Tuesday, April 24, 2007


Solidão anda sozinha
e eu também.
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Os passos repetem-se
mas a paisagem congela.
Os prados querem-se
mas a montanha apela.
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Cantam as cotovias, as sereias de hoje,
há um momento de adrenalina química.
Não sabe a lesma porque a voz quente
lhe aparece nos olhos como mímica.
Não pode ela correr sem pernas,
repele, por isso, quem por ali passa
sem atentar em subidas ermas
que, a quem pula, o peito não cansa.
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Não estranha o desinteresse,
afinal, não dá valor ao ar que respira,
custa-lhe roçar o chão... como se ele moesse...
custa-lhe não ver o céu... o sonho morria.
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É a sina dos gigantes presos
em corpos frágeis ao toque.
Destino dos olhos receosos
que quando abrem a fantasia morre.

Monday, April 23, 2007

Vaidade?

De vez em quando dou um passeio por outros blogs, aliás, diariamente visito uns quantos e de vez em quando dou um passeio por uns aleatoriamente (mais isso).
Acho que sofro de um profundo problema de egocentrismo.
Raramente encontro alguma coisa que me desperte o interesse.
Contrariamente (acredito eu) à maioria das pessoas que gostam de escrever eu tenho um interesse muito diminuto por ler.
Explicação pessoal para esse facto:
A maioria dos criadores de blogs encaram os seus textos como uma aproximação ao que gostariam de ser ou um preconceito daquilo que as outras pessoas esperam ou gostam de ler.
Raramente sinto realidade e pulsação forte, as coisas são maioritariamente mornas e a puxar ao sentimento.
Não lher reconheço verdade mas uma construção repetitiva do estilo o amor é lindo.
Os blogs que acompanho com maior frequência não são particularmente bem escritos e nem eu quero que sejam, são criações verdadeiras e directas, com pouco de artístico e muito de crueza.
Explicaão dolorosa para esse facto:
Não tenho interesse por mundos que não o meu.
Os acontecimentos externos dizem-me pouco ou quase nada.
É-me indiferente o que se pensa sobre isto ou aquilo porque acho que apenas a minha opinião interessa.
Prefiro a primeira explicação, no entanto, se for a segunda também não ficarei triste, apenas me deixará menos satisfeito.

Thursday, April 19, 2007


Não tenho mais sangue,
saiu-me pelos olhos.
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Quem quer nada?
Ofereço vazio com ausência,
dou e encarrego-me da leva
sem custos... levem-me a essência.
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Ninguém cá mora,
mudaram-se há algum tempo
tementes da chegada da hora
da chama se fazer incêndio.
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Largaram os pertences valiosos
e salvaram os dedos.
Arrependem-se do abandono
mas terra árida não tem dono.
Anos antes, quando havia solo fértil,
araram e cultivaram narcisos.
Anos antes, com esperança no cantil,
saudavam a aurora com sorrisos.
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Estranharam....
não se deu nenhum terramoto.
Estranharam....
não veio nenhuma tempestade.
Estranharam....
o ar morreu de morto.
Estranharam....
a terra morreu antes da idade.
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Não lhes deram respostas
e sentiram as paredes apertar.
Não fizeram perguntas
e pegaram a trouxa sem hesitar.
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O sol caiu,
a terra abriu,
a chuva desceu,
o narciso morreu,
o ar pesou,
o fogo chegou,
a maré subiu,
a casa ruiu.
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Sorte que já tinham desaparecido,
Azar do ilhéu que ficou perdido.

Thursday, April 12, 2007


Até quando...

Não sinto o sonho a crescer em mim porque não acredito que ela vá acontecer.
Uma vez ou outra, porém, só dou por ele quando se desmorona.
Vou-me olhando para outro lado, vou-me distraindo, vou fazendo coisas diversas.... e enquanto deixo rolar, os alicerces vão-se instalando nas traseiras e passo a gostar da nova divisão da casa.

Depois chega o previsível tsunami e vai tudo com a puta que pariu.

Até à data sempre saí incolome de desilusões e desgostos, nunca chorei nem nunca me senti frustrado ou particularmente triste.
A dúvida sobre a força ou a fraqueza de levar assim o tempo existe e é visível mas prefiro nem sequer olhar, prefiro nem sequer questionar, prefiro manter-me isolado.

A questão que hoje se me coloca, por força de acontecimentos e não de uma vontade de responder em movimento de reflexão, é até quando eu vou aguentar isto.
Em que momento vou ser preseguido pelo que destruo, em que momento os fantasmas deixarão de se esconder e decidirão segurar-me pelo braço, em que momento me paralisarei, em que momento deixarei de andar no ar e terei de pensar em pessoas, em que momento a Grota de Ipanema cantada por Astrud Gilberto e acompanhada ao sax por Stan Getz deixará de ser um som para uma ocasião e passará a ser a banda sonora constante e repetitiva.

Não sei se serei um veterano de guerra cujos cadáveres que foi deixando pelo caminho lhe corroerão a alma.
Não sei se permitirei sequer Be amazed by the way you love me.

