Saturday, March 30, 2013
Estou a ler mais um livro da Hanna Arendt.
Irrita-me não ler mais livros dela com mais rapidez mas sinto que quando o faço (tentei uma vez ler dois seguidos) deixo esvair metade do que deles posso aproveitar porque é demasiado cansativo intelectualmente (e por vezes emocionalmente também).
Não, não vou falar da Hanna, ainda que, por descargo de consciência, é das poucas pessoas que me fazem pensar que gostava de passar, ou, no caso, ter passado, algum tempo à conversa.
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Hanna Arendt, como alguns outros autores, fazem-me pensar na educação e na sua importância. Não me refiro a um curso ou a uma carreira em específico nem, na verdade, a cultura académica; refiro-me a conhecimento e, muito dele, conseguimos prover por nós próprios sem sermos coadjuvados por professores ou mestre, o pai da educação será o interesse.
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A educação permite-nos acima de tudo tocar o pensamento abstracto, a conjectura, a confabulação de cenários, a antecipação de problemas e, entre outras coisas, a própria empatia. A capacidade de nos colocarmos na pele de outrém é tão mais eficaz e possível quando podemos pensar abstractamente por, em concreto, não podemos imitar os sentimentos de quem se senta à nossa frente.
É importante, é muito importante o exercício de pensar, independentemente da capacidade de uma aplicação prática imediata. Sairmos de nós só é possível intelecualmente e de nenhuma outra forma.
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No mundo que nos rodeia hoje, de consumismo e capitalismo podemos perguntar-nos se não há coisas mais importantes que isto e a resposta é inequivocamente SIM, é mais importante comer e beber mas muito pouco mais.
A ignorância é a mãe das ditaduras (que não dos ditadores) e das manipulações (que não dos manipuladores), estaremos muito mais preparados para o dia-a-dia se entendermos o que não se restringe aos nossos sentidos e à nossa pele.
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Às vezes um gajo sente-se sozinho nisto mas o pensamento abstracto pode tornar-se, com muita facilidade, em solipsismo.
Wednesday, March 27, 2013
Passei agora por uma igreja e reparei que estavam uns quantos miúdos a fumar ganza.
Não consegui evitar esboçar um sorriso, acontece sempre que me deparo com actos subversivos, mesmo quando quem os pratica desconhece o que é subversivo.
Há uns tempos tive uma discussão com umas amigas relativamente ao conceito de interesseiras. Aquelas gajas que andam com aqueles gajos por outros motivos que não gostarem deles ou gostarem o suficiente deles para que a envolvência económica seja irrelevante.
As minhas amigas caíram-lhes em cima e eu também, porque me parece de baixo nível, mas, ao contrário delas, não consigo ser absoluto quanto ao que uma interesseira é.
Existe um elemento psicológico muito importante que as minhas amigas preferiram ignorar e que, para mim, faz toda a diferença.
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Para enquadrar o porquê desta minha ideia tenho de recuar um bocado na minha vida:
Há anos atrás julgava estar apaixonado mas, vim depois a saber, de facto não estava. O que aconteceu, com esta mulher em particular, é que ela estava muito apaixonada por mim e no meio de toda a paixão demonstrada eu entrei no comboio involuntariamente e, sem na altura me aperceber, apaixonei-me por ela estar apaixonada.
Esta confusão que me apanhou (e apanhou mesmo! Na altura juraria que estava apaixonado!) não faz de mim especial mas normal, acredito que tenha acontecido e ainda aconteça a muito boa gente.
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E voltamos ao aspecto psicológico...
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Tendo em conta o que me aconteceu, em termos meramente sentimentais, diga-se, parece-me absolutamente possível que uma mulher seja conquistada por bens materiais sem que sejam os bens materiais que, efectivamente, lhe interessam.
No nosso mundo, o quanto se gosta está muito ligado ao quanto se gasta, é um sub-produto da sociedade de consumo.
Ora, numa orgia de restaurantes estrelas michellin, jóias, carros, versace´s e afins, acredito que tudo isto seja confundido com sentimento e um sentimento tanto mais forte quanto mais euros se gastam com ele.
Assim, como me aconteceu a mim num plano mais etéreo mas ainda assim semelhante, uma mulher pode apaixonar-se por se apaixonarem por ela e esse apaixonarem-se por ela pode, com uma enorme facilidade e muitas vezes realmente, ser da cor de um Black American Express.
