Tuesday, March 31, 2015

- Pois, K, ando há dias para falar contigo porque me disseram que tu (insert cena) e estou preocupado.
- É. Nada a fazer. Tá tudo bem, agora é andar com isso prá frente.
- Pois é. Pois é. Já agora, precisava de falar contigo porque (insert outra cena) e é muito chato... Já viste? Então, o que achas? É a tua área?
- Nop. Não percebo coisa nenhuma disso. Se quiseres, posso tentar ver...
- Não te quero dar trabalho. Vou pedir a quem me trata dessas coisas.

Silêncio sepulcral.
Em condições normais, trataria do que quer que seja porque - aí está a certeza inabalável que, de vez em quando, é menos certa e inteligente - sou capaz de tratar de tudo. Aqui não. 

- Ok. Se mudares de ideias, avisa.

Não me atirem areia para os olhos. Irrita-me muito.
Nem me importo que pensem que sou burro, o que de mim acham é-me indiferente, desde que guardem para os próprios.
Tratarem-me como burro já tem tratamento diferente...

Desliguei.

Saturday, March 28, 2015

TU NÃO TENS ESTRUTURA EMOCIONAL PARA SERES REJEITADO!

Disseram-me isto há meia dúzia de minutos.
Acho que nunca tal tinha ouvido, o que não quer dizer que seja necessariamente mentira e nem me vou debruçar muito sobre isto porque nenhuma resposta me agradaria.

Ri-me muito e alto. Tem muita graça.
Quem me disse isto já foi mais ou menos rejeitada por mim, em tempos passados. Escrevo em itálico porque apesar de ter rejeitado mesmo o que fiz - como é relativamente recorrente - foi tornar o convívio comigo próximo do impossível para abrir a porta para o não és tu, sou eu.

Apesar de ter tentado (eu e ela), acho que ela nunca superou o falhanço do que acreditava ser algo que valia muito a pena, apesar de ter sido avisada que assim não era.
Acho que ela disse o que escrevi no título porque acredita que eu saltei fora antes que saltassem fora de mim. Novamente: não posso jurar que ela esteja enganada.

Bem, o que poderia preocupar muitos a mim diverte-me. O Tu Não Tens Estrutura Emocional Para Seres Rejeitado alegrou-me um Sábado que estava a ser de merda.

It´s the little things.

ODEIO SEXTAS...

Talvez porque não goste particularmente de gatos, sou a antítese do Garfield, que odeia segundas-feiras, e o Garfield é a representação da maioria das pessoas e não apenas dos gatos para quem o dia da semana é indiferente...bem como os donos.

Desde que me lembro que assim é. Trabalhar às sextas-feiras é uma dor d´alma, daí optar muitas vezes por virar uns finos e outro tipo de coisas às quintas; as sextas estão quase sempre perdidas.

Talvez o problema seja que não encontro grande coisa para fazer ao fim-de-semana enquanto o sol se anda a mostrar;
Talvez seja porque durante a semana há menos de tudo durante o dia e prefira andar onde não anda mais ninguém, onde não há expectativa de algo de grandioso acontecer, que é quando, normalmente, acontece;
Talvez seja porque prefiro o que os outros não preferem exactamente porque não preferem.

De qualquer maneira, independentemente da motivação...odeio sextas-feiras. E agora odeio-as ainda um bocadinho mais...

És muito burro! Não entendo porque trabalhas ao fim-de-semana, não te pagam para isso!!

Não trabalho em prol de quem trabalho; trabalho porque ter demasiado tempo entre mãos leva a que tenha demasiado tempo para pensar e penso muito mais do que devia.
Enquanto estou ocupado, o perigo de me embrenhar no que não devo é incrivelmente maior.

Uma das cenas que li sobre o meu signo - faço-o como passa-tempo - indicava que nós somos ou muito activos ou então completamente amorfos. A minha experiência aponta no mesmo sentido e nada de bom advém de ficar amorfo, custou-me muito sair de lá mas nadinha lá chegar.

Odeio Sextas-feiras!

UTILIDADE

Sem sair, muito, do mesmo assunto, as minhas características são muito mais úteis em tempos de crise.
Se há problemas, se há doenças, se há confrontos, se há confusões, se há caos eu sinto-me muito mais em casa. Quando acontece algo que faz com que outros tenham problemas reais os meus parecem-me muito mais parvos - e muitas vezes são - pelo que redobro forças.

É mais um daqueles casos admiráveis visto de fora, o homem com a solução, homem que, sem rodeios, gosto de ser.

Nas relações mais perenes, contudo, isto tende a ser mais problemático...
Eu, como, suponho, todos, procuro a paz mas em tempos de paz não sei exactamente o que fazer; quando tudo está bem não sei o que fazer porque às vezes é preciso fazer nada e isso joga contra os meus pontos fortes.

Há uns tempos disse por aqui que sou mais homem de funerais do que de casamentos e houve estranheza. 
Como não pretendo ser pouco claro a respeito, não é que eu goste de funerais, sendo certo que não gosto de casamentos. O que se passa é que para festejar existem filas intermináveis de pessoas e eu não sou uma delas; está lá gente suficiente, não vou fazer nada além de papar conversa da treta.
Aos funerais as pessoas fogem por desconforto, desconforto que também sinto mas que é minimizado pela dor de quem perdeu. E se nos casamentos temos muitos a saudar, nos funerais precisamos de quem por lá esteja.

Quando precisam de mim, eu estou.
Quando me querem lá mas precisam menos, sinto-me menos obrigado.

Tenho problemas quando não me sinto útil. Quando a utilidade é discutível, o meu bem-estar pessoal assume toda a importância e se não quero não faço.

Partir Em Caso de Emergência.

PORQUÊ?

Não escapo a porquês.
Apesar de parecer, à primeira vista, um gajo do Carpe Diem, não sou. Preciso de sentido para tudo, preciso de entender porque sabendo o porquê temos mais facilidade com o como.

E o porquê é importante mesmo para quem não reconhece.

Se te dão menos do que queres porque não podem é diferente de não darem porque não querem;
Se estão chateados contigo porque sentem a tua falta é diferente de estarem realmente chateados contigo;
Se te levantam a voz porque estão com medo é diferente de te levantarem a voz para te intimidar.

O resultado é sempre o mesmo, ouço dizer, e não será errado assim pensar. Não penso coisa diferente quando as pessoas me interessam pouco ou quando passam a interessar-me pouco.
No momento em que preciso de me desligar regresso ao meu cerne utilitarista: é indiferente a intenção, apenas interessa o resultado!

O Porquê interessa ou quando gostamos de saber o que se passa por questões meramente lúdicas - o que também me acontece - mas interessa muito mais quando precisamos de interpretar para não perdermos o que não queremos quando outra pessoa não tem capacidade de entender o que aquilo que fez revela.

Ah, mas isso é perigosamente perto de ver aquilo que se quer em vez do que está lá.
É.
É um jogo perigoso.
É arriscado colocar as fichas em coisas que podem ser encobertas por um ângulo morto.

Odeio Sextas-feiras...não sei se já disse.
A minha parece ainda não ter acabado, apesar de já ser Sábado.

Thursday, March 26, 2015

PORQUE NÃO SÃO SÓ BURROS QUEM FAZ BURRICES

Aconteceu isto e aquilo. Há 2 anos percebi que isto estava a acontecer. Antes não fazia ideia. Agora, disseram-me que, além de tudo, fez também aquilo. Não pode ser mais!

Quando soube destas coisas não fiquei surpreendido com quase nenhuma delas. Houve uma com que não contava mas não contava porque é, mais ou menos, impossível perceber o que vai fazer alguém desesperado porque gente desesperada é capaz de fazer tudo. Quer dizer, eu não poderia saber com igual certeza que tipo de actos é praticado nestes momentos por quem conheço relativamente mal, é mais isso.

Ora, a pessoa que me pertence a quem isto aconteceu ficou muito surpreendida. Porquê?
Porque quando nos envolvemos maior o ângulo morto que temos e quanto mais gostamos menos estamos preparados para aceitar o que facilmente se percebe mas desagrada.
Reparem, nos porque não me estou a tirar desta equação quase infalível e só quase porque deve haver excepções que não conheço e não nego à partida uma ciência que desconheço.

