Tuesday, August 31, 2010

O sentimento mais inútil é a saudade. Bem, será este o motivo para que tal palavra apenas se aplique ao português, mais nenhuma se deu ao trabalho de perder letras para descrever isto.
A saudade é uma guilhotina ou uma prisão e, em ambos os casos, não houve a inteligência anterior de criar uma chave para essas fechaduras. Entra-se mas já não se sai. Ou melhor, só se sai quando a erosão do ferro o torna escamoso e fraco e isso demora o tempo que demorar mas nunca é pouco.

É muita perda de tempo.
É muito esforço.

Fico feliz por não ser um tipo saudoso, nunca fui. O meu pescoço não permite que olhe para trás.
Agora, isso também pode querer dizer que nunca estive tão intimamente ligado com nada nem ninguém que me fizesse olhar para trás mas...acho que não é um preço elevado para pagar.

Tuesday, August 24, 2010

Não quero tudo, quero apenas aquilo de que preciso mas.... "muito pra mim é tão pouco e pouco é um pouco demais".

Friday, August 20, 2010

A roupa é a primeira de muitas camadas falsas que nos tapam a alma.
Não digo que todos sejamos mentirosos mas sim que todos somos falsos.
Sim, parece exagerado e, até, cínico. Sim, é verdade que eu sou exagerado e, até, cínico mas, mais que isso, sou realista.

Nunca conheci alguém que fosso absolutamente honesto, nunca conheci alguém que, visto à lupa, ficasse bem na fotografia. Não somos monocromáticos, não somos bodimensionais, não somos uma só coisa em detrimento de todas as outras; somos muitos numa só embalagem, somos, por vezes, todos; não somos uma pedra sem batimento cardíaco, não somos apenas o que dizem de nós; somos sangue e somos lava, somos mais do que o de nós dizem e do que dizem de nós.
Algumas vezes, gostamos que nos façam perguntas para dizermos a verdade, outras vezes, gostamos que nos façam perguntas para mentirmos.

Nenhuma das imperfeições humanas me incomoda, não concebo o bem sem o mal nem a verdade sem a mentira nem a luz sem a escuridão. Uns são as razões de ser dos outros, o Lex Luthor é a razão de ser do Super-Homem.

Peçam-me tudo mas não me peçam para ser ninguém.

Wednesday, August 18, 2010

O Que Não Me Interessa

Quando alguma mulher me desperta interesse pouco ou nada além dela me interessa. É comum que, quando é o caso, alguma amiga ou amigo se apresse a informar-me que ela é casada ou tem namorado. Não me interessa.
Pode parecer cretinismo mas, para mim, não é. Quem deve lealdade é quem tem algo a que ser leal e, neste caso, quem tem algo a que ser leal é ela e, eventualmente, ele. A mim, não faz qualquer diferença.

Já tive casos com mulheres comprometidas e, contrariando a minha regra mais básica (nas costas dos outros vês as tuas e cesteiro que faz um cesto faz um cento) já se transformou (por uma só vez) de caso a relacionamento.
Quando estou interessado em alguém só esse alguém me consegue mandar para longe. Quer porque não devolve o interesse quer porque, apesar de ter o dito interesse, escolhe o caminho correcto e assume-se como séria e respeitadora. Só isto é capaz de me afastar, nada mais.

Certa vez, tinha eu interesse em comê-la e ela interesse em ser comida, ligou-me e disse-me qualquer coisa como "ligas-me assim, quando estou com o meu namorado, de madrugada, e um dia destes ainda és apanhado...és tu e sou eu", ao que respondi "querida, quero lá saber do teu namorado para alguma coisa. Se chegar a esse ponto, até lhe podes dar o meu número e ele, se quiser, que ligue". Reparem...tudo isto seria resolvido com um simples ignorar dos meus chamamentos de madrugada, não lido bem com rejeição mas o que aconteceu? Continuou a ligar, insistentemente, muitas das vezes para dizer que achava que o que estava a fazer era errado e que não podia continuar...entre uma cavalgada e outra.

Já me aconteceu, também, apanhar o macho que pensa que por aparecer quando estou a falar (mais ou menos proximamente da sua gaja) vai transformar-se num STOP que irá interromper a marcha.
Pois, também não.
Porque não ando à procura de problemas quando eles ainda nem sequer o merecem ser, fico com o registo e voltarei à carga, caso ela queira ser carregada.

