Thursday, May 31, 2007
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As coisas a que as pessoas se adaptam são, verdadeiramente, surpreendentes...
A capacidade de encarar a anormalidade como normal e vice versa é incrível.
As pessoas acostumam-se a horários, a cargos, a levar na cara dos maridos, a receber cornos das mulheres, a embebedaram-se com respiram, a escrever compulsivamente num blog, a telefonar diariamente a Y ou a Z... basicamente a tudo.
Estranho é, também, que só se larga uma coisa ou outra com uma ruptura, um qualquer acontecimento que faça o copo transbordar.
Estranho é, ainda, que o que faz o copo transbordar é, as mais das vezes, uma merda que, aparentemente, não é relevante de forma alguma.
Muitas vezes sinto uma semelhança imensa entre as pessoas que quebram um hábito, normalmente nefasto, e o mudo que, de repente, descobriu que consegue falar.
O que acontece?
O mudo torna-se extremamente chato porque não mais se cala, descobriu a voz e começa a adorar ouvi-la.
Assim me parecem, também, as pessoas que, de um momento para o outro, deixam de se sentir constrangidas, descobrem que não têm de se sentir amarradas, apenas não sabiam que existia a possibilidade de se libertarem.
É a eterna luta entre o 8 e o 80.
Timoneiro
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
É ele quem me carrega
Como nem fosse levar
É ele quem me navega
Como nem fosse levar
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E quanto mais remo mais rezo
Pra nunca mais se acabar
Essa viagem que faz
O mar em torno do mar
Meu velho um dia falo
uCom seu jeito de avisar:
- Olha, o mar não tem cabelos
Que a gente possa agarrar
.
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
É ele quem me navega
Como nem fosse levar
É ele quem me navega
Como nem fosse levar
.
Timoneiro nunca fui
Que eu não sou de velejar
O leme da minha vida
Deus é quem faz governar
E quando alguém me pergunta
Como se faz pra nadar
Explico que eu não navego
Quem me navega é o mar
.
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar
É ele quem me navega
Como nem fosse levar
É ele quem me navega
Como nem fosse levar
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A rede do meu destino
Parece a de um pescador
Quando retorna vazia
Vem carregada de dor
Vivo num redemoinho
Deus bem sabe o que ele faz
A onda que me carrega
Ela mesma é quem me traz.
*e era tão bom que fosse verdade
Wednesday, May 30, 2007
É já aqui....Tão longe.
Vi-me (e ainda me vejo), muitas vezes aqui.
Longe de nada e perto de tudo.
Parece-me que uma das verdades universais é que sentimos sempre falta do que não temos.
Pois...
Desde há bastante tempo sinto que não estou bem onde estou, que aqui não é o meu lugar, que vou acabar por me destruir por completo, que não vou fugir daquilo que quiseram de mim (e tantos desconsolos acabou por criar), que sinto pouco e faço muito, que não vejo a paisagem porque ela passa rápido na janela do carro.... não sei se a palavra é deslocado ou iludido.
O muito que eu quero resulta de uma influência directa do pouco que eu nunca vou ter.
Já que a mais simples das coisas me é vetada, por circuntâncias ou por vontade desviada, quero o que é complicado.
Não vou abrir, vou fechar por completo.
Não vou tomar um solitário calice de vinho do porto no alpendre, vou-me embebedar com o mais finos dos champagnes no mais fumegante dos bares.
Não vou ver os meus filhos crescer, vou ser o anticristo dos pais dos outros.
Não vou amar, não serei amado.
As trocas simples são-me extremamente complicadas.
O pôr do sol não me preocupa porque, mais tarde ou mais cedo, irei adormecer.
É uma merda sabes...
O problema de ser à prova de bala (se isso realmente existe) é que se é, também, à prova de toque.
Não me sinto um tipo infeliz, apesar de sentir no dia a dia que a felicidade, como a quero, me está vetada.
