Friday, January 29, 2010

Suicídio de Deus

Estou a ler o Rastro do Jaguar e a gostar muito.
Contém muitas imagens, referências e reflexões que muito me agradam por não serem impositivas mas, até ao momento, o Suicídio de Deus chamou-me particularmente a atenção. Sem me alongar demasiado sobre o livro, direi que este termo/facto surgiu da seguinte forma: os indígenas tinham um único Deus, Deus esse que também era o dos brancos. Ora, como esse Deus deu a força belicista aos brancos ter-se-á esquecido dos índios, desfavorecendo-os. Desfavorecendo-os eles deixaram de acreditar nele.

Isto levou-me, instantaneamente, à minha definição de Deus, definição essa que se confunde com a de amor. Não, não o amor por Deus ou de Deus por nós, o amor puro e simples.
Se avaliarmos Deus como avaliamos tudo o resto, ele não existe. Não está comprovado cientificamente a sua existência e a isso acresce o Antigo Testamento que, por desactualizado, se transformou no novo bem como as inquisições, bulas de indulgência e afins.
É aqui que vejo a coincidência de conceitos. Também não se vê nem se comprova a existência do amor. Consegue-se medir, cientificamente, a existência do desejo (as feromonas, por exemplo) mas não o amor.

Simplificando: o Amor existe porque acreditamos nele e o mesmo acontece com Deus.

Sim, é assim tão frágil.
Se virmos Deus de fora para dentro, poderemos dizer que o mataremos quando deixarmos de acreditar nele. Se virmos Deus de dentro para fora, poderemos dizer que ele se suicidará quando deixarmos de acreditar nele.

Curioso como mesmo a imortalidade, em determinadas condições, perece com mais facilidade que nós, mortais.

Porcas

Poderia começar por dizer que o termo Porca é um termo utilizado pelo meu grupo de amigos mas não me parece verdade. Não encontrei, até hoje, homem que desconhecesse ao que me refiro quando digo Porca.
Não será o conceito mais fácil de explicar. Digamos que é algo que nos entra pelos olhos e é descodificado no cérebro sem que para tal haja uma explicação lógica mas, em todo o caso, faria pouco sentido falar dele sem tentar, pelo menos, dar umas luzes.

Pois bem, uma Porca é uma mulher que mal surge no meu campo visual (nem todos os homens têm a mesma sensibilidade para isto, depende dos gostos) não mais desaparece. Posso fingir-me desentendido, posso dar o ar de que nada mudou naquela sala mas nada disso é verdade. Volta e meia, às vezes apenas volta, lá estou eu a checar por onde ela anda.
É puro libido. É químico. Por entre a penumbra de som (antigamente seria de fumo mas esse é mais um prazer de que fui privado) vejo o corpo dela suado, aspirando a minha língua e procurando, nesse momento já sem grande esforço, com alguma violência o que parece ter perdido dentro das minhas calças, se ainda as tiver.
É parecido com sex appeal mas com mais intenção. Não parece que quer, quer mesmo. Não se arrasta como uma cobra qualquer, aperta-me como uma anaconda.

Tudo isto me parece o mais elementar, despudorado e puro elogio mas, como é comum no âmbito do cromossoma X, não o será.
Mais do que a objectificação ela sentirá que a chamaria de reles e afins menos agradáveis.
Não é verdade.

Nunca poderei olhar para uma mulher e, em forma de engate/elogio, dizer-lhe "Tens um ar de porca!!!" e já fiz as pazes com isso. Gostava de o poder fazer mas não me parece que isso acontecerá.

Conto-vos, contudo, um segredo: Em bem mais do que uma ocasião, com várias mulheres (uma ou outras da quais com que partilhei várias vezes a cama) foi-me pedido ou que as chamasse de Puta ou que dissesse És a minha Puta e, devo confessar, fi-lo com agrado.
O que acontece é que, mesmo essas, não admitiriam que lhes chamasse Porca ou não me deixariam trilhar o caminho.

PS. concedo que é um termo, foneticamente, péssimo, talvez forte demais. Mas alguém quer ser fofo quando fode?
PS1. assumindo algum risco, tentarei ilustrar o que é, para mim, uma Porca:

http://static.reelmovienews.com/images/gallery/eva-mendes-pic.jpg

Friday, January 22, 2010

Ontem estive a pensar nela. Naquela que nunca foi e que podia muito bem ter sido.
Lembrei-me que era demais para mim, não tinha maturidade, cabeça nem estabilidade para deixar-me levar no barco que nunca me traria de volta (não posso, ainda assim, deixar de pensar se não embarquei e nunca voltei, afinal de contas, ainda me lembro dela).

