Tuesday, April 13, 2021

Velhos do Restelo

Não sei se há Velhos do Restelo ou só velhos.

Felizmente, não me ouvem dizer no meu tempo é que era! porque não acho que fosse. O Mundo não era perfeito na altura, não é perfeito agora e não vai ser amanhã. A impressão que me dá é que o pessoal acha o antes mais espectacular porque eles estavam lá e faziam-nos assim. Não será, talvez, a valorização de um contexto mas uma valorização própria.

Por exemplo: há uns dias, o Rui Jorge - seleccionador dos sub 21 - disse que os jogadores de ontem não tinham a mínima hipótese no jogo de hoje e a plateia ficou chocada! A plateia, todos mais velhos, acharam aquilo uma barbaridade...mas não é!

Quando estava a ver o Portugal - Espanha em rugby (e, reparem, nenhuma das duas está remotamente perto do topo mundial) disse-lhe foda-se...nós jogávamos a 10 kmh. Estes gajos são muito mais rápidos e mais forte! e são mesmo! A minha selecção de há 20 anos era capaz de lá pôr 1 gajo!

Obviamente, estamos a comparar o incomparável. Obviamente havia gente ontem tão ou mais talentosa do que a de hoje. Obviamente, talvez os de ontem se treinassem hoje, com as mesma condições e a mesma ciência talvez fossem melhores.

MAS o ontem era pior do que o hoje e acho isso quase transversal.

...contudo, quando vejo o caso do Ivo do TCIC ou ouço o pessoal a falar de projectos quando não são projectos ou conceitos novos quando não são conceitos novos ou ouvir Rihanna como se isso alguma vez venha a ser Allman Brothers...

Sinto que o Mundo está a desintegrar-se e vem aí uma desgraça! E aí, talvez seja eu o Velho do Restelo, ainda que considere que estou apenas a ser realista.

Bem, pelo menos um gajo consegue ir para as Filipina por 500,00€, não é? Então, tudo vale a pena.

Monday, April 05, 2021

MIGUEL SOUSA TAVARES E AS SUAS ENTREVISTAS

 Houve tempos em que não era do meu conhecimento que o pessoal tinha agendas e que falava do que não sabia (afinal, apareciam na televisão!) e que dizia merdas para ganhar o pão.

Depois, fui aprendendo cenas e o espelho partiu-se. Foi só mais um passo na direcção do cepticismo ou do que muitos poderão chamar de cinismo.

Eu achava sabes tudo como o Miguel Sousa Tavares espantosos, o mesmo tratamento merecendo, por exemplo, os gajos do Eixo do Mal; sim, alturas houve em que não achava esquisito que um documento como o orçamento de estado com milhares de páginas fosse comentado meia dúzia de minutos depois.

Era mais estúpido do que sou hoje, é verdade. Espero que muito mais estúpido do que sou hoje mas isso é mais incerto.

....e regressando:

Evito com propósito as entrevistas do Miguel Sousa Tavares mas, volta e meia, sou apanhado na rede. É um bocado como um acidente na estrada ou a CMTV. Às vezes demoro meia dúzia de minutos para o mas que caralho estás tu a fazer, K?! 

Hoje, estava a entrevistar um advogado cujo nome me escapa. Já o vi antes. É capaz de ser conhecido e, até, competente mas fico sempre com a pulga atrás da orelha com os advogados mediáticos cá do burgo.

Apanhei a parte José Sócrates.

A primeira que ouvi foi sobre prova indirecta e o que isso seria. 

Miguel Sousa Tavares disse que no despacho de acusação (eu li o despacho, disse com pompa) consta algo como o empréstimo de Vale do Lobo foi feito quando o Vara era administrador e como conhecia José Sócrates, acusaram-no!

O advogado disse-lhe que nos termos em que me descreve, isso não é prova indirecta. Não é preciso ser jurista para o saber.

Ora, é evidente. Se for como o Sousa Tavares diz que é, pura e simplesmente assim, não faz nenhum sentido...mas algo me diz que não é (eu não li o despacho de acusação).

E o que me leva a achar o que acho além do mero senso comum? Veio um minuto depois.

O Dr. não acha inadmissível que o TICÃO tenha dois juízes com interpretações tão diferente?!

O Dr. achou um bocado inadmissível (o que me choca, sem mais) e sugere ou que se mandem para lá mais juízes ou que se acabe com o TICÃO. 

 Pá... 

(estou com a televisão em ruído branco enquanto escrevo isto e dei agora que estou a ouvir a Fátima Campos Ferreira. Foda-se que não falho uma, hoje!)

É justo achar que dois Juízes são insuficientes? Talvez seja. Estou, até, inclinado a achar que serão.

É justo achar que para haver um TIC deste tipo mais vale não haver nenhum? Não tenho conhecimento técnico para isso, pelo que apesar de achar uma ideia esquisita não a posso excluir sem mais.

Mas o problema é outro:

Quando duas pessoas têm uma interpretação muito díspar do que quer que seja, a esmagadora maioria da vezes uma delas está errada. Ou muito mais errada que certa. Ou é um puto de um penedo. Ou tem interesses que o forçam a entender as merdas de uma determinada maneira.

E, no caso concreto daquilo que falamos, o que acontece às decisões? Discordando-se - ou não se discordando, na verdade, mas isso são contas de outro rosário -, recorre-se. Do recurso haverá uma decisão que dá razão ao, neste caso, Juiz ou não.

Portanto:

J1 acha uma merda;

J2 acha uma merda muito diferente.

Os Js de outro lado vêm dizer com quem concordam.

Agora, o que ninguém se lembrou de dizer ou perguntar (nomeadamente o Miguel, que entrevistava) era qual dos juízes do TIC leva mais chumbada nos recursos.

Se houver um que vê muitas mais decisões suas revertidas em sede de recurso do que o outro (e há!) deixa de ser estranho que tenham entendimentos muito diferentes e passa a ser muito estranho como é que o gajo que entende mal à força toda ainda lá anda.

Portanto, o problema pode não ser terem entendimentos tão diferentes mas antes um entender tão mal, coisa que não terá passado pela cabeça de ninguém.


Isto é só triste, não é?

Mas o pessoal tem de ganhar o pão e tentar ser relevante mesmo tendo de se fingir o enfant terrible de 70 anos.