Wednesday, December 18, 2019

Não tenho a certeza absoluta de ser um bom filho, mas volto a casa com alguma frequência.


Monday, December 09, 2019

Yeah, I´m a lucky man


Friday, December 06, 2019

Perder a Identidade

O título é dramático e a situação também pode ser.
A vez que, talvez, mais ouvimos este frase ou alguma sua parente refere-se à aparência;
A estrela de hollywood a quem a idade rouba a beleza, beleza que era Ela.
O pugilista que sofre de uma qualquer doença degenerativa que o faz uma sobra daquilo que foi porque a sua capacidade de partir bocas era Ele.
O jogador de futebol a quem os joelhos abandonam e tornam as suas fintas uma caricatura do que foram, fintas que eram Ele.

Estes casos são mais fáceis porque visíveis e, normalmente, afectam alguém que sabemos quem é.

Há quem pense a crise de meia idade como uma crise de identidade que, de facto, pode ser mas não tem de ser; na minha opinião, de resto, a crise de meia idade não apoquenta, as mais das vezes, a identidade mas antes a contagem dos minutos que se seguem e que são, agora, menos do que os que passaram.
Parece-me mais um confronto com a mortalidade que era abstracta meia dúzia de anos antes.

Aquilo que mais me interessa é a diferença entre perder a identidade e mudar a identidade. Perder e mudar, neste contexto, são perigosa e tristemente próximas de sinónimos.

Todos estamos agarrados a uma determinada ideia de nós. Todos nós achamos que uma determinada característica ou um determinado conjunto de características nos define. E muitas delas ou a sua maioria nem sequer são visíveis (se tivermos sorte e não pensarmos na ausência de rugas como algo verdadeiramente importante!).
...e é difícil vermos essas características escapar-nos.

Eu, por exemplo, comecei a ficar irritado por achar que estou a amolecer.
Reparem: eu amolecer não faz de mim mole mas faz de mim mais mole do que o que já fui.
O acumular de dias e de livros e de experiência tornou a minha empatia mais presente e a empatia é um paralisante, se não tivermos cuidado com ela.
A minha óptica quanto a como ultrapassar este torpor não mudou: é óptimo entender para se tentar evitar futuros erros mas esse erro, o que aconteceu, merece ser castigado e mais nada. Este gajo ainda sou (percebem porque disse que estou mais mole mas não mole?)

Passei a ponderar se isto ou aquilo merecem esforço de desforra e, a maioria esmagadora das vezes, continuo a achar que sim mas, agora, pondero e demoro mais tempo.

A Lei de Talião era uma parte importante e muito definitiva da minha identidade e o seu esbatimento ou, pelo menos, a menor velocidade de aplicação foi (acho que ainda é) um problema.
...ainda assim, era uma parte importante mas não a mais importante e, se quisesse pensar seriamente nisso, talvez não estivesse no top 3.

Talvez o mais relevante daquilo que penso sobre mim é que sou Livre.
Não uma liberdade a resvalar para o irreal mas uma liberdade de pés na terra.
Poder despedir-me, se quiser;
Poder apanhar um comboio e zarpar, se quiser;
Poder comprar uma garrafa de champagne, se quiser;
Poder deitar-me às 6 da manhã, se quiser;
Poder levantar-me às 3 da manhã, se quiser;
Poder não atender o telefone, se quiser;
Poder não falar, se quiser;
Poder dizer pós caralho independentemente do interlocutor, se quiser...e por aí fora.

Como disse, realista e, por isso, acrescento que não é fazer nenhuma destas coisas que me satisfaz; o que me preenche é poder fazer se me der vontade.

E estou a ver tudo isto ir com o caralho.

PARTE II DA COISA

O momento é difícil mas não é novo.
Sempre que tive um relacionamento sério, por exemplo, deparei-me com uma situação semelhante: a minha vida é mais livre, sozinho. E eu sempre apreciei essa liberdade. E é por isso que os meus relacionamentos não enchem uma mão.
Em todos os relacionamentos sérios que tive, decidi comprimir esta minha liberdade e esta minha característica em troca de ter o que me pareceu merecer este sacrifício.

A minha vida ficou mais difícil, em todos os casos;
A minha vida ficou melhor, em todos os casos.

Aquilo com o que me deparo, agora, será mais determinante e mais restritivo.
E é-me impossível não temer perder o K que sempre conheci e tornar-me numa outra letra do alfabeto. E eu gosto muito da minha letra.
Não estou paralisado. Eu não paraliso. Isso - graças a todas as divindades!!! - não mudou.
Não estou, sequer, triste.
Mas esta perspectiva deixa-me tenso.

Não deixaria toda a gente?!

PARTE III DA COISA

Estava a pensar na seca que são a maioria dos reencontros que tenho tido com as pessoas que partilharam comigo a sua juventude.
Não tenho paciência para as recordações de há 20 anos que parecem ser de ontem.
O tempo passou e o passado é isso mesmo: passado.
Obviamente, falo de coisas passadas sem achar chato mas tem de ser pontual e engraçado. O presente interessa-me mais.

Eu já não sou o mesmo gajo que era há 20 anos.

...e talvez o mais justo seja pensar na identidade como modificada mas não perdida.
É um bocado estúpido pensar-se na identidade como perene ao mesmo tempo que a pessoa é outra.
Talvez dizer outra seja um bocado excessivo mas entre a mesma e outra o outra ganha destacado!

O que quero - e quero tanto por sanidade como por realidade - é dizer-vos e dizer-me que não faz bem estarmos a pensar no passado como sempre recente. Não é bom achar que o melhor já passou porque - excluindo casos extremos e questões de índole física - eu sou hoje mais interessante e mais inteligente do que era antes; eu sei mais coisas; eu sou mais completo.

Não sou um homem saudoso e nunca fui.
Se quiserem pensar, por exemplo, nos meus relacionamentos passados, não olho para eles a pensar aquilo poderia ter dado certo se... Não quero com isto dizer que nunca tive momentos de fraqueza em que o fiz; houve alturas chatas em que achei que talvez a remota solucionasse alguma coisa.
Foram momentos de fraqueza e nunca acreditei realmente nisso.

Também sou de carne e osso.

Bem, isto vai longo e é provável que me tenha perdido a dada altura.

Eu sou outro.
A minha identidade não pode ser a mesma.
(repetira duas mil vezes por dia)