Sou carne por natureza. É-me extremamente difícil pensar em mulheres vestidas.
Nunca assumi nenhuma das pouquíssimas relações que tive sem o teste, prévio, da cama. Nunca as assumi para mim nem para ela nem para o "público".
"Eh pá, uma relação não é só sexo!!!", pareço ouvir agora como ouço sempre que dou um papel primordial e de suma importância à foda. Sim, foda, porque sexo não me satisfaz e nem sequer vou começar a reflectir sobre a pior expressão do mundo e arredores: "fazer amor".
Àqueles que se admiraram por pensar como penso e àquelas que ao ouvir/ler isto fogem e fugiram a sete pês, demonstrei-lhes a evidência das evidências:

Tudo que, além do sexo, contribui para o sucesso de um relacionamento encontras nos teus amigos e amigas. A única diferença é que com a tua namorada/mulher fodes e com os teus amigos não. Como isto não me parece, sequer, discutível, haverá algo mais importante de que a foda seja tudo o que deve ser? Se não for, não vale a pena.

Outra coisa que aprendi, empiricamente, foi que tinha, de facto, razão na minha análise teórica. Os meus relacionamentos acabaram quando os "problemas" deixaram de se conseguir resolver a foder.
Entendam, não estou a dizer que é assim que as coisas se resolvem sempre nem sequer a maioria das vezes; o que digo é que, quando todas as explicações/justificações falham, ou é a foder ou de forma nenhuma.
A carne segurou por bastante tempo aquilo que teria terminado mais cedo mas, e sobre isto não tenho a mais pequena das dúvidas, SE a carne falha a morte passa de anunciada para pesente.

Não é politicamente correcto? Não, não é. E a verdade compadece-se com questões eminentemente sociais ou de foro social? Não, não se compadece.

Thursday, January 21, 2010

Possibilidades


Esta imagem significa, para mim, o possível.
Poderia, em vez da palmeira no deserto, ter escolhido uma ilha no meio do oceano, contudo, não teria o mesmo significado. O mar tem vida demais e a ilha espaço demais, ou seja, seria uma possibilidade bem mais evidente.
Aqui temos o que nasce no meio de coisa nenhuma que, como comprovei quando lá estive, é bem mais tudo do que coisa nenhuma...mas a imagem fica.
Também preferi a palmeira e não um cacto porque a palmeira reage à adversidade com um descuido virginal. Apesar da intempérie e da desolação não se protege.

Tuesday, January 19, 2010

Estive agora (ainda estou) a ver a lista das 99 melhores mulheres de 2009 (vou na 72, que é a Ivanovic).
Gosto de ver estas listas porque descubro sempre mais uma ou outra pérola que me escapou. Outra coisa que me agrada nestas listas é a inclinação geral para um determinado tipo de mulheres, em detrimento de outras. Outra coisa, ainda, que me agrada é o simples facto de as ver.
Excluindo o factor loira ou morena, é absolutamente claro que, segundo esta lista, os homens preferem miúdas, chavalas, bebés. Mulheres que, na minha opinião, ainda não o são mas que, indiscutivelmente, são bonitas e, mais indiscutivelmente ainda, cheias de saúde.
Já eu não me revejo nisto (a Cate Blanchet, por exemplo, que é muitas coisas e, ainda por cima, é linda, está bem cá para baixo). Tenho um enorme prazer em ver mulheres, já não tanto em ver meninas.

A título de exemplo, acho que a Monica Bellucci está melhor do que há 6 anos atrás, o mesmo acho da Jolie, continuo com a Catarina Furtado, passo pela Bárbara Guimarães e, para não me alongar, termino na já referida Cate Blanchet.
Claro, devem ter mais umas quantas estrias. Óbvio, devem pesar mais um par de quilos. Sim, há ali mais rugas mas nada disso empalidece o que ganham: os defeitos e a singularidade deles.
Hoje, gosto mais de as ver passar à minha frente. Agrada-me que tenham carne e não apenas ossos. Gosto de as ouvir porque têm, hoje, mais o que dizer.
A-D-O-R-O que continuem lindas e que, hoje, tenha ainda mais vontade de as comer.

Gosto de mulheres, gosto muito de mulheres.