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Para mim, as verdadeiras interesseiras têm, à partida no seu íntimo, o resultado final do que querem obter enquanto uma aparente interesseira pode apenas ver-se enredada numa trama para a qual não contribuiu mas, independentemente disso, está lá.
Há uns tempos tive uma discussão com umas amigas relativamente ao conceito de interesseiras. Aquelas gajas que andam com aqueles gajos por outros motivos que não gostarem deles ou gostarem o suficiente deles para que a envolvência económica seja irrelevante.
As minhas amigas caíram-lhes em cima e eu também, porque me parece de baixo nível, mas, ao contrário delas, não consigo ser absoluto quanto ao que uma interesseira é.
Existe um elemento psicológico muito importante que as minhas amigas preferiram ignorar e que, para mim, faz toda a diferença.
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Para enquadrar o porquê desta minha ideia tenho de recuar um bocado na minha vida:
Há anos atrás julgava estar apaixonado mas, vim depois a saber, de facto não estava. O que aconteceu, com esta mulher em particular, é que ela estava muito apaixonada por mim e no meio de toda a paixão demonstrada eu entrei no comboio involuntariamente e, sem na altura me aperceber, apaixonei-me por ela estar apaixonada.
Esta confusão que me apanhou (e apanhou mesmo! Na altura juraria que estava apaixonado!) não faz de mim especial mas normal, acredito que tenha acontecido e ainda aconteça a muito boa gente.
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E voltamos ao aspecto psicológico...
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Tendo em conta o que me aconteceu, em termos meramente sentimentais, diga-se, parece-me absolutamente possível que uma mulher seja conquistada por bens materiais sem que sejam os bens materiais que, efectivamente, lhe interessam.
No nosso mundo, o quanto se gosta está muito ligado ao quanto se gasta, é um sub-produto da sociedade de consumo.
Ora, numa orgia de restaurantes estrelas michellin, jóias, carros, versace´s e afins, acredito que tudo isto seja confundido com sentimento e um sentimento tanto mais forte quanto mais euros se gastam com ele.
Assim, como me aconteceu a mim num plano mais etéreo mas ainda assim semelhante, uma mulher pode apaixonar-se por se apaixonarem por ela e esse apaixonarem-se por ela pode, com uma enorme facilidade e muitas vezes realmente, ser da cor de um Black American Express.
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Para mim, as verdadeiras interesseiras têm, à partida no seu íntimo, o resultado final do que querem obter enquanto uma aparente interesseira pode apenas ver-se enredada numa trama para a qual não contribuiu mas, independentemente disso, está lá.
Monday, March 25, 2013
Não faz parte da minha personalidade agarrar-me a coisas, quer tenham batimento cardíaco quer não tenham.
Quando ganhei pela primeira vez na minha vida dinheiro a sério lembro-me de não ter sentido qualquer prazer especial em trocar de carro, em pagar, pela primeira vez, o meu próprio carro e em ter gasto o que é para mim uma fortuna (sem que, factualmente, o seja. Tenho uma imensa dificuldade em pensar em comprar alguma coisa que me faça ficar preso a pagamentos...). Foi uma decisão meramente economicista porque, apesar de não ter vontade de o fazer, era economicamente inviável continuar a gastar dinheiro no carro que tinha, desde que pudesse comprar outro.
Na mesma altura, comprei o Mothership dos Led Zeppelin e fiquei incomparavelmenta mais satisfeito, sem que isso me tenha custado um valor relevante.
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Decidi, também, deixar de ter televisão no quarto. Dei-me conta de que preferia ir para a cama dormir, pura e simplesmente ou, se tal se tornasse necessário, ainda que não me agrade, ler. Juntamente com a televisão tinha ainda um DVD, uma aparelhagem e um computador.
Dei tudo! Não saiu de minha casa mas dei. Deixei de utilizar e como não me apego a coisas, decidi oferecer a quem quisesse aquela parafernália.
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Acontece, normalmente, a mesma coisa com perfumes.
Por norma, não uso perfumes, prefiro cheirar a limpo do que a outra coisa e só de vez em quando (é quase como um fato de domingo) borrifo uma ou outra vez para fazer aproximar um elemento feminino com o qual me vá encontrar mas não um eventual elemento feminino. Quando saio à noite, actividade que tem sempre por objectivo sacar gajas, não ponho perfume, não o quero e não gosto dele.
Ora, porque assim é e porque costumo receber um ou outro perfume, dou todos menos 1; não dou como forma de presente em alturas festivas, dou logo e mantenho apenas a reserva pelos motivos que referi.
