Tuesday, May 31, 2011

Nunca fui um tipo particularmente sensível e impressionável. A melhor resposta ao porquê de assim me ter tornado poderá ter um sem número de resposta, todas elas parcialmente correctas, mas, a meu ver, a principal raiz desta visão menos lacrimosa do mundo entroncará na minha crença de que grande parte do que nos acontece é da nossa responsabilidade.
Sim, haverá sempre uma parte aleatória em tudo mas essa parte é ínfima. A maioria absoluta das vezes não vemos o que não queremos, não sabemos o que não nos interessa e não fazemos o que nos custa mais do que aquilo que entendemos como razoável.
Assim, somos aquilo que fazemos e não o que queremos.

Ora, quando comecei a minha vida profissional esta perspectiva era ouro sobre azul!
Um desvio ao lardo da compaixão e da pena. Detesto pena. Mais do que pena apenas detesto a comiseração.

Ao fim de algum tempo, contudo, a coisa começou a pesar-me um pouco e depois mais alguma coisa. Não mudei a minha ideia ou crença geral...ou melhor, a minha descrença geral. O que aconteceu é que começou a ser demasiado negro, o meu dia. Demasiada miséria. Demasiados idiotas que eram os únicos culpados das suas desgraças mas que ainda assim viviam essas desgraças.
Eram idiotas, mereciam o que passavam porque não se preocupavam com coisíssima nenhuma até sentirem o garrote. Ainda assim, era demasiada miséria.

Assim, contrariamente ao que a idade e o calo da vida vai fazendo, não me habituei, causou-me, na verdade, alguma angústia.
Não me sentia culpado e nem me sinto agora, era e sou meramente o portador de más notícias; infelizmente, essas más notícias também me pesam no saco.

Isto que acabei de vos contar ninguém o verá na minha cara, no meu caminhar nem no meu respirar, à superfície tudo vai bem e continuo a ser tão ou mais eficiente a aguentar este barco que nunca viu o Cabo das Tormentas trocar o seu nome por Bojador.

O meu princípio não se alterou mas ficou um bocado mais desbotado.

Saturday, May 28, 2011

Desisti de ler a biografia do Ghandi. Prometeu mas não entregou.

Não sei exactamente porquê mas fiquei absolutamente desinteressado e, a espaços, muito desiludido e até irritado.
A resposta a esta reacção talvez se deva ao meu ambiente obviamente ocidental e à minha integração neste mundo que é o nosso, reconhecendo defeitos e virtudes e com a certeza que não o alterarei em grende medida.

Tenho uma aversão enorme a algumas coisas, ou melhor, não é às coisas em si mas aos que as tentam, a toda a força, vender. Entre estas irritações encontram-se o vegetarianismo, a religiosidade e a filantropia.
Posso parecer um psicopata por me sentir incomodade por estas coisas mas a verdade pura e simples é que sinto mesmo e não tenho problemas em admitir.

Não sei se já repararam (tenho a certeza que sim porque, eventualmente, só quem lá anda metido não repara) que há uma espécie de suberba nos indefectíveis defensores de qualquer uma daquelas coisas; não sei se já repararam que os vegetarianos, os religiosos e os filantrópicos - mormente quando se apresentam como um grupo ou uma instituição - se consideram seres humanos superiores aos outros, os omnívoros, os menos religiosos (reparem como nem disse ateus) e aos menos ou nada filantrópicos; o que se torna estranho é que estes conceitos, como os entendo, pregam exactamente o contrário: a igualdade, a fraternidade e o humanismo, uma espécie de revolução francesa imperfeita (e juntar franceses e soberba no mesmo pensamento nem é um exagero).

Voltando à biografia, direi que até certo ponto me senti absolutamente indiferente porque nada do que é descrito me soa, sequer, a familiar; depois começou a incomodar-me porque era Deus de mais, conselhos dietéticos de mais, verdades iluminadas de mais e ascese de mais; por fim irritou-me, parte mais decisiva que me fez desistir.

