Tuesday, October 30, 2018
Saturday, October 27, 2018
A VIDA EM COMPARTIMENTOS
Precisamos de compartimentalizar. É uma necessidade a bem da sanidade.
Precisamos de distinguir a vida profissional da pessoal. Ainda que seja impossível tornar os compartimentos completamente estanques como se de submarinos nos tratássemos, devemos fazer o melhor que conseguirmos...pelo mesmo motivo que se compartimentalizam os submarinos: se uma área de foder impede-se que toda a embarcação fique comprometida.
Coisa diferente é pensar-se que se compartimentaliza a personalidade (excluo, por desconhecimento, casos de patologia clínica em que, ainda assim, não se pensa em compartimentalizar...apenas se compartimentaliza).
Ser-se pessoalmente sério e profissionalmente o seu contrário, não existe;
Ser-se pessoalmente incapaz de ser pontual e profissionalmente pontual não se coaduna com ser pontual;
Ser-se pessoalmente irresponsável e profissionalmente responsável, é uma impossibilidade.
Ah, K, mas há gente assim! Há gente que na sua profissão é óptimo e na vida pessoal uma miséria!
Há.
Dá-se que esta gente não é as duas coisas. Esta gente pode parecer as duas coisas mas não o é. O que pode acontecer e acontece muitas vezes é que se finge uma delas mas ser-se apenas se é uma.
Pense-se, por se tratar de um caso muito irritante mas socialmente aceitável, na pontualidade.
A pessoa A chega sempre a horas ao emprego e nunca a horas a mais coisa nenhuma.
A pessoa A não é pontual. Facto.
Então, por que motivo chega a horas a determinados compromissos e não a outros?
As explicações podem ser várias:
A pessoa A dá mais importância ao trabalho do que às pessoas;
A pessoa A não quer ver ser-lhe cortado vencimento por se atrasar;
A pessoa A não quer ser despedida;
A pessoa A está imbuída de temor reverencial pelos superiores hierárquicos;
A pessoa A pensa que apenas há consequência para o atraso ao nível profissional.
A pessoa A chega a horas porque.
A pessoa A não chega a horas por estar na sua natureza cumprir; o que está na natureza da pessoa A é temer consequências de não cumprir.
Se uma determinada pessoa não é igual em todas as circunstâncias será essa a sua característica e será essa a pessoa que é.
Ah, K, isso é estúpido! Todos temos de nos comportar de uma determinada maneira em determinada circunstância e de outra noutra!
Certo.
Não invalida o que disse.
Eu detesto usar fato mas já tive de usar muitas e muitas vezes.
Eu detesto usar fato quando o visto e quando não o visto, é igual, sou o mesmo.
Quando o uso, estou a ser forçado a isso - diga-se, deixei de usar porque sou espectacular e pensei ah, foda-se! - e dói-me mas o que nunca me ouvirão dizer é:
Eu gosto de usar fato. Só não gosto de usar fato quando não estou a trabalhar.
Não.
A afirmação certa é eu não gosto de usar fato.
Será que me faço compreender?
A diferença é pequena mas está lá.
A diferença entre ser-se atropelado ou não ser-se atropelado também pode ser de 2 segundos. Um hiato temporal minúsculo mas que faz toda a diferença.
- AINDA MEIO DENTRO DO ASSUNTO -
Quem priva comigo em carne e osso tende a pensar que sou um animal muito rápido a julgar os outros e a distribuir castigos;
Quem priva comigo por cá há-de ter notado que tenho muitas dúvidas quanto a prós e contras em todas as circunstâncias porque me esforço por entender.
A verdade, aqui, não está no meio.
O que acontece é o seguinte:
Eu tenho um imenso interesse por perspectivas e resultados. Interessa-me o que leva uma pessoa a fazer isto e outra a fazer aquilo. O que faz um criminoso cometer um crime e como a sua personalidade de moldou para lá chegar.
Dito isto, não tenho qualquer problema em fazer descer o cajado, independentemente da empatia que possa criar com quem quer que seja,
Por exemplo:
uma pessoa que seja criada por pais alcoólicos e prevaricantes vê as hipóteses de o ser também dispararem.
Mas este potencial alcoólico e prevaricador deve ser, independentemente disso, castigado porque quem ele agredir ou roubar não tem culpa nenhuma do que lhe aconteceu.