É ver-me e saber que não sou subjugado a ninguém, o que é a mesma coisa que não ter dono, o que é a mesma coisa de não ter a quem obedecer, o que é a mesma coisa de não ter abrigo, o que é mesma coisa de não ter raízes, o que é a mesma coisa de não ter apoio, o que é a mesma coisa de estar sozinho.
Eventualmente, sentir-me-ia mais em paz se achasse que a culpa é de uma outra entidade que não eu.
Eventualmente, sentir-me-ia mais em paz se acreditasse que um dia as coisas mudarão, nesse dia não vou falhar!!!!
Só que já tantas vezes provei que sou mais Eu que nunca tive tempo de ver mais ninguém.
Tantas vezes me quiseram e tantas vezes não quis.
Carrego a minha cruz como os meus louros, Sozinho.
Não sou de chorar mas cada vez sou menos de rir.
Que Viagem Doi?
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Da minha curta e quase indolor experiência, só um tipo de viagem me causa algum desconforto.
Não sou de chorar por leite derramado e nem de me martirizar porque a dada altura fui profundamente burro.
Na verdade, se me fustigasse a cada vez que faço merda já estaria com as cortas crivadas de marcas de chicote.
A única que me causa uma sensação de vazio é a de os tempos mudam, as pessoas transformam-se mas o jardim mantém-se... ou não...
Sempre fui mais da caminhada sem direcção no meio de árvores do que do asfalto, apazigua-me o sentimento de silêncio, aquece-me a ausência de explicações.
Muitas vezes pergunto-me até onde serei eu capaz de marcar a minha pegada na relva, negligenciando, a maioria das vezes, até que ponto a relva é capaz de deixar a sua marca em mim.
Nem tudo é "Eu" mas parece... apercebo-me disso com a passar das horas que se vão acomulando como dias e depois meses e depois anos.
Não domino os elementos e as mais das vezes nem a mim me domino completamente.
Lamento as falhas e as feridas que não cicatrizam como deveriam ou gostariam.
A borboleta evolui da larva,
eu nasci como o crocodilo, milhões de anos sem uma única alteração...
A partida das partidas é que o crocodilo não precisa de evoluir, ao contrário de mim.
Thursday, May 24, 2007
A Justiça
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Não acredito nela de forma alguma.
A justiça divina não sei por que parâmetros se rege, por isso, nem me preocupo.
A justiça dos homens, apesar de lhe conhecer as linhas, não acredito na sua imparcialidade.
Não é um discurso de classes beneficiadas nem carenciadas, acho chato e vicioso.
Não é um discurso de quem acha tudo e todos corruptos, é, meramente, uma apreciação básica da génese humana.
Por muito boa vontade que se tenha,
por muita dignidade que se tenha,
por muito sentido de dever que se tenha,
por muita vontade de um trabalho bem feito que se tenha.... a verdade é uma para todos:
Se o espírito pode fugir à maldade, não pode fugir à carne.
O gajo mais honesto e íntegro do mundo pode, também ele, levar um par de cornos, ter problemas de erecção, ter um filho heroinomano, bater com o carro, perder no jogo.... enfim, milhares de milhões de merdas que escapam, muitas das vezes, à vontade ou que são mais fortes que ela.
Ora, se tens o azar de te cruzar com um tipo num dia dos que acabei de descrever, podes ter a certeza que ele vai estar fodido e, mesmo que não queira, a hipótese de ele te tratar mal é imensa.
Se o gajo te serve um café, é tranquilo, ou ignoras ou armas confusão.... mas nenhum mal maior daí virá.
Se o gajo, por outro lado, é teu patrão ou juiz ou policia ou qualquer outra coisa que possa enquinar-te a vida... pode daí advir um mal maior.
Acredito, realmente, que os frutos resultam do labor e que o que fazes terá, para ti, um maior benefício se for bem feito.