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Ao que dou, então, valor?
Serei da malta do sentimento e da felicidade e das banalidade como só quero ser feliz?
Não, não sou mas até gostava de ser.
O que eu gosto é de ganhar e é-me relativamente indiferente qual a competição ou o prémio.
O que eu gosto é de acabar em primeiro e fico muito fodido quando isso não acontece.
Saturday, March 23, 2013
Ideias por Ideologias
Acabei, por estes dias, de ler a biografia de Henrique Galvão, biografia essa que é muito interessante, o mesmo será dizer que a sua vida é muito interessante.
Esquecendo (com esforço) a germanofilia de que sofria, numa altura especialmente pouco recomendável, muito do seu pensamento e actuação é, na minha opinião, muito mais que válido. Foi ele que disse que é um erro trocar ideias por ideologias e, na forma como enquadra essa afirmação, não poderia estar mais de acordo.
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O discurso político de hoje em dia é muito polarizado, polarização que foi agudizada tanto pelo ciclo noticioso ininterrupto (é preciso alimentar a besta) como pelo facto de que o poder se tornou um fim em si mesmo de forma ainda mais absoluta. Não é novo, é só um pouquinho mais extremo porque se profissionalizou.
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Galvão, por exemplo, dava-se mal com toda a gente, desde comunistas a fascistas, desde colonizadores a colonos o que poderia ser feitio mas torna-se estranho quando, tanto quanto li, ele era o mais moderado de todas as facções, violentamente moderado.
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Não queria o fascismo mas era profundamente alérgico ao comunismo.
Não queria a colonização que vi mas era profundamente alérgico a uma independência tout cours.
Sendo certo que não perderei tempo a explicar como o vindo de referir se transformava em realidade, porque não é o escopo destas linhas, direi isto:
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Não é igual ser contra a ditadura e ser comunista;
Não é igual ser contra o comunismo e ser fascista.
Não é igual ser contra a independência absoluta das colónias e defender a ditadura;
Não é igual ser contra a aquele tipo de colonização e ser contra a existência de colónias.
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O problema é que esta, ontem como hoje, parece ser a mais radical das revoluções. Esta coisa de defender ideias que, no seu conjunto, talvez ainda não tenham encontrado um vocábulo que, por si, as defina.
Ser a favor não tem de ser a antítese de ser contra, as ideologias não deveriam vencer as ideias.
Friday, March 22, 2013
Quando o Porto contratou o Izmaylov (acho que é assim que se escreve, agora) pensei que a coisa ia correr muito mal. Não percebi como o Porto ia comprar um jogador perenemente lesionado mas, como estou habituado à forma como as coisas se passam no meu clube, havia uma réstea de esperança de que estivesse enganado e, de facto, felizmente, estava.
Lembrei-me disto a propósito da dor; como me tinha ocorrido, depois de perceber que estava enganado, o que se poderia passar era que apesar de nada apontar para qualquer lesão de qualquer tipo, nada pode ser feito ou provado quanto à dor.
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Podem todos dizer que estou a mentir mas se disser que doi nada pode ser provado em contrário, pura e simplesmente não é possível.
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Ora, o mesmo se passa quanto a crenças ou falta delas. Podemos não acreditar no crente ou descrente mas não podemos afirmar, sem qualquer margem de dúvidas, que o crente o não é ou vice-versa.
Os factos estão à vista de todos, sendo que até estes são sujeitos a uma determinada subjectividade (como a corrente que defente que o facto de vermos um objecto modificamo-lo sem que para isso nada tivessemos feito além de observa-lo) mas as ideias, as crenças, as ideologias não.
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Porque será isto relevante?
Afinal, o que importa são os actos.
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Bem, os actos são conformados por ideias e estados de espírito e é manifestamente importante saber se os actos correspondem às ideias para se tirarem variadíssimas conclusões; é preciso saber se se previu, se se confirma, se se acredita, se se fez o que se pensou fazer...
A relevância disto é enorme, ainda que não um bem em si mesmo ou uma desculpa só por si mas é muito relevante. É muito relevante saber-se se dói mesmo ou se só se finge doer.
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Wednesday, March 20, 2013
Fukuyamas
Há uns tempos decidi ler o livro que trouxe fama ao Fukuyama, O Fim da História, livro que defendia que haviamos chegado ao pináculo do desenvolvimento social (mormente a democracia liberal) e que, parafraseando, a partir dali seria sempre em velocidade cruzeiro.
