Wednesday, June 29, 2011

Ontem lembrei-me de tempos idos em que via a minha avó e, ainda que durante pouco tempo, a minha mãe a lavarem roupa na pia. Sim, houve um tempo em que não havia máquina de lavar em minha casa.
Isto não diz muito além do facto de que hoje estamos (virtualmente todos nós) melhor do que há anos atrás. É uma evidência que me parece indiscutível até, se não nos interessar ver mais do que isso, pelo facto de que a idade em que batemos a bota vai ficando cada vez mais avançada.

Contudo, como acontece a quem come pela primeira vez marmelada, o monstro ganhou uma vida própria. Este consumismo consome-nos. E não me entendam mal, eu gosto muito de coisas mas houve um ponto numa qualquer linha em que o consumismo ultrapassou a produção.

Como não sou matemático, estatístico ou coisa parecida vou limitar-me à diferença com que o trabalho é encarado.
Num mundo ideal, o trabalho é encarado como uma contribuição para o todo, como um orgulho, brio naquilo que fazemos e, por conseguinte e em consequência, trata das nossas necessidades.
Num mundo menos ideal e mais próximo, o trabalho serve para irmos melhorando de vida, trabalhando para termos mais riqueza para, posteriormente, podermos adquirir o que queremos, sejam viagens, carros ou telemóveis.
Neste mundo, primeiro queremos e depois trabalhamos. Desde há, talvez, duas décadas passamos a comprar primeiro para pagar depois e o trabalho transformou-se neste eterno correr atrás do prejuízo.

Impacto?
Quando o trbalho falta ficamos agarrados a coisa nenhuma, porque não poupámos, e a dever o que não temos, porque ainda não havia dinheiro mas já havia a coisa.
Esta inversão de prioridades (poderia dizer de valores mas isso far-me-ia sentir muito mais velho) está a aniquilar-nos...e, visto assim, até parece impossível; parace impossível que o carro que temos à porta de casa nos fodeu; pior, parece impossível que o nosso telemóvel, que acabámos de desligar, ainda nos fode.

Há uns tempos li um livro chamado O Lobo de Wallstreet, uma história contada pelo próprio lobo. Ora, no caso dele, não esperava que a televisão e a publicidade fodesse os seus empregados, não; este encorajava-os, a plenos pulmões, que gastassem o que não tinham porque era certo que viriam a ter.

A cenoura está sempre um palmo à frente do nariz.

Tuesday, June 21, 2011

Porque Avança o Cinismo?

Como me parece uma evidência coloquei desta forma.
O cinismo espalha-se como um verdadeiro cancro, um cancro social em que cada um de nós (se bem que, felizmente, não todos) se torna numa nova célula cancerigena.
Não é minha intenção, como habitualmente, alongar-me muito sobre as causas "esotéricas" do "porquê?" mas deixarei 3 exemplos que, a meu ver, alargam o espectro desta crescente maleita e, verdade seja dita, uma maleita lamentável mas quase inevitável.

André Villas-Boas

Este era até há 1 dia atrás o treinador do meu clube.
O meu clube deu-lhe uma oportunidade única na sua tenra idade e além da oportunidade deu-lhe tudo o mais que foi possível, onde se inclui um massivo apoio dos adeptos.
Em retorno recebemos títulos (que apesar de serem do clube e não do treinador este último tem uma enorme fatia do mérito) e jurou eterna fidelidade ao clube dizendo que aqui ficaria independentemente das propostas que recebesse.
Pois, não aconteceu.

O cinismo alimentado aqui não se prende com a sua ida, prende-se com a maneira como vai.
Nunca criticarei a vontade de evolução e de ganhar mais dinheiro de ninguém, quando se é profissional é perfeitamente legítimo até porque, sejamos honestos, se o profissional, no caso o treinador, não ganhar mandam-no embora. Há uma relação de reciprocidade na precariedade da relação.
O que critico e muito me irrita são as promessas e as certezas que deixam de o ser em minutos; é a quebra do prometido que nos desmonta os sentimentos e entenebrece a alma.
Se prometesse menos amor teria ido abençoado pelos que querem outras e melhores coisas; prometendo a quantidade de amor que prometeu sai como um mentiroso.

