Monday, January 31, 2011

Há anos atrás, um ribeiro que passa perto de minha casa tinha um determinado cheiro. O ribeiro mantem-se mas o cheiro desapareceu por terem encerrado as fábricas que desaguavam os seus produtos no caudal.

Ora, o cheiro a que me referi acompanhou-me desde que nasci até ao momento incerto, porque não consigo especificar, em que deixou de povoar o ar.
Só relativamente tarde passei a conviver com mais do que vizinhos e, por isso, só relativamente tarde comecei a receber amigos de fora em minha casa. Quando isto começou a acontecer, vários deles se queixaram do cheiro daquele ribeiro, incomodava-os, não era agradável.
A mim, contudo, mais do que não me incomodar e mais do que suportável, trazia algo de confortável... na altura nenhuma luz se fez mas, mais tarde, percebi que tinha assumido aquilo como um sinal de casa e, por isso mesmo, um sinal de afecto.

Comparando, é mais ou menos como alguns dos pratos que a minha mãe faz.
A minha mãe não é, nem de perto nem de longe, uma grande cozinheira, sei disso muito bem, mas a verdade é que o mesmo prato magnificamente confeccionado não me sabe tão bem como o outro, mais rudimentar e menos bem confeccionado.
É outra marca de casa, outra cor de afecto.

Isto porquê?
Porque é inacreditável aquilo que se entranha na nossa pele. É quase assustador como o medíocre e fétido pode tornar-se algo absolutamente diferente pelo simples facto de nos fazer sentir mais próximos....não necessariamente melhor....mas mais próximos...

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Wednesday, January 26, 2011

http://www.youtube.com/watch?v=xDavcs13HNs

Sobre Stan Getz, Coltrane disse "we´d all sound like that if we could".

Não se precisa dizer muito mais...

Tuesday, January 25, 2011

As preferências existem para ser desrespeitadas, ao que me parece.
Prefiro loiras e sou incomparavelmente mais atraído por morenas;
Gosto de mulheres que tenham onde agarrar, a magreza excessiva (pra mim, nem tem de ser tão excessiva assim) é muito desmotivante e....link que, quanto a magreza e a não me dizer nada, desmente tudo.

(fdp, não consigo colar o link....bem, youtube "PJ HARVEY - RID OF ME - LYRICS - HOT & LIVE! 2001)
Não sei se é comum ou não porque raramente falo deste tipo de coisas.
Há uma ou outra coisa, não mais do que isso, em que fico no dilema se quero ver ou ouvir uma nova vez porque apesar do prazer que me dão trazem-me o mais parecido com saudades que me é possível sentir e...para mim, é um sentimento detestável.
É um misto de doce e picante, é o querer e o desquerer no mesmo minuto, uma luz que se abre mas que de tão brilhante lembra a escuridão que se apodera quando não está presente.

No momento em que escrevo estas linhas estou a ser invadido por uma dessas coisas. Estou naquele limbo do prazer que me dá e do tombo que vou apanhar logo a seguir.
Sim, direi a quem quiser ouvir que temos de provar e viver antes da desilusão, desilusão que está, invariavelmente, depois de cada esquina mas, se sabemos que lá está, vamos aproveitar as rectas para o prazer, mesmo que seja efémero. Direi mas não praticarei.

É comum ouvirmos que que o que nos une é mais forte do que o que nos separa e talvez isso até seja verdade mas que nunca vi nada que durasse uma vida é uma verdade ainda mais latente...até os siameses são separados porque não conseguirão sobreviver juntos.
Sim, é óptimo quando temos companhia mas não é tão óptimo quando a perdemos.

Foda-se a companhia, passamos muito mais tempo a tentar viver sozinhos.
Vale a ideia mais que a realidade?
Vale o amanhã mais do que o ontem?
Vale a eventual força do que a factual fraqueza?

Saturday, January 22, 2011

"To em cada esquina, to em cada street,
To em cada rima, no balanço desse beat,
Explode a dinamite de paz e amor,
Brasileiro com orgulho, com orgulho e com a cor,
Não importa se a cor é essa ou aquela,
Crioulo black, crioulo white, crioulo yella
Nossa hemoglobina é verde e amarela,
Quem não vê assim pra mim é só seqüela
De Luanda e Benguela saíram as caravelas dos nossos ancestrais
Água mole em pedra dura tanto bate até fura
E se mistura e cada vez mistura mais, cada vez mistura mais, mistura mais cada vez,
É assim que a gente faz, foi assim que Deus nos fez.