Acredito que o que me distingue de muita desta esquerdalha aparentemente compreensiva não é o raciocínio, é a acção.
Eu posso pensar mas seguramente ajo.
Friday, October 26, 2018
Braveheart TIME!
Princess Isabelle: The king desires peace.
William Wallace: Longshanks desires peace?
Princess Isabelle: He declares it to me, I swear it. He proposes that you withdraw your attack. In return he grants you title, estates, and this chest of gold which I am to pay to you personally.
William Wallace: A lordship and titles. Gold. That I should become Judas?
Princess Isabelle: Peace is made in such ways.
YEAH, MOTHERFUCKERS!
Rui Rio
É muito raro vir para cá falar, especificamente, de um determinado gajo; político ou desportista ou artista mas tem havido e haverá excepções.
O estado em que o Mundo se encontra - os Bolsonaros e os Trumps, por exemplo - faz-me pensar em gente autoritária e na vontade que o povo tem de reagir aos Sócrates desta vida.
O Rui Rio foi o presidente da minha Câmara e nunca gostei dele.
Foi reeleito as vezes que pôde e mais vezes seria se o pudesse ser, não me resta a mínima dúvida; e havia motivos para isso porque o Rio não é só defeitos.
O problema do Rio é outro. O Rio não aprecia, verdadeiramente, o pluralismo e muito menos opiniões divergentes da dele. O Rio é um moralista. O Rio quer ser o exemplo. O Rio quer ser justiceiro. O Rio sabe melhor que todos o que é preciso.
O Rio é autoritário.
Um político autoritário não é um político com autoridade. Não é a mesma coisa.
É comum ficarem chocados quando me ouvem dizer que vejo Salazar em Rui Rio.
Não estou a chamar fascista a Rui Rio, até porque Salazar também não era;
Não estou a dizer que Rui Rio é Salazar, até porque ainda não pode; até porque pode não ter talento para isso; até porque pode muito bem não ser; até porque a impressão que tenho pode estar obvia e completamente errada.
O que estou, de facto, a dizer é que vejo ali a frugalidade, o potencial autoritarismo, a superioridade (pelo menos para o próprio) moral; a certeza do caminho; a beatitude.
O que também vejo é um problema que, na minha opinião, torna uns autoritários piores que outros: sede de Poder!
Ah, K, mas isso têm todos!
Mais ou menos.
O Trump, por exemplo, tem sede de poder por conta do dinheiro que isso dá. Se lhe derem dinheiro, dão-lhe o que ele quer e é relativamente fácil comprar quem está à venda (vejam a cena da Arábia Saudita).
O Salazar tinha sede de poder mas em estado puro. Não queria dinheiro. Gente que não quer dinheiro, não pode ser comprada. Esta gente é sempre mais perigosa porque não se lhe pode dar nada que a faça ir embora.
...mas há mais.
Rio afoga-se na simplicidade e, por feitio e não defeito, é-lhe incompreensível compreender o intangível.
A Baixa do Porto nasceu e cresceu apesar de Rui Rio;
A Casa da Música mantém-se apesar de Rui Rio;
A expressão artística do Porto não de escafedeu apesar de Rui Rio.
Ah, K, o que ele fez foi cortar no tacho dessa gente que anda a cantar merdas e fumar charros!!
Seguramente que há gente a aproveitar-se;
Seguramente que há gastos ridículos.
Há sempre coisas a fazer e a melhorar.
...mas Rio nunca entendeu que há intangíveis não imediatamente mensuráveis.
Conheci gente lá fora que cá veio por causa da Casa de Chá da Boa Nova, do Siza;
Há uns meses, vi um matagal de estrangeiros a visitar a exposição de obras de arte ao ar livre na Fundação Serralves;
Todas as semanas aparecem pelo Porto gajos e gajas de Braga, Aveiro, Guimarães, Coimbra e sei lá de onde mais para irem para a noite na Baixa;
O mais emblemático do Porto é o FC Porto - podem pensar vinho do Porto mas não estou certo que seja maior - e o Rio foi ridículo ao ponto de não receber os Campeões Europeus.
O Rio pretende, ainda que sob a capa de uma outra merda qualquer, controlar o MP e os Juízes.
Acham que penso que é para ele e os amigos roubarem? Não acho.
Acho só que quer mandar e decidir o que outros possam e tenham poder para decidir. Independência seria esquisito.