Quanto à irritação:
Tolero muitos tipos de pensamento e de prioridades mas a minha latitude não chega a todos.
Admiro quem ponha o interesse de outros à frente dos seus e se preocupe com o vasto todo o mundo mas já não tolero quem não distingue a família de tudo o resto.
Todos aqueles que abandonam os seus filhos por qualquer motivo que não os tenha no princípio, meio e fim como principal prioridade não terá nunca a minha simpatia. Não me cabe na cabeça que algo possa ser mais importante e não há racionalização que me possa convencer do contrário.

Quem não respeita o próprio sangue, para mim, não respeita coisa nenhuma e quem não respeita coisa nenhuma pode dar-se ao luxo de dizer e, até, acreditar, que respeita tudo.

Thursday, May 26, 2011

Não percebo a incapacidade de muita gente em reconhecer e assumir que não entendem determinadas coisas. Reparem, não digo todas as coisas porque, volta e meia, temos de parecer mais do que ser porque temos ou algo a ganhar ou algo a perder mas estes casos, para mim, são exclusivamente profissionais e, mesmo neste caso, raros.

Coisa diferente, por exemplo, é a questão cultural.
Neste caso o efeito é quase cataclísmico. À custa desta suposta vergonha de não conseguir decifrar o indecifrável nascem intelectuais que não o são e estrelas que nunca brilharam.
Quantos de nós percebem David Lynch? Seguramente muitos menos do que aqueles que afirmam gostar dele.
Quantos de nós perceberam a Casa Amarela do César Monteiro (para não falar do Capuchinho Vermelho)? Talvez os mesmos ou mais do que no caso do Lynch.
Quantos de nós gostam, verdadeiramente, de Saramago? Eu nunca consegui terminar (na verdade, avançar mais de 30 páginas) de um livro seu...e já tentei 3 obras diferentes!!!

O reflexo disto é a tentativa que vemos por aí de gente usar polissílabos sem os entender, de usar figuras de estilo despropositadas e erradas para um efeito desconhecido e a praga da poesia sem métrica nem significado.
Por mim, podem correr e saltar, chamar-me inútil ou burro, atirarem-me com a pedra da ignorância ou da pura estupidez, não me importo; não há, para mim, motivo algum para perder tempo com pedantismo, arrogância e suposto vanguardismo; não há, para mim, motivo algum para me forçar a afeiçoar ao que não tem linha condutora, qualidade gramatical nem sintática; não há, para mim, motivo para gente lamechas e cinzenta que se crê romântica e sofredora.

Parece-me ouvir alguém dizer que cada um faz o que quer fazer e exprime-se como muito bem entender. Não poderia estar mais de acordo. Na verdade, eu faço o mesmo.
Esta minha incapacidade de tolerar estupidez nada tem que ver com a imposição de formas correctas ou erradas de comunicar. Esta incapacidade que me assola é mais virada para o que quem não é (porque não sabe ou porque não nasceu para isto) tente parecer. Não há nada mais ridículo do que o estigma português de que todos sabemos falar espanhol e aqui a coisa é mais ou menos a mesma.

Exprimam-se e cometam, até, atentados contra a gramática, apoio isso incondicionalmente.
Agora, não empestem caractéres de insignificânias pseudo-líricas; não sejam tão forma e tão pouco conteúdo; não creiam nos idiotas que alogiam o que vocês fazem meramente porque não entendem e não o conseguem reconhecer...até porque, normalmente, estavam certos à primeira: não entendem eles nem ninguém.
Gosto de coisas óbvias que interrompem reflexões sensacionais e sensacionalistas.
Coisas do tipo:

"É natural que não vejas nada, isso nada tem de estranho. Afinal, não há lá nada.!
ou
"Nada. Espero não ver nenhuma luz ao fim do túnel...muitas vezes ou a maioria delas é um combóio."

Tuesday, May 24, 2011

Gosto de biografias. Ainda não decidi se prefiro aquelas escritas pelos próprios ou por outrém; as autorizadas ou as não autorizadas.
Todas elas têm os seus prós e os seus contras e o ideal seria, como quase sempre acontece, um híbrido entre elas. Seria útil que tivesse o conhecimento em primeira linha daquele que é retratado, a distência daquele que o observa e, até, a aspreza de quem o descreve sem para isso ter autorização.
A descrição de uma vida, para conhecimento generalizado, deveria ser uma coisa objectiva mas com a subjectividade dos olhos que as viveram.