A burrice entra depois.
Quando tudo se sabe ou descobre; quando não há mais motivos para agarrar um barco que se afunda; quando as evidências não são mais possíveis de pintar de outra forma... as pessoas continuam agarradas a elas.
Pior!
Quando tudo isto acontece começam a desculpar, a racionalizar - no pior sentido - o porquê de ter acontecido.
Aqui não uso o nos porque não tem sido assim. Eu procura saber razão de tudo. E procuro a razão de tudo porque a razão das coisas permite ver o futuro melhor que  uma bola de cristal MAS não desculpo. Quando o futuro que antevejo se torna presente espanco-o para o passado.
A partir do momento em que a coisa está perdida o saber porquê é meramente masturbatório, deixa de interessar partilhar ou prever, é meramente pessoal.

Ouve lá! O que interessa essa última coisa que descobriste para o panorama geral?! É indiferente. Não precisas de mais nada. Há muito que devias ter dado o fora. Tenho pena que só seja agora.
Quem gosta não magoa. Não interessa como ou com o quê! Quem gosta não trata mal. Não interessa porquê!

- Então, imagina que me casava com um toxicodependente e não sabia. Abandonava-o?

SIM! Se não o consegues ajudar ou se ele não quer ser ajudado, SIM! Vais fazer o quê? Espetar, também, uma agulha no braço e sa foda?
SIM! Não vale a pena destruir duas vidas especialmente quando uma delas é tua.

Posso ser enganado. Posso não perceber. Posso ser o burro que não quero. O que não posso é admitir não estar o mais atento que a minha mente permite e às vezes, em circunstâncias específicas - como a todos - não permite o que deveria.

Posso ser o boi que é levado para o matadouro mas não o que vai alegremente,

Sunday, March 22, 2015

Legends Of The Fall

(É esquisito falar de um filme em que o Brad Pitt é o actor principal mas...)

1
- Tristan, decidimos esperar pelo casamento.
- Mas tu és virgem?
- Bem...sou...
- Não te preocupes, és bom em tudo que fazes, foder não há-de ser diferente!
- Tristan, estás a falar da minha futura mulher!
- Não vais fodê-la?!
- Pá... não é isso. Isso não é maneira de falar!
- Bem, o meu conselho é que a fodas.
(tinha razão, obviamente)

2
O gajo vai para a guerra e tá-se a cagar na guerra,
Só foi para ficar de olho no irmão e quando o irmão morreu, além de não se ter perdoado, fez o que muita gente do tipo faria: começou a matar tudo que lhe aparecia pelo caminho. Alguém tinha de pagar.
Um herói de guerra que não se interessava nada por ela. Só foi um herói e só matou o que matou porque o magoaram.
Faz diferença? 
Faz.
Coisas indiferentes como a morte de mais uma pessoa no meio de milhares faz toda a diferença quando matas a pessoa errada. O bem comum é muito importante mas o que faz as pessoas correrem é o bem individual. Correr ou, no caso, matar.

3
Não conseguiu evitar o que tentou desde o início mas, quando deixou de o fazer e foi feliz durante algum tempo, voltou a acordar o animal que fazia dele o que ele era e foi-se embora.

4
No fim, a voz off, enquanto se filma o cemitério, diz qualquer coisa como:
toda a gente pensou que ele ia morrer novo mas quem morreu novo foram todas as pessoas que o amaram desesperadamente. Ele era a rocha conta a qual as ondas se despedaçavam.

No fundo, é, também, a história de uma injustiça. A prova de que se admira e se ama gente destemperada e incapaz de se comprometer com o que se espera das pessoas.
Como já muitas vezes disse, é fácil admirar gente implacável e que não cede mas, se se parar e pensar, talvez seja, também, mais fácil ser-se assim.

Mesmo quando se age em nome de outros age-se em nome próprio porque se não faz o que se não quer.

Saturday, March 21, 2015

CENAS

A última Citação

Apanhei mais um livro do Paul Theroux, o meu escritor de viagens favorito e de quem já me fartei de falar por aqui e a citação do Thoreau veio de lá. Podia ter dito que resultou da minha leitura de Thoreau - que já aconteceu, diga-se - e seria muito mais impactante porque é tido como muito melhor que o Theroux mas...

Bem,
o que me aproxima do Theroux é o facto de viajar e falar das viagens da mesma forma que eu as entendo. Os edifícios podem ser bonitos e importantes mas um país é a soma das suas pessoas. Aprendi isso à minha custa. Quando deixei os charters e os hotéis em troca dos botecos e das ruas e dos bares.
Mas a citação: quando fiz a minha primeira viagem decente fui para uma aldeia no fim do mundo e fui sem motivo especial. Ainda era demasiado inexperiente e ignorante para entender que devia saber alguma coisa do lugar para onde vou mas, em boa verdade, naquela altura se quisesse aprender alguma coisa antes de ir iria aprender as coisas erradas e não as que descobri entretanto.

Quando estava na praia conheci um gajo que tinha dois cavalos (ou mulas, não tenho a certeza) com ar de quem iam cair para o lado à próxima barafada de vento; porque desconfiava que não me aguentassem, apesar da insistência, declinei montá-los mas ofereci cerveja e as outras cenas que tinha ao Simplício e ele ficou por lá, porque nem turistas havia, além de mim.
Este gajo fazia 2 horas de caminho para chegar à praia com os animais e vinha a pé para não os cansar; as mais das vezes, voltava como chegava, sem nada. A mulher fazia uma biscatada e tinham uma vida boa que eu entendi como miserável.

O que acontecia, contudo, era o seguinte: não sabia nem lhe interessava como andava a Nasdaq, não sabia nem lhe interessava qual o novo modelo da Mercedes, não sabia nem lhe interessava qual a cor predominante da próxima Primavera-Verão, não sabia nem lhe interessava se o Madoff existia.
A vida dele era miserável mas a sua mente, pouco instruída e pouco sofisticada, não perdia tempo com banalidades e, grosso modo, as banalidades não o afectavam de forma nenhuma.

O Thoreau foi citado em circunstâncias similares, pelo Theroux. Foi mais ou menos neste contexto mas em local geográfico diferente.
O Thoreau diz-me menos em termos conceptuais. Ele bazou, mesmo, e recusou pagar impostos. Um dos livros dele consiste e explicar, em termos mesmo económicos, como se pode viver com pouco e ter uma vida decente, no meio da floresta. Eu, para isto, não dou.
Em termos de personalidade, diz-me mais. Achou que era assim que devia ser e em vez de propagandear foi fazer. Told you, bitches! é-me mais natural do que maçãs biológicas.

Voltando ao Simplício:
eu não queria ser como ele nem viver como ele vive. Não tinha inveja. Estou demasiado metido nisto onde nasci para entender a simplicidade como suficiente.
Uma coisa vos digo, ainda assim: eu não ligo a coisas. Não interessa o meu carro, desde que não parta, nem a marca das minhas T-shirts. Infelizmente, água potável ainda é muito importante para mim, assim como uma casa de banho não partilhada pela comunidade.

Agora... que pensar que o mundo que nos vendem como importante não existe e não me afecta é uma fantasia que muito me agrada.

DORMIR COM O INIMIGO

Não é o filme da Julia Roberts nem, sequer, um mais recente com a J.LO (props para a J.Lo seguido de um suspiro e alguma intumescência). É uma alusão à pessoa com quem se dorme em qualquer lado para onde se vá e que não se consegue deixar noutro lado: o próprio.

É verdade que a estória de sermos o nosso maior inimigo é um bocado parvo e exagerado, como acontece em tudo que se assemelhr a auto-ajuda. Foi uma frase que se cunhou não sei onde e que faz o emissor sentir-se demasiado importante porque, afinal, se eu for o meu pior inimigo os outros serão sempre de somenos.
Ora, se fosse verdade, a necessidade de ser aceite, de se conformar, de se contentar, de ser admirado, de ser temido, de ser elogiado, de ser abraçado e tudo o resto seria muito menor do que é. Se quem nos pode fazer pior formos nós, os restantes interessam menos, mesmo quando interessam muito.
Como acontece com uma frequência maior que o inspirar, muita gente não faz ideia do que diz.

Não sei se poderei dizer, com plena certeza e sem dúvidas, que sou o meu maior inimigo. É-me difícil assumi-lo pelos motivos contrários aos descritos anteriormente. Se só eu interesso os outros não me podem ajudar.

A realidade, por sua vez, acha mesmo que eu sou o meu maior inimigo.