Ora, sem precisar de ler o livro a coisa parecia-me parva; primeiro porque se há coisa eventualmente sem fim é a história e do desenvolvimento, ou o seu inverso, humano; segundo porque, mesmo sem um enorme desenvolvimento académico relativamente a parâmetros como a história e a economia, conhecia, outrossim, a música Por Enquanto, dos Legião Urbana mas na voz da Cássia Eller que diz se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar/ que tudo era pra sempre/ sem saber, que o pra sempre, sempre acaba.
Poucas coisas são mais verdadeira.
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Ora, o tempo, como não podia deixar de ser, veio mostrar que tanto o Fukuyama como todos os outros que pretendem resumir a uma ciência perene o que depende da evolução da realidade estão, mais cedo ou mais tarde, errados.
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Como forma de piada, muitos dizem que o problema não são dos planos/esquemas/previsões infalíveis, elas são, de facto, infalíveis, o que falha é a realidade. A realidade é que tende a não colaborar...e isso é profundamente injusto.
A realidade, tão imprevisível como os humanos, tende a defraudar expectativas, tende a ter vida própria, alimentada dos humanos que a conformam e nem depende, em grande medida de factos racionais, quanto mais científicos.
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Já por aqui escrevi uma vez, julgo, que o ódio do Che para com os americanos não dependia daquilo que ele dizia em discurso, apesar de poder, até, acreditar nisso. Diz-se que a sua génese aconteceu quando o Che estava num bar com a namorada e os GI´s, mais poderosos e numerosos, se meteram com ela e ele, impotente, nada pôde fazer.
Seria possível prever o que deste episódio resultaria?
O Dick Cheney era, como todos os GOP, fervorosamente contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo até que o seu filho o informou que era Gay. Agora é a favor.
Seria previsível que algo deste tipo fosse acontecer?
A penicilina descubriu-se porque um bonas deixou o seu alimento criar bolor.
Seria este o resultado esperado da falta de cuidado?
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Voltando ao princípio, o problema não são falhas de previsões (a menos quando são evidentes, o que não se coaduna com o fim da história), o problema, neste caso, é sequer pensar que se consegue prever tal coisa.
Monday, March 18, 2013
Actos e Palavras
O Jorge Jesus (JJ doravante) é um caso espantoso da diferença entre o que se diz e o que se faz.
Não, não vou ser mais um a gozar com o seu sofrível português mas é este mesmo português que lhe pertence que me levou a pensar nisto.
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Se nos limitarmos a ouvir o JJ a falar somos levados a acreditar que ele mais do que ser que demais confia, efectivamente, que é que demais.
Somos, ainda, levados a crer que além da imensa confiança nas suas capacidades não liga nada ao que dele pensam ou dizem.
Ora bem, isto é a parte do dizer, a parte do fazer é outra.
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Desde há uns tempos para cá JJ tentou uma ligeira inflexão para a intelecualidade.
Começou com a parte da frente da árvore e não a parte de trás, numa tentativa de alusão ao ver a árvore e não a floresta (uma expressão que é tão irritante como o caminho faz-se caminhando) e passou, por exemplo, pela bartardização do o coração tem razões que a própria razão desconhece de Pascal acabando (não foi o fim, naturalmente, mas não me apetece ir mais longe) com o anúncio que teria criado uma ciência. Não a desenvolveu, actualizou ou questionou...INVENTOU!!
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A estupidez está toda aqui!
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Caso JJ não se interessasse pelo que dele dizem, para o que teria mais do que razões suficientes porque, afinal de contas, é um óptimo treinador, não entrava num jogo que não pode ganhar.
JJ não é um intelectual e não tem para isso formação, o que não é defeito nem feitio, é o resultado da sua vida que seguiu por um lugar onde não vive Pascal nem as florestas nem um laboratório científico nem uma sintaxe perfeita; é o que é!
Quando JJ tenta a intelectualidade sai-se mal e reforça todas as carradas de gozo que o acusam e agora não por não ser mas por querer parecer...sem, evidentemente, o conseguir.
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JJ é muito mais frágil do que parece e, eventualmente, do que pensa e continua a lutar por um carinho e reconhecimento que diz não precisar.
Mas precisa, precisa MUITO!
Saturday, March 16, 2013
Não é uma merda os erros só se verem posteriormente?
Mesmo quando olhando pelo retrovisor eles pareçam óbvios, no momento exactamente anterior a acontecerem eles não eram visíveis.
