Thursday, February 23, 2012

Ontem apanhei no ar qualquer uma afirmação que, supostamente, tinha um fundamento científico (supostamente porque, nos dias que correm, vou acreditando cada vez mais que as séries televisicas são, dentro do possível, cientificamente viáveis) e que dizia que um narcisista tem uma imensa dificuldade em manter uma conversa ou um estudo durante muito tempo porque é tempo a mais sem algo se referir, directamente, a ele.

Ora, caso isto seja verdade, não deixa de ser muito interessante.

Ontem, por exemplo, estava a ouvir o Mitt Romney (sim, acompanho os debates Republicanos...com pipocas, claro) a responder ao que não lhe tinham perguntado. A minha primeira impressão foi, obviamente, que aquilo era uma táctica para fugir à pergunta mas, com um pouco mais de atenção, dei conta de que a pergunta era para ele mas não sobre ele e a resposta não foi sobre o assunto que se pretendia discutir mas sobre ele.
Outra coisa que me surgiu em mente foi a minha incapacidade de ler romances e poesia (com excepções, evidentemente). Esta incapacidade, que de tempos a tempos ponho à prova com nova incursão nestes estilos, resulta do facto de que sempre que me eventuro nestas leituras sinto que elas nada fazem por mim. Estou a ler histórias que me parecem vulgares, sobre gente que nem conheço nem reconheço e que, no fim, sei precisamente o mesmo que no início; então, sou mais biografias e livros técnicos, política e economia, história e, eventualmente, geografia porque sinto exactamente o contrário: no fim sei mais do que o que sabia.

Então, será isto uma apresentação em forma de vislumbre de narcisismo?
Não sei.
Se tentar ver as coisas por esse lado, responderi que poderá ser uma vez que a única e fundamental utilidade daquilo que faço sou eu.
Se tentar ver as coisas à luz que me parece correcta (que nunca o será, caso eu seja narcisista) direi que não. O problema não sou eu. Os outros é que são enfadonhos.

Tuesday, February 21, 2012




Há uma incapacidade generalizada que, se ultrapassada, poderia dar uma enorme volta a este quezilento mundo que partilhamos. Poderia tentar dar-lhe um nome apelativo mas não me apetece.

A maioria de nós já terá passado por uma situação em que alguém de quem já gostámos ou que ainda gostamos mas que, por uma ou outra razão, nos distanciamos esteve numa situação delicada. Aquilo que considero normal, ainda que possa não o ser, é que nesse momento de provação aquilo que nos separa se torna esbatido e inconsequente perante o trágico agora.
Não me refiro à hipocrisia em que se afogam aqueles que agora muito sofrem mas que nunca foram outra coisa que nada; não estou a descrever os bons samaritanos de fim-de-semana que aproveitam a dor de outros para se banhar em elegância e palavras ocas. Os que aqui menciono são os que realmente se preocupam ou preocuparam mas que a vida levou para outro lado, ou melhor, umas vezes é a vida e outras a estupidez mas, ainda assim, não são oportunistas.

O que me incomoda, mas de que, infelizmente, já fui seguidor e desconheço se o não serei novamente, é a parte que se segue à tempestade. Toda a eternidade que se estende depois de ter sido ultrapassada a provação.
Há aqueles que juram que tudo será, daí para frente, diferente, tanto os que estão do lado sofredor como os que apoiam esse mesmo sofredor.
Eu, sei mais ou menos porquê, sou de outro tipo. Um outro tipo que nada tem de especial e que, no fundo, termina onde termina o primeiro: Eu sou dos que sabe que o "quase" não muda nada. Eu sou daqueles que sabe que por muito que se prometa, por exemplo, não pecar mais, não fumar mais, não comer mais carne vermelha, não ver mais o Big Brother, não ignorar mais os pobres, não negligenciar mais a família, não usar mais boxer vermelhos... enfim, toda a parafernália que se possa imaginar, nada disto terá efeito prático quando as ondas amainarem.

Não critico, talvez seja igual, mas incomoda-me.
É como disse, o "quase" não muda nada.
Amanhã seremos, outra vez, as mesmas bestas egoístas que fomos ontem e a ilha que nos juntou, por alguns momentos, ficará, outra vez submersa.

Saturday, February 18, 2012


Há uma belíssima música que reza que tristeza não tem fim, felicidade sim.
Recuso-me, por uma questão de sobrevivência e de sanidade, a acreditar que tal corresponde à verdade mas as evidências vão-se acumulando e esta recusa começa a parecer-se, a cada dia que passa, mais como uma fé irracional do que com a, por mim, tão admirada objectividade.