O que acontece, é que existe o acaso, existe, infelizmente, um elemento marginal de aleatoriedade que te escapa e que nada podes fazer contra ele.
Moral da história?
Independentemente de todas as outras coisas, é sempre bom ser-se um filho da puta com sorte.
Wednesday, May 23, 2007
Este fim de semana que passou chamaram-me selvagem, ou melhor, foi-me dito que, de vez em quando, sou selvagem.
Não tenho como discordar, é verdade.
Na verdade, não me incomoda ser como sou.
Assumo que, em dados momentos, deveria ter uma sensibilidade que não tenho e, em outros, uma calma que me escapa.
Vistas as coisas em geral, não vejo motivo para mudar (partindo do principio que conseguiria, se quisesse).
É muito comum desejar-se que o bom se mantenha e o mau se retire, sou assim também.
É natural que se queira, por exemplo, que eu seja menos brusco e mais dócil, como é natural que se queira, também, que eu continue a ser o lobo que protege a alcateia e que faça uma fêmea sentir-se desejada porque a devoro com os olhos.
Infelizmente, parece-me que andam as duas características de mãos dadas.
Não me parece que consiga, ou sequer seja possível, ser um tubarão de dia e um golden retriver de noite.
Não me parece conciliável uma postura de ataque e desejo intenso de noite e uma outra de complacência e calmia de dia.
A vida não é justa e é muito comum uma virtude ser acompanhada de um defeito.
Acredito, aliás, que quanto maior é a virtude maior será o defeito, sendo a inversa verdadeira também.
A queixa não é de hoje e não é a primeira boca que ma diz, é coisa tão antiga como a pancada que me deram no rabo para chorar quando nasci.
O sangue aquece e arrefece, no entanto, nunca fica frio.
A pele de cordeiro fica-me justa demais...
Monday, May 21, 2007
Ontem
A eternização do passado e de como em tempos idos fui forte e bonito e famoso e admirado e inovador e sei lá mais o quê, é uma âncora.
Certo dia, comecei a contabilizar o que já fiz.
Verdade seja dita, felizmente, o meu passado tem bem mais de vitória do que de derrotas ou empates.
Tive momentos de glória (desportiva, literária, escolar, mulheres, noites, viagens....) mas lembro-me pouco delas...
Raramente são um tema que aborde numa reunião em torno de uma mesa com cervejas em cima, excepção feita nos casos em que estão comigo aqueles com quem compartilhei aqueles momentos luminosos.
Poderia ocultar essas metas conquistadas por humildade.... no entanto não sou humilde.
Podeira esconder esses momentos para não sobressair na multidão... no entanto não tenho prazer em ser anónimo nem em sobressair.
A verdade, ao que me parece, é que me desagrada a ideia de achar que alguma coisa foi atingida.
Não quero acabar ou evoluir para o gajo que se sente satisfeito porque fez uma qualquer merda que mereceu uma atenção especial e isso preencherá a sua vida.
Não quero ser velho e sentir-me bem com o que fiz enquanto jovem, quero ser o velho que ser saber o que fazer com a velhice... porque há SEMPRE alguma coisa a fazer.
Acredito que todos devemos ter orgulho no caminho trilhado, no entanto, prefiro não o ter, ou não pensar nisso, se sentir que de alguma forma isso retirará elasticidade aos meus músculos.
Portugal já não é o país dos descobrimentos mas é sempre o que se diz quando é preciso dar lustro à alma lusitana.
O FC Porto já não é campeão europeu nem vencedor da taça uefa.
O Adeus revisitado faz esquecer o Até Amanhã.
Não tenho medo de que os meus melhores dias tenham passado, tenho medo é de acreditar que isso é verdade.
Correspondendo a uma solicitição
pediram uma força,
aí está ela.
a quem interessar, é dar um salto a esse blog.
Friday, May 18, 2007
A Fraqueza de Ser Forte
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Felizmente, ou infelizmente, a vida e tudo que a rodeia é feita de dicotomias, umas vezes mais extremas, outras menos.