O meu mundo gira em torna daquilo que acredito conseguir fazer e de fazer aquilo em que acredito. Numa palavra: Confiança.
Como já por aqui disse, não passei a fazer exercício com alguma violência porque a minha saúde pediu mas antes porque a minha cabeça depende da imagem que tem de si e a imagem de um gajo finguelinhas não se adequa. A imagem de um gajo que pode ser ameaçado e temer responder não é aceite. Então, K, temos de começar a encher porque ossos não vão resolver os nossos problemas! E foi isso que fiz.

Presumindo que alguns de vocês pensam em músculo e na minha necessidade de os ter em volume como uma coisa de gajo violento, passarei a explicar que isso não é necessariamente verdade. Sem esconder que a questão física existe, como a Teoria do Caos, tudo está ligado.
O tom de voz com que trato as pessoas, a confiança no meu trabalho, a decisão no momento em que é preciso decidir, o confrontar quando me parece que é o que se deve fazer e a capacidade de fazer por quem merece o que deve ser feito depende de tudo. Incluindo os meus músculos.
Não é possível fechar, de forma heremética, os compartimentos. Isto funciona por vasos comunicantes: a minha cabeça avisa o meu corpo que tudo está operacional e que estamos prontos. Nós somos isto, podes estar descansado! Vamos em frente que estás seguro!

Há uns anos, um amigo meu disse-me assim: Pá...comecei a fazer jiu-jitsu porque quando deixámos de jogar (insert desporto) passei a não conseguir encostar a cabeça a ninguém... agora, tenho de bater porque tenho medo de apanhar.
Percebi-o muito bem. A confiança estava a esbater-se e gajos como nós vivem mal com isso.

Onde entra a história do inimigo?
É a mesmíssima coisa mas ao contrário.
A crença que tenho em mim impede que as outras pessoas me façam crer em coisa diferente. Então, é bastante admirável a capacidade de resistência que daí resulta; é bonito de ver o momento em que vêm tirar lã e saem tosquiados; fica bem na foto saber que mais do que dizer que faço, faço o que digo.

Quando a coisa vira, é um buraco de fundo desconhecido.
Quando me desiludo é como sentir os cavaleiros do apocalipse entrarem-me a galopar no peito. As luzes apagam, o ar é sugado, o chão abre-se, o céu desaba e a peste instala-se (fome não há porque não tenho vontade de comer).

Em momentos destes, há dois tipos de pessoas que sofrem, eu e quem gosta de mim.
Eu porque entro em letargia, que é o equivalente a morte lenta porque sou pouco dado a contemplar de costas no chão;
Quem gosta de mim porque sente que não me pode ajudar.

Num momento particularmente desagradável da minha vida - a que me refiro expressamente porque passou, ainda que não totalmente - fiquei fechado, às escuras, durante uma semana. Sempre que saía do quarto fechavam-se todas as janelas porque não queria luz.
Neste momento, quem gostava de mim passou muito mal mas nunca me disse. Limitava-se a fechar as janelas e, de quando em vez, a perguntar se estava tudo bem mesmo sabendo que a resposta seria, como foi, sempre Tudo.
Não desejo que me vejam nem convivam comigo nestes momentos; só faço mal e há pessoas que não merecem.
Sobre o porquê de isto ter acontecido, não direi nada. Primeiro porque não me apetece e Segundo porque não foi uma coisa que se possa entender de fora. Nada de particularmente grave aconteceu, visto de fora, mas eu não me reconheci e isso não é suportável.

Por isso, quando se quiserem engrandecer dizendo eu sou o meu pior inimigo, lembrem-se que não é tão glamoroso como parece e não vos faz particularmente fortes. Faz-vos reféns de quem não se conseguem desenvencilhar.

DO ROTO PARA O DESCOSIDO

Por estes dias, uma pessoa andava com dores nas costelas. Disse-me sabes, K, ando há dois dias com uma dor aqui...não me lembro de ter batido em nada...
Respondi: e dizes agora!? Bora para o hospital!.
Não, vamos dar mais 1 dia ou 2 e ver se passa.
Não há dia nem 2. Vamos agora.

E fomos. Não se me diz não quando fico preocupado.

K, tens de ver o que é isso que tens na cabeça.
Nã...não é nada. Tenho isto há anos.

E não fomos. Não se me manda fazer o que não quero.

Petit K, é preciso ires fazer análises. Já não fazes há muito tempo.
Não é preciso. Fiz há 2 anos.
(Eu) Fizeste há 2 anos? Vai marcar isso para a semana. 2 anos é muito tempo!
Ok.

E foi. Não lhe apeteceu sofrer o mau feitio que daí advinha.

Isto pode parecer uma história de prepotência e autoritarismo e, para ser honesto, de vez em quando também acho que pode ser. E faço-o porque apesar de dedicar muito tempo a entender por que faço as coisas que faço admito a minha finitude e os meus eventuais ângulos mortos.
O que esta história, para mim, revela é uma outra coisa: eu não me importo de afrontar, pressionar, deixar fodidas as pessoas com quem me preocupo se achar que os problemas que isso ME causa são inferiores aos que LHES podem causar.

A dúvida que subsiste, na minha cabeça, quanto à explicação que dei em contraposição ao que parece é que apesar de achar que sou capaz de altruísmo não me vejo como altruísta. O que é esquisito porque quando olho à volta, nas coisas que realmente contam, pareço-me menos egoísta do que aquilo que julgo realmente ser ou, então, o meu padrão de egoísta é demasiado baixo.

(só para que conste e para que não me julguem a Madre Teresa: esta gente com quem me preocupo é um número muito reduzido porque não tenho capacidade para distribuir isto por muita gente e nem gosto de tanta gente assim.
Ao resto, e uma vez mais para que não me entendam por aquilo que não sou, quero bem que me deixem em paz e se não me deixarem em paz quero bem que se fodam.

Um filho da puta vivo continua a ser filho da puta depois de morto;
Quem faz mal merece apanhar até doerem as mãos a quem bate;
Um idiota que me tenta atacar receberá resposta em género.

Não dou a outra face.)

Friday, March 20, 2015

Let The Bodys Hit The Ground

Gosto muito da Good Wife. Não só porque a Alicia me excita um bocado mas porque a coisa parece-me uma fantasia muito próxima da realidade quanto à natureza humana.
Felizmente, ultrapassou-se, parece-me, a época em que as pessoas tinham de ser expostas a arquétipos de bem e de mal para os entenderem. Ultimamente aparecem cada vez mais personagens que são mais parecidas connosco: gente má que às vezes faz coisas boas e gente boa que às vezes faz coisas más.

Este episódio, por exemplo, de uma forma não tão subliminar assim, mostrou que as pessoas são afectadas pelo que as rodeia e, por isso, apesar de lhes exigirmos que sejam profissionalmente perfeitas nem sempre o conseguem ser.
Se eu estiver mal disposto por um qualquer motivo o meu trabalho recente-se e quem me apanha pela frente sofre sem, sequer, perceber porquê e tenho a certeza que o mesmo acontece comigo vindo dos outros.

Bem, atalhando que tenho cenas para fazer:
Um gajo estava para ser preso e quem o podia ajudar era um traficante mauzão que sabia onde andava a testemunha que era precisa mas não tinha interesse em facultá-la.
A única coisa que interessa realmente a este traficante é o filho, então a namorada do gajo que ia ser preso disse-lhe que se os serviços sociais sabiam umas coisas lhe tiravam o filho.

Ora, ameaçar este gajo não era boa ideia mas ela arriscou,
Ele escorraçou-a. Ela pensou que tudo estava perdido.

No dia seguinte, a testemunha aparece e a gaja olha para o namorado e ambos ficam contentes. Ele estava safo!
Nop.
O que fez o traficante?

Apresentou a testemunha mas em vez de lhe dizer para dizer a verdade, o que safaria o gajo, disse-lhe para mentir e ele mentiu,
Ele foi ameaçado. Ele certificou-se que o inocente apanhava 15 anos...porque se atreveram a ameaçá-lo.

É assim.
Não se negoceia com terroristas. Nem os terroristas negoceiam com terroristas.
Às vezes, o pessoal confunde-se e fode-se.

Tuesday, March 17, 2015

É Desagradável Pessoas Dizerem as Coisas Melhor que Eu mas....