...e o problema que se põe é que os Rios e Trumps e Bolsonaros são a resposta aos Lulas e aos Sócrates.
E quando digo resposta não me refiro a solução mas a reacção.
As pessoas fogem dos corruptos e da desilusão para o papá. E o papá é forte. E o papá não aprecia artistas. E o papá explica-nos que não temos trabalho por causa dos imigrantes. E o papá defende-nos dos castanhinhos que andam a meter bombas. E o papá vai fazer com que tudo fique bem!!
Não vai.
Eu não aprecio o Rui Rio.
Monday, October 22, 2018
True Story
Este Domingo estive a ver este filme com o James Franco.
O cerne é um psicopata que matou a família toda e engana um repórter, pelo caminho.
Como se poderia dizer em inglês, Psico doing psico shit.
O filme nem é mau mas o que mais me chamou a atenção foi o seguinte:
O repórter era conceituado e, a dado momento, foi fazer uma reportagem não me lembro bem para que País africano. Esta reportagem versava sobre a escravatura que por lá ainda andava sob a forma de maus tratos e tal nas condições de trabalho.
O gajo fez a reportagem; a reportagem foi capa; o gajo que ele usou como tema de reportagem não era, afinal, o que constava da capa e não lhe tinha acontecido tudo o que ele descreveu.
Por que motivo fez ele isto?
Primeiro, porque a editora lhe disse que seria melhor focar-se numa pessoa e contar a história do que fazê-lo em abstracto;
Segundo, porque o gajo entendeu que ela tinha razão e juntou as histórias de 5 pessoas apenas naquela.
Isto parece estúpido, não é?
Ele não mentiu no que contou mas decidiu mentir quanto ao alvo de todas aquelas atrocidades.
Fez isto porquê?!
Porque somos todos estúpidos.
A sociedade não é dada a pensamento abstracto.
É preciso ter uma cara para focar toda a indignação porque 5 seriam muitas.
Reparem, por exemplo, que os políticos - mormente nos EUA daquilo que tenho conhecimento - vão para um comício e dizem que a Gertrudes, de Moimenta, lhe disse que a reforma que recebe é miserável! ou o Carlitos, de Ovar, lhe contou como era difícil arranjar trabalho! ou a Marlene, de Condeixa, não arranjava onde deixar os filhos, quando ia trabalhar!!!.
Interessa quem são as pessoas?
Interessa de onde são as pessoas?
Só se pretende resolver o problema da Gertrudes, do Carlitos e da Marlene?! Não. Mas a turba precisa da merda de um nome para se identificar.
Repare-se, por exemplo, na Princesa Nonô.
Uma criança que agarrou Portugal pelo coração. Esta criança cancerosa comoveu todos.
...mas depois de ter partido - reparem como também eu sou incapaz de usar um termo que facilmente usaria para quem morre e recorro a um eufemismo - mais nenhuma criança teve a infelicidade de ter cancro?
Tivemos - muito justamente - compaixão por ela mas e os outros todos?!
Esta é uma das razões que impede um avanço efectivo.
A nossa compaixão e empatia termina à flor da pele.
....e o outro gajo fodeu a carreira dele porque sabia muito bem disto.
Friday, October 19, 2018
Thursday, October 18, 2018
...
Sim,
Deve haver o perdão
Para mim
Senão nem sei qual será
O meu fim
Para ter uma companheira
Até promessas fiz
Consegui um grande amor
Mas eu não fui feliz
E com raiva para os céus
Os braços levantei
Blasfemei
Hoje todos são contra mim
Todos erram neste mundo
Não há exceção
Quando voltam a realidade
Conseguem perdão
Porque é que eu Senhor
Que errei pela vez primeira
Passo tantos dissabores
E luto contra a humanidade inteira
Sim
Cartola por Ney Matogrosso
Deve haver o perdão
Para mim
Senão nem sei qual será
O meu fim
Para ter uma companheira
Consegui um grande amor
Mas eu não fui feliz
E com raiva para os céus
Os braços levantei
Blasfemei
Hoje todos são contra mim
Todos erram neste mundo
Não há exceção
Quando voltam a realidade
Conseguem perdão
Porque é que eu Senhor
Que errei pela vez primeira
Passo tantos dissabores
E luto contra a humanidade inteira
Sim
Cartola por Ney Matogrosso
Wednesday, October 17, 2018
Uma Conversa Imaginária
(...)