Hoje, como em milhares de outras horas em milhões de outros momentos, não posso ficar deitado, não posso lamber feridas, não posso esperar passar... tenho um dia ocupadíssimo em que estes minutos que perco a escrever me farão muita falta.

Solução?
Bem... se responder por experiência adquirida direi que sou burro como o caralho, fui um iludido e isso não voltará a acontecer.

Infelizmente não é verdade, no entanto, terei de trabalhar rapidamente o auto convencimento, não tenho tempo para sangrar.

Até quando...

Wednesday, April 11, 2007

Arte


Discussão parecida com a do Sexo dos Anjos... mas são as que mais gosto.
Muito se discute sobre o que é Arte e o que não é.
Há uma tentação quase visceral de tentar qualificar a Arte como boa ou .
Eu entendo a Arte como desprendimento.
Parece-me que se a Arte é expressão do seu criador (e parece-me que efectivamente o é) esta sempre o será se a intenção de quem a cria for verdadeira para ele.
Em termos simplistas, entendo a Arte mais como uma intenção do que propriamente como um resultado.
Não me parece que pelo simples facto de uma peça/música/livro ter um apelo a uma larga massa de pessoas a torne comercial... o que, para mim, a torna comercial e por isso de nível inferior é o seu criador, quando a decide criar, pretenda que a massa de pessoas a aprecie.
Não é porque a música do Justin Timberlake é ouvida por muitos que ela é comercial, ela é comercial porque é feita no intuito de vender.
Se a Arte é liberdade qualquer constrangimento a expectativa da aceitação castra-a.

Tuesday, April 10, 2007

Divisão


Não se precisa mas quer-se.
A fita dourada que envolve os melhores presentes não está lá por necessidade mas porque se tem vontade que ela lá esteja.
Erradamente, a meu ver, a segurança de uns quantos advém do sentimento que outra pessoa precisa deles.
Existe, erradamente também, um sentimento impregnado de que se precisam de nós não não irão largar.
Muitas vezes senti na pele este errado princípio.
Não conheço uma única necessidade, retirando o respirar, que não seja passageira.
Quando se tem fome, come-se.
Quando se tem sede, bebe-se.
Quando se está cansado, descansa-se.
Quando se está sozinho, procura-se companhia...
... e todas estas necessidades são, ainda que temporariamente, satisfeitas e deixam de o ser.
Por outro lado, o que se quer dificilmente é satisfeito porque dificilmente uma qualquer porção nos satisfaz.
A vontade é bem maior e mais duradoura que a necessidade.
Aquilo que deixa uma marca no corpo é o prazer porque por ser, eventualmente, desnecessário é incumensuravelmente mais apreciado por não ter um qualquer constrangimento.
Eu não tenho necessidade de beber um Taitinger mas gosto bem mais dele do que de água.
Sobrevive-se com o que se precisa e vive-se com o que se quer.

Monday, April 09, 2007

E ao que Parece...

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...uns que se julgavam indomáveis têm dono,

........uns que se julgavam corajosos têm medo,

.............uns que se julgavam verdadeiros preferem mentir.

(aplicável com a mesma ou maior eficácia e acerto ao sexo feminino também)

Sunday, April 08, 2007

Só quero...


O pessoal sofre demais, sente demais, preocupa-se demais, é dramático demais... e pede de menos.

Cada um sente a dor como muito bem entende ou da forma que consegue sentir.
Impossível avaliar de fora o que sente uma outra pele quando tocada por um espinho.
Chega a ser ridículo o entendo-te que se ouve por todas as artérias do corpo.

O horizonte quando tocado deixa de o ser e torna-se em mais um ponto de satisfação instantênea e passageira, um prato feito em micro ondas que enche mas que não sabe a nada.
Não me chega ter um outro corpo que me aqueça a cama, consigo fazer isso sem ajuda, na verdade, tenho até mais espaço o que torna o descanso ainda mais descansado.

Quando tudo que se quer é ter alguém a vida não é acção mas antes espera.
Pior, uma espera que parece que se movimenta quando se encontra quem não é. Depois é ver que estamos na mesma paragem, à espera do mesmo autocarro, a olhar pro mesmo relógio que não anda, com os mesmos sapatos presos ao chão e nada mudou, apenas o desespero aumentou.

Quando penso em algumas pessoas que conheço (pensar...movimento arriscado em si mesmo) constato que um dos motivos pelo qual as caminhadas delas terminam frequentemente em ilusão de movimento e em solidão acompanhada é a ideia que alguém as tem ou as vai fazer feliz.

O peso de ser responsável pela felicidade alheia atrofia o musculo que uniria as pessoas porque o escrutínio é dendo demais.
Caralho, o coração não bate fora do corpo (por muito lirismo que se abata sobre a mente) e esta gente acha que o bem estar vai aparecer na esquina.
Não querem a partilha mas transmitir para as mãos de outro o lápis que irá carregar a linha do mapa que se quer seguir.

O que se quer está lá para ser entregue e não conquistado.