Considero que a mente pode ser sistematicamente profanada pelo hábito de atribuir importância a coisas triviais.

Thoreau

Menos Mórbido do que Parece

Quando perecemos?
Se não estou enganado, um gajo, agora, está oficialmente morto quando se encontra em morte cerebral quando antes acontecia quando o coração parava de bater.
Será que continuamos vivos, por exemplo, quando deixamos de ser aquilo que somos ou quando nos esquecemos?

Imaginem-se as doenças degenerativas mentais. Quando apagamos interessa se temos a mesma cara e o mesmo corpo? O que nos preenche é menos importante? Será que quando passamos a ter outros gostos, quando esquecemos quem nos rodeia, quando nada do que vivemos recordámos continuamos vivos?
Parece-me mais certo que, nestes casos, nasça outra pessoa e morram, num qualquer futuro, duas pessoas.

Não sou adepto do live fast and die young, não me preocupa deixar um caixão bonito. Não vejo de que me serviria ser um bom preenchimento de madeira. Não vejo o que ganharia com isso. 
Este tipo de comportamento, à rock star, pode perpetuar o mito mas o que interessa isso ao mito que já se foi?

O meu problema é mais outro.
Interessa andar um gajo a arrastar-se no que não quer para um futuro incerto? É que há muita geração saúde que é atropelado por um carro e de pouco lhe serve ser vegan e ter umas artérias que são um sonho.
Quero eu ser este gajo que se priva daquilo que gosta sem saber, exactamente, para quê?
Ah, é para ter mais saúde e qualidade de vida!, pareço ouvir. E seria, se houvesse algum contrato que o garantiria.

Se um carro me atropelasse ou uma bala me encontrasse, hoje, haveria muita coisa que não teria feito e que gostaria de fazer. Mas o vinho, a cerveja, o samba, as directas em hotéis, os cigarros, as pancadarias, as vinganças, os sentimentos que me queimam e tudo o resto a que não me privei bala nenhuma e carro nenhum tirariam!

Não sou auto-destrutivo - ok, não estou completamente certo disso mas parece-me que não - mas não estou disposto a qualquer coisa por coisa qualquer.

Vamos ver:
imagine-se que tinha os filhos que não tenho, imagine-se que tinha um relacionamento que não tenho, imagine-se que encontrava fora uma felicidade que por dentro me escapa, imagine-se, em suma, que tudo o que tenho e me interessa deixava de existir apenas nos contornos da minha pele.
Neste cenário, é possível que achasse coisa diferente; não porque deixariam de me interessar as coisas que me interessam agora mas porque, eventualmente, haveria uma sobreposição, haveria algo que se tornaria mais importante e o próprio tempo teria um valor acrescido.

Não sendo assim, sacrificar tudo por coisa nenhuma parece-me parvo.
Diria, agora, que estou pronto a fazer cedências e não estaria a enganar ninguém ao dizê-lo. Estou pronto para isso, talvez. O problema que se coloca a quem tem o azar de se conhecer como me conheço é que estas cedências duram até me encher delas.

O que fazer, então?
Estou a pensar nisso há horas seguidas. 
Realisticamente, o que tenho de decidir é se entro no comboio e, a entrar, é todo, ou se cago e deixo a vida me levar, caso em que nem ponho os pés no apeadeiro.

Correndo o risco de ser melodramático, o que detesto, a frase que ecoa na minha cabeça é esta:
Eu não vou ser o gajo que nunca fumou e morreu de cancro nos pulmões!

Sunday, March 15, 2015

Não Disse?

GRÉCIA

Como previa, a coisa começa a encaminhar-se para o que era previsível que acontecesse: Ah, se calhar um gajo não vai fazer exactamente aquilo que disse que ia fazer.
Pois. É mais fácil ser radical quando o radicalismo é apenas uma manifestação de vontade.
Faz deles más pessoas ou mentirosos? Quer dizer...sim e não. Mentiram e isso é verdade. Mentiram quando, presumo, sabiam que estavam a mentir. Agora, isso não faz deles más pessoas, faz deles pessoas normais ainda que isso possa ser mau mas não imprevisível ou uma ofensa à realidade.
Cai quem quer...

O que lhes aconteceu foi um encontro com a realidade. A responsabilidade, para quem tem algum bom-senso, sobrepõe-se à ideologia (sim, eu não tenho bom-senso, por isso evito promessas que me fazem sempre sentir que tenho de cumprir, mesmo que resulte em desastre e aniquilação própria ou alheia). Foi o que lhes aconteceu: Meus amigos, vocês podem dizer o que quiserem mas o que vão fazer, se é que querem sobreviver, é uma outra coisa e uma outra coisa é o que farão.
Já ouviram os alemães - o público - dizerem nem mais um euro para a Grécia e se não querem que a vontade do povo se reflicta na de quem dirige não podem esticar a corda.

O que nos diz isto do Mundo?
Nada que não se soubesse. Quem tem cu tem medo.
O que nos diz isto dos Políticos?
Nada que não se soubesse. É a arte do possível e da sobrevivência do mais apto a mudar de opinião.
Vai a Grécia safar-se?
Impossível prever mas que vai sobreviver mais uns meses, isso vai.

(Sem ter muito que ver com o assunto em questão mas com uma ligação quase invisível, é relativamente comum as pessoas acharem que sou ou poderia ser um bom líder e não discordo. Quando me deixam solto - não mandando - ou quando me dão poder para dirigir, os resultados costumam aparecer.
A principal questão, contudo, é se o tipo de liderança que ofereço é a que se quer e a resposta, aqui, é mais duvidosa. Contrariamente ao gajos da Grécia, não tendo à complacência quando desagradado nem à curva quando ameaçado.
Se querem um rolo compressor - que, ainda assim, não esmaga quem não merece - maravilha; se querem um político para o possível a porta é mais ao lado)

AINDA DENTRO DA GRÉCIA
vi há uns minutos o super sensual Varoufakis (acho que se escreve assim) numa reportagem cor de rosa. Um artigo sobre a intimidade do Ministro das Finanças que chocou o mundo por usar cenas de cabedal, recusar-se à gravata e andar de mota.
Foi uma lufada de ar fresco no cinzentismo político!! Não, não foi.

Também o Varoufakis é uma pessoa como as pessoas.
Quando viu sobre si o holofote; quando leu sobre si que deixava as gajas húmidas; quando descobriu que o cabedal (tanto o casaco como o próprio) começaram a ser mais notícia que o seu Primeiro Ministro; quando percebeu que Hollywood também pode existir na velha Europa... COLOU!

Acontece com bastante frequências as pessoas começarem a acreditar no seu próprio mito. Algumas vezes criam-no e outras criam-no para elas. Em qualquer dos casos, torna-se cada vez mais esbatida a diferença entre a realidade e a ficção. Ou melhor, torna-se confuso saber o que é a realidade e a ficção porque se tudo que se vê e ouve é ficção haverá muita diferença entre uma coisa e outra?

Seria esquisito um gajo que pugna por um país na miséria aparecer com a esposa a degustar vinho sob os olhos da Acrópole ou ao piano, em sua casa em tons pastel. 
Seria, se ele fosse mais do que o humano médio.
Varoufakis apaixonou-se pelo que as pessoas pensam dele e isso só o torna normal e para quem gosta de normal isso não é mau.

OS PATOS E OS CISNES

Poderia ser uma coisa à volta do Patinho Feio (o gajo que andava no meio dos patos e, quando miúdo, era feio e não se sentia incluído mas que quando cresceu se tornou que de mais - uma tanga feita para nos sentirmos bem - mas não é). Aliás, deve ser, como me costuma acontecer, tema repetido. Tema e história repetida.

Bem, sa foda.
No Love Affair, a personagem da Katharine Hepburn (RIP para uma das gajas mais bonitas de sempre) explica à Anette que os patos são uns promíscuos e que os cisnes são fiéis.
A Anette diz que, então, o Warren é um pato e a Katharine diz-lhe que não, que ele é um cisne que acha que é um pato.

Por muitos motivos, sempre me identifiquei com esta pequena história mas com a desvantagem que, contrariamente ao Warren, eu não acho que sou um pato.

