Wednesday, October 28, 2009

O meu assunto favorito, de todos os tempos, são as pessoas. Há quem se irrite com a sociedade, há quem a ame e há gente como eu, gente que gosta de a ver passar e tentar prever para onde cada um dos seus integrantes vai.
Dentro deste assunto, a sub categoria relacionamentos é a que mais prazer me dá. Como não tenho a veleidade de presumir que sei tudo, direi, apenas, que sei muita coisa.

Quem me conhecer achará que não tenho um voto válido nesta matéria, mormente porque tive menos de que uma mão cheia de relacionamentos que o eram, de facto. Contudo, sempre me interessei por ver como eram as relações das outras pessoas (voyeurismo, confesso, mas nunca intromissão). Além disso, os meus foram poucos mas variados e, ainda além disso, dos fugazes (que não considero relacionamentos de todo) foram bem mais do que quatro mãos cheias.

Uma das coisas que descobri, e que preferia não ter descoberto, é que a maioria das pessoas estão marcadas ou, então, estão para o ser.
Felizmente, tanto quanto sei, tive a sorte de ser o ponto alto (e baixo, também, mas isso é para outro momento) das mulheres com quem me relacionei. Posso estar enganado, como é óbvio, mas é relativamente difícil.... primeiro porque gostar de mim e estar comigo é um trabalho a tempo inteiro e, segundo, porque acompanhei (nem tanto por vontade própria) os relacionamentos posteriores delas.
Continuo a receber comunicações (telefonemas, e-mails, sms...) de todas elas e todas elas têm uma coisa em comum....ok, duas coisas em comum:

1) nenhuma delas me esqueceu e reconhecem que nunca se amarraram tanto a alguém como a mim;
2) todas elas sabem que, apesar disso, são inteligentes demais para querer voltar ou, sequer, tentar voltar.

Além de tudo isto me agradar, seria mais mentiroso do que Nixon se dissesse que não, o que, para mim, mais releva é o facto de nenhum dos relacionamentos posteriores ou actuais delas têm noção de que, pelo menos por agora, são o número 2 (ou mais). Para mim, são enganados, para mim, não vivem a realidade que pensam.
É muito por culpa disto que tenho dificuldades em assumir novos relacionamentos porque, infelizmente, não estou nem perto de seguro que o que acontece aos outros não me possa acontecer a mim.

PS: não foi por eu ser um gajo fabulosamente incrível que as minhas mulheres ficaram marcadas, longe disso....

Thursday, October 22, 2009

A evolução/desenvolvimento/vanguardismo social tem coisas muito boas.
Contrariamente ao que nos fazem acreditar, tenho a certeza que não há mais violência doméstica hoje do que há 30 anos atrás, não há mais maus tratos infantis hoje do que há 30 anos atrás nem há, por exemplo, mais homessexuais hoje do que há 30 anos atrás. A diferença do agora para o passado, ainda que recente, é que tudo é mais exposto e denunciado, o que me parece bem!

O que me parece, contudo, é que essa mesma vontade de ser mais e ir mais além tem pontos manifestamente negativos e, acrescento, há patologias que são tidas como normais mas que, quanto a mim, não o são.
Ontem, por exemplo, tomei conhecimento da existência de uma empresa que simula raptos. Quando vi isto, sem ler mais nada, pensei que era uma cena sexual: um gajo vai na rua e, de repente, é abduzido para, mais tarde, ser comido por 2 gajas podres de boas. Sim, pensei eu, faz algum sentido.
Não, nada disso.
A empresa em questão, mediante pagamento do sequestrado, rapta-o, fa-lo refém, dá-lhes umas pancadas, obriga-o a ligar à família (que nada sabe) a pedir o dinheiro do resgate e, 3 ou 4 horas depois, deposita-o, novamente, onde o raptou.

O testemunho do raptado e cliente foi que "assim se sentiu revigorado, pronto para novos desafios".
É um insulto aos que sofrem com raptos. Não entendo (nem quero) como alguém pode ter a vontade de saber como será ser raptado e maltratado e violentado e tranferir isso mesmo para a família, sem saber que é uma idiótica brincadeira.

Não sou determinista ao ponto de pensar que existe um bem e um mal em absoluto. Esse bem e esse mal são partes de um todo e vivem em conjunto.
Também não sou um moralista nem um perseguidor de pecadores (até porque não acredito em pecados mas, como para a generalidade, pecado é uma palavra enraizada na minha mente e que serve para muitas descrições).

O que acho é que aquilo que se tem mas se desconhece que houve tempos em que não era gratuita (a liberdade, por exemplo), desvaloriza-se e torna-se vulgar... não é, meus amigos, não é.

Wednesday, October 21, 2009

?!


