Monday, December 28, 2009

Natal

Dizer que me diz pouco será dizer demais.
Nunca senti o apelo espiritual da quadra e nem me senti um gajo melhor e mais tolerante que nos outros dias do ano. Para mim, a frase "Natal é sempre que o homem quiser" faz todo o sentido porque o inverso também será verdade.

Para ser absolutamente sincero, encontro poucos momentos ou alturas que me cheirem tanto a hipocrisia.
Sempre que nos aproximamos do dia 25 de Dezembro tenho a impressão de que o desejo de todas as Misses da história das Misses verão o seu desejo realizado: "O fim da fome e a paz no mundo". Depois, dia 26 e nos dias que se seguem nada muda e no dia 25 de Dezembro que se seguirá volta tudo ao mesmo.
Nada do que digo é novo mas esta quadra tem o condão de me irritar (nem falo da super festa que TEM de ser o ano novo...).
Não gosto que me mintam, não gosto que se mintam.

Há muito tempo que ouço que o Tribunal é o lugar onde mais se mente em Portugal. Ora, se o lugar é o Tribunal o tempo é o Natal.

Reconheço, contudo, uma coisa muito positiva no Natal.
Apesar da falsa moralidade e da mascarada apatia, é uma altura para juntar todos à mesa e isso é uma enorme virtude (mesmo que da mesa conste gente que não temos particular alegria em ver).
Será esta a única virtude e a coisa mais parecido com o sagrado que daí resulta.
O problema é que a minha família é minúscula, vejo-a todos os dias e quando bem entendo. Sim, isso em si já poderá ser muito positivo e agradável mas, em contrapartida, para mim o Natal nem para isso serve.

Wednesday, December 23, 2009



[Porque nem todo o alimento se destina ao espírito, não me importava de receber a Wanessa no sapatinho].

Mostrei este presente a um amigo e a primeira coisa que me disse (como se fosse uma gaja e fazendo-me duvidar da sua masculinidade) é que isto deve ter carradas de photoshop. Pois...contei-lhe esta mesma história:

Um amigo chega a casa de outro com uma revista na mão e diz-lhe "abre na página x".

O outro amigo abre-a e diz "hmm....nem se vêem poros, isto é claramente alterado e melhorado, ela NÃO é assim".

Como resposta, o que trouxe a revista, diz-lhe: "Comi-a ontem!!!"

O que se preocupava com a verdade das fotografias responde-lhe: "És um deus entre os homens!!!"

Tuesday, December 22, 2009

Acredito na existência de algo superior a que, por falta de melhor palavra, também chamo de Deus.
Não professo nenhuma religição, não tomo de parte de culto de nenhum tipo mas, apesar disso, a dado momento da minha vida, rezava. Também neste caso, não o fazia por seguir um determinado cânone mas apenas porque não conhecia (como ainda não conheço) outra forma de dar graças.

Mais verdade, ainda, do que já escrevi é que só em momentos de enorme fraqueza me dignei a pedir o que quer que fosse. Em cada vez que o fiz muito o evitei e muito combati para não cair na tentação de o fazer. Aos meus olhos, é a coisa mais parecida com desespero que há e se há coisa que odeio com cada célula do meu corpo é sentir-me inofensivo.
Mas por que motivo me sinto idiota em fazer o mesmo que milhares de milhões fazem dariamente? Bem, não os acho idiotas (muitas vezes gostava de ser como eles). Não os encaro como menos que eu e, estranhamente, até os percebo.
Sinto-me idiota porque sigo outro caminho, tenho outra mentalidade e procuro que as coisas façam algum sentido.
Por natureza procuro ser auto-suficiente. Não quero dever favores a entidades terrenas ou divinas, não quero depender da boa vonta de elmentos seculares ou de qualquer tipo para que as coisas corram como quero que corram e, acima de tudo, soa-me tão estúpido achar que alguém vai deixar de fazer coisas manifestamente mais importantes para me dar, digamos, a Monica Belluci de presente.

