Monday, November 30, 2015
Desde relativamente cedo deixei de ver utilidade em avisar do que quer que seja.
Em termos externos, comecei a achar uma perda de tempo porque ou não eram tidos em conta ou tomados como ameaças (se deixei de tender a avisar nunca fui de ameaçar);
Em termos internos, ficava com a sensação - e ainda fico - de que tenho de cumprir com o aviso, uma coisa parecido com dizer é igual a fazer caso contrário só se enche ar e não sou bem nisso.
Se o efeito externo não é particularmente relevante porque me interessa pouco o que se pensa e tem apenas relevo porque detesto perder tempo, o efeito interno não é devastador mas é bastante desagradável.
Por tudo quanto fui dizendo, avisar tornou-se contra-natura e destina-se, agora, a casos muito específicos em que quero evitar o resultado; pelos dias que correm, só vou dizendo coisas deste tipo quando não tenho vontade que o circo arda e, (in)felizmente, isso é cada vez menos recorrente.
Novamente, em termos internos, a coisa é muito desagradável quando me coloco na posição de avisar porque, de vez em quando, a pessoa a quem digo este tipo de cenas tende a sentir-se atacada e responder com já seis ou já me disseste, o que me faz sentir pior e, em resultado, faz-me ter menos vontade de falar e quando tenho menos vontade de falar tenho uma tendência natural a fazer e fazer nem sempre é bom.
Fazer-me sentir parvo não costuma dar bom resultado para ninguém.
Sociologia dos Pobres
O Homem é homem e a sua circunstância, o que deverá querer dizer que o que se faz depende de onde se está inserido, não havendo quem seja alheio ao ambiente onde cresceu e onde se insere em determinado momento.
A avaliação que fazemos dos outros é, por isso, bastante difícil quer porque não somos os outros mas nós quer porque não estamos onde os outros estão, às vezes fisicamente e outras emocionalmente.
Então, a Sociologia dos Pobres:
O circuito que agora vou fazendo à noite é mais ou menos previsível (sendo mais do que menos) porque, sempre que consigo, sigo uns gajos que fazem samba por onde andarem e andam mais ou menos nos mesmos sítios, sendo que vou a dois deles.
São dois bares que não variam muito em ambiente porque, como eu, andamos uma dúzia ou mais qualquer coisa a fazer o mesmo e a distância, geográfica, dos bares é, também ele, coisa nenhuma.
A verdade é que, apesar de ser a mesma banda e as mesmas pessoas a coisa não é igual; um dos bares é manifestamente mais tranquilo que o outro; num dos bares se estivermos sossegados deixam-nos sossegados, as mais das vezes, e no outro a coisa é diferente.
Estive ontem a pensar nisto para ver se me dava uma luz quanto ao porquê e a conclusão a que cheguei é exactamente essa: Luz.
Um dos bares é bastante mais iluminado que o outro e, como tudo o resto se mantém mais ou menos constante (pessoas, nível de álcool, música...) parece-me ser este o diferenciado, algo que corroborará com o à noite todos os gatos são pardos.
Para mim, é relativamente indiferente se é de dia ou de noite e se está mais claro ou mais escuro mas não será comum: 3 das pessoas que vejo semanalmente no outro sítio e com quem nunca falei decidiram alterar o comportamento com a deslocação física e foram, pelo menos duas delas, bem menos...bem...circunspectas do que é costume.
Ao olá, já nos vimos várias vezes e nunca nos cumprimentámos respondi que bem, é verdade. Também acho que demoraste muito tempo a dizer olá.
O gajo que estava comigo ficou mais ou menos escandalizado por eu ter dito o que disse em vez de me desfazer em loas por me terem abordado. Pois, amigo, eu sei que é suposto um gajo excitar-se porque uma gaja toma a iniciativa mas, como já muitas vezes disse, comigo foi ela que pediu mas admito que não tem de pedir muito.
A diferença que a Luz faz, não é?
Luz que, enquanto nome próprio, me traz recordações muito desagradáveis.
