Romantismo e as Pessoas Estranhas
Não sei se é um problema de sofisticação, inteligências, esforço/preguiça, patologia ou questões do foro psíquico que impede que se veja o que acontece.
O problema de ver tudo pela rama ou apenas pela derme irrita-me mais do que o que deveria mas, felizmente, guardo isso para mim ou para este diário e só muito raramente me descaio.
Comecemos pelo já clássico Dr. House.
É muito comum que quem conheça a série e me conheça a mim veja muitas similaridades. E nem sequer acho que estão enganadas, eu vejo também, eu só não vejo o mesmo, provavelmente porque, ao contrário da generalidade (todos?) eu conheço-me.
Porque sou parecido com o House?
Porque sou directo, claro, cínico, pouco preocupado com a auto-preservação, resultadista, realista e - embora não seja dito por desconhecimento - existencialista.
(In)Felizmente, sou parecido em muitas outras coisas mas coisas que muitos do que assistiam à personagem também não encontravam.
Quando o Wilson decidiu doar parte do fígado e pediu ao House para que ele assistisse à operação para lhe dar conforto, o House recusou. Porquê? Porque se morreres eu fico sozinho e depois foi assistir mas não disse.
Quando o Wilson decidiu não fazer quimioterapia e aceitar a morte inevitável mas mais prematura o House tentou tudo para que tal não acontecesse porque o que vou fazer eu sem ti?!. O Wilson disse-lhe que precisava que ele lhe dissesse I love you sem perceber que já lhe tinha sido dito muito mais que isso.
Quando a Cuddy teve um ameaço de cancro, o House voltou para a droga - o que levou ao fim da relação, o que para este efeito é secundário - porque não aguentou a ideia da perda.
Pouco empático, como um psicopata, ou empático demais, como outra coisa qualquer?
Cínico ou romântico?
Pela rama, psicopata e cínico; Se se souber olhar, empático demais e romântico.
Só é estranho porque menos óbvio na essência e demasiado óbvio à superfície.
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Há um amigo meu que me diz muitas vezes, em tom de gozo, és um romântico!!!
Sempre confirmei. Nunca o neguei. Não o nego a ninguém.
O que acontece é que, ainda assim, quem me ouve pensa que estou a ironizar. Que estou jocosamente a concordar por ser tão parvo.
Não é o caso. Confirmo porque é verdade.
Não sou o romântico do Hoe I Met Your Mother ou do Love Actually. Não sou o sofredor que oferece flores ou que planeia escapadas e mensagens românticas para ser fofo (ainda que também o possa fazer mas é absolutamente indiferente).
Sou o romântico de soma zero.
Quer dure mais ou menos tempo - a maioria das vezes menos - quando estou com uma mulher só estou com ela. Se não quiser estar só com ela, não estou de todo (mais que duas horas, claro).
Ah, somos todos assim!.Não, não somos. A maioria de nós é uma outra coisa. Convence-se que gosta porque está quando, na verdade, na maioria das vezes tem de estar; a maioria de nós pensa ser suficiente não dizer palavrões e ser simpático para comprovar sentimento; a maioria de nós sente ser suficiente lambrar-se de aniversários e afins para comprovar atenção.
Não.
Isso é fácil. Isso requer coisa nenhuma. Isso é o que EU faço quando só quero comer alguém porque a ilusão é suficiente para o efeito.
Eu estou lá, inteiro e nem sempre de forma agradável; Eu estou mais preocupado em saber que chegou bem a casa do que em mandar-me uma mensagem de bom dia; Eu prejudico-me para benefício alheio, quando sinto como merecido; Eu fico porque tenho de ficar; Eu quero o bem dela e, por isso, muitas das vezes tenho de ser menos o que se quer e mais o que se precisa; Eu não quero presentes nem lembranças de aniversários, Eu quero tudo!
Ontem falei com uma pessoa com quem não falava há mais de 1 ano. Eu sei o que aconteceu e ela também mas preferimos ignorar, coisa que me é contra-natura. Porque aceitei? Porque se fizesse tudo ficar às claras ia sair beneficiado no meu ego e prejudicar o que nem sei se terá salvação.
Apanhei (figurada mas dolorosamente) em benefício alheio e não faço isso por quase ninguém.