Voltamos ao início, portanto: não devo respeito ou qualquer coisa do género a quem não conheço e, caso o queiram, o primeiro movimento é darem-se ao respeito e mandarem-me dar uma volta porque, caso o não façam, eu dou uma volta contigo.

Wednesday, August 11, 2010

Onde Gostaria de Viver

A minha casa tem telhado e vidro.
A minha casa tem a abertura da porta, mas não tem porta, a minha casa tem aberturas para janelas, mas não tem janelas.

Ninguém fica sem saber o que se passa na minha casa e só não entram se não quiserem, o convite é universal e permanente. Podem ficar apenas a ver, a ver-me ou a ver-nos. A escolha do que fazer da minha intimidade e de se integrar nela ou não pertence-vos. Não quero esconder nada, não quero alienar ninguém. Não serei um estranho e, caso queiram, serão da família, não de uma família de sangue, que muitas vezes se estranha, mas de uma família que se conhece, que se quer, que se descobre mas que não se protege porque nada tem para proteger.

Aqui o sol põe-se a pedido, a escuridão vem apenas quando convidade. Aqui, contudo, nem a escuridão se sente sozinha, tem sempre a lua cheia como companhia.
Aqui não se sente a falta de ninguém, estão cá todos. Aqui não somos amorfos nem mono cromáticos, aqui todos temos cores e é com elas que se pintam as pedras que guiam à entrada.
Aqui não vos chamamos mas queremo-vos.

É neste lugar que não existimos, é neste lugar que somos.

(...e como toda a simplicidade possível saltam-me aos olhos as diferenças entre o que se quer e o que se é.)

Tuesday, August 10, 2010

Era Mais ou Menos (ou EXACTAMENTE) Isto!!


As palavras do (saudoso) António Feio transformaram-se numa espécie de mantra: "não deixem nada por fazer, nada por dizer".
Dá-me volta ao estômago esta coisa do descobrir do sentido da vida, especialmente quando nada de novo vem com ele. Isto é, no fundo, o reanimar do adolescente "carpe diem" que me seguiu por todo o secundário e, volta e meia, segue novamente, especialmente quando um ou uma dos moranguitos ou moranguitas dá conta do seu lema de vida.

Pá, isto é profundamente estúpido.
Se há alguém, no mundo, que não pense, em teoria, claro, que não devemos deixar nada por dizer nem nada por fazer, que o ideal seria o carpe diem, é estúpido demais para ter em conta.
Por outro lado, os que seguem, fielmente, estes princípios são, na sua maioria absoluta, criminosos ou dementes.

Os dias não são aquilo que queremos. Os dias são um compromisso, maior ou menor, com os outros dias, aqueles que se seguem.
Seria insuportável (na realidade e não na teoria) um mundo em que se levasse este mantra à prática. Todos temos compromissos, todos temos família, todos temos amigos...e isso não se compadece, nunca, com a verdade absoluta e nem (pasme-se!!) com sermos exactamente aquilo que somos.

Voltando ao António Feio, direi que não me choca que tenha dito o que disse e nem duvido que acreditasse, piamente, no que proferiu. A grande diferença entre ele e o resto de nós (a maioria, pelo menos) é que ele sabia que ia morrer e, nesse momento, tudo isto do "não deixar nada por fazer nem por dizer" leva um banho de realidade; quando sabemos que pouco ou nada nos espera no futuro, porque ele não existe, aí sim, aí sabemos que não pagaremos por ser verdadeiros, não haverá vergonha que nos apanhe e nem consequências.
A liberdade, utópica, é isto, na verdade: A Ausência de Consequências.

RIP António Feio.

Friday, August 06, 2010

As Banalidades

Gosto muito do que é tido como banal. Gosto muito da trash culture (também conhecida como cultura pop mas, para mim, popular não é lixo, é uma outra coisa).
Dá-me um imenso prazer falar de coisa nenhuma, de assuntos leves, de parvoices. Gosto, ainda mais, quando tudo isto acontece numa mesa de bar (não daqueles vanguardistas e com novos conceitos mas dos verdadeiros).
É verdade que nem tudo é leve e banal mas quando se está com quem se gosta quer-se rir e não carpir, embora por vezes possa ser necessário.