Pá...dizer que não tenho nada é exagerado mas dizer que tenho também é capaz de ser.
Quando ouço alguém dizer que tem alguma coisa parece passageiro e não estou certo ser esse o meu caso.
(...)
É difícil dizer.
Estou um bocado farto de tudo. No meu caso, estar contrariado é uma merda...
É óbvio que ninguém gosta de estar contrariado em lado nenhum e a fazer nada; é óbvio que as pessoas ficam com mau feitio quando as coisas não estão a correr como elas querem.
Dá-se que além de o meu feitio ser um bocadinho pior do que o da generalidade das pessoas, quando estou contrariado começo a sofrer fisicamente. Não tenho, por exemplo, a certeza se me doem os dentes ou se imagino que me doem os dentes...não sei mesmo!
(...)
Não.
Tu és das poucas coisas de que não estou farto.
É natural que aches isso. Eu, provavelmente, acharia o mesmo. Mas não de podes esquecer, agora, de tudo o que sou e do que fiz: eu não te minto. Se estivesse farto de ti, dizia.
(...)
Por vários motivos.
Um deles é que acho estúpido. Detesto gente que se queixa. Tudo tem solução. Chorar, não resolve merda nenhum.
Outro é que tu tens acesso directo ao que penso ou estou a pensar; quer se me perguntares quer se fores ler a porcaria do blog.
(...)
Pá...eu sei que é injusto. Ou melhor: não sei se é justo ou injusto.
Será injusto se eu usar o que por lá escrevo como uma carta ou uma forma de te contar merdas. Isso não acontece.
Não é injusto se eu não usar aquilo para nada nem te pedir que andes a controlar o meu estado de espírito por lá.
...o que acontece, e é fácil de perceber, é que há assuntos que eu não consigo abordar e outros que não sei, sequer, como se abordam do nada nem como se chega lá.
(...)
Então: do nada, vou começar a falar de um potencial ateísmo e de como isso se relaciona com o meu dia-a-dia? Muitas das vezes - ou as mais das vezes - eu nem sei que vou lá chegar quando parto.
Vou arrancar com a forma como a queda do Muro de Berlim poderá ser a explicação para as guerras civis que começaram a grassar por África ou ajudaram a desregular os direitos humanos?
...ou pior! Queres que me ande a queixar, como uma pêga, de estar preso a uma situação que não me agrada e não fazer nada quanto a isso?!
Não é a minha cena...
(...)
É. Eu só pareço um gajo simples porque ajo como se não ponderasse merdas. Porque sou rápido.
Eu não sou simples.
Eu não sou fácil.
Parece relaxado ser-se como eu...mas não é.
Monday, October 15, 2018
É possível que este seja Negro...vai depender da Perspectiva
Debato-me com alguma frequência com a existência de Deus ou de uma entidade qualquer desse género.
À medida que vou crescendo e - espera-se - evoluindo, encontro cada vez menos motivos palpáveis para acreditar num Senhor Supremo e que tudo controla. Este sentimento é muito alimentado pelo conhecimento que me permite reconhecer a ciência que muitos dos crentes desconhecem e, verdade seja dita, uma esmagadora maioria dos fiéis de qualquer religião é ignorante ou muito perto disso.
É esta ignorância ou a vontade de alimentar esta ignorância que queimou o Copérnico e tantos outros cientistas;
É a vontade de querer pintar a Bíblia, por exemplo, de alegórica quando era óbvia e claramente vendida como literal.
Ah, K, querias que continuassem a carregar em Adão e Eva e na Arca de Noé?! Como poderiam todos os animais caber num barco?!
Não é que quisesse. Talvez me desse mais conforto.
Foi magia ou milagre! mas ao reconhecer que se inventaram cenas a realidade, aos meus olhos, é que andaram a enganar as pessoas à má fila e, quando não o puderam continuar a fazer, disseram ah, era a brincar!
Não concordo, por exemplo, com a posição da Igreja quanto à questão do preservativo mas compreenderia que não a mudasse.
Cada vez que alguém chama evolução ao pensamento do Vaticano, o que realmente está a acontecer é que o dogma que vendem perde valor.
Eu percebo o problema do Vaticano. São Homens. Homens não querem perder poder...
...mas, obviamente, nem era bem sobre isto.
O que me afasta do ateísmo puro e duro é a morte.