Quando me disse perdi o teu número...nem te liguei no aniversário (isto de ter perdido o número é verdade, caso contrário não teria apanhado) respondi-lhe oh X, caguei para não me ligares no aniversário, o que eu quero é que me ligues a uma terça porque sim.
Estranho ou romântico?
Eu tento controlar a minha obcessão e sou obcessivo em tudo.
Como os anos foram andando, fui quase aprendendo.
Estou numa situação, agora, que não sei onde vai dar e, por isso, ando a refrear os ânimos com uma força que me está a cansar... mas tem de ser assim enquanto conseguir.
O problema é que se não tiver colaboração, se for picado, não vou resistir.
O que faço eu?
Então: corto as comunicações o máximo que consigo e ao fim-de-semana apago todas as referências à pessoa em concreto, o que, na verdade, se resume às sms trocadas durante a semana (nem o número gravei).
Porquê?
Porque se o tiver é possível que o pistão me cole e tente estabelecer contacto, tanto alcoolizado como não, e não quero isso! Estou a evitar, abertamente, e já lhe disse que o estava a fazer e como estava a fazer.
Contei esta história a uma amiga minha e ela disse-me foda-se! Isso é que é um preservativo!!!
Ri-me desbragadamente. É isso mesmo que é. Um preservativo emocional (e estou a rir-me muito ao mesmo tempo que escrevo esta história).
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Há uma maneira muito fácil de me tirarem da vida: façam com que eu ache que não me querem lá.
Mais uma vez, parece uma banalidade mas não é porque só conheço mais uma ou outra pessoa assim.
Ex.1
Eu gostava muito da minha primeira namorada...como gostei muito de todas elas e por todas quero dizer menos de uma mão cheia.
Ela sabia; Eu sabia. Era recíproco.
Foi uma relação muito boa mas que, muitas vezes por culpa do meu feitio, teve dificuldades mas tenho orgulho em nunca ter dado um tempo (coisa que não fiz com nenhuma). Durou bastante e, depois, acabou.
Como acabou esta relação?
Saber, Kaiser, já não me sinto feliz...
OK, Y, vou bazar.
Estava num café e foi o que fiz. Bazei.
O que ela fez foi tentar que eu a reconfortasse no sentido de que o que estava a incomodar seria melhorado e não acabar comigo. Era o que ela queria. É o que as pessoas querem quando fazem isto.
O cálculo saiu mal. Já andava comigo há tempo a mais para pensar que isto poderia ter outro desfecho.
Eu tento tudo para que as coisas melhorem, ainda que não pareça ou ainda que não consiga, mas não me digam que não me querem porque vou-me embora.
Romântico ou esquisito?
Outra das minhas namoradas, por quem fui profundamente apaixonado (uma coisa que ainda hoje me faz confusão), era muito possessiva e ciumenta (característica que acompanhou todas elas sempre e que, para elas, era sempre novidade. eu nunca fui assim em nenhuma relação) e isso não me importava muito. Não tinha nada a esconder, não queria estar noutro lado, não queria mais ninguém e os acessos passavam-lhe depressa.
Cheguei a pensar em mudar de cidade, viver junto e cenas dessas, tudo novidades para mim (foda-se, estava mesmo apaixonado).
Uma vez, queria acabar comigo por uma parvoíce que tinha que ver com nada e, contra-natura, fui ter com ela e convencê-la que estava a ser parva. Coisa que me custa muito mas que tolero quando gosto...porque ela só tinha medo.
A dado momento, ia viajar, e foi-me dito se fores, acabamos e eu fui e acabamos.
Não me façam sentir que não me querem porque vou-me embora.
Romântico ou esquisito?
Na história contei na passagem anterior - para cortar com romantismo e falar de amizade, onde também sou romântico - o que aconteceu foi similar.
Era uma mulher com quem me dava muito bem e a recíproca também era verdadeira. É uma pessoa que, como eu, não gosta de partilhar o sofrimento próprio e fazia-o comigo e, mais uma vez, isso é muito mais que um ramo de rosas.
Ligava frequentemente para saber como estava e prestava toda a ajuda que podia e a recíproca era, também, verdadeira.
Há coisa de mais ou menos 1 ano, por uma sequência de factos, senti que estava a ser chato e que a minha preocupação/amizade ou não era querida ou estava a ser excessiva, o que também pode acontecer.
Desapareci até ontem.
Romântico ou esquisito?