Friday, January 15, 2010

Admiro quem sabe o que vale e não tem medo de o dizer. Prefiro sempre a verdade à mentira ou ao seu eufemismo... a omissão.
O que agora passou a acontecer com alguma frequência, segundo creio na sequência do fenómeno Mourinho, é que a vontade de se assumir como possuidor de uma qualquer qualidade passou a tolher a realidade. Desde que passou a ser politicamente correcto assumir virtudes caiu-se na mesma armadilha da falsa modéstia: o exagero e a falta de realismo.

Há aí um tipo que me irrita há bastante tempo. Esse tipo tem direito de antena numa televisão de notícias 24 horas (o que só poderia ser pior se fosse numa generalista) e, deixa-me perto de um ataque de nervos.
Não é habitual, para mim, ter asco a alguém que não conheço e a quem apenas tenho acesso, digamos, virtualmente. Assim de repente, lembro-me de 3 pessoas: uma mulher (?) que tem uma crónica na Bola, o nosso nobel e este gajo que, além do dito tempo de antena, escreve para o Record (a tipa da Bola também já teve tempo de antena mas, graças!!, deixou de ter).
Ora, este gajo tem-se em óptima consideração e, se bem consigo ler à distância, até se acha giro. Contrariamente ao que me é costume, dou-me, inclusive, ao trabalho de me referir ao seu (tenebroso) aspecto.

O fato: o tecido não é mau. Nota-se que há ali dinheiro metido. Não sei se GA, EZ ou D&G, contudo, não resulta. Desconfio que ele pensará que dispõe de uma massa muscular bem superior à real e desconhece que número usar (e sim, independentemente do dinheiro gasto, nenhum fato do tipo "estou aqui!!! existo!!!" é de bom gosto);
Os óculos: não são para aquela cara e vêm com 10 anos de atraso. Poderá perguntar-se que óculos serviriam àquela cara mas a essa hérculea tarefa, esquivo-me.
A gravata e a camisa: deveria, mas não há, haver um curso para coordenação de cores e nós de gravata. Este tipo está a um passo de camisas e gravatas havaianas.
O cabelo: imaginem pentear-se usando, de auxílio, óleo de motor. Pronto.

Isto poderia ser o pior mas não é. É de tão mau gosto o vocabulário polissilábico, desconexo e espalhado deste tipo que me levou à triste descrição supra (triste pra ele e pra mim, que reparei).
Honra lhe seja feita, contudo. É desprezível e terceiro mundista mas conseguiu criar aquilo que Portugal mais ama: o acidente que se detesta mas seabranda para ver.

Thursday, January 14, 2010

Feminismo

O feminismo deixou de ser o que já foi.
Em tempos passados, foi um movimento para igualdade de direitos entre os sexos, um movimento contra a discriminação e, como tal, válido, importante, louvável e apoiável.
Desde há bastante tempo a esta parte, travestiu-se. Desde há um tempo a esta parte masculinizou-se.

Homens e mulheres merecem o mesmo tratamento mas não são iguais.
Eu, como homem, continuo a abrir-lhes a porta do carro. Eu, como homem, continuo a deixá-las passar à frente. Não quero que isso mude e ultraja-me que isso possa acontecer.
Poderão dizer "Ah, isso que estás a dizer é parvo, o feminismo não é isso!!" e estarão cobertos de razão. O feminismo, de facto, não é isso mas, infelizmente, para lá caminha a passos largos.
Um tipo menos decidido que eu mas igualmente atento corre o risco de se coibir de ter atitudes historicamente masculinas (que não machistas nem chauvinistas) por temer que lhe exoludam na cara.
Começa a ser uma possibilidade forte que a reacção a atitudes educadas sejam estupidamente confundidas com paternalistas ou defensoras do passado (ok, ainda presente mas com muito menor peso) status quo de domínio masculino.

Exemplos:
Gosto incomparavelmente mais de mulheres de sais do que de calças;
Gosto incomparavelmente mais de mulheres depiladas do que peludas (argh);
Gosto incomparavelmente mais de mulheres de saltos altos do que de sapatos rasos;
Gosto incomparavelmente mais de mulheres doces no trato (algo diametralmente afastado de fracas) do que agressivas;
Gosto imcomparavelmente mais de mulheres recatadas do que histéricas;
Gosto incomparavelemente mais de mulheres que tratem de mim do que as que me mandam desenrascar (apesar de o poder, naturalmente, fazer).