E, Choro Pró Zé:
Friday, November 27, 2015
- Olha como ficam as minhas mãos por descascar as romãs...
- Pá, se te deixa assim e incomoda-te, deixa de descascar, não vale a pena.
- Oh, não vale a pena. Tu gostas.
- Então, se gosto descasca-as eu. Deixa lá isso.
- Pois...descascas tu....
Pois. Não ia descascar nunca, não comeria mas não culparia ninguém por isso.
Que relevância tem isto?
Há gente boa no Mundo. Faz-me sentir contente mas pequeno...
Wednesday, November 25, 2015
É Engraçado como as Coisas Mudam
O meu plano era vir contar que me senti racista quando descobri que a nova Ministra da Justiça é preta e senti-me racista porque pensei: Cool! Acho muito bem termos uma Ministra preta!
Já tinha sentido algo parecido - e mesquinho - quando o Obama ganhou. Concedo que é melhor ficar contente por ter um representante preto do que triste pelo mesmo motivo mas, tanto um sentimento como outro, revelam que não os vemos como iguais.
Hei-de voltar a este tema mas quando me preparava para vir colocar aqui qualquer coisa:
E fiquei tão contente por três minutos e pouco que caguei no que estava e no que ia fazer.
Monday, November 23, 2015
Friday, November 20, 2015
Patos e Cisnes
É seguro que esta historieta já passou por aqui mas, mesmo sendo repetido, é o que é:
No Love Affair, há uma cena em que a Tia dele e a...bem...gaja-de-quem-ele-gosta-e-gosta-dele? estão a falar dos animais que a Tia tinha e da sua vida amorosa.
Nesta conversa, a Tia diz-lhe que os patos são dados ao deboche e que os cisnes são fiéis a vida toda.
Então, o Mike é um pato...
- Não, o Mike é um cisne que se comporta como um pato.
Então, sobre os Patos e os Cisnes:
1
De todas (isto pode ser exagerado mas a verdades está mais perto do sempre que do nunca) as vezes que vou sair com gente casada/comprometida/junta sinto-me um bocado como um padre num puteiro.
Eles são muito mais agressivos no ataque ao sexo oposto do que eu, não esquecendo que eu, em geral, não sou muito agressivo.
As mulheres deles, as que eu conheço e que me conhecem, mesmo as que me deviam conhecer melhor do que demonstram, têm a ideia de que eu não assento porque sou incapaz de me comprometer com o que quer que seja porque o que me interessa é uma gaja diferente na cama todos os dias. Não as posso criticar porque esse entendimento é possível e plausível porque é o que se vê à vista desarmada...como o que se vê à vista desarmada é que os maridos ou cenas de algumas delas são uns santos e em ambos os casos a vista está demasiado desarmada.
Eh pá, ontem tive de meter um dia de férias porque precisei de ir comer a Y que conheci contigo na semana passada. Não foi grande coisa mas...
Elas acham que o desavergonhado sou eu e é de mim que têm de proteger, por exemplo, as irmãs mas, bem vistas as coisas, o maior desavergonhado não sou eu.
(por causa disto das irmãs, en passant, a irmã de uma dessas mulheres desapertou-me o botão das calças no hall da casa de banho de casa de uma dessas mulheres e avisou-me hoje vais-me levar a sair e, depois, a casa!; nessa mesma noite, algum tempo depois, enquanto se jantava, uma dessas mulheres disse-me olha, não penses que vais comer a minha irmã!!! e eu sorri, não tive coragem de lhe contar que estava a ver o filme ao contrário).
2
- Então, K, como andam as coisas com a X?
- Não andam... disse-te que não ia dar em nada.
- Pois, não consegues ser fiel, não é?
- Nop, nada disso. Só não gosto dela o suficiente para dar em alguma coisa.
Os erros em que esta minha amiga laborou foram os seguintes:
a) já me devia conhecer o suficiente para saber que fidelidade para mim não é um problema;
b) já tem idade e convívio suficiente comigo para ter aprendido que se a infidelidade fosse fundamento para não se ter relacionamentos haveria 1/3 dos que há (sim, estou a ser optimista).
