma coisinha transforma-me no mais negro dos buracos.
Ferro enferruja, eu não!

Friday, September 01, 2006

Sinto, estupidamente, o peso do mundo nos meus ombros.
Estupidamente porque não o tenho de facto e estupidamente porque não me livro da ideia de o ter.
É uma coisa que sempre me acompanhou.
Começou com "tu és um geniozinho e consegues fazer tudo", passou por "nós precisamos de ti mas sabemos que tu nunca precisarás de nós" e foi evoluindo pra coisas do tipo "ah...é mais contigo porque tu és o mais forte".
Foda-se...
Nunca me senti nem fui geniozinho, eventualmente houve alturas em que precisei de alguém e outras em que apesar de ser o mais forte me senti fraco.
Alguém notou?! Não....
E aí aparece o peso, aí aparecem as minhas expectativas que são as maiores do Universo, aí surge a capacidade de ser esfaqueado sem dizer ai e baleado sem dizer ui.
Uma vez ouvi dizer de mim que consigo o que quero apesar de isso implicar deixar uns cadáveres aqui e ali.
Não sei até que ponto é verdade...não sei onde é mentira.
A minha obstinação é cega e linear: é aquilo e é agora!!!!
Já pensei que ia mudar, já pensei que ia acalmar, já pensei em desacelarar...mas não consigo.
Sou a máquina que impele o mundo e a couraça que protege o paraíso...ou pareço...