Fernando Nobre

Com este e o próximo perderei menos tempo porque ainda são mais ridículos.
Dizem (não quero saber se é verdade) que é um tipo que muito ajuda a sociedade e que é de um enorme prestígio.
Este ilustre concorreu a Presidente da República e a base da sua campanha, a sua dialética, era anti-partidos e, se quiser ser menos benévolo e algo exagerado (que não muito) até anti-democrático e anarquista.

Perdida a campanha, foi convidado e aceitou fazer parte das listas de um partido político (?) e, para que nenhuma dúvida restasse quanto à sua baixeza moral, aceitou fazer parte do que 1 mês antes elogiava, no mínimo, como sujo mas apenas para se tornar, depois de eleito, Presidente da Assembleia da República... Assembleia da República que, nas palavras deste tipo era qualquer coisa como uma casa de putas das mais reles.

Foi eleito mas os outros, aqueles que foram insultados, aqueles que laboram naquele antro mandaram-no, quase profeticamente, foder.
Foi bonito!!
Aqueles que eram descrito, no mínimo, como habitantes de uma enorme pocilga não o quiseram para o que ele queria ser: O Rei dos Porcos.

Francisco Louçã

Serei curto porque muito teria para dizer da esquerda política e ainda mais deste pequeno Lenine (ia dizer Estaline mas pareceu-me um pouco demais).

Bem: este decidiu não falar com a equipa que veio cá para nos emprestar dinheiro. Não direi que veio cá para nos salvar porque também têm uma agenda própria mas...quando apenas eles nos emprestam o dinheiro de que precisamos para sobreviver...
Voltando: chamou-lhes de tudo, sendo que o mínimo foi agiotas, e a farsa era tão grande que se recusou a participar.

Depois da banhada nas eleições (perdeu METADE dos deputados) veio dizer (julgo que ontem) que foi um erro colossal não ter ido falar com os estrangeiros. Não porque sinta que o deveria ter feito, afinal entende que está coberto de razão, mas porque os portugueses não entenderam o que ele fez e castigou-o.

Repare-se: Eu fiz bem mas como os portugueses não gostaram eu devia ter ido. Devia ter ido para dizer que não ia, ou seja, precisava de uma fotografia que provasse que eu entrei na sala para os portugueses verem mas, uma vez lá dentro, madava-os foder.
Assim, enganava o povo e ele já não me castigava.

A estupidez, contudo, é esta: independentemente desta posição de um chauvinismo atroz, os portugueses não o castigaram por isso; na verdade, o Partido Comunista fez precisamente o mesmo e até ganhou um deputado em relação aos que tinha na anterior legislatura.
A estupidez continua a ser este tipo pensar que os outros são estúpidos mas nunca ele.
A este, felizmente, nem o cinismo salvou.

Saturday, June 18, 2011

O número de tentativas de descrever o que se entende por amor e o que dele se pretende retirar e o peso do mesmo são demasiadas para se atirar um qualquer número.
No fundo, na minha opinião, a descrição ou a definição ou o que ele representa parte de onde parte tudo o resto: daquele que a diz ou que a tenta.
Por muito que tentemos ser objectivos, e eu sou dos que tenta mesmo, este nunca é um objectivo realista; quanto mais temos consciência desta limitação de não nos ser possível ver o que existe mas antes o efeito do que pensamos e vivemos sobre o que existe mais perto do ideal nos aproximamos mas, ainda assim, apenas nos aproximamos.

Quando penso nesta coisa do amor e do que ele representa e de como o podemos descrever ou encarar assolam-me partes de músicas, cenas de filmes e, muito reduzidamente, literatura ou poesia.
Porquê?
A explicação talvez não seja simples mas, para mim, as palavras, sozinhas, são pouco para me transportar ao que julgo sentir sobre o assunto; preciso de uma dialética de elementos, preciso de palavras e sons ou de palavras e imagens. Quando um dos elementos se encontra separado do outro, neste caso, parece-me exactamente isso: um elemento separado do outro.

Coisas que aos meus olhos - e ouvidos - são românticas: "Desafinado", "Chega de Saudade", "Samba e Amor", "Tive Sim" e "Acontece", "O Tigre e o Dragão", "Paris/Texas", "Dance Me to the End of Love", "Kramer vs Kramer", "Problema de Expressão" e, para não tornar isto demasiado exaustivo, a frase "I want you to notice when i´m not around" da Creep.