Como não sou monocromático, o blog, para mim, é exactamente o contrário de uma mesa de bar. Aqui aparece o meu eu mais intenso, aquele que, na maioria das horas, anda escondido.
Porquê?
Bem, porque a minha postura é uma coisa próxima da negação da importância. Contrariamente ao egocentrismo reinante (suponho que seja uma fase social que passará com o Mourinho) não me vejo como manifestamente importante nem preponderante para a vida na Terra. Também não acredito que a minha opinião mude um par de mentalidades, quanto mais um paradigma.
Não quero dizer com isto que me ache de parco valor, bem pelo contrário, pessoalmente, tenho-me em muito boa conta. Consigo articular umas quantas palavras e uns quantos pensamentos, posso desenvolver opiniões sobre assuntos mais ou menos complicados e até já representei o meu país. O que acontece é que tenho noção da minha insignificância no grande quadro das coisas.

Exemplo:
Sobre um dos seus livros (suponho que O Estrangeiro mas não tenho a certeza), Camus disse que "nada mudaria se eu não tivesse escrito este livro".
Obviamente, a obra de Camus foi muito importante para muita gente e o simples facto de saber o seu nome e ter lido o que escreveu também o foi para mim. Contudo, quando li isto o que me ocorreu não foi que ele estivesse a desvalorizar o seu livro mas que se ele nunca o tivesse escrito ninguém lhe sentiria a falta e, com isto, concordo em absoluto.
É esta a insignificância a que me refiro. Poderão dizer que isto aconteceria com qualquer coisa; qualquer coisa que não tivesse acontecido ou existido não deixaria saudades. É verdade. É mesmo isso. Se tu ou eu não tivessemos nascido a Terra rodaria da mesma maneira. Se o Camus não tivesse escrito, ainda assim, nós estariamos aqui.

Pode muito bem ser uma parvoice mas, ainda que parvo, é insignificante...mesmo quando comparado com o magnificente.

Thursday, August 05, 2010

Pelos vistos, alguém pretendia dar o nome José Saramago a uma rua do Porto. Não sei quem o propôs mas sei que a Câmara recusou.
Pela primeira vez que me lembre, a postura eu é que mando e mais ninguém pulvilhada de não tenho medo de ninguém e não tenho medo de o dizer nem de provar do Presidente da Câmara deu-me uma alegria.

Não gosto de Saramago. Não gosto de nada no Saramago.
Reconheço que muitos poderão achar ridículo nunca ter conseguido acabar nenhum livro dele (tentei 3) e encontrar kilos de enfado em cada página.
Ok, foi Nobel da literatura, quem, pelos vistos, percebe disto de letras acha-o absolutamente genial. Não me interessa.
Apesar de concordar que haverá muitas e muitas coisas para as quais não estou equipado para entender, o que realmente me importa é se gosto ou se não gosto. Não pretendo enfiar o meu gosto pelas gargantas mundiais, por isso, não me tentem fazer o mesmo a mim.
Ah, e quanto a estes entendidos na matéria ou intelectuais, se preferirem, lembro-me sempre de um exemplo desta gente e dos interesses que a movem: Forrest Gump ganhou o óscar para melhor filme...

Também não gosto da sua imagem pública. Pode ter sido um gajo impecável em privado (há quem jure que não mas, quanto a isso, desconheço) mas em público...
Não gosto de ninguém que se apresente (mesmo sem o dizer expressamente) como a suma sapiência, o senhor da verdade, o rei de aquém e de além dor.
Outra coisa que me irrita é o suposto mártir que tem de abandonar o país porque é mal tratado. Reconheço que, na altura em que decidiu mandar-se, não foi particularmente bem tratado mas não foi por Portugal, foi pelo Governo e isso, para mim, não é uma e a mesma coisa. Há gente que sofre incomparavelmente mais e não anda a chorar pelos cantos, há gente com problemas a sério que não se martiriza...mas o génio é diferente, o génio não o pode admitir.

Não me importei nada que se tivesse mudado para Espanha nem me importaria nada que o Nobel tivesse seguido, também ele, para Espanha.
Em suma, contrariamente à mentalidade reinante, não gostava dele vivo e não passei a gostar dele morto.