(...)

Eu criolo, tu criolas, nós criolos criolamos, criolados também,
Eu criolo, tu criolas, eu, tu, ele, nós, vós, eles criolamos também
Eu criolo, tu criolas, Eu criolo, nós criolos criolamos, eu, tu, ele, nós, vós, eles, eu, tu, eles, nós, vós, eles, nós, vós, elas, nós criolos criolamos criolados também."

Sandra de Sá
Boralá.

Tuesday, January 18, 2011

Sou muito diferente daquilo que já fui. Estou mais próximo daquilo que acho que devo ser e, a cada dia que passa, sinto que não acertei verdadeiramente naquilo que devia.

Há anos atrás tive um contacto directo com o medo. Usava olhos azul forte, cabelo loiro e lábios carnudos, parecidos com dois gomos de laranja.
Naquela altura, sentia uma atracção que não me deixava ir embora e uma repulsa que não me deixava aproximar. Assim, parvo, fiquei no meio, lugar onde nunca tinha estado e que nunca mais visitei. Foi uma época de absoluta novidade, a primeira e última, que me lembre, em que não conseguia tomar uma decisão, era o clássico e odiado não foder nem sair de cima.
Ora, isto foi tão ridículo e penoso (para ambos) que ela acabou por não resistir...desconheço se por ter perdido as esperanças ou por ter precebido o que apesar de não ser verdade parecia evidente: eu era fraco e sem capacidade de me decidir.

Como tenho alguma propensão para este tipo de coisas, nasceu o fantasma que me acompanha desde então. Não creio que seja ela, em si, o fantasma. Não me parece que sinta a sua falta ou que teria uma recaída caso a encontrasse passados estes, talvez, 10 anos (10 anos...meu deus...).
O fantasma que perdura é que de todas as mulheres que passaram pela minha vida aquela parece-me ser a única capaz de me controlar, de me fazer temer a sua partida e isso, esse verdadeiro monstro, não me deixa em paz.

Antes amar e perder do que nunca ter amado? I think not.

Friday, January 07, 2011

Virgens

O assunto virgens é daqueles em que por muito que me esforce nunca consegui chegar a uma conclusão definitiva. É, simultaneamente, uma desejo e algo de que me quero manter muito longe.

Desde que iniciei a minha vida sexual (numa enorme sorte de o ter feito com alguém mais de 10 anos mais velha que eu) nunca tive uma experiência com virgens. Tive já duas hipóteses e rejeitei-as assim que elas existiram, o que é o mesmo que dizer que desapareci assim que tomei conhecimento da virgindade e, num dos casos, já semi-despido e de espada em riste.
O único cenário em que uma vigem me atrai é aquele em que iria ficar com ela para o resto da minha vida mas, mesmo neste, quando realmente penso nisso, a ideia esvai-se pelo chão. Sim, a ideia romântica da coisa atrai-me mas, como em quase tudo na vida, a realidade trata de a esmagar.

Vamos ver,
Num cenário em que apenas tenho vontade de foder, a virgem é um sinal proibido. Não tenho qualquer vontade de andar com pezinhos de lã quando estou à procura de palavrões e suor. Nada é mais desmoralizante do que o vamos mais devagar ou nunca fiz isto...não sei se sou capaz (é verdade que não são frases exclusivas de virgens, como descobri da pior maneira, mas a hipótese delas aparecerem dispara). Este tipo de comentários tem uma reacção, em mim, algo semelhante a descobrir que a mulher tem pêlos nas pernas ou nas axilas.

No outro cenário, aquele em que seria uma coisa séria e potencialmente perene (como desejei em todas as poucas relações que tive) é mais apelativo. Acho bonita a ideia de que alguém esperou por ti e que serás o único parceiro que terá na vida. Entra, contudo, aqui a experiência de vida e, por isso, a realidade.
Não gosto de mulheres verdes e sem sangue na guelra e, com a idade que conto, mulher que seja virgem não tem o calor que procuro nem a experiência que lhe exijo. Mulher que eu queira, nestes dias que correm, tem de saber o que quer e o que não quer, que me quer a mim e não a outro, sabendo que o outro não lhe serve, de facto e não em teoria, mas apenas eu.

Depois, e por fim, o ímpeto de desflorar apenas porque é coisa de homem, marcante na vida da menina em questão, não me atrai, não sou tão inseguro assim.