Com este tipo de post estarei a sentir-me injustiçado pelo Mundo?
Não.
Não espero que o Mundo veja além do que lhe entra pelos olhos.
Não espero que o Mundo se dê ao trabalho de perceber que o que dele se diz e o que ele é são coisas muito diferentes.
Não espero que o Mundo seja suficientemente realista para se sujeitar a ter de comprovar o que dele se diz como, por exemplo, não, com ela não pode ser porque é casada.
...e, fundamentalmente, não me sinto injustiçado por isto:
Quem não quer ser lobo não lhe veste a pele e é isso que eu pareço, embora não seja mas, como já disse, não espero do Mundo mais do que superficialidade, pelo que se pareço um lobo, faça ou não por isso, é um lobo que serei.
E agora, do fundo do baú (queria lembrar-me da samba de ontem mas não estava em condições de o decorar)
Thursday, November 19, 2015
Demasiado Sensíveis, Demasiado Activo, Demasiado Independente
DEMASIADO SENSÍVEIS
Há uns dias, estava para abalar de onde me encontrava quando uma mulher se aproximou do vidro do meu carro para pedir ajuda para o seu carro que parecia avariado.
Pediu-me pode ajudar-me e preparava-me para dizer que não porque eu e mecânica nunca nos chegámos a conhecer mas não tive tempo porque continuou preciso de empurrar o carro e já chamei o meu namorado.
Ok. Empurrar não custa.
O namorado estava na fila ao lado e começámos a empurrar e quando a mulher perguntou o que fazer esperei uns segundos para ver se o gajo respondia e como não respondeu disse-lhe quando for para a frente aponte ao passeio e quando vier para trás vire tudo ao contrário.
Ora, reforçando que não tenho um osso de machista no meu corpo não posso esconder que tenho todos os ossos de um homem e daquilo que entendo serem questões masculinas; algumas dessas questões prendem-se com características físicas e outras educacionais.
Da mesma forma que dou o meu casaco ou outra coisa qualquer a uma mulher que tenha frio independentemente da temperatura, entendo que, no caso que descrevi, haveria de ter sido o namorado dela a pedir-me ajuda, deveria ter sido o namorado dela a dizer para que lado devia virar o volante e deveria ter sido o namorado dela a agradecer-me a ajuda que dei.
Não se pense que pelo descrito - ou só pelo descrito - o considero um pamonha mas considero-o um pamonha pelo que aquilo representa.
E o pior é que esta é a imagem do que se passa no Mundo. O politicamente correcto e o medo de ser considerado das cavernas exclui características masculinas e ao fazê-lo acaba com uma muito sã e bonita diversidade de papéis.
Não preciso nem quero que mulher minha tenha de lavar e passar só porque é mulher mas podem ter a certeza que mulher minha que seja ameaçada (ainda que ao de leve) por um qualquer gajo não precisará de se defender, ainda que o consiga fazer; eu existo para algumas coisas e foi, também, para essas coisas que nasci homem.
Sabes, K, homens mesmo estão em vias de extinção... já ouvi muitas mulheres dizerem.
...mas eles não entendem isso porque uma característica mais feminina que lamentavelmente não aprenderam (em vez de se depilarem e preocuparem com a conjugação de cores) foi ouvir.
DEMASIADO ACTIVO
Uma das minhas regras - nem sempre respeitada mas com excepções bem definidas - é que não trabalho em casa.
Visto de fora, é uma coisa que me faz parecer, na minha área, mais ou menos radical porque quase todos o fazer. É mais uma demonstração de rebelião contra the man, uma posição quanto ao mundo corporate...só que não é.
Não trabalho em casa quer porque trabalho muito fora quer porque, e especialmente, se trouxer trabalho para casa não consigo fazer apenas o necessário mas tudo o que houver para fazer.
Como estou há uns dias ausente, trouxe forma de comunicação para o caso de alguma urgência (esta é uma das excepções, quando estou algum tempo fora) e nenhuma urgência ocorreu.