Não gosto do Saramago. Não gosto do que ele escreve. Não gosto do que ele diz. Não gosto do que ele pensa. Não gosto da forma como opina. Não gosto da soberba com que brinda a humanidade. Não gosto de, quando lhe convém, ser Português e, quando não lhe convém, ser Espanhol. Não gosto como toma o país (que é mais do que a soma dos seus governantes) por duas dúzias de pessoas.
Não gosto dele!! Com toda a sinceridade, sinto que o Nobel dele é mais Espanhol que Português, não o quero, não me alegra, não o sinto como meu.
Agora lançou um novo livro e, por essa ocasião, decidiu atacar a Igreja católica.
Não tenho um osso que me faça defender a Igreja Católica, não sou um fã, não sou um devoto e discordo de muita e muita coisa (com especial incidência no seu passado, bem mais que no seu presente). Daí, o que me incomoda, não é este tipo vir criticá-la, o que me incomoda é, uma outra e exaustiva vez, ter falado.
É a soberba, é a certeza, é a superioridade, é o ser mais que os outros e, neste caso, mais do que milhões e milhões de outros.
Pode parecer excessivo mas um dos meus sonhos é que este tipo guarde as suas fabulosas opiniões ou, então, que as ofereça, em exclusivo, ao resto do munto.
Para enorme pena minha, a Igreja Católica (ou um dos seus representantes em Portugal, que acaba por ser a mesma coisa), apressou-se a dizer que o Saramago até é atéu...porque vem agora mandar bocas?
Com esta brilhante e democrática afirmação, plena de actualidade e vanguardismo, este outro senhor entende que quem não acredita em Deus (a entidade) não deve falar da Igreja Católica (a instituição ou a multi nacional, se preferirem, com sede no Vaticano).
Infelizmente, com este tipo de afirmações (que a pense mas que não a diga, se quer acompanhar os tempos e não macular quem lhe paga), a Igreja Católica só ajuda quem a critica. A organização não é sagrada porque, se o fosse, tinha bem mais com o que se preocupar do que com o que um tipo senil diz.
Não gosto... definitivamente não gosto desta conversa de tipos perdidos no tempo em que podem ter sido alguma coisa.
Não gosto do guardião da chave e muito menos gosto deste gajo que pensa iluminar o mundo com as suas palavras e posições. Curioso... este atéu parece ve-se como profeta.

Tuesday, October 20, 2009

Quando desaparecem as unhadas nas costas,
os telefonemas ofegantes,
as saias esvoaçantes,
o calor a percorrer o corpo com o suor a aquecê-lo,
o olhar que não diz que gosta mas que quer,
o sair de madrugada porque o sol não nasce,
o aperto na perna que indica a saída....o verbo deixa do presente e passa ao pretérito.

Tentem convencer-me que o companheirismo é o possível quando nada mais resta mas não lhe chamem amor.


Não sou dado ao passado. Na verdade, até certo momento, nem me achava capaz de sentir saudades.

Passei alguns maus momentos com perguntas como "tiveste saudades minhas?" e "reconheces o meu cheiro" e coisas desse tipo. Para ser absolutamente sincero, interessa-me que as pessoas de quem gosto estejam bem, interessa-me que não sofram mas a proximidade física diz-me pouco.

Disseram-me que será porque nunca me apaixonei e houve, até, quem se lembrasse de me dizer que era um reflexo do nada que me preenchia. Juntamente com essas explicações vêm a do "egoismo" e "desapego". Nada disso é verdade. Gosto muito de muitas pessoas (ok, não muitas mas seguramente algumas) mas adapto-me às ausências com muita facilidade.

A única coisa que me faz falta e a única coisa de que sinto saudades (aquela coisa de chegar a evitar imagens e sons para não deprimir) é do Rio de Janeiro. É impossível explicar, chega a ser ridículo sentir falta de uma cidade mas...é o amor...

Não perderei muito tempo explicando o inexplicável mas tem muito que ver com o sentimento de ligação, de que é ali e em mais lado nenhum, de que quem lhe chamou cidade maravilhosa não se enganou mas talvez se tenha contido nessa declaração de amor.

Gosto do samba no andar de quem passeia na rua, gosto do Pão de Açucar perdido, gosto de quem me vendeu churrasco na rua e puxou um banco para me sentar, gosto de quem se sentou na minha mesa enquanto eu, sozinho, bebia uma cerveja, gosto como não se importaram que eu fosse brilhante como um copo de leite na escuridão no Salgueiro, gostei como me receberam no aeroporto como se estivessem há décadas à minha espera e como se despediram de mim na certeza de que iria voltar.

Conheço muita e muita gente que foi ao Rio e não se apegou tanto como eu me apeguei mas a explicação é relativamente simples: fomos todos de férias e eu cheguei a casa.

Monday, October 19, 2009

Há gajos muito chatos....
Está um idiota aqui ao lado a queixar-se do que não faz sentido queixar-se...pelo menos durante tanto tempo.