A rendição ao que não me agrada ser uma evidência tem consequências tão devastadoras como a afirmação em si. O redemoinho da alegria é passageira e o da tristeza não, digamos que a tristeza poderá, quando muito, ser entrecortada por um raio de sol que não durará o que se pretende que dure porque o negro absorve toda a luz.

A resistência que vou tendo contra os astros terá uma enorme dificuldade em manter-se durante muito tempo. Chegará, ao que parece, o malogrado dia em que me virarei de patas para o ar e desistirei de calcorrear este percurso redondo que só me surpreende porque quando vou a meio já me esqueci do início e quando lá chego, ao ponto em que o fim e o princípio são a mesma coisa, já não me ocorre que lá tenha estado.

Até lá: Dance me to your beauty with a burning violin

Tuesday, February 14, 2012

Acabei agora de ler um artigo em que o entrevistado dizia que a guerra contra o terrorismo é uma fachada e que a única coisa que, realmente, importa, é o petróleo. Acrescente-se, ainda, que não é apenas a guerra contra o terrorismo que é uma farsa mas também o suposto apoio às revoltas da Primavera Árabe que mais não é um outro caminho para a mesma finalidade.

Estranho mundo este em que concordo parcialmente com o que o tipo em questão diz.

A única coisa com a qual não concordo, na verdade, é chamar "fachada" à guerra contra o terrorismo. Não acho que seja uma fachada. Acho que ela existe porque foi provocada (sendo certo que a questão de "quem provocou quem primeiro" é controversa) e tem de ser travada.
Infelizmente, embora não a chame de "fachada", o efeito prático da coisa não é assim tão diferente, isto é, o que me parece é que se aproveitou a guerra contra o terrorismo para outras finalidade que entroncaram de forma forçada nesta demanda.

O que teve o Iraque que ver com isto? Alguém acreditou que lá andassem armas de destruição? Será possível?
Onde anda o apoio efectivo, não meramente verbal, contra ditadores que não têm o azar de ter petróleo? A Síria demora tanto quando a Líbia foi tão rápida? A tragédia africana é menor que a da Líbia e o o Iraque foi? Não.

É trista tudo isto.
É triste que tudo se resuma a interesse energético - que não deve ser, contudo, desvalorizado - e não a direitos humanos e mais do que triste por tudo isto é ainda mais triste gozar com povos fingindo que alguém se importa com eles, ou melhor, APENAS com eles.

A questão principal que, a mim, se levanta é mais difícil de responder:
Será que quem está obcecado com a energia e relega para segundo plano cidadãos que não os seus está errado? Para ser bonito diria "sim" mas para ser verdadeiro direi "não sei".

Saturday, February 11, 2012

É Complicado

Raramente é verdade.

Quando perguntamos alguma coisa e a resposta é "É complicado" isto raramente corresponde à verdade. Tornou-se um eufemismo para justificar a incapacidade de escolher ou a justificação para uma eventual má escolha.

Pode-se dizer que o processo de decisão não é uma linha recta mas a expressão, normalmente, mais indicada para classificar uma escolha de "complicada" será o "é difícil". Sim, com isto eu concordo, por vezes ou muitas vezes é difícil escolher, tomar uma posição, decidir mas complicado é-o mais raramente.
Quando te perguntam se preferes isto ou aquilo tudo é muito simples: é entre o isto e o aquilo e nada mais. Pode custar-te escolher porque temes ferir o isto em benefício do aquilo ou vice versa mas nada tem de extraordinariamente complexo.

É coisa de gente crescida, eu sei.

Thursday, February 09, 2012

É preciso válvulas de escape, como a panela de pressão as tem.

Quando vejo manifestações, greves, insultos no trânsito, discussões por coisa nenhuma na rua e afins não retiro, imediatamente, daí que estejamos no terceiro mundo ou numa sociedade atrasada ou entre marginais de terceira categoria. É verdade que a evolução é medida, em larga escala, pela educação e sã convivência entre os cidadãos que compõe uma determinada sociedade mas, como não há sociedades perfeitas - por muito que os comunistas nos digam que é possível - vai sempre haver fricção e descontentamento e torna-se necessário...aliviar a pressão.

Apesar de ser manifestamente simplista e, por isso, passível de erro, poderemos tentar ver a sociedade como uma pessoa. Por exemplo, os problemas que afectam um cidadão do Darfur são muito diferentes dos que afectam um holandês e, se optarmos por uma métrica objectiva, são muito mais graves os do primeiro do que os do segundo; contudo, as medidas raramente são objectivas. Enquanto a Paris Hilton é capaz de colar por não conseguir uma reserva num determinado restaurante, o português médio stressa porque lhe constrange o orçamento uma sandes fora de casa. Ora, sendo evidente que o português sofre mais, objectivamente, não é tão claro que o faça subjectivamente, isto porque os problemas são aferidos pelo seu enquadramento socio-económico.