Quase tudo trágico, quase tudo com uma ponta (ás vezes mais) de desespero...porque quando não caminhamos e não queremos caminhar sozinhos a coisa é mais melódica, mais colorida mas infinitamente mais trágica.
Quando sentimos dependemos e quando dependemos estamos perdidos. Gostaria que fosse uma escolha mas não é; Gostaria que fosse mentira mas não é.

Thursday, June 16, 2011

Gostava de ser mais indiferente aos discursos que ouço. Ser-me-ia útil e bastante benéfico à saude e sanidade mental.

Não sou daqueles que acham que o povo é parvo mas também não o acho genial. Entendo-o como entendo a maioria das pessoas (talvez isto seja uma outra definição de povo): não as acho burras nem geniais.
O que é engraçado é ver que quando alguém se dirige às massas entende-a, quase em exclusivo, como um destes polos opostos; este alguém é capaz de mentir escandalosamente e crer que a massa que o ouve acredita mas, no mesmo discurso ou talvez num outro tangencial, é capaz de apelar a conceitos densos, indeterminados e para os quais só gente preparada é capaz de entender (reparem que disse preparada e não inteligente).

Reparem o que por aqui se passa, por aqui Portugal e, até, por aqui Europa:
Há uma preocupação geral de que o continente, bem como Portugal, esteja a virar à direita e a verdade é que está mesmo; há também quem entenda esta viragem como preocupante e a verdade é que é mesmo...não por ser à direita mas por ser extremada ou em vias de extremar e isto sim é preocupante: o extremar, quer seja à direita ou à esquerda.

Ora, muitoas artigos de opinião entendem esta viragem como consciente, ou seja, uma vontade intrínsica de largar valores de esquerda ou de centro em favor da direita.
Não acho nada disto.
O que acontece é que isto está uma merda, desde a economia ao civismo. Há uma debacle económica que leva tudo atrás de si como, de resto, é habitual.

Então, quem perdeu foi quem estava à frente dos respectivos países quando a coisa correu mal. Não interessa às pessoas (de forma correcta ou não, não discutirei isso agora) a inclinação teórica ou agendas ideológicas quando sofrem e não encontram uma saída; não interessa se endeusam Marx ou Engels, se preferem Hitler ou Estaline e, em casos absolutamente extremos, se são do Porto ou do Benfica. O que interessa, e nada mais interessa, é que a sua vida, tal como a conhecem, não acabe; o que interessa é que haja pão, o circo vê-se depois.

É interesse, tudo é interesse.
A ideologia é tema de assunto para muitos mas modo de vida para uns poucos afortunados que se podem preocupar em convencer os outros porque alguém lhes trará a fruta à boca.

Saturday, June 11, 2011

O caminho faz-se caminhando....

Volta e meia ouve-se e lê-se isto, uma citação de um poema de um grande poeta castelhano.
A nossa sociedade e o nosso mundo intelectual é isto: uma frase estúpida que tem relevo como uma verdade insondável (que é, daí ser tão ridícula) porque foi um tipo que terá sido um grande escritor que a escreveu.

Não há sentido crítico mas sobra estupidez.

Thursday, June 09, 2011

Relatividade

Infelizmente, há muita coisa com a qual não concordo mas, a bem da minha sanidade, tenho de aceitar porque existem e são o que são.
Em traços gerais, esta é a minha linha de pensamento para quase tudo: vejo o que lá está e não o que gostaria que lá estivesse (parece óbvio e claro mas, segundo me parece pelo que vejo e leio e aprendo, é uma linha, digamos, filosófica minoritária).

Aqui entra a relatividade.
Porque não me apetece falar de experiências pessoais, vamos falar, por exemplo, do Dr. House. Será igualmente claro ou pelo menos tão claro como se usasse um exemplo real e não me obrigará a andar por onde hoje não tenho vontade.

Ontem estava a ver um episódio antigo e, em traços largos, o Wilson decidiu dar parte do seu fígado a um tipo de quem era médico e amigo e, naturalmente, o House achou a maior das parvoíces (que, de facto, era). Ora, ao que parece, este tipo de operações são muito arriscadas e o Wilson pediu ao House que ele estivesse presente para, digamos, segurar-lhe a mão. O House recusou e quando questionado porquê respondeu:
"Porque se morreres eu fico sozinho..."