Neste momento, comecei a do Ghandi.
Como muitos de nós, crio anticorpos que não têm, muitas das vezes, razão de ser. Não ouço Elton John porque ele (não a sua música, necessariamente) me deixa nervoso; deixei de suportar os Gatos Fedorento (dois deles, para ser mais exacto) porque quando escrevem sobre futebol esquecem-se de 2/3 do QI em casa; não gosto de equipas que tenham o CR porque a figura me irrita profundamente e por aí adiante.
O Ghandi nunca me atraiu nem me causou repulsa, sendo que se tivesse de escolher seguiria pela segunda. Não, não sabia absolutamente nada sobre ele mas tenho uma alergia tremenda a gente beata, independentemente da religião professada. Causa-me alguma urticária o discurso de paz e amor porque nem sempre estamos em altura de paz e amor. Aquela coisa, por exemplo, de oferecer a outra face parece-me salutar mas depois de darmos a outra não temos mais nenhuma e é altura de agir.
Então, porque leio Gahndi?
Há uns tempos li dois volumes que versavam sobre os maiores discursos do século XX e cruzei-me com um do Ghandi. Gostei muito e as minhas defesas baixaram ao ponto de querer saber mais.

Neste momento, ainda vou muito no início mas o prólogo dá-me esperança porque nele se diz qualquer coisa como "há verdades sobre nós que apenas nós mesmos e Deus conhecem".
Ultrapassando a alusão a Deus, que dependerá da crença na sua existência, esta é uma verdade, para mim, indiscutível. Há, de facto, coisas que nunca contaremos a ninguém por mais honestos que queiramos ser. Há desejos, fantasias, vergonhas, ideias, sensações que não teremos nunca a capacidade de vocalizar e isto pareceu-me manifestamente interessante aparecer no prólogo de uma biografia.
É refrescante começarmos a leitura da vida (escrita pelo próprio) de alguém que, à partida, nos avisa que não contará tudo porque há coisas que não podem ou não se conseguem contar.
O que para muitos pode parecer ridículo a mim parece uma evidência, uma prova de honestidade, um afago na cabeça que diz "meu amigo, tudo que te disser é verdade mas não te vou dizer tudo".

O discurso que li dele pareceu-me honesto e despretencioso e, por essas razões, atraiu-me.
O prólogo disse-me que devo ter acertado em interessar-me.
O livro e a vida...bem, vamos ver. Quanto a ela ainda não estou convencido mas do pouco que folheei parece-me que ele também não me quer convencer e isso é tudo que se pede: diz o que quiseres mas não me tentes converter.

Monday, May 23, 2011

Fundo

Antes do mais, talvez seja útil fazer duas pequenas ressalvas para que não pareça aquilo que não sou:
1) sou um ávido consumidor de televisão e, conscientemente e de acordo com os meus gostos, vejo o bom e o mau;
2) irrita-me a hiper-sensibilidade ocidental que leva ao paternalismo que resvala no desprezo para com as sociedades "menos desenvolvidas"; não sou nem nunca hei-de ser vegetariano e importa-me menos que se matem e abandonem cães do que se faça o mesmo a pessoas.

Isto posto,

Domingo tive a infelicidade de, enquanto se dava um intervalo no que queria ver, passar pelo Perdidos na Tribo. É EXECRÁVEL. O que me surpreendeu é que é manifestamente pior do que o que tinha imaginado.
Para não me alongar, relato o que consegui ver em, talvez, 30 segundos (serão descrições descontextualizadas porque nem me imagino a tentar perceber o que se passava, passou, passaria ou passará):