Ora, se não houve nenhuma urgência, fiz coisa nenhum, certo? ERRADO....ficar quieto quando há alguma coisa para fazer dá-me comichão, comichão essa que aumenta quando sei que - ad nauseam - nada de bom acontece quando tenho demasiado tempo livre.
DEMASIADO INDEPENDENTE
- Já foste e já vieste?
- Já, acabei de chegar.
- Vais fazer-me irritar e ter de perguntar como correu?
- Não correu grande coisa...
(as campainhas dispararam. Gente que não se queixa responder com outra coisa que não correu bem é sempre um perigo)
- Bem...eu vou de andar a pé (não tinha) por isso aproveito e vou ao A tomar café (não ia). Quando estiver a 15 minutos aviso e vais lá ter.
De facto, não correu grande coisa e, como se previa, não correr grande coisa foi um eufemismo.
Não relatarei o problema porque ainda me chateia e o âmago da coisa, para este efeito, é o seguinte:
umas horas depois recebi um sms a agradecer o cuidado e, para não ser demasiado apaneleirado, acabava com és uma peste! o que aprecio sempre.
Respondi que até me ofendia estar a agradecer uma coisa destas e, para não ser demasiado apaneleirado, perguntei se, pelo menos, tinha ganhado uns pontos para ela trabalhar a irmã a meu favor.
A gente que não gosta de partilhar problemas - gente que, como eu, acredita que não alivia mas antes multiplica - e que é muito orgulhosa não se deve dar motivos para sentir que está em dívida com respostas politicamente correctas como de nada ou gosto de ajudar ou preocupo-me contigo porque só as fará sentir mais em dívida e mais fragilizadas.
Gente demasiado independente quando sente a independência escorregar um bocado entra em pânico.
Já Não Tens Idade Para Isso!
Há, talvez, uma semana dei por mim a pensar, pela primeira vez: Hmm...pá, já não terás idade para essa merda... e essa merda era uma T-Shirt que tem escrito Pussy Patrol. Comprei-a, obviamente.
Não é caso único: não visto o que era suposto (e nem sequer me refiro a este tipo de T-Shirts), não me comporto como era suposto (há uns tempos uma miúda ficou chocada porque me sentei no passeio a apanhar sol e fi-lo porque...me apetecia apanhar sol), não faço o que era suposto...
A única coisa que me aterroriza é ser um gajo sem noção. Tenho muito cuidado para tentar aperceber-me não do que não devo fazer e não o desconhecer. Por exemplo: eu sei que não deveria ir trabalhar de sapatilhas e assumo isso, não me incomoda. Temo que haja alguma área em que desconheça que não devo e faça sem notar as consequências.
Sabem os gajos carecas que aproveitam o resto de cabelo para fazer uma risca ao lado desde a orelha?
Não quero ser estes gajos!
Outra sensação que tenho, do que me recordo porque não releio, é que por aqui anda demasiada cena adolescente e, confiem, não anda tanto como é realmente. Seguro-me por pudor de mim mesmo.
Então,
mais esta segunda parte que a primeira levou-me ao Já Não Tens Idade Para Isso, coisa que, como por aqui devo ter escrito há algum tempo, levou a que uma amiga tivesse dito já não tenho idade para me apaixonar.
Será?
Bem, talvez.
Ser adulto é uma merda por ser chato.
Quando, há algum tempo, uma gaja me disse devíamos ir mais devagar... respondi-lhe querida, eu não sou a voz da razão, não é um look que me fique bem e acho mesmo isso.
Interessa-me discutir vinhos e cenas sofisticadas com a mulher de quem gosto? Sim, é possível, mas muito menos do que a vontade de lhe arrancar a roupa à dentada.
Interessa-me que ela seja ponderada quando eu não sou porque preciso que me segurem? Sim, interessa, mas muito menos do que a vontade de estar constantemente agarrado a ela, mesmo quando não estou a introduzir, mesmo quando estou (ou estamos suados), mesmo quando seja fisicamente menos confortável.
Parece uma visão pessimista da maioridade mas não estou certo que seja.