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Normalmente consigo olhar para a noite anterior e perceber que "foi aquele whiskey que me fodeu"; independentemente de quantos se seguiram, o erro foi aquele, o ponto de não retorno.
O mesmo acontecerá, por exemplo, com o petróleo. O momento exacto em que começou a declinar só se verá depois de acontecer.
É uma injustiça, mas assim é a vida. Uma coisa empírica de tentativa e erro, por muito avisados que estejamos.
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Pior é quando somos tolhidos por coisas como ideologias e crenças, elementos iminentemente subjectivos que colocam erros (tanto passados como futuros) no ângulo morto da nossa visão.
É uma merda um gajo enganar-se e talvez ainda pior seja saber que um gajo se enganou... aquele momento em que somos espertos demais para cair no erro passado e que, agora, no futuro, vemos claramente que não havia outro desfecho que não aquele.
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É melhor saber-se ou não se saber, por exemplo?
Há uns anos atrás não hesitaria: SABER-SE! e apelidava, no mínimo, de burro quem pensasse de outra maneira.
Hoje ainda penso que é melhor saber-se mas começa a surgir-me a dúvida se isso será feitio ou defeito; olhos à volta, e para trás, e parece-me que os ignorantes ou os que preferem ignorar, são mais felizes.
Ignorância é uma benção e talvez se eu conseguisse escolher ser abençoado teria sido.
Friday, March 15, 2013
Papado
Fiquei meio irritado com a data escolhida para mandar para fora o fumo branco.
Estava pregado à televisão para a clássica antevisão dos jogos da Champions, como costumo fazer, mas ainda mais tenso do que o costume porque ia jogar o Campeão Nacional (que espero o volte a ser este ano) e não havia maneira de o Papa novo aparecer, rapidamente, no balcão para a cena perder interesse.
Não tive sorte.
Não houve antevisão.
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A eleição do Papa nunca me interessou particularmente, assim como nunca me interessou o Papa em si.
Nos dias que hoje correm, custa-me que uma instituição, de qualquer estirpe, seja contra o uso de contraceptivos, por exemplo; é superior ao meu entendimento a capacidade de um tipo se deslocar a África e desincentivar o uso do presevartivo e, valha-nos, afirmar que este não é o caminho para combater a Sida.
Faz-me uma imensa confusão que qualquer instituição venha admitir, salvo erro na década de 90 do século passado, que o heliocentrismo é um facto e não uma teoria; faz-me confusão que tenha perdoado Copérnico (de quê, um gajo não sabe).
Ainda ontem vi uma figura da vida partidária nacional dizer que em virtude do Direito Canónico a Igreja nunca poderá aceitar o casamento entre pessoas do mesmo sexo nem o aborto. Sim, não o pode fazer! Para esta gente a ciência ainda há-de ser bruxaria.
Ah, mas pode usar o Twitter. É a puta da loucura.
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Tenho para mim que a descida do Bento XVI é uma verdadeira facada na Igreja Católica. O escolhido de Deus ficou cansado, como todos nós ficamos; o escolhido de Deus não tinha mais capacidade para continuar o seu caminho, como acontece a todos nós.
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Lembro-me sempre de quando um amigo meu católico me explicou como é escolhido o Papa.
A mim, sempre me pareceu muito estranho que o enviado de Deus fosse escolhido pelos homens; na minha cabeça, se o enviado era escolhido por Deus, então que se mandassem os candidatos ravina a baixo e o que sobrevivesse era o escolhido. Sim, é bárbaro mas parecia-me mais real.
Não, é o Espírito Santo.
Bem, o Espírito Santo há-de ter um imenso sentido de humor. Afinal, por que não imbui todos os eleitores do mesmo nome? Por que não há uma eleição è primeira? Por que é de 2/3 e não de unanimidade?
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Preferia ter visto a antevisão do jogo.
A modernidade pela modernidade incomoda-me. É uma coisa sem rumo nem prumo. É um valor absoluto quando isso é uma coisa que não existe.
Para dar uma pitada a fugir para a sapiência e capacidade de análise, é atentar que, por exemplo, quando as calças jeans foram tidas como um elemento libertador e de afirmação da individualidade, a afirmação e a individualidade gritaram de dor: com esta nova peça de vestuário perderam-me muitos dos trajes clássicos e, por isso, menos modernos mas que tornava os chineses diferentes dos polacos e ganhou-se uma modernidade que é menos individual no sentido de que, esquecendo os traços físicos autóctones, torna os polacos iguais aos chineses.