Eu não quero perder a consciência do que vivi. Eu não quero morrer.
Ah, um gajo pode reencarnar, se calhar mas para mim isso é a mesma coisa. Se o meu intelecto se vai. Se a minha consciência se vai. Se a minha memória se vai, eu já fui.
Eu tenho medo de desaparecer. Parece um eufemismo para morte mas não é bem isso...
Há uns meses, estive em coma induzido e não há medo que ocorre quando apagamos. Poderia estar morto - morte suspensa?! - e não me faria nenhuma diferença. A diferença ocorreu quando acordei. Quando acordei, percebi que poderia não ter acordado.
Então,
se eu redundar em ateu, é provável que a minha mentalidade sa foda ganhe dimensões absolutas.
Eu já acho que o que mais interessa está aqui. O que há a fazer é agora. O que tenho de agradecer é para já.
Não quero choro nem vela. Depois de eu ir ou depois de os que gosto se irem...eu fui...eles foram.
Estava a pensar nestas coisas muito por culpa do que escrevi no anterior: vou viajar.
Se eu puser em prática o aqui e agora! com o mínimo de limitações, a minha vontade não há-de ser voltar e se me despegar, de vez, de uma mentalidade e educação judaico-cristã que não me agrada mas que cá está é provável que não voltasse.
Isto é uma bichice mas também é verdade:
o tempo que perco a trabalhar não estou com Ela. Eu sei que nesta época cada um é cada qual e de noite para sair com os homens e noite das meninas isto pode parecer arcaico mas cada um tem interesse no que tem.
o tempo que perco a trabalhar não estou a tirar fotografias e a olhar durante muito tempo para o que quer que seja que apenas a mim interessa.
Se é só aqui e agora, vou fazer outra coisa para quê?!
Ser mendigo ou viver na rua é mau? Pá...será assim tão óbvio?
Se o tempo que tenho aqui é limitado e se não há tempo depois, porque haverei de me preocupar com ter o que quer que seja ou parecer uma coisa ou outra ou projectar uma imagem de um sucesso que nunca levarei comigo?
Saltar de aviões;
Conquistar montanhas;
Comprar um Ferrari;
Aparecer numa revista;
Ajudar os pobres;
Colocar posts alegres;
Dar opiniões fundamentadas e fundamentais a quem precisa.
...para quê se o que eu quero é estar a ver um filme no sofá, com a merda de uma manta, com ela?!
É verdade que isto parece o que eu prego e faço.
Parece e é.
Estou é a falar de uma dimensão a que ainda não chego.
Ainda há um fio que me liga ao que me educou mas não estou certo de quanto tempo vai durar nem o resultado que daí surgirá.
Ansiedade
Considero ansiedade uma bichice e assim o considero, parece-me, porque não padeço desse mal.
Sou very cool em pressão mas mesmo isso tem as suas tristes excepções.
Daqui a uns dias, vou de férias para longe e durante algum tempo. Vou para o terceiro Mundo. Vou para onde tem havido umas quantas tempestades e tremores de terra. Vou para onde a água não é super confiável e para onde a electricidade é um luxo nem sempre presente.
Ah, K, então a tua ansiedade tem justificação!
Teria.
Dá-se que nada disto me deixa ansioso.
É certo que por causa Dela fico mais apreensivo mas ansioso não.
Raramente quero voltar.
Quero quase sempre ir.
Então, à medida que o dia de partida vai chegando começo a entrar em modo de alerta máximo.
Não quero que me doa nada; não quero bater de carro; não quero partir uma perna; não quero erro nos bilhetes de avião; não quero andar muito na rua para que nenhum imprevisto possa acontecer.
Foi sempre assim. Independentemente do destino.
É a luta contra a Lei de Murphy que na maioria das vezes não é uma luta. É uma eventualidade que me preocupa pouco.
Apesar de ser, por natureza, um control freak, aprendi a deixar rolar e enfrentar o que houver a enfrentar quando for necessário. Não desconsidero que esta postura é reforçada pela calma que, feliz e orgulhosamente, demonstro e aplico quando a adversidade surge.
...mas quando está para acontecer o que quero muito que aconteça, toda esta maravilha de lógica e racionalidade vai com o caralho.
(vamos, por agora e para não piorar, esquecer que vou passar umas 20hs dentro de um caixão com asas, coisa que também muito me desagrada)
...e o meu feitio está pior e sem perspectivas de melhorar até estar dentro do avião.