É preciso que se barafuste, de quando em vez e sem um motivo muito grave para o fazer porque quando se espera que a capacidade de aguentar atinja o seu limite passamos de uma altercação para uma explosão.

Tuesday, February 07, 2012

I sing the songs that people need to hear.



RIP Etta James.

Thursday, February 02, 2012

O PR

Há uns dias, os suficientes para já não se chamar de "actualidade", o Presidente da República informou os portugueses que o que recebia mensalmente não seria suficiente para cobrir as suas depesas.
A impressão que me deu é que ele percebeu, instantaneamente, a diarreia cerebral de que se havia sido vítima mas a merda já estava feita. O que me leva a crer que ele percebeu? Fundamentalmente duas coisas: uma é que foi rápido a falar dos 1.100,00€ de uma das pensões mas esqueceu-se a quanto ascendia a outra e a segunda é que convidou os jornalistas a averiguar.
Averiguação feita, o valor que não lhe dá para as despesas é de 10.000,00€ mensais, sendo certo que se esqueceu, também, que além de ter casa, comida e roupa lavada à pala (bem como carro, motorista...) ainda dispõe de uns 3.000,00€ para as enigmáticas "despesas de representação". Em suma, 13.000,00€ são curtos para uns finos (fora de casa, claro) e para uns eventuais cigarros.

Depois desta brilhante barbaridade, houve uma comunicação lá da Presidência que, mais do que tarde e a más horas, foi ridícula; no seguimento do caminho trilhado por parte (grande parte, diga-se) da comunicação social indicado por spin doctors, veio dizer que o que queria ter dito é que também ele tinha perdido os subsídios e que, assim, estava solidário com os portugueses.

Quando ouvi esta mensagem veiculada só uma palavra me ocorreu: FODA-SE!!!

O que incomoda os portugueses não é que ele perca os subsídios e, a mim, também não me importa que ele seja bem remunerado. Não concebo que o Presidente da República seja mendigo.
O que incomoda os portugueses é este desfazamento da realidade em que este gajo e outros vivem (já vi o tipo que andou a fazer relatórios da RTP para o governo dizer que 5.000,00€ mensais nem é dinheiro que se veja) em que 10.000,00€ (esqueçamos que não tem as despesas já elencadas e os 3.000,00€) são insuficientes para se viver!!!
Diz-se que a média nacional são 750,00€ (valor em que apenas posso confiar se aqui estiverem os ordenados dos futebolistas) e este tipo, com 10.000,00€ vê-se à rasca? Droga? Jogo? Pêgas? Estupidez?

Nós não somos estúpidos!
Não é possível que o gajo que teve todo o dinheiro do mundo, enquanto PM e que nada fez, o gajo que pede sacrifícios a torto e a direito, o gajo que apela à contenção, o gajo que compra acções abaixo do que elas valem e as vende pelo preço - com a ajuda de amigos, é claro - venha atirar as mãos à cabeça porque só tem 10.000,00€.

Ej pá, foda-se...

Egito

Ontem vi, como todo o mundo, a carnificina que se deu no estádio de futebol egipcio entre a equipa do Manuel José e outra. Foi um vislumbre do inferno...

Há coisas que me custam um pouco a perceber.
Uma delas é como é que deixaram os jogadores voltar para o campo depois do intervalo. Sim, o intervalo durou mais do que aquilo que era suposto porque o campo tinha sido invadido e tiveram de o evacuar. Poderia alguém imaginar que a coisa ia acalmar?! Ok, podem dizer que temeram que o motim acontecesse ao intervalo, se cancelassem a segunda parte...pois, estava-se a ver que ia acabar bem...
Outra foi a entrevista, telefónica do Manuel José. É absolutamente lamentável a violência a que, também ele, foi sujeito, não apenas os pontapés ou socos - que não tiveram consequência - mas especialmente o facto de ter visto feridos passarem a falecidos à sua frente, no balneário. Agora, em resposta à questão "o que iniciou isto?" ter respondido que foi uma má arbitragem?! Das duas uma: ou é absolutamente alienado do mundo (especialmente da parcela de mundo que habita) ou tem a cassete demasiado enraizada para destravá-la.

Aquilo que ontem se viu é selvagem mas não é praticado por selvagens. Aquilo somos nós, todos nós, quando estamos perdidos e não vemos forma de voltarmos a encontrar-nos.
Não desculpabilizo ninguém: os tipos que mataram e feriram devem ser severamente punidos!!
Temos, contudo, de entender porque o entendimento é meio caminho andado para evitar que as pessoas não se entreguem a um instinto primário que começa (apenas começa) num jogo de futebol.

(Não acredito que se aprenda nada com isto - realismo evidente - mas vai ser uma pena...)