No caso dele, de acordo com o que se retira do filme, o que se passa é que além de ele se comportar desta maneira passou a esperar-se que ele assim se comportasse. Infelizmente, como acontece com o Varoufakis, muitas vezes as pessoas começam a acreditar no que de si se pensa, mesmo quando, anteriormente, a ideia que tinham era diferente.
Quantas vezes se conseguiria ouvir tu és assim, tu és assim, tu és assim até que se passe a acreditar? Afinal, se toda a gente acha, é muito possível que estejam certos!.
Poderia chamar de idiotas quem se deixa enredar nestas coisas mas não o farei porque aprendi a entender que, às vezes, todos estamos sujeitos a ser apanhados no turbilhão.

A mulher de um amigo meu, de quem eu gosto e que gosta de mim, perguntou-me há umas semanas: Então? Miúda nova? Quando é que assentas? Ficaria contente se arranjasses uma gaja, toda a gente precisa disso!
Tinha razão. Tem razão.
Eh pá... eu queria mas a coisa não me parece que se vá dar (já era meia mentira nesta altura e só era meia porque já não queria, já tinha).
És um esquisito! Nada te serve! (mais uma meia verdade. O que acontece é que eu não quero que me sirva).
Talvez 1 hora depois, a mesma pessoa:
Olha lá, K! Estou-te a ver! Não penses que te vais fazer à H! Ela não é para te andares a entreter!!
Foda-se, R! Há uma hora, era procurar e agora nem tocar?! Em que ficamos?!

A mesma pessoa, umas vezes acha-me um cisne e outras um pato. Não me ofende, prefiro que me achem um pato. Não me importo que achem de mim aquilo que quero que achem porque saberem de mim o que eu não quero que saibam é muito mais doloroso.

Voltando,
não vou dizer que nunca quis sacar gajas a torto e a direito. Seria mentira. Ser-me-ia impossível pensar em ter conhecido uma mulher a vida toda; não faz parte do meu instinto não saber o que anda por aí. Gostaria de pensar que se tivesse, cedo, conhecido a pessoa certa teria ficado por ali. Gostaria mesmo mas não poderia acontecer.

Mas o que eu sempre quis foi ter uma mulher e não sentir que andava a perder nada e quando tive uma mulher não senti que andasse a perder nada. É um conceito muito esquisito para quem me vai conhecendo entender-me como fiel mas é isso que sou. Sou tão fiel que quando me começa a parecer que quero ser outra coisa entendo que algo de errado se passa.
Entendam-me, não passo de um animal que quer todas as gajas do Mundo para um Eunuco, não é isso que acontece. Acontece um mudança mais subtil que tem, potencialmente, a mesma força: deixo de querer outra coisa além da que me abraça e, no meu caso, o querer sobrepõe-se a tudo.

A maior diferença, para mim, entre a personagem do filme e eu é que a minha dificuldade não é reconhecer-me ou assumir-me; não me interessa o que poderão pensar de mim; não me interessa que me digam que fui domesticado ou que tenho dona ou que morri para a vida... a minha masculinidade não é afectada por este tipo de coisas (a parte boa de ser muito mais importante para mim o que acho sobre o que se passa do que o que as outras pessoas pensam). 

O que nos distingue é que o meu problema é dizer aqui tens. Faz de mim o que quiseres
Mais uma vez: pareço ouvir ah, disso toda a gente tem medo!. Pois tem. Mas como o Governo dos Gregos, as pessoas dizem isso mas têm a afirmação como uma coisa absoluta mas meio relativa... eu não.

Ai K, quem me dera encontrar alguém assim!!!
Pois, várias amigas me disseram isto e quando digo amigas quero mesmo dizer amigas porque as outras...vá, amigas não sabem estas coisas nem outras sobre mim.
Novamente, também: Elas dizem isto a acho que até acreditam nisto mas porque têm a felicidade de não viver. Isto fica melhor no papel ou, em linguagem do Sec XXI, em bits.

CENAS NEW AGE

Sou pouco dado a energias do universo e karmas e destino mas de vez em quando não vejo muitas explicações para algumas coisas que acho engraçadas e se consigo evitar pensar sobre muitas coisas sobre outras, especialmente aquelas a que acho graça, é-me mais difícil.

Há 1 Minuto
 - Olá, filho. Está tudo bem?
 - Sim...porquê?
 - Saíste muito cedo. 
 - Eh, pá, tenho coisas para fazer e, como saber, amanhã só vou trabalhar meio dia. Tenho de dar andamento. Mas vou almoçar.
 - Queres mais cedo? Mais tarde? Queres que te leve?
 - Não, não. Não te preocupes.
Obviamente, não está tudo bem. Obviamente, sentiu-se isso mas como se não quer tocar em assuntos que se sabe não me agradar, fica-se pelo estou preocupada e isso é suficiente.

Há 3 anos
(7.30hs da manhã de uma segunda-feira)
- Está tudo bem?
- Sim, sim. Saí agora do (insert nome de bar) e não vou dormir. Não te preocupes!
- Ok. Tem cuidado.
Isto seria normal se, por acaso, fosse normal ligarem-me quando eu não estou em casa em momento em que não disse que estaria. Mas não é normal.
Quando o telefone tocou, tinha acabado de sair de um carro pela janela, partida, porque tinha ficado encarcerado. Sem ter de usar muita imaginação ou ser fatalista, poderia ter acontecido de não ter atendido o telefone por ter quinado.

Há Tempo Que Não sei Definir
 - É esquisito, K... Sempre que me ligavas ou mandavas mensagens era em momentos muito parecidos, por isso às mensagens respondia mas aos telefonemas não podia...
 - O que queres dizer com isso?
 - A última que me lembro, disseste que estavas a vir da Póvoa e que a minha casa ficava em caminho. Se quisesse era avisar!
 - Sim, lembro-me de qualquer coisa do tipo. Vinha do Casino com o P e lembrei-me disso.
 - Pois...estava sozinha. O M tinha ido sair com os amigos e as coisas estavam esquisitas... Não te respondi porque o que queria era dizer "Sim" mas contigo não posso arriscar estas coisas porque era uma vingança muito perigosa. Apareces sempre quando sinto a tua falta.
Eu não sabia de nada disto e muito menos consigo fazer planos às sei lá quantas da manhã regado a sei lá quanto wisk.

Há Algumas Semanas
- Estás vivo?!
- Nem por isso...
E não estava. E estava em suspenso.
- Largava tudo, agora, se me pedisses!!
- Já devias saber que não vale a pena largares nada porque não sou de agarrar.
Mesmo sendo dos poucos momentos em que aceitaria ver o ego afagado, nunca é o suficiente para aceitar sacrifícios a que nunca poderia corresponder.

Há Uns Dias
Enquanto me escapava a um a que horas te apanho? É Quinta, temos samba!! e me insultava mentalmente por ter respondio Pá, cheguei a casa às 8 e tal e amanhã tenho um jantar...não vou aguentar, hoje, passava pelos canais e toquei no Mezzo.
O que estava a dar? Tedeschi Trucks Band. Fiquei muito contente! E quando procurava alguma coisa para contrabalançar esta minha alegria, o que é sempre o meu instinto natural, pensando Foda-se! Devo ter perdido o Midnight in Harlem, começou o....Midnight In Harlem.
Deixei de ter desculpas.

Há 1 Dia
Esta não reproduzirei e só me referirei a ela porque não consigo evitar, ainda que o devesse fazer.
Nunca estive preparado para que me amassem ou para que dissessem que me amavam, o que são coisas diferentes, evidentemente, mas que têm mais ou menos o mesmo efeito.
O motivo é complexo e pouco dado a resumos mas, ainda assim, talvez o principal motivo tenha que ver com o facto de não estar certo de conseguir responder. É parecido com não merecer mas não porque não mereça mas mais porque não sei o que fazer. São muitos defeitos, são muitos issues, é muita carga para partilhar...

Contrariando tudo... não sei se haveria outra coisa que quisesse ouvir e, embora com um elevado risco de estar enganado, não tive muito medo.
Não tive muito medo mas não tenho dormido muito bem... e estou aqui preso mais tempo do que estive em meses...e deveria estar a fazer outras coisas porque estou muito metido na merda...e porque estou a manter-me ocupado porque tenho os neurónios a chocarem uns com os outros...e porque pareço uma puta de uma virgem em véspera de Lua-de-Mel (não olvidando que puta e virgem é mais ou menos um oxímoro)... e porque tenho vontades que não posso alimentar.

(espero não voltar aqui, hoje)

Contrariamente ao Habitual, Ando Em Tentativas...