Nada disto afasta a minha convicção de que devem ter os mesmo direitos. Nada disto me impede de lavar a louça ou aspirar o chão.
Gosto de mulheres com opinião, gosto de mulheres fortes mas detesto aquelas que sentem necessidade de o provar a todo o momento.
Não, não lhes fica mal quererem cozinhar para mim porque gostam de mim nem trazerem-me uma cerveja porque era algo que me apetecia.
Também não me fica mal cozinhar para elas porque gosto delas nem levar-lhes uma ceveja porque é algo que lhes apeteça.

Abomino a masculinização das mulheres, causa-me náuseas que queiram ser exactamente aquilo que combatem. Faz-me, sempre, lembrar a diferença inexistente entre extrema direita e extrema esquerda; luta-se tanto para fugir a um monstro que se acaba por se tornar naquilo que, primeiramente, se abominava.

Tenho para mim que esta tentativa de monocromatização humana está intimamente ligada com coisas como a metrossexualidade e afins mas isso fica para outra vez.

Wednesday, January 13, 2010


Não gosto de dourar a pílula e gosto ainda menos que a dourem antes de ma entregar.
Percebo que, volta e meia, temos de disfarçar a merda de caviar e, tato percebo que, apesar de não gostar, já tive de o fazer e vou fazê-lo de novo, seguramente.
Neste momento, abate-se uma eventual tragédia sobre a minha família. Porque é eventual, ainda não estou tão preocupado como estarei, provavelmente, amanhã.
Neste caso, a pílula terá de ser dourada. Não há qualquer chance de mandar a verdade nua e crua para a rua. Desconheço, ainda, quantas pílulas serão entregues, isso ainda é futurologia, mas, pelo menos uma sê-lo-á.
Para um gajo abertamente pessimista como eu, parecerá estranho que, neste momento, não esteja já a prever que o pior acontecerá. Seria a estrada natural a seguir.
Estranhamente, só sou pessimista para mim. No resto, para o resto, sou aquele gajo que não stressa, aquele que fica e faz ficar confortavelmente instalado contando que nada de mal vai acontecer. "É esperar para ver. Agora não vale a pena ficar tenso, agora não é, ainda, altura para desesperar," - É incrível mas é assim.
É tempo de (mais) adversidades.
É tempo de eu ser (uma vez mais) a cola que junta as peças.
É tempo de cair para segundo plano e ser o back up singer.

Tuesday, January 12, 2010

A M sente-se enganada...
Por amizade a quem a merece, ouço-a com enfado porque conheço a história e, infelizmente, não o posso assumir porque, como já por diversas vezes me aconteceu, estou com um pé em cada lado e nada posso revelar. A amizade e a confiança não se desperdiçam nem derespeitam e, infelizmente, fui brindado com uma consciência que não me permite apunhalar quem julgo não o merecer.

A M é ainda muito nova, apesar de o não saber como ninguém com 20 anos o sabe. Apesar das cores garridas que usa, da forma aparentemente desenvolta como fala e da maquilhagem, é uma menina, é ainda muito inocente e incapaz de perceber as vantagens de assumir as suas fraquezas e as suas forças.
Bem, a M foi envolvida pelo H.
O H é um tipo mais velho. É igualmente imaturo mas já deu umas voltas à pista e, desde que o conheço, só está bem com uma mulher que mande nele, uma espécie de mãe. Agora, pela primeira vez na vida dele, descobriu os encantos da foda mágica (foder e desaparecer), daí ser um tipo perigoso para quem ainda tem ideias de cinderela.
Isto nunca seria um problema para mim (na verdade, continua a não ser). Continuo a acreditar que, salvo casos de violência física, é tão culpado o que se aproveita como o que se deixa aproveitar. Apesar de não caçarmos para comer, isto continua a ser uma selva.

Foi mais ou menos isto que disse à M. Quando ela chamou FDP ao H disse-lhe que, independentemente de o H ser um FDP ou não (isso dependerá sempre das perspectivas), ela também tem culpa, ela também é responsável... afinal de contas, o que um não quer dois não fazem.
"Mas eu gosto dele" disse-me a M e isso em nada muda o meu discurso. Sim, é fodido mas cada um tem de procurar o que lhe faz bem e se se submete ao que sabe fazer-lhe mal que se amanhe.
Mentiria se dissesse que não lamento a situação dela mas mentiria ainda mais se optasse pelo "Pois, o H é um FDP. Não percebo, é inadmissível!!!" Percebo. É admissível.