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Isto veio-me à cabeça porque este fim de semana tive (?!) de conviver com uma tipa que resume em si quase tudo que me irrita nas pessoas e, talvez mais particularmente, nas mulheres. É uma modernidade/espírito artístico/feminismo que me dá náuseas.
Por exemplo, estávamos a falar do facto da Yahoo ter dado um 180 ao decidir que o melhor era que os seus funcionários estivessem presentes nas instalações, para trabalhar. HORROR! As pessoas precisam de liberdade e cenas e eu também não me adapto a horários e cenas e temos de evoluir e cenas para, meio minuto depois, renegar o trabalho em casa porque ah, não, isso não. Horários e tal é mau mas trabalhar em casa não dá e, esperando outro hiato que tal amanhã têm de se juntar todas para analisar o vídeo e quem não aparecer está fora!!! (era uma merda qualquer que um grupo de gajas fazem).
O pior é que esta gente moderna não entende que uma frase conflitua com a outra e a outra com a seguinte.
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Na mesma mesa estava eu; eu que me considero, nos dias de hoje, mais ou menos moderado mas que não me encaro como moderno porque moderno soa-me, na boca de quem adora utilizar o termo, a ausência de qualquer linha orientadora...mas, em boa verdade, como se viu, a linha orientadora existe quando é própria e deve ser forçada aos outros, os outros que estão parados no tempo.
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Eu, sem vergonha alguma, preciso de estrutura. Não necessariamente muita ou pouca mas preciso de estrutura.
Eu preciso de um horário. Prefiro que não me seja imposto mas eu mesmo imponho-me um. Sem horário desvario.
Eu preciso de uma rotina. A ausência de rotina rebenta-me o fígado e os pulmões, pelo menos, e é responsável pelo homicídio de milhões de neurónios.
Eu preciso do meu lugar. Pode ser um lugar de arestas flutuantes, pode ser um lugar mais abstracto que concreto mas preciso dele.
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O que me irrita, portanto, no modernismo é que ele nem sequer é assim tão moderno. O pessoal de Woodstock era moderno e depois cresceu.
Deixa-me em ponto de bala esta mentalidade de artista de segunda categoria em que a gente vivemos de inspiração e liberdade para todos e cenas quando, bastando para tal fazer uma ínfima pesquisa, estes artistas são os maiores tiranos!
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Uma mulher moderna pode cozinhar, uma pessoa moderna pode ter um horário das 9 às 5 e uma pessoa moderna pode não usar crista ou cabelo cor de rosa.
Wednesday, March 13, 2013
É muito interessante analisar o que as pessoas dizem e aquilo que de facto fazem; nem sequer qualificaria como mentira a dissociação entre o que sai da boca e o acto em sim, infelizmente, muitas das vezes a relação não é directa.
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Parece-me evidente que, como as leis do mercado em geral, o que possui mais valor é aquilo que não possuímos.
Por exemplo: neste momento que vivemos o bem estar - e quando digo bem estar refiro-me, efectivamente, a sustento - tem um valor de mercado muito mais do que, por exemplo, a liberdade. É verdade que continuamos a ouvir incessantemente falar do 25 de Abril e tal mas, hoje e agora, um prato de sopa vale mais do que a liberdade em abstrato cuja falta, em boa verdade, não sentimos porque a temos.
Aconteceria, no entanto, o contrário, acredito eu, se a sopa fartasse e a liberdade escasseasse...mas, em abono daquilo que considero o cidadão médio português, a sopa será sempre mais importante caso ambos os bens sejam deficitários.
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Voltando: o que as pessoas entendem por importante, em abstracto, não é mesmo que praticam, em concreto.
Porquê? Bem, não sei ao certo, apenas conjecturo. Poderá ser uma ideia quimérica, um lirismo, uma ideia martelada por tudo quanto se vai escutando...ou é apenas a tentativa de se fugir de uma simplicidade que se tem por básica e limitada em direcção a uma abstracção de valores que fica bem em letras mas mal no estômago.
Não sei exactamente em que fase da minha instrução académica fui apresentaro ao Império Otomano. Dei a coisa e desde esse momento até relativamente recentemente entendi-a como algo pré-histórico, algo que não fazia, de todo, parte da minha realidade, assim como os dinossauros e o Manuel Luís Goucha.
Foi com uma enorme surpresa que descobri que, afinal, a coisa não foi há tanto tempo assim, o Califado por que lutam muitos dos extremistas islamitas está ao virar da esquina que dobrámos há pouco.