Não ajuda um gajo querer vir para aqui fazer uma qualquer coisa depois de ter encontrado a discografia mais relevante dos Radiohead em acústico e tê-la posto a rolar. 
Então, tira isso e vê se sai alguma coisa decente ou, sequer, alguma coisa! seria um avisado conselho mas quem consegue evitar ouvir High and Dry (que é o que rola agora) ou Fake Plastic Trees? Bem, muitas pessoas devem conseguir mas eu não sou uma delas.

Como aqui estou, contudo, vou forçar! Ando muito embrulhado para pensar o momento não é agora, fica para a próxima porque a minha insanidade não se dá a ser deixada à solta. A minha insanidade tem uma ligação directa ao bom-senso no sentido em que o consegue desligar e se, muitas vezes, o meu bom-senso não é lá grande coisa quando desligado... bem, vamos dizer que é a vitória do cérebro reptiliano.
(Paranoid Android)

Então,
o que se faz quando um nó amarra, no mesmo lugar, o pior dos pesadelos e aquilo que se quer mais do que é justo acontecer? Quando ambos os lados da moeda são iguais qual deles se deve preferir? Quando temos dois becos sem saída haverá um que deva prevalecer ao outro?
Realisticamente, parece que não é dada qualquer alternativa em nenhum dos cenários mas isso só acontece porque não encontro um cenário ideal e se não encontro um cenário ideal nenhum deles me serve.

Uma vez, o House embebedou-se (saudades do House?) e foi ter com a Cuddy a casa. Ela abriu-lhe a porta e perguntou-lhe o que estava ele lá a fazer. Ele mandou-a sentar-se e disse-lhe Tu fazes de mim um médico pior!! Vai morrer gente porque eu estou contigo! E eu não me importo...
Depois desmaiou no colo dela.
Nada era mais importante para o House do que ser inteligente, o mais inteligente, e um bom médico, o melhor médico, até aquele momento.
É disto que falo. Eram duas escolhas que ele tinha e ambas eram becos sem saída, potencialmente iguais mas que na realidade eram diferentes. Eram diferentes para toda a gente mas a ele soavam-lhe à mesma coisa.

Volta-se, assim, ao assunto de saber o que somos e o que queremos ser, o que parecemos e o que queremos parecer, o que no importa e o que não nos importa,
Quereremos muita coisa? Mais do que aquela que precisamos? Menos do que devíamos? Menos do que nos oferecem? Mais do que merecemos? Menos do que cremos dever aceitar? Muito pouco de muito? Muito de pouco?

Onde andavas tu quando eu andava à tua procura?
Estava noutro lado. Estava na China. Estava a fazer uma camisola de malha. Estava no maior buraco em que me encontrei alguma vez e de onde ando a sair aos poucos. Estava a malhar uma porca. Estava no bar mais próximo a amar álcool. Estava a salvar crianças de morrer à fome. Estava a dividir o átomo no meu laboratório caseiro. Estava a ler sobre física quântica. Estava a soletrar anticonstitucionalissimamente.
Destas resposta, uma delas é provavelmente verdade, em termos reais e palpáveis e duradouros mas nenhuma é a resposta.

A Resposta a esta questão, a que já tive de responder antes, é muito mais simples e sempre a mesma: Estava a evitar-te.
Se olhar para trás e quando digo para trás quero mesmo dizer isso, sem limites, para o início, para o momento em que ganhei consciência, sempre evitei encontrar-te. E quando digo encontrar-te não me refiro, necessariamente, a uma pessoa mas ao que essa pessoa me poderia trazer.

Sou muitíssimo corajoso em quase tudo. Raramente tenho medo e aprendi a vencê-lo no clássico enfrentá-lo. Muitas pessoas o dizem mas muito poucas o fazem. Sou capaz de evitar certo tipo de situações se entender que não me ameaçam realmente, que não beliscam o que acredito de mim mas o inverso é muito verdadeiro, também. Sou capaz de ignorar um gajo que me insulta no trânsito (sou capaz mas nem sempre, para não fugir à transparência) mas já não se estiverem 2 a fazê-lo, nesta situação saio do carro; sou capaz de ignorar um caniche que me ladra mas já não um rotweiller; sou capaz de ignorar uma ameaça vazia mas já não uma real.

Noutras situações sou muito menos corajoso (porque não quero usar o termo correcto).
Dou-me mal com a desilusão. Dou-me mal com o risco de me apagarem. Dou-me mal com a possibilidade de me fazerem cativo e querer assim ficar. Dou-me mal com a preocupação de ser menos para quem me é mais.
Por isso, onde estava? A evitar-te...

O que mudou?
Nada. Sou a mesma pessoa que (in)felizmente não te viu chegar. 
(I´m on a roll, I´m on a roll
This time, I feel my luck could change
Kill me ...., kill me again with love
It´s gonna be a glorious day
- Lucky, estava a dar agora)

Não queria estar noutro lugar, agora.
Não queria ser curado, agora.
Não queria não estar perdido, agora.
Não queria ser o que sempre fui, agora.
Não queria estar a salvar crianças, agora.

Portanto, à outra pergunta que se esconde na primeira mas que lhe é, provavelmente, igualmente relevante e que também já deve ter ecoado ou ecoa no vento que embala o pensamento, talvez mais como um sussurro de que uma voz forte e cristalina: Podia ter sido diferente?
Poderia. Se eu fosse outra pessoa.
Não poderia, eu não estaria aqui se as circunstâncias fossem outras. Eu não teria aparecido se tivesse percebido o que me poderia acontecer. Eu não me teria mostrado. Eu não seria aquilo que conheces mas uma outra coisa que é conhecida por toda a gente. Eu não existiria e isto não existiria.

Seria melhor se isto não tivesse acontecido?
Depende a quem se perguntar, eu acho.
Se me perguntassem antes, teria dito que seria melhor.
Se me perguntarem agora, não poderia dizer o mesmo ainda que sinta que o deveria fazer.

(I want you to notice, when I´m not around
 - Creep, estava a dar agora)

Parece-me que ainda cá volto, hoje.
Preciso de me manter ocupado.

Thursday, March 12, 2015

CONSCIÊNCIA

Não gosto particularmente da minha, quando está em funcionamento. A minha ideia de justiça e de fazer o que devo dá-me muitas dores de cabeça e, como em todos os primatas de primeiro grau que ainda não passaram, ainda, para homo qualquer coisa, sou determinado a fazer o que sinto não poder controlar.

A melhor coisa que me podem fazer é chatear-me ao ponto de me convencerem de que não merecem a consideração normal que tenho pelas pessoas, o que, por vezes, não é particularmente difícil.
Quando isto acontece sinto-me muito mais livre para fazer aquilo que quero. Quando isto acontece, desligo a moralidade e tudo passa a ser, apenas, utilidade, como deveria ser sempre se me fosse possível evitar coisas como cumpro sempre o que digo.

Uma das explicações para o facto de preferir atritos à paz - em termos relativos porque também não quero guerra em todas as frentes - é porque me sinto muito mais leve quando perco os constrangimentos quanto ao que é justo ou merecedor porque quando estou em modo ataque é terra queimada e só se merece castigo e dor.

Pelo contrário, quando tenho consideração pelas pessoas parece que ando constantemente a pisar ovos e sou demasiado pesado para isso...cansa-me muito.

Pareço ouvir ah, mas pareces tudo menos alguém que anda a pisar ovos e que tem muito cuidado com o que dizes e fazes!, e é verdade, pareço mesmo mas nem tudo o que parece é e, em boa verdade, é muito possível que o meu conceito de pisar ovos e ser cuidadoso seja diferente daquele que lhe é, por outros, atribuído.
À minha escala, preocupo-me muito; talvez porque saiba o que vem depois de deixar de me preocupar; talvez porque saiba que mesmo em versão moderada sou um bocadinho (eufemismo?) destemperado; talvez porque saiba que nem todos estão prontos a receber verdades despidas como eu; talvez porque me dói muito magoar quem não quero magoar; talvez porque o meu bem estar depende de proporcionar a quem quero o que quero.

Detesto a minha Consciência e só não a Odeio porque Odiar é dar demasiada importância e não quero fazer isso.
Gente amoral é muito mais feliz que eu!

Monday, March 09, 2015

- Sim, é o meu filho mais velho. K, esta é a X, este é o Y e aquela é a L, a filha mais nova.
- Olá, sou o K.