1) O Execrável Castelo Branco (figura que apenas tem sucesso num país que ainda enche o Atlântico para ver Scorpions) urra e meio que grita porque o queriam obrigar a cortar parte da orelha de um boi (?); depois de muito ser ridículo, lá faz o que lhe mandam mas sofre incomensuravelmente porque estava a ser bárbaro; depois, com o pedaço de pele do animal na mão, começa a ver em que peça de adorno a poderia usar e chama-lhe "troféu";
2) Noutra tribo, golpeiam o pecoço de um animal que iriam matar; a Io Apoloni, face ao pranto em que se exibia a que mostrou as mamas na Playboy e que ninguém sabe o que faz disse-lhe que "aquilo era muito triste de se ver mas que a carne que lhes chega ao prato, em casa, vem do mesmo lugar (um pingo de lucidez naquele desvario); a da Playboy continua a muito sofrer mas....quando o animal acaba por morrer pergunta se pode ficar com a pele.

Deixem-me que vos diga, quanto aos animais, o seguinte: não me incomoda nada que se matem animais para comer, acho normalíssimo e, como diz a Io, se eu os quero no prato eles têm de vir de algum lugar.
Agora, exibir a matança de animais para chocar ou fazer delirar espectadores (o que é o mesmo que dizer, por audiências) enoja-me e torna-nos muito mas muito mais atrasados do que qualquer país 3º mundista.
Ainda assim, parece que ouço os Verdes a atirar á cara que é a verdade e que talvez assim entendamos a crueldade que os animais sofrem. Sim, idiotas, sim. Vou mostar-vos uma perna gangrenada a ser cortada, afinal, é a verdade. Querem vê-la?
A finalizar, assumo que se precisasse mataria um animal com as minhas mãos todos os dias para comer. Não tenho vergonha nem embaraço, apenas me enoja tornar disso um espectáculo.

Aliás, e isto é absolutamente genial, esta gente que não quer matar mas quer comer; esta gente que sofre por animais mas que lhes quer a pele é a mesma que anda por todo o lado (onde haja câmara) a pedir para adoptar animais e que sem os seu animais não são nada e que agora são vegan e que têm muita pena dos touros nas touradas...enquanto se embrulham em vison.

Mete-me nojo.
Metem-me nojo.

Infelizmente, como costumo dizer ao meu irmão quando ele se admira quando algumas coisas são como são, custam o que custam e parecem o que parecem: Se as pessoas não as comprassem ninguém as vendia.
Ontem, um mau filme versava sobre uma realidade interessante. Como tinha pretensões a êxito de bilheteira não se deu ao trabalho de explorar mais do que o indispensável para que sentissemos alguma compaixão pelo personagem principal e fossemos domando os sentimentos para que o pavimento para o grande final não se conspurcasse.
Bem, pela minha parte, achei os primeiros 10 minutos óptimos.

O que ali se retratava, em termos muito simplistas e não totalmente justos, era um mentiroso. Não um mentiroso sádico mas, ainda assim, um mentiroso; não um mentiroso detestável mas alguém que, no fundo, não seria assim tão diferente de nós mas, ainda assim, um mentiroso.
A mentira consistia em aconselhamento de gente para que superasse uma enorme perda, como ele tinha feito. Só que ele não o tinha feito, ele não tinha ultrapassado.
(É o detestável mundo dos livros de ajuda)

Ora, a questão que a mim se colocou é exactamente essa: Será errado chegar à finalidade partindo de uma base falsa? Será condenável a actuação de um tipo cujo resultado é um sucesso ainda que a partida tenha sido mentirosa?
É difícil...
Na verdade, se formos apenas racionais, não é importante a veracidade e nem sequer a realidade se conseguirmos o que pretendíamos. Afinal, o que interessa se ele não conseguiu desde que eu consiga?
O problema é outro.... a possibilidade de nos sentirmos quase violados porque o que apreendemos não era real é monstruosa. Naquele momento, corremos o risco de que deixe de nos interessar que, efectivamente, tenhamos conseguido, por exemplo, saltar uma distância que considerámos impossível e ficarmos agarrados ao facto de ele, que nos ensinou a técnica, afinal não conseguir.
Deixámos de conseguir saltar? Não.
Deixámos de ter duas pernas? Não.
Faz diferença termos sido enganados, em termos práticos? Não.