Pode parecer parvo e suguramente parecerá para muitas pessoas mas quando pensava na I GGM nunca a tal havia juntado a existência do Imperio Otomano, ou seja, há menos de 100 anos.
O que me parecia da antiguidade afinal nem sequer era da idade média, foi ontem!
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Que importância terá isto?
Há um sentimento generalizado de que há coisas que são imutáveis. Parece-nos, por exemplo, inconcebível o que agora se passa na Síria como o que se passou (ou ainda se passa, um gajo não sabe) no Ruanda e, até, o que se passou há bem menos tempo na nossa vizinha Jugoslávia.
Não parece possível que se volta àquilo a que chamamos selvajaria e, no entanto, é facílimo perceber que a evolução no sentido daquilo que entendemos por civilizado demora muito tempo a atingir mas a barbárie regressa num segundo.
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Talvez só na minha cabeça esta coisa dos portugueses esfaqueados na Alemanha represente mais do que portugueses esfaquedos na Alemanha; talvez só na minha cabeça os votos entregues a dois palhaços em Itália represente mais do que uma graça; talvez só na minha cabeça seja preocupante que seja apenas a Irmandade Muçulmana a prestar apoios de primeira necessidade no Egipto, por exemplo; talvez só na minha cabeça a Aurora Dourada seja preocupante no mesmo sentido em que a Irmandade Muçulmana o é; talvez só na minha cabeça o apoio à Le Pen na França (sem esquecer que já uma província foi capaz de proibir certos livros e comida kosher nas escolas) arrepie.
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Bem, na sociedade hodierna que parece ter por indiferente o que ultrapassa, vá lá, vamos ser simpático, o tempo de vida da geração intermédia, seria útil referir que a memória pode limitar-se ao que pretendemos mas a história não; a história tem o inconveniente de nos ultrapassar e vergar-se menos ao que pretendemos.
Monday, March 11, 2013
Idades
A juventude é uma maravilha mas, objectivamente falando, talvez a possamos qualificar quase como uma perda de tempo.
Há demasiadas coisas que não se entendem e, pior, há imensas coisas que se julga entender mas que, de facto, assim não é.
Infelizmente, há muitas pessoas que não passam esta fase de julgar entender para entender de facto e, se quiser ser honesto, não sei se esse caso se aplica também a mim; na verdade, como saber se se pertende a um grupo ou a outro se a certeza de hoje é igual à de ontem e a de ontem estava errada?
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1) estou, agora, a ler o 1984.
Comentei esse facto com uma amiga minha que me disse que este livro era um must reed e que mais vale tarde do que nunca.
Concordei mas não me parece que há dez anos atrás estaria preparado para o ler e entender, apesar de já na altura saber juntar letras umas a seguir às outras.
Quantos livros/músicas/quadros terei lido/ouvido/visto que, apesar de o não saber, não estava pronto para entender?
Mistério que não será desvendado porque não farei tudo outra vez.
2) o conceito de equilíbrio ainda me é estranho mas agora consigo vê-lo, ainda que não o consiga, ainda, praticar.
Os meus amigos e amigas tendem a ser, quando comigo convivem, mais tolerantes e calmos com outras pessoas. Por exemplo, quando num restaurante, os que normalmente reclamariam evitam fazê-lo quando jantam comigo; os que se irritam no trânsito tendem a irritar-se menos comigo no carro e por aí adiante.
Esta coisa parecia-me parva quando me contavam que assim era, ou melhor, quando me contavam experiências com as mesmas pessoas em condições semelhantes com as que passavam comigo mas com uma postura diferente.
O que acontecia - e ainda acontece, ainda que menos - é que eu me irrito com alguma facilidade e, de forma insconsciente até que chamados a essa consciências - os meus amigos e amigas mantinham uma calma maior porque entendiam a minha como menor e, assim, evitavam lançar gasolina para a fogueira.
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Estes são pequenos e talvez até insignificantes exemplos mas podem ser tidos como um quadro para o enquadramento geral.
Não somos uma coisa absoluta mas o problema é que precisamos de nos definir porque a isso fomos ensinados para que possa existir uma certa estrutura até interna...mas TUDO depende de contexto.
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Eu sou tenso e irritável mas não quando comparado com o Mike Tyson;
Eu sou de Direita mas não quando comparado com os Republicanos dos EUA;
Eu sou de Esquerda mas não quando comparado com os Comunistas ou Bloquistas;
Eu sou inteligente mas não quando comparado com o Steve Hawking;
Eu sou burro mas não quando comparado com a Snooki.