Friday, October 12, 2018
JUNG, Bitches!
É para mim muito estranho que as palavras bastem a alguém.
Há uns dias, Ela contou-me o que um gajo mais acima na escada lhe tinha dito. E o que esse gajo disse agradou-a.
É sobejamente conhecido por Ela que eu não confio naquele gajo. Não é que o ache mau gajo. Não é que o considere um idiota (considero o oposto, na verdade, o que é raro em mim). Não é que o pense como sendo uma pessoa a evitar.
Não confio nele porque é certo que não o ouço falar muitas vezes mas mais certo é que sei o que fez ou ainda faz e a maneira como procede e não como diz proceder.
Ah, K, podes estar errado!
Posso. É sempre uma possibilidade que não excluo.
Pode parecer estranho quando se me lê ou quando se me conhece mas a verdade é que parto sempre - mas sempre - da possibilidade de estar errado.
O que acontece é que penso e decido depressa e, por isso, a aparência é que não houve lugar a qualquer dúvida. Mas há sempre.
Bem,
a base do meu raciocínio é simples e gente mais inteligente do que eu não pensou diferente
Wednesday, October 03, 2018
NOSTALGIA
...não sou nostálgico numa medida semelhante mas ainda mais do que não sou mentiroso.
Não sou mentiroso mas minto, ainda que raramente;
Não sou nostálgico e quase nunca sinto nostalgia.
Hoje, por causa de uma merda que queria fazer para ser simpático com quem merece, meti-me até aos joelhos numa rede social.
Na tentativa de encontrar quem procurava - o que não aconteceu - tive de vasculhar umas quantas pessoas que temos em comum de há uns 15 anos atrás, talvez.
Essas pessoas em comum, continuam a dar-se todas umas com as outras; algumas têm filhos; outras estão casadas; algumas têm um negócio próprio; outras fazem outras merdas.
O traço comum é que se continuam todas a dar-se como nós (sim, eu também) nos dávamos há, seguramente, mais do que uma década.
(neste ponto, devo dizer que a minha opinião quanto ao que se demonstra nas redes sociais não mudou: é uma versão idealizada que não corresponde à vida real. É uma bocado como o óbvio facto de que a Olivia Wilde não caga.
Assumirei, contudo, por facilidade de raciocínio, que todos são felizes como parecem)
Enquanto me expus a estas fotografias, não pude deixar de sentir pena de ter ido para um outro lado e não ter tribo.
Para tentar ilustrar o que quero dizer:
Disse-me uma amiga: À porta da estação estavam uma quantidade enorme de gajos a tentar evangelizar as pessoas que saíam e a mim...NADA!!! É óbvio que eu não quero ser convertida mas nem sequer tentarem?!
Este sentimento é básico e triste mas assola os mais desenvolvidos de nós porque....humanos.
It´s nice to be asked não é?
Foi um bocado este sentimento básico que me apoquentou por uns momentos.
Qual o motivo de se continuarem a dar e não se lembrarem de mim?
Como é possível festejarem aniversários e não me convidarem?
A realidade, pura e dura, é esta:
Estes gajos continuam a dar-se da mesma maneira que sempre se deram e eu passei a ser uma outra coisa.
A mentalidade de tribo é reconfortante mas monocromática e monocromático, para mim, só em fotografia.
Estava a vê-los e a lembrar-me que nem todos me agradavam já na altura e esse sentimento só poderia piorar.
As piadas ou expressões são as mesmas que eram há 20 anos e eu já não sou isso.
Imaginei, por isso, uma distopia em que a minha integração era possível.
Uma realidade paralela em que eu quero ser convidado para casamentos e baptizados e aniversários e jantares e merdas. A realidade é que não quero.
Formou-se uma selectividade na minha memória que tolheu a vivida realidade que foi a última e penosa vez que estive com eles.
Estou preso à sociedade por um fio e por Ela.
A esmagadora maioria das vezes, eu não quero conviver com o que há porque o que há não me interessa.
E, ainda assim, deu-me para a paneleirice que descrevi e descrevi porque não tenho vergonha de quase nada e porque a minha segurança, não sendo inabalável, desapareceria se me limitasse a dizer uma coisa, sentir outra e fazer uma terceira.
Foram uns minutos de merda.
Depois, o sol dissipou as nuvens.