Não retirei daqui uma grande solução filosófica nem cheguei, em termos pessoais, a uma resposta definitiva nem convincente.
O que voltou a aparecer-me é o facto de saber a verdade ou não a saber não ser um factor tão determinante como dizemos que é ou como gostaríamos que fosse.

Saturday, May 21, 2011

Mortalidade

De Domingo para Segunda passada fui sair e uma noite gloriosa terminou mal.
Acidente, um carro para a sucata, roda enviada para 50 mts do carro e eu encarcerado no lado do passageiro.
Foi tenebroso, como todos os acidentes deste tipo são, e poderia ter terminado em tragédia, daí eu ter dito apenas que terminou mal, não é eufemístico, é como me parece que deve ser descrito.

Podia vir para aqui discorrer sobre a vida que me passou à frente dos olhos, a luz que se ligou e me fez dar muito mais valor à vida e coisas que o valham; não o farei porque não é verdade.
Não vi nada a não ser imagens recortadas enquanto girava, não decidi mudar a minha vida e não sou outro tipo, não sou uma entidade diferente e muito menos superior; não me tornei uma personagem dos programas da tarde nem, se fosse mais ambicioso, da Oprah.

Então porquê este assunto?
Porque só se muda quando queremos, previamente, mudar e porque mesmo em casos de catástrofe somos aqueles mesmos que eramos em tempos de bonança...apenas se alteraram as circunstâncias.

Não fui para o hospital porque para quem tem culpa no acidente é pior haver feridos. Tirei os nomes de todas as testemunhas que pude e apontei os números. Fui, com o rebocador, entregar o carro à sucata. Telefonei a quem me pareceria mais apto para me ir buscar e guardar recato sobre o que iria saber e ver. Mantive contacto constante com o condutor do carro e, terminado o que era inadiável fui encontrar-me com ele.
Quando nada mais havia a dizer ou a fazer senti um frio de morte. Não tenho frio nunca e não conseguia parar de bater o dente numa manhã (meio da manhã, já) soalheira e sem ponta de vento. Senti-me mal e senti-me fraco, precisava de me deitar.

Voltando: sou o mesmo "na saúde e na doença".
Mantenho-me até quando sou necessário, seguro-me quando me sinto o único capaz de manter as pedras juntas e depois caio. Quando o trabalho está feito, caio. Caio na sombra, caio sozinho, um pouco como a árvore que cai na floresta mas que ninguém vê nem ouve e porque ninguém vê nem ouve ela, na verdade, nunca caiu.

Saturday, May 14, 2011

Há umas semanas, estava a ver o programa do Anthony Bordain e, a dado momento, estando ele na Libéria, um livro é falado. Não consegui apanhar o título nem o autor, ou se consegui esqueci-me, mas ficou-me na memória que se tratava de um relato sobre uma viagem por terra desde o Cairo até à Cidade do Cabo que teria durado cerca de um ano.
Isto passou e nunca mais lhe dei importância.

Passado algum tempo, enquanto vasculhava umas prateleiras da Biblioteca, encontrei o nome Paul Theroux e o título Viagem Por África; aquilo fez-me despertar uma luz e, lendo a sinopse, percebi que era o livro de que Bourdain falara e tive de o lar.
Bem, estou a acabar o segundo do Theroux porque o primeiro durou dois dias.
São as felizes e inesperadas nesgas de sol que tornam os dias nublados especiais, por momentos e nem sempre vêm planeados e de onde queremos. O mesmo para Theroux e para Bourdain.

Porquê?
Bem, porque temos pontos em comum, os 3.

Bordain fala do que não se fala em, talvez, 3/4 de cada programa. Muito pouco são Michellin Stars e vinhos de milhares de dólares; Não são os diplomatas nem os oficiais que lhe mostram as ruas, são pessoas que percebem da coisa mas que, basicamente, são como tu e eu.
Theroux, quando está a escrever sobre viagens sabe que não está a romancizar; lemos o livro de um fôlego mas percebemos onde ele está e não onde o panfleto diz que aquilo é. É uma viagem e não necessariamente um destino; é como se vai indo, de forma arrática e com irritação, frustração e más experiências à mistura; é a vida em sentido verdadeiro e não heremético, como se encontra em catadupa.
Os micróbios existem por todo o lado e, se assim é, porque nos devemos limitar a ler/ver/viver locais esterilizados?