Não acredito na verdade nem na mentira em termos absolutos, nunca vi uma verdade sem um senão e nunca vi uma mentira que, de uma forma ou de outra, não tivesse, ao menos, um resquício de verdade.
Assim entendo também a fraqueza e a força.
Entendendo-se que a única verdadeira e pura força é a que vem de dentro, solta de constrangimentos, indiferente a críticas ou elogios, existindo por si e, até, por decisão própria, o que fazer perante uma falha.... um erro....
Se não há quem te tenha ajudado a montá-la e se não há quem a consiga destruir, a possibilidade de, exteriormente, a reestabelecerem, a capacidade de te apoiar a colocar, novamente, o telhado que a tempestade levou é, practicamente, inexistente.
Ora, se tu te enganas,
se tu te fodes a ti mesmo,
se tu fazes merda,
se te desiludes,
se te questionas,
se a certeza que tinhas se abala... como poderá alguém ajudar-te a reerguer?
Para mim, a resposta é simples, não pode!
Temos então o contraponto.
A Força transformada em Fraqueza.
Se é verdade que nada te atinge, é mais verdade ainda que tu mesmo te atingirás com uma força brutal.
Um corte pequeno será capaz de te cortar um braço.
Uma ferida pequena irá gangrenar.
Uma tosse inofensiva será cancro.
Uma dor de cabeça ténue será um tumor cerebral.
Do outro lado terás o gajo que precisa de elogios, que se perdoa por ser imperfeito, que se abala se uma pessoa não lhe responde ao bom dia, que tem vontade de se suicidadar quando um amor não é correspondido e que chora quando é mal tratado.
Mas a este, como depende do que lhe acontece além da própria pele, bastará um afago ou um elogio para sacudir o pó.
Mas este, que passa a vida a cair, não se atormentará por, uma vez mais, bater no chão.
Qual dos dois preferia ser?
Devia estar a dormir quando deixaram escolher.
Felizmente, ou infelizmente, a vida e tudo que a rodeia é feita de dicotomias, umas vezes mais extremas, outras menos.
Não acredito na verdade nem na mentira em termos absolutos, nunca vi uma verdade sem um senão e nunca vi uma mentira que, de uma forma ou de outra, não tivesse, ao menos, um resquício de verdade.
Assim entendo também a fraqueza e a força.
Entendendo-se que a única verdadeira e pura força é a que vem de dentro, solta de constrangimentos, indiferente a críticas ou elogios, existindo por si e, até, por decisão própria, o que fazer perante uma falha.... um erro....
Se não há quem te tenha ajudado a montá-la e se não há quem a consiga destruir, a possibilidade de, exteriormente, a reestabelecerem, a capacidade de te apoiar a colocar, novamente, o telhado que a tempestade levou é, practicamente, inexistente.
Ora, se tu te enganas,
se tu te fodes a ti mesmo,
se tu fazes merda,
se te desiludes,
se te questionas,
se a certeza que tinhas se abala... como poderá alguém ajudar-te a reerguer?
Para mim, a resposta é simples, não pode!
Temos então o contraponto.
A Força transformada em Fraqueza.
Se é verdade que nada te atinge, é mais verdade ainda que tu mesmo te atingirás com uma força brutal.
Um corte pequeno será capaz de te cortar um braço.
Uma ferida pequena irá gangrenar.
Uma tosse inofensiva será cancro.
Uma dor de cabeça ténue será um tumor cerebral.
Do outro lado terás o gajo que precisa de elogios, que se perdoa por ser imperfeito, que se abala se uma pessoa não lhe responde ao bom dia, que tem vontade de se suicidadar quando um amor não é correspondido e que chora quando é mal tratado.
Mas a este, como depende do que lhe acontece além da própria pele, bastará um afago ou um elogio para sacudir o pó.
Mas este, que passa a vida a cair, não se atormentará por, uma vez mais, bater no chão.