Wednesday, April 04, 2007

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Ontem foi o meu aniversário.
Como se previa, passei-o de ressaca, felizmente. Sinal claro de que apesar de não ligar nenhuma a datas festivas, ainda assim, é uma desculpa para um punhado de gente (amiga) virar uns finos e derramar uns wisks.
Não me importo de ficar mais velho, na verdade até gosto, o que me faz cada vez mais confusão é a célebre "onde se mete o tempo que não dou por ele passar?".
É impossível em datas como esta a mesa não girar em torno de coisas passadas, vividas em conjunto, histórias pós meia noite, férias anteriores.... sempre foi assim.
Ontem, como já me tinha acontecido, reparei que já tenho coisas que aconteceram há 10 anos.
Foda-se... 10 anos...
Lembro-me claramente de quando 6 meses parecia muito tempo, quando achava que todos que tinham mais de 20 anos eram adultos e mais de 30 eram velhos.
O tempo não passava, era chavalo, davam-me ordens, mandavam em mim, tinha horas para chegar, horas para sair, aulas que tinha de assistir, contas que tinha de prestar... era muito chato.
A vida era um círculo minusculo de cafés e umas horas de estudo.
A vida era mais umbilical do que é agora.
O horizonte estava à distância de um braço.
A preocupação era nenhuma, as coisas desenrolavam-se em ritmo próprio.
Desde que a minha vida adulta começou, quando deixei os bancos de escola, abracei-a como ainda abraço.
Sou dono, nunca gostei de ser propriedade.
Uma coisa digo... a este ritmo, quando parar para olhar outra vez, vou ter mais 10 anos.

Monday, April 02, 2007

Era o que mais Faltava!!


De há uns tempos para cá ando em tentativa de amenização.
O dífícil trabalho de controlar o meu temperamento, a minha impetuosidade e, especialmente, a minha incapacidade de ser fléxivel é exaustivo e, muitas vezes, hérculeo.
Poderá parecer que esta tentativa tem por fim ser melhor aceite e, até, demonstrar ao mundo que sou ou me estou a tornar num gajo porreiro.
Não é nada disso.
Esta minha empreitada nasce da necessidade que eu sinto de ser menos repentista e mais cerebral para com as coisas que não me agradam.
Percebi, talvez tarde, que apesar de me parecer que o mundo gira em meu torno e o que me incomoda deve ser eliminado não é uma maneira boa de se viver.
Acho que está na hora de me domesticar e aprender a sentar-me à mesa com quem, eventualmente, não teria muita vontade.
Não é sentar-me à mesa com quem não gosto (isso ainda não faço e dificilmente farei) mas com quem não me aquece nem me arrefece.
Apesar de tudo isto sei claramente que não vou renascer, aliás, nem quero.
Não é minha intenção acinzentar-me e tornar-me politicamente correcto e desprovido de opinião.
Quero, simplesmente, ser menos fogo e mais água.
Ora, o problema é quando me provocam.
Eu até ando numa de me explicar se me pedirem e eu tiver algum respeito ou afectividade por quem me questiona.
O meu limite de tolerância está melhor mais ainda não saiu de zona crítica.
Quando massacrado com porquês e porque nãos a estaca zero apresenta-se seguida de um:
"É assim e acabou!! Vai chatear o caralho!!"
Tento socializar-me mas jamais serei o cão dócil de patas para o ar à espera de festas.
Não quero que o meu eu monstro desapareça, é parte de mim e é o meu protector (bem como das pessoas a quem quero bem), apenas pretendo que não seja ele a mandar em mim nem que ele seja todo eu.
Uma coisa é certa e parafraseando o sapiente Zack de la Rocha:
"Fuck You!
I won´t do what they tell me!!"
Não sou de chamar ninguém de génio, especialmente aqueles que apesar de manifestamente dotados decidem a destruição pessoal de uma forma clara (se bem que são tantos...nem sei se não será uma característica em sim).
Este clip é de Mad Season, aquilo que de forma comum se poderia chamar de super banda.
Um daqueles projectos que juntam músicos de várias bandas para um one time gig.
O vicalista, Layne Staley, era um tipo claramente atormentado (é escutar esta música e todas as restantes deste album bem como a discografia de Alice in Chains), o que era precisamente o que me atraia nas letras dele.
Não acho particular graça às letras de felicidade porque o planeta não é um lugar feliz.
Não me entusiasmam as músicas de perda e sofrimento porque a perda é uma benção quando abrevia o que seria perdido mais tarde ou mais cedo.
Gosto de quem mostra os demónios porque não tem motivo para os esconder e, além disso, acredito que a luz do dia é a kriptonite do mal que existe nas pessoas.... e ele existe em todos.
Gosto da demonstração do desespero que todos temos e que não tem de ser alimentado mas antes aceite e ultrapassado.
Pra quem gosta ou queira saber do que falo, fica o link
"Long gone day,
Who ever said we would wash away with the rain"
(estre trecho não pertence ao clip...mas apeteceu-me transcrever)