Parece-me que é uma coisa parecida com solidão ou com défice de atenção. Também eu sou um tipo algo contestatário, irrito-me com alguma facilidade e queixo-me mas com conta peso e medida.
Não percebo porque ficam as pessoas e queixar-se verbalmente quando estão a dizer que o vão fazer por escrito. Pá, se vai fazer por escrito que escreva e que deixe de encher a paciência de quem o rodeia. O clássico informar da idade (para se saber que não é um menino e que tem experiência de vida - vómito), de que já fez isto e aquilo na vida, já passou por muito (interessa a quem?!), que isto "antes não era assim" (apesar de o ser agora)....enfim, gente que não tem o que fazer ou tem tão pouco que se dá ao luxo de incomodar os outros.

Infelizmente, as pessoas escutam-no porque têm de o fazer, faz parte das atribuições e funções mas, secretamente, não podem estar a pensar outra coisa que não "vai pó caralho!!!".

Pior (o que acaba por fazer todo o sentido), é um hippie que parou no tempo... Paz, sim, Amor de vez em quando.

Thursday, October 15, 2009



Estive hoje a ver um debate sobre a nova lei que impede a compra ou reprodução de animais selvagens. Estava lá o dono do circo Chen e um de uma das sociedades protectoras de animais.

Acho uma barbaridade impedirem, no caso, os circos de terem animais para o seu espectáculo, espectáculo esse que, pra mim, morre sem tigres e leões e elefantes e afins. Concordo, naturalmente, que têm de tratar bem os seus animais e devem ser fiscalizados mas cortarem as pernas ao circo é manifestamente exagerado.

Mas nem foi isso que me incomodou, o que me incomodou foi (como sempre ou quase sempre acontece) o defensor dos animais. Enerva-me a maioria desta gente. Não porque defendem os animais (o que julgo ser um dever cívico) mas porque, a meu ver, perderam a noção da realidade das coisas e da respectiva importância.

NÃO é a mesma coisa matar um cão e uma pessoa. NÃO é a mesma coisa abandonar um cão e uma criança. NÃO é a mesma coisa privar um cão e uma pessoa de alimento.

Julgo que foi Gandhi quem disse que o desenvolvimento de uma sociedade se vê pela forma como trata os seus animais. Concordo, como já escrevi, acho que é cívico tratar bem os animais, até porque só os tem quem os quer.

Agora, ver com os mesmos olhos e na mesma balança um gato e uma pessoa... isso é uma patologia.

Wednesday, October 14, 2009

A gravidade é tua, a terra sou eu.
Mesmo sem anuir, recebo sem escolha,
mesmo de olhos fechados, tudo é teu.
Não és o sol que aquece és a chuva que molha.

O rio corre pra nascente
e o horizonte está à distância de um braço.
Dia em que o Padre mente,
dia em que o nó é um laço.

Não interessam as cores
não há quem lamente.
Tudo são sementes, nada são flores.

Morpheu

Quando estou bem, o que, felizmente, vai acontecendo mais frequentemente do que o contrário, não gosto de dormir. Por norma, opto por dormir o mínimo possível, o suficiente para me manter acordado e razoavelmente são até ao próximo momento de fechar os olhos. Sou assim desde sempre.

Poderia chamar para aqui o célebre "dormirei quando morrer" mas não é o caso. Primeiro, porque esse tipo de dramatização não faz o meu género e, segundo, porque seria, além de previsível, parte de uma música dos Bon Jovi o que é absoluta e completamente inaceitável.

Bem, acabei por descobrir, aparentemente e sem certezas, o motivo pelo qual gosto de dormir pouco exactamente no momento em que percebi as alturas em que passo muito tempo a dormir (excluindo doenças e ressacas). Infelizmente, a explicação encontrada já tem o seu quê de dramático...afinal, até mesmo um palhaço (ou especialmente um palhaço) tem momentos menos alegres.
Sempre que me desiludo não me apetece acordar... é doloroso demais lembrar-me de certas asneiras. Infelizmente, como bom narcisista e carneiro, não é particularmente importante se os outros foram ofendidos ou não, é muito mas muito mais relevante se quando o fiz eles mereciam.
É nos momentos em que atraiçoo o que julgo dever ser feito que mais debilitado fico.

Isto pode muito bem ser um caso generalizado e apenas me dou à pretensão de não o ser porque quase nada me deprime. Não me vou abaixo com negas, não me importo o que acham de mim, é-me indiferente a maré alta ou a maré baixa, recupero (no sentido de funcionar, não no de ficar bem) muito rapidamente de tragédias e azares...mas quando falho as exigências que tenho para comigo a coisa fica triste.

Não ando é no meio,
ou sou o mais ou o menos do menos.

Tuesday, October 13, 2009



Não quero mais defender-me, não tenho mais vontade de manter fora o frio se isso me impedir de sentir o calor.

É um desejo antigo, tão antigo como a minha alma que é bem mais velha que o meu corpo. Desde a primeira rajada de vento que levou para longe a ponta dos meus dedos, desde a primeira chuvada que me desnudou de sentimentos.

"Precisa-se quem cole os pedaços...depois de os encontrar" parace escrito nas minhas costas. É um anúncio escondido, uma tatuagem em branco, uma verdade afogada num imenso e denso emaranhado de falsas indicações.

Sou um estranho, não sou ninguém.