Qual dos dois preferia ser?
Devia estar a dormir quando deixaram escolher.
Thursday, May 10, 2007
Enigmas
As pessoas fascinam-me.
Não preciso, sequer, de gostar delas para me interessarem.
As coisas que os outros fazem e que eu seria incapaz de fazer constituem um mistério que provoca a minha admiração, tanto as coisas que certas como as que tenho como erradas.
Sou incapaz de ímpetos inpensados.
O que muitas das vezes parece ser uma coisa do momento nunca o é.
Não me foi atribuida a capacidade de fazer trapézio sem rede.
A minha natureza manipulativa e agreste limita a possibilidade de fazer isto ou aquilo simplesmente porque tenho vontade.
As consequências e o resultado das minhas vontade são pesadas e contrapesadas, são estudadas e analisadas, são ponderadas e perspectivadas ao máximo daquilo que consigo.
Se todas as acções têm reacções, todos os desfechos, em termos simplistas, resultarão numa vantagem ou desvantagem... e eu não concebo a minha colocação no lado desvantajoso.
O caminho pouco me importa se eu não souber onde vou parar.
Infelizmente, não controlo todas as circunstâncias nem consigo imaginar todos os cenários, no entanto, consigo prever um elevado número deles.
Penso frequentemente naquilo que dificilmente pode acontecer. Todas, literalmente todas, as possibilidades me interessam.
A pior coisa que me pode acontecer é ficar de calças nas mãos.
Depois encontro pessoas que não são assim e não consigo deixar de as admirar.
Não queria ser como elas, mas admiro-as.
A leveza de deixar rolar nunca me foi apresentada, tudo em mim é pesadíssimo e de difícil transporte.
Também gostava de cantar mas não tenho voz.
Wednesday, May 09, 2007
Estrangeiro
Ofereceram-me o "Estrangeiro" de Camus no Natal.
Só agora tive coragem de pegar nele, não sei ao certo porquê.
Não vou falar do livro nem do prefácio de Sartre, não gosto de demonstrações forçadas de uma pseudo cultura que não tenho.
Mas a palavra....Estrangeiro.
Difícil encontrar-me na rua ou num bar ou no local de trabalho ou em qualquer lugar e me achar inadaptado.
Não tenho um comportamento claro de solitário e muito menos de incompreendido.
Na verdade, sinto-me solitário com uma frequência voraz mas nunca me senti incompreendido.
Solitário sinto-me porque ainda não descobri a minha casa.
O facto é que não a procuro e quando na frase acima uso ainda, faço-o por reflexo porque não acredito piamente no sucesso da minha empreitada.
Não saberia contabilizar quantas vezes penso que não sou daqui. Poderia ser um começo, poderia ser um ponto de partida esse saber que não sou daqui.
Infelizmente, ou felizmente, sei que não sou daqui mas também não sou dali.
Também não me sinto incompreendido porque não me faço por compreender.
Foi, já, suficientemente difícil entender-me, aceitar-me e conhecer-me.
O esforço de acreditar e saber que não tenho de fazer sentido em dois sentimentos seguidos porque os tenho e os quero selvagens.
Se escondo dos olhos pra fora o turbilhão de cores, não faço a mínima questão de os esconder dos olhos pra dentro.
Este movimento de exploração interior fez-me, no entanto, um ilhéu que nem peninsula consegue ser.
Não que me entristeça, não é o caso.
Muitas das vezes diverte-me e outras tantas defende-me.
Gostaria de dizer que me sinto estrangeiro por necessidade ou por imposição ou por obrigação ou por medo ou por soberba ou por generosidade, mas não sei se será esse o caso.
Sou o que sou porque a maioria absoluta do que me rodeia parece chato e cinzento e, como um camaleão, misturo-me na amorfidade.
Se o que interessa é parecer....eu pareço.
Se o que interessa é ser...eu sou.