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Por muito que me irrite, e irrita, tudo é contexto.
Saturday, March 09, 2013
Não sei se já escrevi alguma coisa deste género por aqui mas, se já o fiz e volto a fazer, é porque ou estoua ficar senil ou porque o sentimentos e agudizou.
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Houve mais uma mega-manif.
Acho que fui uma vez a uma manif, quando estava no secundário, e dei tanta importância ao facto que não me lembro o motivo que me levou a desfilar; não sei se era importante e significativo mas a minha marcha não foi uma coisa nem outra porque tendo a lembrar-me de coisas que significaram alguma coisa na minha vida.
Ora, porque esta é a minha experiência, nunca gostei de manifs. Para mim, como aquela em que participei, era um capricho que me juntava aos meus amigos e nos fazia mandar alguém foder.
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A idade foi passando e as manifs continuaram a não fazer sentido para mim.
Como entendo que qualquer tomada de posição deve ter uma finalidade em vista, de preferência exequível, uma enorme amálgama de pessoas que querem coisas diferentes ou a mesma coisa por caminhos diferente, como normalmente acontece, a foice e o martelo são um enorme convite a não me envolver.
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Dei por mim, contudo, tentado a participar nas duas últimas de grande dimensão.
O que me fez ficar em casa, apesar de não ser Sportinguista?
Pois bem, esse é o problema insolúvel, na minha cabeça: vou-me manifestar, Ok! Vou vociferar para que este bando de idiotas se demitam, Ok! Vou pedir uma revolução, Ok!
E depois?
Vou querer outros mas quais? Não vejo ninguém.
Sinto tudo isto como uma morte lenta. E eu odeio mortes lentas!
Muitos dos comentários que ouvimos prendem-se com as grandes questões, a maioria é tida em macro, seja a educação ou outra coisa qualquer. A verdade, vistas as coisas à medida que as vamos vivendo em tempo real é que o macro resulta de um sem número de micros que em nada lhe são indiferentes.
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Por exemplo: quem nunca passou por isso desconhece a frustração resultante da impossibilidade de discutir determinados assuntos quotidianamente com a pessoas com quem mais convivemos. Não se trata de estupidez ou de falta de vontade para falar disto ou daquilo, prende-se, a maioria das vezes, de uma incapacidade intrínseca para a qual não contribuíram necessariamente.
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É impossível explicar a alguém que o azul é uma das cores quando essa pessoa nunca foi exposta a outra cor; é impossível pedir pensamento abstracto a quem nunca teve de o utilizar ou a quem nunca o viu ou a quem nunca lhe viu utilidade.
Esta é uma das micros que ultrapassa quem apenas conhece macros...e nem sempre é uma escolha...
Os macros talvez não saibam quanto custa um litro de leite.
Saturday, March 02, 2013
Há relativamente pouco tempo li a biografia do Bismark. Tenho curiosidade por figuras históricas de qualquer altura e de qualquer quadrante.
O Bismark em muitas coisas era como todas as outras pessoas. É muito engraçado vê-lo nascer revolucionário (à escala Prussiana) e morrer conservador (à escala Alemã).
Porquê?
A explicação é simples e comesinha: era revolucionário enquanto oposição e conservador enquanto poder. Simples luta pela obtenção e posterior manutenção.
Outra constatação engraçada com que me deparei foi o facto de que Dick Cheney, um dos principais falcões Republicanos, é a favor dos direitos do homossexuais.
Poderemos, nós, imaginar que muito nos enganamos e que, afinal, o Cheney é capaz de empatia? Não.
Mais uma vez, a explicação é simples e comesinha: a filha é homossexual. Como os homossexuais deixaram de ser "os outros" passaram a merecer defesa.
Quando ouço falar de assuntos muito complicados com explicações muito complicadas lembro-se de coisas como as que descrevi; lembro-me, também, de que se diz que o Che Guevara ganhou ódio americado quando soldados americanos se meteram com a namorada dele e este teve de se calar porque era manifestamente mais fraco; lembro-me que se diz, também, que o Qutb se tornou um fundamentalista e extremista islâmico porque não sacava gajas, quando esteve nos EUA.
Com toda a robótica e internet e informação e evolução científica e planetas que deixam de o ser e outros que aparecem, as coisas continuam a ser humanas, as coisas continuam a ser simples, as coisas continuam a ser interacção ou falta dela.
Quando a poeira se levanta, continuamos a ser só nós.