Em condições normais ou se fosse uma outra qualquer personagem de uma outra qualquer série estaria aqui (bem, não estaria mas pensaria) a troçar de algo como que homo-erótico ou que tinha sido uma meninice e tal... como se repara, não estou.
Olhando para a personagem e para a personalidade da mesma a frase que transcrevi teve o dom de me quase deprimir; pode parecer exagerado mas aquilo dito por aquele é das coisas mais tristes que ouvi, um desespero incontido por alguém que, pretensamente, não quer saber; um fatalismo cortante; um choro muito mais intenso do que se as lágrimas corressem de facto.

Isto incomoda-me.
Gostava que as coisas, bem como os sentimentos, tivessem um valor intrínseco e absoluto, que tivessem o mesmo peso independentemente do meio pelo qual nos chegassem mas a realidade é muito diferente. As coisas, e os sentimentos, surgem empregnados do odor daquele que as diz ou transmite, o seu valor é atribuído naquele momento.
Isto é triste.
É triste porque, assim sendo - e não tenho dúvidas de que é - a morte e a vida com tudo que pelo meio existe, não tem um preço único e, como nas mercadorias que compramos numa qualquer mercearia, é muito diferente o valor, por exemplo, do sorriso daquele que sorri incessantemnte e daquele que muito raramente o faz.

Tuesday, June 07, 2011

Ia falar de coisas pretensamente pesadas e densas mas, felizmente, de vez em quando deparo-me com a relatividade de uma alegria ou de uma tristeza, de uma beleza ou de algo ofensivo aos olhos, da inevitabilidade do fim que apesar de inevitável não tem de ser um o equivalente a um poço podendo ser o raiar de uma nova consciência.

Então, para mim, a música é dos únicos elementos que conduz a consciência onde ela não estava antes, um dos únicos fenómenos que pode iludir uma preocupação ou uma tristeza sem se esforçar.

Ignorem os empedrenidos intelectuais que apenas apreciam o que foge à maioria, ignorem aqueles que definem, no seu pequeno mundo de masturbação, o que é vanguardista e atrasado, o que é merecedor de nos tocar nos tímpanos e o que deve ser encarado como cancerígeno.
Abracem o que vos arrepia, o que vos emociona, o que vos leva daqui, o que não têm de explicar, o que é um fim em si mesmo; abracem o que não vos engana, o que não tem de ser decidido como pedra preciosa, o que não vos pede e apenas vos dá.

De volta ao início, um clássico Fundo de Quintal por Maria Gadu.
É deste video que saltou de um e-mail a responsabilidade pela minha presente letargia, essa abençoada letargia que não precisa de desculpa.

http://www.youtube.com/watch?v=2JTnQq91im4

Saturday, June 04, 2011

Não gosto de sentir que me tentam doutrinar e sinto-o por todo o lado.
Compreendo que é uma táctica mais legítima do que a imposição, pura e simples, de valores mas também a entendo como mais suja. Caso tenham algum tempo e alguma vontade passarão a encontrá-la em todo o lado, desde jornais a filmes, desde programas de televisão a livros.

A mais perigosa forma de sermos influenciados é por um desgaste que nem sequer sentimos. É muito fácil revoltarmo-nos contra alguém que dá uma palestra ostensivamente para um determinado fim com o qual não concordamos ou sentirmo-nos incomodados com um livro de reportagem ou de filosofia que defente um ponto de vista que nos desagrda.
O problema não é isto; o problema não são os vendedores de posições encartados; o problema são todos os outros vendedores que nos aparecem quase como amigos, aqueles que nos oferecem entretenimento virtualmente inócuo mas que está longe de o ser.

Reparem, por exemplo, nos filmes que nos atiram à cara, vezes e vezes sem conta, a história do final feliz no amor: como todos (mas mesmo todos) sabemos isto pura e simplesmente é falso! Todos já estivemos apaixonados(ou amamos) e a coisa correu terrivelmente mal e, se formos despojadamente honestos, a maioria absoluta vai reconstruir relações que por muito que funcionem são um remendo para "aquela que queriamos" e não funcionou.

Outra que nos vendem é a da felicidade em resultado da riqueza. Aqui, os filmes não estão sozinhos, estão muito bem acompanhados pela publicidade e por gente que ganha dinheiro a mostrar que tem dinheiro (mesmo quando não tem) e que por isso é feliz.
Gente, isto é uma falsidade!
Não serei eu a dizer que o dinheiro não ajuda muito! Sou muito materialista e nunca o poderia dizer. É sempre preferível ser rico; é preferível ser doente rico do que doente pobre; é preferível ser infeliz rico do que infeliz pobre.
O que digo é uma outra coisa! A partir de um certo bem estar (que está a kilómetros de se ser bilionário) não ficaremos mais felizes, o rácio € - felicidade deixa de funcionar.