Sabem... quando vejo falarem-me do que não está lá ou apenas de parte do que existe, assim como faz Sócrates, o ex-PM, fico com uma ligeira vontade de levar com um bocado de lama na cara.

Wednesday, May 11, 2011

O Ódio Imenso!!

Infelizmente sou muito irascível. Uns culparão o meu signo, outros a minha educação, outros a soberba... interessa pouco saber quem tem razão (até porque poderão ter todos) mas a verdade inalterável é que sou irascível.
A minha irascibilidade não é motivo de orgulho, é algo que venho tentando controlar com algum sucesso, ainda que não suficiente. Ora, como qualquer pessoa, incomoda-me o que em mim me desagrada e quando me fazem passar o ponto sem retorno fico duplamente irritado porque me obrigam (ou não consigo evitar) passar esse mesmo ponto.

Acabo de entrar no inferno que é uma repartição das finanças. Dirijo-me ao idiota que me iria atender e peço-lhe uma determinada informação; este idiota responde-me em péssimos modos (PÉSSIMOS) e diz qualquer coisa como "não traz documentos nenhuns e quer informação".
Aqui poderia ter feito diversas coisas: poderia ter explicado que a documentação toda que ele precisa não era necessária (não era mesmo, até porque eu tinha alguma), poderia ter puxado dos galões de Advogado (o que não fiz porque obrigarem-me a isso é ainda pior do que me irritarem) ou, por exemplo, chamar o chefe daquela pocilga.
Pois, nada disso se passou.
Disse-lhe qualquer coisa como "é muito educado, o senhor, deve ser o orgulho da família" acrescentando que "não admito que me fale dessa maneira quando sou eu, também, quem lhe paga o salário", passando por "é incompetência demais numa só pessoa" - no meio disto ele ia tentando ou fazendo menção de responder mas tinha pouco sucesso, eu não estava para ouvir e a minha voz ia engrossando juntamente com a minha carótida - e terminei dizendo "quero o livro de reclamações!". Fingindo, segundo me pareceu, não ouvir repeti "não ouviu à primeira? quero o livro de reclamações!!" - mais sangue a espumar.

Odeio isto e odeio que me façam odiar.
Foda-se, tou muito irritado! Devo precisar de ver um bocado de pornografia, para ver se acalmo.

Monday, May 09, 2011

Tenho em mim uma costela (pelo menos uma) a atirar para o esquizifrénico. Tenho uma imensa dificuldade em confiar e não há momento em que não esteja atento ao que possa estar a acontecer.
Para uma pequena ideia sobre aquilo a que me refiro, posso dizer que vejo sempre se nos carros estacionados estão pessoas dentro (quando, naturalmente, não seria de esperar que estivessem) e, se achar algo mais estranho do que aquilo que considero normal sou gajo para apontar a matrícula do carro...pelo sim pelo não.
É algo que tento controlar mas de que não me quero desfazer por completo. Afinal, se não olharmos por nós ninguém olhará.

Acontece que, volta e meio, tenho conhecimento de factos que me fazem pensar que a minha costela devia existir em toda a gente; sim, seria um mundo mais paranóico mas, eventualmente, ainda não paranóico o suficiente.

Por mero acaso, aprendi uma ou outra coisa sobre ONGs. Aprendi, por exemplo, que muitos dos donativos dados (publicamente dados, enormes somas de dinheiro dados por gente que procura publicidade) têm um objectivo ainda menos aceitável do que a mera publicidade: a saber, por exemplo, um donativo para construir escolas poderá implicar que tudo que for usado na sua construção e implementação seja comprado a um determinado país ou a uma determinada empresa. Parece razoável? Bem, nem parece nem é. Primeiro porque quando ajudamos deveriamos tentar ajudar em toda a linha e uma dessas linhas seria alavancar a economia local comprando local; Segundo porque ao comprar cimento no, digamos, Canadá e levá-lo depois para o, digamos, Uganda fica mais caro do que comprá-lo lá; Terceiro porque não deveria ser utilizado o termo ajuda humanitária quando não se dá de facto mas apenas se faz o dinheiro girar duas vezes, recebendo-o de novo e abatendo em predas fiscais.