A M, obviamente, não concordou comigo. Juntar a juventude com uma paixoneta é como juntar a fome e a vontade de comer. Para me fazer ver que eu estava completamente enganado, que ELE era o FDP e que ELA uma coitada (sem esquecer que, sem o dizer directamente, me transmitiu que achava que ele também estava apaixonado), perguntou-me "Porque me manda sms a dizer que está sozinho em casa e que me quer muito ver? Porque me manda sms a dizer, primeiro, que está apaixonado e, depois, que me ama?"
Não disse "PORQUE PROVAVELMENTE NÃO SACOU NENHUMA GAJA NESSA NOITE E NÃO ESTÁ NUMA DE FAZER AMOR COM A MÃO DIREITA!!!". Foi difícil mas não disse. Limitei-me a fazê-la ver as horas e os dias a que essas mensagens chegavam.....
Não creio ter resultado mas mais não se pode fazer...

Já fiz tudo isto (menos sms a dizer que amo - quer ame quer não - e que estou apaixonado - se não estiver). Perdi a conta a quantas vezes dei por mim às 5 da manhã, ou mais tarde, com vontade de não me deitar sozinho e a mandar a mensagem tipo a ver se pega.
Nada disto me parece mal, na verdade, também já recebi um sem número de chamadas e mensagens de madrugada porque alguém me queria usar. Não me importo, faz parte da vida de solteiro.

O que não gosto é de magoar pessoas. O que não gosto é que esperem de mim o que não vão receber. É a minha parte decente, aquela parte que detesta enganar e que só o faz em última circunstância e nunca por sexo, nunca por sexo.

Monday, January 11, 2010



É verdade que acho uma profunda idiotice a ideia de crescer através do crescimento. Apesar de concordar que o clássico e banal "o que não nos mata torna-nos mais fortes", ainda assim prefiro não chegar às portas da morte para aprender o que quer que seja e prefiro não sofrer para, em teoria, dar mais valor às coisas.

Apesar de tudo isso, tenho um papel para a dor. Não para aquela que torna a experiência verdadeiramente dolorosa mas aquela que impede que ela seja demasiado doce. Um bocado como o papel da lima na caipirinha ou da canela no café. Algo parecido com as unhadas nas costas aquando do sexo ou do frio que ataca quando nos descobrimos.

A lima corta o açucar e impede o enjoo.

A canela impede que se perca toda a amrgura do café.

As unhadas mostram que alguém está lá e que precisa de sentir pele para saber que não está a sonhar.

O frio dá uma desculpa para não sair de casa e aproveitar a companhia.

Thursday, January 07, 2010

Acho que o céu nublado, aquele que não tapa completamente a luz mas que a incomoda, é uma das imagens da verdade. Por conseguinte, o céu limpo é mais parecido com uma mentira.
Mesmo que se necessite da ajuda de uma vela, sou mais adepto da verdade, mesmo que implique ver mais próximo do nariz, sou mais adepto da verdade.

Parece antagónico que, contrariando a crença geral, me pareça que o raiar do sol esconda mais do que mostra e que o seu, ainda que pálido, escurecer resulte no contrário. Contudo, é o que me parece.
Repare-se que não há uma só face em nada. Repare-se que Hitler odiava as pessoas mas amava o seu cão. Repare-se que muitos se amam mas odeiam os espelhos. Repare-se que quanto mais brilha o sol mais nítida é a sombra.
Assim vejo o mundo, mais escuro que claro, mais esbatido entre mim e minha sombra, mais próximo de uma simbiose do que de uma total diferença.
Assim vejo o mundo, quanto menor a ilusão mais facilidade tenho em olhar para o céu, quanto maior a certeza menos necessito da copa das árvores.

Então, porque prefiro que, ainda assim, se soltem uns raios que alumiem a escuridão? Não faria mais sentido que a noite fosse a minha imagem de verdade?
Bem, talvez faça sentido mas não corresponde ao que encontro quanto (tento) manter os olhos abertos.
Vejo as ruas com um misto de realidade e esperança. Não acredito em tudo mas também não duvido de tudo. Aqueles raios que rasgam o céu e que vêm até mim são isso... o espaço que guardo para o que não sei e para o que espero, para o punhado se açucar que impede que o meu sangue seja demasiado azedo.

A realidade deve ser pulvilhada de esperança mas nunca o contrário.