Pode parecer, e ser, adolescente este fogo incontrolável mas digam-me isto: quando temos de ser menos do que gostamos, porque a profissão a isso obriga; quando temos de controlar mais do que gostamos, porque somos membros responsáveis da sociedade...teremos de fazer essa mesma concessão no mais íntimo dos desejos? Temos de retrair o que queremos expandir quando é só expandir que queremos, e, aqui, podemos e devemos?
ELA descobriu agora (muito tarde ou ainda a tempo ou o que se quiser chamar, dependendo das perspectivas) o que é ser engolida e ficar zonza.
Entre o comprimido azul e vermelho terá escolhido o vermelho. E quando se escolhe o vermelho às vezes arrependemo-nos mas muito poucas vezes se consegue voltar atrás... e digo voltar atrás no sentido do momento anterior à escolha e não ao prosseguir daquilo que se quer porque nem sempre se consegue.
...infelizmente, nem tudo são rosas.
Não me causa conflito nenhum usar a roupa que me apetece e dizer o que me apetece e fazer o que me apetece pelo que os outros possam pensar. Já me fodi com este tipo de comportamento mas assumo-o por ser um risco que conheço embora não possa prever, exactamente, o desfecho.
Já me causa conflito agir exactamente como quero quando o que está em jogo é o que eu vou pensar de mim mesmo.
Acharem que eu sou burro interessa-me zero; achar-me burro interessa-me muito;
Acharem que eu sou inconsequente interessa-me zero; achar-me inconsequente interessa-me muito.
Então,
quando o que está em risco é o bem ou mal que me sinto na minha pele a coisa tem uma perspectiva muito menos adolescente e é inexoravelmente realista.
E é por isso que se em determinadas circunstâncias não me puxam e abrem os olhos de forma consistente e forte tendo a ver preto e branco quando quase tudo que interessa se passa no cinzento.
É cansativo ser-se eu (pela milionésima vez).
Tuesday, November 17, 2015
Na época da guerra de cartéis colombianos, um dos gajo de Cali disse ao Pablo que ele não ia ter a mais pequena hipótese porque tinha decidido ter família o que lhe dava uma desvantagem enorme porque tinha o que perder.
Há umas horas, estava a ver o Person Of Interest (olé, Mr. Reese) e o jovem Elias disse aos gajos que o iam matar - mal sucedidos, naturalmente, porque se assim não fosse o jovem não teria crescido - que o problema deles é que precisavam uns dos outros e ele não tinha ninguém.
O House disse, também, à Cuddy que gostar dela fazia dele um médico pior.
No Usual Suspects, o Soze quando entrou em casa e viu que a família estava na ponta de mira dos gajos que o queriam destruir matou, ele mesmo, toda a família e os assaltantes menos 1 a quem mandou contar a história.
Histórias que têm o óbvio ponto comum não de apelarem à solidão mas de demonstrarem que quanto mais leves e despegados maior a hipótese de sobreviver, quer metaforica quer literalmente.
Não é só, ainda que em alguns casos possa ser, um mecanismo de defesa. Muitas vezes é, como disse, de sobrevivência.
....o que fode, ou não, um bocado isto tudo é que no caso do House depois de dizer que ela fazia dele um médico pior, e parafraseando, acrescentou: sa foda, consigo viver com isso.
Era ficção, não é certo que conseguisse.
(há muito que não temos choro - eu, desde os 19)
Só os Paranóicos Sobrevivem
Ouvi isto há uns dias e não pude deixar de concordar.
O ambiente em que a afirmação foi feita não era médico, pelo que optei por entender que estava a ser usado paranóico em termos metafóricos e não clínicos. Uma forma de dizer que só quem está atento (muito atento, neste caso) será capaz de não ser comido.
O que me parece é que este estado de alerta e a paranóia enquanto distúrbio não andarão muito longe, será necessária bastante cautela.