A minha mãe é manifestamente diferente de mim, pelo que as pessoas tendem a gostar dela e querer falar com ela sempre que a vêm.
Nestas ocasiões, dou uns passos em frente, para fugir ao que descrevi no brevíssimo diálogo, e espero de cigarro na boca. De vez em quando, não resulta; não por culpa da minha mãe mas por culpa de quem com ela se cruza e, como usualmente acontece, tem muita dificuldade em entender que o filho é da minha idade e do meu tamanho.

- Então? Aqui está um bocado de vento... será que está assim mais lá para a frente? Vocês vêm de lá não é? Para lá costuma estar mais ventoso. Se se for para cima, então, ainda é pior!
- Sim, a partir do (insert location) está um bocado mais de vento...
- Pois é. E a humidade? Sente-se nos ossos. As pessoas de Trás-Os-Montes têm mais frio mas lá é seco. Aqui é pior. E estraga a pintura das casas! Acho que o tempo vai melhorar mais lá para a semana.
- Pois... é capaz...

Bem, dá para entender como a coisa foi, ainda que assuma que posso estar a exagerar. Foi assim que me entrou nos ouvidos.

- Mãe... já não sabia o que lhe dizer. O gajo fala muito. O que me interessa a humidade?!
- Eu sei... não podia fazer nada. Eu ainda tentei deixar-te de lado mas perguntaram-me por ti...
- Não me estou a queixar de ti. O problema não é teu...eu é que não aguento isto. Fizeste o que tinhas a fazer e eu fingi que me interessava mas já estava a colar um bocado!
- Eu vi, por isso dei andamento (momento em que se começou a rir muito porque como percebeu que eu não estava chateado, passou tudo a ter muita graça. A minha incapacidade de manter durante muito tempo conversas sobre banalidades é, realmente, engraçada).

Só uma mãe para conseguir achar graça a ter um incapaz como eu como filho.

No Modern Family, numa das séries, o Ruivo recusou-se a ir a um evento qualquer porque não conseguia fazer conversa de circunstância.
O Pai perguntou à Gloria o que te disse quando nos conhecemos?! e ela respondeu qualquer coisa como gosto de chocolate e gosto de banana mas não em conjunto. O Pai virou-se, então, para o Ruivo e diz-lhe: Então ivy league? Não consegues fazer isto?!.

O Ruivo calou-se. Eu teria dito que não.

Saturday, March 07, 2015

Era Para Fazer Parte do Anterior Mas Houve Problema Técnico

Queria fugir a este assunto como queria fugir da neurociência antes mas...Sa Foda.

É esquisito achares graça/gostares/interessares-te tanto pelos meus defeitos (parafraseando, não decorei).
Pois, eu não acho. Volta-se a um assunto antigo e que me é muito grato: As Pessoas Interessam-me!

No mesmo sentido do que escrevi no post anterior, vamos vivendo e aprendendo e, muitas vezes, nem é exactamente aprendendo mas reconhecendo padrões relativamente ao que acontece quando fazemos alguma coisa ou quando nos fazem alguma coisa a nós. Somos todos os cães de Pavlov e eu sou também.
Assim, vamos percebendo que apesar de tudo quanto nos dizem em contrário - quero saber tudo (não queres), tudo em ti me interessa (não interessa), estou contigo para o que der e vier (não estou) - o que realmente acontece é que queremos que os outros nos façam sentir bem e quantos menos problemas, melhor.
Queremos ajudar se não nos custar muito; queremos aturar se não nos for demasiado exigente; queremos ser o ombro e a rocha se não tivermos de ser mais fortes ou mais duros do que aquilo a que estamos disposto.

Então, inconscientemente, pretendemos que fiquem felizes connosco e corresponder ao que de nós se espera para que não choquemos ou nos tornemos um fardo demasiado pesado para que continuem a suportar-nos.

Eu não sou assim. Ou melhor, eu não sou assim para os outros.
Não posso, em sã consciência, que ainda acho que tenho, querer ter o que os outros têm quando tudo o que eu quero é extraordinário e não ordinário.
Se o que me interessa é a pessoa, o que me interessa não é o que ela parece ser ou, inclusivamente, o que ela pensa ser mas antes o que é. Toda.
Se a pessoa me interessa, não quero que me mostre o que quer mas o que não quer também ou, especialmente, o que não quer. Eu não quero o ordinário.
Se a pessoa me interessa, o que me vai fazer desinteressar é expor-me as virtudes mas antes os defeitos. Convive-se com virtudes mas vive-se com defeitos.

No Bom Rebelde, a personagem do Robin Williams (RIP), diz ao miúdo quando fala sobre a sua falecida mulher qualquer coisa como isto: Sabes...quando penso nela a primeira coisa que me ocorre não é o momento em que a conheci ou quando algo de magnânime aconteceu. Lembro-me que ela se peidava à noite... Uma vez deu um peido tal que acordou e eu disse que tinha sido eu.
Excluindo a questão escatológica (a imagem é terrível e nunca teria em mim o mesmo efeito), percebo-o muito bem. São as particularidades das pessoas connosco que nos tornam especiais. São aquelas coisas que ninguém sabe que fazem do que temos mais do que o que os outros têm. É o que te dizem a ti e que não dizem aos outros. É o que ambos reconhecem e que nada diz a quem vê da janela.

São os defeitos. Não são as virtudes.

O House (há quanto tempo não falava disto?), quando começou a ter um relacionamento com a Cuddy entrou em colapso porque percebeu que não tinham quase nada em comum. Não gostavam das mesmas coisas, não gostavam dos mesmos lugares, não gostavam das mesmas pessoas...então ele entrou numa busca incessante (ou quase) por algo que tivessem em comum porque, caso contrário, a relação estaria votada ao insucesso.
A dado momento, ela percebeu o que ele estava a fazer - porque incrivelmente mal sucedido - e disse-lhe: Para quê?! Achas que eu quero algo comum?! Se eu quisesse algo comum estaria com outra pessoa. E além disso...comum é comum...aborrecido.
Ela tinha razão e ele também. Ela porque viveu, de facto, algo nada comum. Ele porque o relacionamento não sobreviveu ao extraordinário. Mas isso interessa menos. O que interessa é isto: Comum é Comum.

São os defeitos. Não são as virtudes.

E reparem nisto: não há pessoa que diga que nós somos menos que a soma de todas as partes. Ora, se é isto que nós somos, quando mostramos parte das partes escondemos o que o somatório dará. Em última análise, em tese e sendo excessivo - como é meu costume - passamos a nossa vida rodeados de estranhos e não devíamos querer ser estranhos para toda a gente.

É por isso que quem me conhece mais de perto me acha ainda mais esquisito do que quem me conhece de longe.
Sabem aquela história de que descarregamos em quem nos é mais próximo? Dou o que consigo e o que não consigo para não o fazer. Gosto muito de quem gosto e não suporto a ideia de que paguem por eu gostar. Nem sempre consigo evitar mas esforço-me mesmo muito e quando falho sinto-me na merda durante muito tempo.
Sabem aquela história de que a ausência cria mais vontade de encontro? Detesto a distância. Quando era algo que, supostamente, deveria fazer ferver esfria-me. Joga nas minhas fraquezas. O meu instinto é ser solitário, foi o que aprendi, e a ausência faz-me voltar a cogitar que sozinho é melhor. É instinto porque não quero que assim seja mas assim costuma ser.
Sabem aquela história de que se dá valor quando se perde? Não. Não. Não é suposto dar-se valor depois, é suposto dar-se valor agora! Depois, muitas das vezes, é tarde. Quero que quem eu gosto saiba que eu gosto, agora! Depois de magoar é tarde porque não se magoa as pessoas de quem se gosta.

....e de volta aos defeitos.

Eu falo muito mas não gosto de falar de mim.
Eu apalpo muito e estou a evitar apalpar agora.

Eu apalpo menos porque tu és tu.
Eu falo de mim porque tu és tu.

Diria muito de mim se eu continuasse a apalpar independentemente do que a apalpada sentisse? Diria que continuaria a apalpar porque era isso que eu queria fazer e o interesse alheio seria relativamente indiferente.
Diria muito da outra pessoa que continuasse a não falar dela mas de todas as outras coisas que não interessam? Diria que continuaria a ser o mesmo para ele e para todos e o vivido seria relativamente indiferente.
É como a questão do peido mas muitíssimo mais elegante.