Sim, eu sei, não é uma ideia nova esta de confiar que alguém pode responder a todas as preces, até porque, de facto, não responde...senão, quantos vencedores do Euro Milhões teriamos por semana?
Na verdade, vi há pouco tempo um excerto de um documentário (infelizmente, não me lembro do nome) em que o tipo pergunta a um crente se acredita em Deus, ao que este, prontamente, respondeu que sim. Depois, perguntou ao mesmo tipo se ele acreditava no Pai Natal, ao que este, prontamente, respondeu que não.
Depois desta brevíssima entrevista, o locutor resumiu assim a coisa:
- Então, parece-te absurdo que um gajo possa, numa noite, entregar todos os presentes ao mundo mas já não te parece absurdo que outro ouça milhares de milhões de pedidos ao mesmo tempo.

É simplista, sim, contudo, não é absolutamente disparatado.
Eu acho que Ele anda lá por cima mas também acho que tem mais o que fazer do que responder à prece pelo vencedor do Ídolos ou àquela que pede as novas botas Gucci que viu na montra...seria ridículo demais.

Monday, December 21, 2009

Frases

Há frases ou conjuntos de frases que me ficam gravadas na memória. Não faço por isso mas, de vez em quando, estou a ouvir uma música (especialmente música) que diz uma coisa ou outra que não me sai da cabeça e que traduz muitas das coisas que vivo ou vejo (o siga onde vão meus pés que eu te sigo também, que consta do meu perfil, é uma delas).

Por isso, vou colocar aqui algumas, com os devidos créditos (quanto ao intérprete que poderá ser, também, o autor mas não necessariamente) e a brevíssima reacção visceral que me criou.

"It's no secret that a liar won't believe anyone else"
U2 - The Fly
A explicação para os que fazem do cepticismo um modo de vida e a razão de ser daqueles que parecem sofrer de esquizofrenia mas que, clinicamente, não sofrem.

"...mas, não me queira só por pena"
Trajetória - Maria Rita
Não é tão clara e tão forte como deveria ser, para o efeito que provocou na minha cabeça, mas, subjectivamente, para mim, traduziu a verdade sobre a mentira que é o "no amor e na guerra vale tudo". Não vale. Mesmo no amor é preciso que se queiram as coisas pelo motivo certo.

"Que no peito dos desafinados
No fundo do peito bate calado.
Que no peito dos desafinados também bate um coração"
Desafinado - Tom Jobim
A pele não é suficiente para se saber o que vai por dentro. A cor dos olhos não revela a cor da alma. O que parece nem sempre é e a rudeza muitas vezes esconde o mais doce dos frutos.

"I want you to notice
when I'm not around"
Creep - Radiohead
Isso e nada mais.

"Esquece o nosso amor,vê se esquece.
Porque tudo no mundo acontece
E acontece que eu já não sei mais amar.
Vai chorar, vai sofrer, e você não merece,
mas isso acontece.
Acontece que o meu coração ficou frio
E o nosso ninho de amor está vazio.
Se eu ainda pudesse fingir que te amo,
Ah, se eu pudesse.
Mas não quero, não devo fazê-lo,
isso não acontece."
Acontece - Cartola
(...)

Friday, December 18, 2009

Descobri, há largos anos, que nunca seria outra pessoa. Nessa altura, contudo, acreditava, também, que isso era uma enorme vitória, aquilo que todos deviam desejar.
Volvido algum tempo, percebi que, de facto, nunca me tornaria noutro mas que também nunca seria o mesmo. Assim começou a saga de limar arestas.
Com o passar dos dias, a grande benção de ser sempre e constantemente eu passou a vestir um fato mais escuro, não negro mas mais escuro.