Se nenhuma delas interessa, pouca diferença fará, não tenho um contacto real e absoluto com nada.
O Phenris é, em si, um toque de realidade misturada com a fantasia, nem sempre sou verdadeiro porque também me minto a mim mesmo, apesar de saber que estou a mentir.
O que interessa?
Pouco ou nada, só sobram os ossos.
Tuesday, May 08, 2007
Há uma vontade premente de ir.
Não sou de sentir vontades e, dentro do possível, não as concretizar.
Por um motivo ou por outro, por medo ou contingências, por querer e não querer, por sentir que devo ir e que devo ficar, nunca dei o passo de, como quero, partir.
Uma outra questão extremamente relevante é que não sei para onde quero ir, o que sei é que não quero ficar.
Numa cabeça como a minha, isso não faz qualquer sentido.
Numa cabeça como a minha, é, no mínimo, ridículo querer fazer alguma coisa sem qualquer projecto envolvido.
Numa cabeça como a minha, é inconcebível ter perdido anos e anos da minha vida a estudar e, agora que faço aquilo para que trabalhei, abandonar tudo a troco de nada.
As minhas batalhas internas são fraternas e nem por isso menos sangrentas (o eterno é cansativo ser-se eu), sou construido na emoção mas profundamente regido pela razão.
Há dias em que me parece que não vou aguentar e me sinto contrariado na essência, chega a ser uma dor física.
Nesses mesmos dias, em momentos de clarividência (ou de medo ou de consciência ou de realismo ou de outra merda qualquer, pouco importa), torna-se impossível explicar porque me sinto amarrado e pareço, aos meus olhos, ridículo.
Um dia desses, suponho, o meu pistão vai colar e mando mesmo tudo com a puta que pariu e como não sou de voltar atrás, vou pagar o preço das minhas vontades.... só espero que não seja alto demais.
Um dia desses visito a Patagónia e acho que não volto.
Friday, May 04, 2007
Simulação de Aparência
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Desde que comecei a trabalhar a minha soberba e arrogância tiveram de se tornar menos audíveis.
Não me moldei por vontade mas antes por necessidade.
Descobri que o melhor será que pensem que eu sei menos do que o que realmente sei e que eu não caia no erro de achar que sei mais do que o que sei na verdade.
Em termos simples, Manobra Defensiva.
Este tipo de comportamento tem uma vantagem acrescida quando se está numa posição de desvantagem, reconhecidamente, e não se pode acompanhar nem o bluff.
Assim, assumo algumas vezes o papel de inocente rapaz (a minha cara de meio puto ajuda mas o meu olhar de fdp, se visto com atenção, denuncia), sendo certo que o traje me fica manifestamente apertado mas tento disfarçar metendo a barriga pra dentro.
Ora, não me importo que me achem burro, mal informado ou inocente, a minha segurança é forte demais para me sentir abalado ou, sequer, beliscado pelo que um ou outro fdp acha.
Aliás, prefiro até que pensem isso. Nada faz alguém baixar a guarda e ficar desatento como a impressão de que quem se encontra do outro lado da mesa não constitui ameaça alguma.
Infelizmente, ainda não aperfeiçoei a técnica...
Se em vez de pensarem que eu sou burro me disserem que eu sou burro a merda bate ruidosamente no ventilador.
Ontem apareceu-me um camelo desse tipo.
Andei bastante tempo a fingir-me amável, compreensivo e algo alheado (não sendo nenhuma dessas características próprias) e o gajo, além de pensar que era verdade (o que eu queria) decidiu dar o passo de me dizer o que pensava.
Ontem já sentiu dois dentes a roçarem-lhe a pele.
Prometo hoje que os vai sentir entrarem-lhe pela carne dentro.
Tratarei disso depois do almoço.
Comprovarei que cão que não ladra morde.
O meu plano de manipular com delicadeza foi por água abaixo mas que se foda, é guerra é guerra.