Sou paranóico?
Cheira-me que dentro de algum tempo isto vai tornar-se uma regra resultante da propagação do cinismo.

Thursday, May 05, 2011

A maioria das mulheres têm empregnado em si a vontade ou o instinto de maternidade, mesmo aquelas que não querem ser, efectivamente, mães.
Se é verdade que algumas vezes isto me irrita não é menos verdade que a maioria das vezes me enternece.

Ontem fui ver o concerto dos Clã (óptimo, como sempre) e uma das músicas falava do clássico homem (no caso, rapaz) que apenas parecia áspero e agressivo mas que, na verdade, esperava apenas que alguma donzela o viesse acordar deste pesadelo de parecer o que, de facto, não era. É um clássico! Não necessariamente da vida real mas da imaginação colectiva feminina.
Em sequência, uma das minhas amigas achou que essa canção se aplicava a mim. Era e é uma evidência! Afinal, não sou nada do que pareço, sou apenas uma fachada que luta, inconscientemente, para se libertar!
Isto é a maternidade. Esta crença que algo de muito bom mesmo quando apenas se vê penumbra; esta crença de que com o estímulo certo (muitas vezes, da própria, na sua cabeçe) o sol vai furar o céu nublado.

Sabem, queridas, muitas vezes ou a maioria delas se não se vê é porque, de facto, não está lá.

Tuesday, May 03, 2011

Bin Laden

É o assunto do momento, não é?
Antes de dizer uma ou duas coisas acerca do que acho disto, tenho de referir que vi, agora mesmo, num jornal uma polémica que estalou nos Estados Unidos porque um jogador da NBA no seu Twiter disse que não encontrava motivos para se festejar uma morte, seja ela qual for e em resposta (como era previsível) foi chamado de quase tudo em quase todas a línguas.

Não serei tão sensível como o jogador em questão mas, para ser verdadeiro, não posso deixar de dizer que até gostava de ser. Não me choca que quem muito sofreu às mãos deste sanguinário solte, agora, a frustração que os persegue há quase 10 anos...mas não posso deixar de dizer que a captura do Bin Laden foi dispendiosa demais (guerra no Afganistão e Iraque - alguém acredita que sem Bin Laden os EUA tinham ido para o Iraque? Foi a má desculpa que precisavam - as incontáveis vítimas e os milhares de milhões).
Agora, uma outra coisa, completamente diferente, é a reacção política; aquela reacção que não se quer nacionalista e sanguinárea mas ponderada e, até perspicaz; não é nunca de esquecer que os indivíduos se podem expressar sem grandes contenções mas os que os representam não têm a mesma latitude de movimentos. Quero dizer algo de simples: EU posso pedir sangue mas o Primeiro Ministro, por exemplo, não. Os CIDADÃOS americanos podem pedir sangue mas o Obama não.

É indiscutível que o Bin Laden seria de apanhar vivo ou morto, contudo, deveria ser esta a ordem: primeiro, vido, depois, se não desse, morto.
Há vários motivos para isto mas o principal dos quais seria o de delinear, claramente, o que distingue as vítimas dos agressores. Seria fundamental, nos dias que hoje correm, que a diferença entre vingança e justiça fosse indubitável, que fosse uma questão de fundo e verdadeira e não meramente semântica e dependente do lado que a usa. Por isso, quando Obama diz que se fez justiça dirá uma de duas coisas: Ou pretendeu prendê-lo e não conseguindo teve de o abater (justiça) ou, à partida, não queria prendê-lo e foi para o matar (vingança). A diferença pode ser ténue mas é a que separa, muitas vezes, terroristas e estados de direito ou, como gostamos de chamar, "avançados".

Isto é, ainda, o que poderá distinguir um criminoso de um mártir e aqui a diferença pode ser do tamanho do mundo e de rios de sangue.
Espero pelo melhor mas...