Seria uma enorme alegria, para mim, poder dizer, com verdade, que foi de observar como os outros se destroem e comem que decidi fazer algumas alterações, contudo, tal seria pura e simplesmente mentir. O que aconteceu foi que o que em mim foi progredindo surgiu de me ver comer outros, inconsciente de que o fazia mas, ainda assim, alimentando-me de outras almas.
Felizmente, porque apenas sofro de cegueira parcial (o orgulho e a competitividade são a pala que repousa sobre o meu olho direito), penso que nunca destruí ninguém que merecesse o afago da minha mão mas, malogradamente, nunca terei a certeza porque nunca perguntarei.
Aqueles (mais aquelas, se não quiser empurrar os factos para fora de casa) que operaram uma ou outra mudança em mim só o fizeram depois de serem podados dos meus ramos.

Foi a gentileza da minha primeira mulher que, depois de devidamente esgotada e de alma fracturada, me abriu os olhos para o facto de que não tenho de ser ferro todo o dia e todos os dias, para o facto de que o meu não não teria de estar gravado em pedra e poderia ter sido apagado e para o facto de que por mais que nos amem (e esta ainda me ama) o limite do tolerável ainda existe.
Não se pense que isto era unilateral, não o era de todo.
Acordava a pensar que faltavam menos uns minutos para a ver e dormia muito rapidamente para a ponte de um dia para o outro viesse mais depressa. Gostava dela com aquilo que me parecia todas as células do meu corpo, contudo, gostava mais ainda de ser eu e não outra pessoa qualquer.

Vivi com ela muitas coisas. Viajamos, passamos semanas sem ver mais ninguém, fomos verdadeiramente inseparáveis e recebi muito mais do que aquilo que estava preparado para receber e não fui capaz de dar mais de metade do que aquilo que tinha.
De tudo que passei e vivi posso dizer, para que este quadro fique devidamente pintado, que a lembrança mais feliz que possuo desse tempo foi quando ela se abraçou a mim, com todas as forças que tinha, e encostou a cabeça ao meu peito enquanto chorava compulsivamente porque, por um momento, enquanto cozinhava, quase tinha queimado a minha mão.

É o pouco tornado em muito e o imperceptível que, depois, se torna o sol de todos os astros.
É como as histórias que se contam, com enorme entusiasmo, aos amigos. Aquelas que relatam a ida ao México com a amada, aquele jantar no restaurante mais romântico e singular da Europa, aquele relógio recebido no aniversário... isto conta-se e dá-se um relevo exterior mas o que nunca esquecemos e o que torna singular o que para os demais é plural é aquele dia em que tudo correu mal e em que ela, silenciosamente, te puxou a cabeça para o seu colo e dele fez fortaleza.

Thursday, December 17, 2009


Matou-se.
Lamento que o tenha feito mas não mais do que lamento que (quase) qualquer outra pessoa o faça. É-me indiferente que seja (ou tenha sido) uma celebridade e uma actriz que, a dado momento, teve sucesso.
O que me chamou a atenção, como acontece sempre que alguém que parece ter tudo (beleza+dinheiro, como se costuma decompor este tudo) desiste.
Disseram-me que foi deixada uma carta explicativa e fizeram-me um breve resumo do que lá se lia. Pareceu-me pouco, paraceu-me banal e, por isso, decidi dar uma vista de olhos à biografia da Leila.

Esta beleza, esta enorme beleza (opinião pessoal...sou muito fraco para sotaques açucarados acompanhados de uma pele desta cor) fez parte de novelas da Globo, altura em que a conheci apesar de desconhecer o seu nome. Não era particularmente competente mas, nos dias que correm e já na altura, esta não é uma característica fundamental quando se completa com um sex appeal pesadíssimo (a listra que ilustraria o que acabo de escrever seria interminável mas direi apenas um nome: Soraia Chaves).
Depois, desapareceu como, de resto, não é menos comum do que o aparecimento meteórico. Até aqui, tudo é normal: Gaja podre, sucesso imediato, desaparecimento em Mach 3.