Sabem quando sacam uma gaja, à noite, vão para a cama e acordam com outra no dia seguinte (eu não durmo com pessoas mas a imagem é suficiente)? Quando se deitaram, mais do que bêbado, é provável que ela estivesse maquilhada e com push up cenas e sei lá que mais. De manhã, acordou borratada e com mau hálito.
Isto não é problemático. O serviço está feito e amanhã é outro dia.

Mas é isso que queremos todos os dias?

...Vem da Citação Anterior

Pensei em evitar dizer que estou a ler sobre neurociência mas, como é evidente, decidi em sentido contrário. E pensei em evitar porque me causa alguma náusea parecer que leio coisas esquisitas para dizer que as leio; é uma coisa intrínseca em mim: prefiro sempre que achem que só me interessam mamas e parvoíce tanto porque me sinto melhor com isso como porque, normalmente, gente que gosta de coisas como as que eu gosto é chata porque não acha estimulante o supérfluo e eu acho.
(sim, calcanhar de Aquiles, ainda que não me queira comprar a um semi-deus o que ainda assim acabo de fazer: não me lembro de nada que me incomode mais do que ser chato).

Então, porque citei o que citei e porque me interessa esta coisa?
Há uns anos aprendi a explicação científica (que não explicarei) para o facto de estarem certas as pessoas que nos dizem antes de fazeres alguma coisa, conta até 10. Estas pessoas não sabiam o efeito neuronal da coisa e continuam a não saber mas, independentemente disso, estavam certas quanto ao benefício da medida.
Contraintuitivamente, constatar-se-á que os países mais quentes têm as gastronomias mais picantes. Contraintuitivamente porque é esquisito comermos coisas que nos fazem suar quando estamos num sítio onde muito se sua e desidrata. Pois. O suor faz com que o corpo se nivele, em termos de temperatura, e é por isso que as comidas são como são. As maioria dos habitantes destes países não sabe por que cozinha como cozinha mas, ainda assim, cozinha. Estão certos mas ninguém lhes ensinou os benefícios físicos.
Quando se nos atravessa um cão à frente desviamo-nos dele sem nos apercebermos disso. Melhor. Sem pensarmos nisso. Não ordenamos, conscientemente os nossos pés porque a nossa consciência é lenta mas, ainda assim, fazemos o que temos a fazer porque o nosso corpo (ou cérebro) apercebeu-se do que estava a acontecer antes de nós.
Há uns tempos, foi feito um estudo em que se descobriu que os melhores jogadores de futebol pensavam menos do que os que lhes eram inferiores. Outra vez: contraintuitivo. Pensar mais e melhor faz-nos melhor? Pelos vistos, nem sempre. O Messi finta-os porque eles lhes aparecem à frente e não porque pensou em fintar.

A questão dos olhos saltou-me aos meus porque acho isso há muito mais tempo do que aquele que decorreu entre a ter lido e agora.
Muitas vezes ouvimos que vemos o que queremos ver e é absolutamente verdadeiro. O problema que se coloca, normalmente, é que achamos que somos suficientemente espertos não para vermos o que queremos mas antes o que existe e como eu não me acho genial a esse ponto tendo a estar mais alerta e, com isso, os riscos de ver o que lá não está diminui mas, como a cena do cão e da comida, suponho que, ainda assim, veja muitas e muitas vezes o que vivi e não o que vivo naquele instante.

OS PAIS

Há uma crença, que alguns acham científica, de que passamos a nossa vida à procura do nosso pai ou mãe, dependendo da orientação que tivermos.
Apesar de parecer incestuoso, é duvidoso que o seja.

Nós crescemos sem darmos realmente conta daquilo que aprendemos, vivemos ou nos habituamos. É tanto assim que ninguém no seu perfeito juízo quereria ser toxicodependente quando teve um pai que o era ou alcoólico no mesmo tipo ou violento quando via o sofrimento que isso lhe causava. E ainda assim, as pessoas que crescem nestes ambientes têm mais propensão a sê-lo que as outras porque mesmo sendo horrível, sentem-se confortáveis e porque...as pessoas adaptam-se a tudo.

Da mesma maneira, se fores suficientemente pisado terás problemas de auto-estima que se resolvem ou sendo muito subserviente ou muito agressivo. É o mesmo sintoma com uma doença diferente.
Da mesma maneira, se fores suficientemente endeusado terás problemas de hipervalorização e estes são mais difíceis de resolver porque se não tiveres cuidado passarás a vida inteira com fome porque nunca receberás aquilo que entendes merecer receber.

Eu, por exemplo, tenho problemas com autoridade e consigo ver onde nasceram. Tenho problemas com regras, o que é mais ou menos a mesma coisa. Tenho prblemas com tom de voz, o que é, também, mais ou menos a mesma coisa.
Eu, por exemplo, não tenho relacionamentos com pessoas que não se preocupem em tratar de mim. Não que precise ou que deixe ou que queira mas é um sentimento que se recebe que não admito não ter. Sei onde começou e sei o que me leva a precisar dele.

Estes são dois exemplos de coisas que tanto podem ser boas como más. Tanto podem ajudar como prejudicar. 
Como sempre, o mais importante não são os sentimentos ou as coisas por si só. O contexto é tudo.

(só por curiosidade: fizeram uma cena em que cruzaram dados empíricos quanto a uma imensidão de gente que se casou. Constatou-se que era muito mais reincidente pessoas que tinham um sobrenome comum casarem-se. Consanguinidade? Não. As pessoas estavam familiarizadas com o próprio nome e sentiam-se naturalmente mais próximas de outras com quem tinham isso em comum.
É espantoso o que o nosso cérebro nos faz sem avisar, não é?)

CONTROLO

Quem sabe mais, tendencialmente, controla quem sabe menos.
Assumidamente, sou um control freak pelo que odeio sentir-me sem pé, daí que, por norma, tenho muita atenção ao que me rodeia e a quem me rodeia. Não necessariamente porque essas pessoas e situações me interessam particularmente mas porque não quero que o meu ambiente me domine (eu sei, eu sei, todos temos issues).

Há uma gaja que trabalha comigo com quem a coisa azedou de uma forma esquisita para o que estou habituado. 
Por norma, os meus primeiros contactos com as pessoas são difíceis e vão melhorando. É meio consciente e meio inconsciente. Consciente porque sei que assim é e não quero evitar; inconsciente porque sei que assim é e não consigo evitar.
Voltando,
dava-me bem com ela. Na verdade, era mais do que um relacionamento cordeal porque soube que ela conhecia, pelo menos, uma pessoa com quem me dou ou dei - já não a vejo há anos - muito bem.
A dado momento, numa conversa com cigarros pelo meio, soube que o namorado dela era bem mais velho que ela e a coisa resvalou para ele querer ter filhos rapidamente e ela achar que não queria e que não valia a pena.
Respondi-lhe o que me parece ser a verdade as mais das vezes: sabes. Eu não é que não queira, eu sempre quis muito mas não aconteceu e não me parece que vá acontecer. Por isso, o meu problema é outro. Na verdade, acho que é o mesmo das pessoas que dizem que não querem ter; o que elas realmente acham é que já vão tarde.
Ela concordou. O problema não é que não queria mas antes que já lhe parecia ser tarde.
Naquele momento, soltou o que terá descoberto ou, se calhar, nunca descobriu: abriu a porta para que eu percebesse o que ela era.

Ah, que diferença faz isso?
Toda.
Quando não tenho nada contra as pessoas e especialmente quando lhes tenho algum apreço, gosto de saber onde lhes dói quer para evitar quer para ajudar; quando tenho alguma coisa contra elas, gosto de saber exactamente pelo motivo contrário.

Para que fique claro: quando ela me disse o que me disse não me revelou algo específico sobre ela, revelou-me tudo sobre ela. Não é importante o facto de achar que é tarde para procriar, é importante o facto de que precisa de se esconder para se sentir segura mesmo para uma questão tão menor como esta.

Eu sei onde dói e ninguém gosta de sentir dor.
Controlo.

AS OUTRAS

 

Wednesday, March 04, 2015

Momento Facebook (e como tenho pressa mas não muita, tive tempo de escrever mais do que "FACE"

O olho que vê não é um mero orgão físico mas um meio de percepção condicionado pela tradição na qual o seu possuidor foi criado.

Ruth Benedict