Wednesday, August 04, 2010

Feitios e Defeitos

Já tive milhares de milhões de discussões sobre este tema e a minha opinião nunca mudou. Tenho para mim que não se pode pedir a uma determinada pessoa que seja de uma forma, quando dá jeito, e de outra, quando não dá.

Uma das discussões mais produtivas a este respeito tive-a, há anos atrás, com um caso. Não era minha namorada nem minha amiga, era uma pessoa com quem me deitava quando nem eu nem ela tínhamos desculpa para não o fazer.
Apesar de termos um apego químico muito violento a coisa nunca passou daí porque, tanto eu como ela, sabíamos que não iria resultar, eramos muito diferentes, queriamos coisas diferentes e não estávamos dispostos (ou não conseguíamos) mudar. Felizmente para a minha sanidade mental, este laço largo que nos prendia permitia conversas honestas e desprendidas.

Ela disse-me aquilo que eu já sabia: que eu não era, nem para ela nem para as mulheres que ela conhecia, o tipo pretendido. Sim, tinha enormes virtudes que, como sempre acontece, traziam consigo enormes defeitos.
Não pude deixar de concordar mas esta estória sempre me deixou, teoricamente, irritado (teoricamente...porque na prática percebo-a e faz todo o sentido).
Tanto ela como as amigas dela como as minhas amigas e a maioria das mulheres que conheci querem, basicamente, a mesma coisa quando se fala de homens: um tipo compreensivo, meigo, calmo, confiável e previsível (suponho que também queiram um gajo bonito e bem feito mas, nesse particular, nunca me disseram nem eu quis saber).
Conheço alguns tipos assim, não muitos mas alguns e todos eles (sem excepção à data) não se deram particularmente bem com as relações que tiveram.
Porquê?
Bem, porque existe uma enorme diferença entre a teoria e a prática.
De todas as formas de mulheres que conheci (da mais conservadora à mais liberal), independentemente do que diziam quando descreviam o seu gajo ideal deixaram sempre de fora aquilo que, realmente, precisavam. Sim, o que PRECISAVAM e não o que QUERIAM.

Quando, algumas delas, apanhavam um gajo inconstante, decidido e irascível tudo naquela cabeça mudava. Nenhum destes defeitos passam por feitio e são, todos eles, execráveis (sim, o decidido também porque ninguém é decidido e temperado ao mesmo tempo). O que as atraiu, ao ponto de se perderem pela primeira vez na vida, era aquilo que estes defeitos traziam.
Estes insuportáveis porcos chauvinistas foram os primeiros que as foderam e não fizeram amor com elas, foram os primeiros que eram capazes de dizer (ou incapazes de não dizer) que isto ou aquilo os irritava e que não estavam para aturar. Foram os primeiros que as arrancaram do trabalho a meio do dia porque as queriam ver e não havia maneira de o evitar.

Não digo que relações com estes tipos durem para sempre mas, vendo bem as coisas, também não o posso dizer quanto aos outros.
O que vos digo, com base no que vejo, é que é comum uns serem substituídos pelos outros. O morno substituído pelo quente e vice versa.
Por isso, na comparação efectiva será difícil saber-se quem ganha e quem perde...
Ok, tentarei de outra maneira...

Para decidir de vitórias temos de pensar se o que se pretende é um para sempre com alguém e a eterna memória daquela vez em que o encontrei naquele motel e de onde não saímos durante 2 dias ou a inconstância da existência do para sempre.

Por mim, direi que não conseguiria suportar que qualquer memória se elevasse àquelas que consegui criar nela, seja ela quem for. Caso tal acontecesse sentir-me-ia sempre derrotado.

"nenhuma dor é insuportável. Nenhuma!!"

Este é um verso de um poema de Florbela Espanca.
Há uns meses atrás concordaria com ela, hoje tenho algumas dúvidas. Umas pessoas confirmarão que é verdade, outras confirmarão que é mentira.

Na verdade, de tanto tentar, Florbela conseguiu suicidar-se, o que provará que, para ela, alguma ou algumas dores terão sido insuportáveis.
Mais uma vez, há tempos atrás, chamaria isto de hipocrisia, do célebre e detestável bordão popular de "olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço" mas agora penso ligeiramente diferente.

Quando ela escreveu o que escreveu talvez se tentasse convencer que era verdade, talvez, até, naquele momento acreditasse que era verdade. Depois tudo mudou...e quantas vezes isso acontece?