Anos volvidos, reaparece. Reaparece a fazer filmes pornográficos (descobri na pesquisa porque, apesar de não me desagradar a pornografia, não dou muita atenção ao elenco), isto oito anos depois de ter desaparecido do main stream.
Será uma coincidência que a Leila tenha ceifado a sua vida 1 ano, mais ou menos, de se estrear na pornografia? Depois de oito anos (2000 a 2008) desaparecida do grande público? Não me parece.
Restam-me poucas dúvidas que o suicídio foi o culminar de um sentimento que há bastante tempo a fazia sentir sepultada.
Foi a realidade que cavalgou para ela e lhe disse: Minha amiga, sonhaste com aquele sucesso, ninguém lhe deu atenção. Está na hora de deixares as esperanças vãs e abrires as pernas para que os mesmos que te viram como estrela te vejam, agora, como depositária de picas de terceira"

Isto terá sido o limite.
O que a terá feito sentir que nada mais valia a pena terá sido o defraudar daquilo que queria ser e, a dada altura, foi (o que só piora tudo). Foi colhida pelo sentimento de que era a carcaça que se esvaziou, a flor que murchou, o prisioneiro que não verá mais o céu, a borboleta que se tornou uma larva.
É como uma tortura auto-infligida.

Para muitos, não só famosos ou conhecidos, a morte dos sonhos é a morte da alma. Para alguns, não só famosos ou conhecidos, não vale a pena continuar a caminhada numa estrada para a qual foram empurrados.
Desaparece o que já há muito terá morrido.

Friday, December 11, 2009


Tenho a infelicidade de não querer pouco, tenho a infelicidade de nada me chegar.
Filosoficamente ou até mesmo verbalmente é, teoricamente, uma característica muito apreciada. Hoje, em virtude de fenómenos como o aparecimento do Mourinho (ainda que alicercado em visões antigas como o Super Homem de FN) tornou politicamente correcto o anteriormente impensável conceito de falta de humildade como virtude.
Ora, sofro desse mal há muito tempo e, até hoje, sempre me serviu bem. Em tudo que me envolvi sempre fui bastante mais do que suficiente e, por isso, além de parecer sou mesmo avesso ao normal e ao suficiente.
Como tudo na vida, creio que me foi incutido porque nada é absolutamente natural, nada vem de nada e terá começado com algo que afecta muitos pais e filhos, especialmente os filhos dos pais que queriam ser mais e nunca foram (ou porque não puderam ou porque não conseguiram).
Esta sede de mais é uma força impulsionadora, é uma forma da pedra não ganhar musgo, é a gasolina que faz andar mais rápido e o cálcio que fortalece os dentes.
É, também, o inimigo fidagal da paz de espírito, o pontapé nos dentes da calma, o tiro na cabeça do serão passado despreocupadamente em frente à televisão.
A incapacidade de aceitar o menos quando o mais não aparece é o pior dos sentimentos. Gente como a gente não revela que as pernas do espírito estão a balançar, que os alicerces da crença estão a afundar-se e que a incapacidade de saber reconhecer a realidade adversa como aquilo que é...a realidade.
No meio deste turbilhão, desta chuva de balas, aparecem os que não queremos, aparecem aqueles de quem gostamos. Crentes naquilo que sempre viram, estes não acreditam ser possível que por trás de quilos de ferro e de um motor de enorme cilindrada as coisas não estão bem. Crentes no que sempre viram, não conseguem perceber que apesar de trocar palavras, apesar de ver televisão, apesar de ler um livro nada é o que parece; não se sabe o que se diz, não se sabe o que se vê, não se sabe o que se lê. A única coisa que acontece dentro do que sempre conseguiu o que queria é um enorme sentimento de perda, desilusão, descrença, desapego... no fundo, um sentimento de fim.
Não, não vou parar.
Não, não vou aceitar.
Parar e aceitar seria destruir de uma só vez o que já se encontra em estado débil....não....acelarar, sempre acelarar.