O que, no fundo, quero dizer é que devemos ser críticos...não cínicos mas críticos.

Thursday, June 02, 2011

Tenho andado a ler Fukuyama e esta leitura lembrou-me uma antiga crença que apesar de paradoxal tem moldado o andar das minhas pernas: a Igualdade.

Por natureza, tenho de pensar que sou melhor e que sou mais do que a maioria. Pode ser verdade e pode ser mentira mas é uma mentalidade inculcada por anos e anos de desporto competitivo (pode parecer pleunasmo mas não é) e de factores e actores externos que me transmitiram o mesmo.
Não me contento com nada, tudo que ganho é passado no momento seguinte e tenho uma enorme dificuldade em ponderar a derrota; hoje sou mais diplomático com os outros quando não ganho mas sou implacável comigo, como sempre fui.

Agora, não acho que por acreditar que sou ou por efectivamente ser melhor que a maioria devo ser beneficiado. Não encaro o vencedor como melhor que o vencido em termos de dignidade humana, respeito e valor intrínseco.
Metafisicamente somos iguais, eu a eles e eles a mim; não pode nem deve pisar quem está por cima só porque pode; não pode nem deve ser pisado quem está por baixo só porque teve um sucesso inferior.

São igualdades diferente. Uma delas é inerente ao facto de sermos pessoas e outra à nossa posição, por esforço, capacidade e competência.
Gosto de justiça e detesto a mediocridade.

Face Qualquer Coisa

As redes sociais!
A discussão das redes sociais, quando eu estou incluído nelas, é quase uma guerra de defesa pessoal (dos outros), uma luta pela diferença com que estas são encaradas por todos.
Antes de tentar explicar o que quero dizer com isto será útil dizer que sou um antigo dependente de redes sociais; fui dos primeiros dos meus amigos a entrar nestas coisas (bem pré Facebook) e a perder (a maioria das vezes) horas sem memória nisto. Enchi-me destas coisas quando percebi que os meus dedos passeavam muito mas muito mais que as minhas pernas.

Bem, voltando à coisa.
As redes sociais são antros de engate!
Esta minha convicta afirmação é causa de grandes indignações por parte de quem por lá anda mas, quando o ponto de vista é explicado (o que não farei agora porque não me apetece) a esmagadora maioria concorda comigo mas esta mesma maioria do mesmíssimo número diz que com ela é diferente.
Ora, como não somos parvos, sabemos que mentem; não é, pura e simplesmente, possível que a maioria absoluta que está lá para o engate seja a mesma que está lá por outras razões.

Isto leva-nos a ver-nos ao espelho.
É este o país que existe, o país em que preferimos ser aquilo em que acreditamos do que aquilo que realmente somos. Isto nunca poderá acabar bem. Não podemos viver nisto, não podemos acreditar que voamos porque o chão é muito duro, não podemos acreditar que somos mais altos porque não conseguiremos colocar o leite na prateleira.
Mas é por aqui que nos entra esta coisa das redes sociais. É a terra prometida! É um lugar em que somos mais bonitos (a melhor foto que temos é sempre melhor que a cara que encontramos no espelho quando acordamos), somos mais altos, somos mais magros, somos mais inteligentes (a wikipedia e o google são siameses) e muito mais interessantes (porque ninguém vê os Batanetes mas todos são fãs de Tolstoi).

Eu andava nas redes socias por dois motivos: primeiro para engatar gajas e segundo para escrever coisas.
O segundo apareceu bem depois do primeiro e foi uma "revolução" para mim, não porque tinha ou tenho alguma coisa de especial para dizer ou porque o faça com mestria mas porque escrever sempre me acalmou e permitiu ver-me como não permitdo que os outros me vejam e ainda porque sou desorganizado e assim tinha tudo mais ou menos junto.

Na verdade, este blog nasceu da mesma necessidade que tinha nas redes sociais e resultou da outra vertente, igualmente penosa, das mesmas: o que é o início de umas coisas é, na mesmíssima medida, o fim.