Lembrei-me disto porque acho que sou propenso a ambas as coisas ou, ainda que não seja, estou constantemente a ver se estou a sonhar com o que estou a ver ou se estou mesmo a ver o que por lá anda. Este é, aliás, um dos motivos pelos quais prefiro estar muito ocupado do que desocupado. Quando a minha cabeça tem demasiado tempo livre começa a ficar impaciente e a imaginar cenas; melhor: acho que lhe é mais fácil imaginar cenas, pelo que torna-se mais cansativo o estado de repouso do que o de actividade porque tenho de estar atento em dobro.
E isto vem a propósito de quê?
Hoje, estou com demasiado tempo entre mãos porque decidi ficar quieto (ERRO!);
Hoje, em sequência da imobilização, tenho macacos a entrar-me na cabeça.
Monday, November 16, 2015
Banalidades
A minha vida não é realmente muito interessante mas tenho alguma sorte em encontrar interesse em coisas pequenas que serão indiferentes para muita gente.
Então, Sábado à noite:
O QUE É SIMPLES MAS INCOMPREENSÍVEL
Uma das minhas duas amigas foi ter comigo ao restaurante onde fui com um outro amigo.
Descobri, quando ela chegou, que somos amigos há 20 anos e esses 20 anos conjugam-se com uns 14 a que conheço o gajo que comigo jantou.
Como disse: por ser uma das minhas melhores amigas faz parte de tudo na minha vida, onde se incluem os meu outros amigos como o que estava connosco.
Ora, ela anda desiludida com os homens e, além de desbocada, gosta de parecer algumas coisas que não é mas acredita, mais ou menos, ser.
Então, durante o jantar, começou a dizer que estava a ponderar virar porque talvez com mulheres seja mais fácil. Naturalmente, lesbianismo ou semelhante com homens à mesa levanta todas as antenas existentes ainda que, neste caso, não tanto as minhas quer porque é minha amiga quer porque aquilo é mais fogo de vista.
Poupar-vos-ei às piadas envolvendo coisas como lambe cricas e à discussão sobre se ela teria alguma hipótese num concurso desse tipo comigo.
O que tem graça é isto:
quando ela nos abandonou, o gajo diz-me isto:
Agora as merdas começam a fazer sentido! Deve ser por isso que vocês nunca tiveram nada... ela gosta da outra fruta!
Ri-me e respondi-lhe:
Nã. Não tivemos nem temos nada porque somos amigos e não me parece, sequer, que ela goste realmente da outra fruta.
Amizade entre sexos opostos?
Nunca! Parece ser demasiado rebuscado mesmo quando é verdade.
O KARMA EXISTE?
Cheguei a um bar e uma mulher passou-me os olhos.
Deve ter sido um toque mas não costumo reagir.
Passado um bocado, fixou-me mesmo o olhar.
Foi um toque mas continuei sem reagir.
Um pouco depois veio mesmo falar comigo.
Não era nada de especial mas já comi pior (bem pior). Não sei, exactamente, o que me disse porque já estava a carburar a tequilla e Corona há algum tempo mas devo ter dado alguma trela.
Depois, disse-me: Vou só buscar uma bebida e eu acenei que sim.
Quando se ia a afastar eu, estúpido, em vez de olhar de baixo para cima - o que provavelmente me faria parar no rabo - comecei de cima para baixo e dei com uma tatuagem do símbolo do infinito com 3 estrelas.
O que interessa isso?
Pouco, não se desse o caso de me fazer lembrar de quem já me tinha descrito uma tatuagem igual.
Resultado: não sei se ela voltou de bar com a bebida porque eu já não estava lá.
Karma?
Não acredito em karma mas...
SEMPRE OS MESMOS
- Olha, está ali o teu amiguinho disse eu com tom de escárnio referindo-me a um otário que conheci na faculdade e que tive o prazer de encostar a mão à cara ao meu amigo que, entretanto, se começara, anos depois, a dar bem com ele.
- Pá...nem me fales. Razão tinhas tu em ignorar o gajo. Na semana passada tava a ver que tinha de lhe partir a boca.
Foi-me descrito, depois, o que terá acontecido e que me parece bater certo com o tipo de otário que o gajo é.
O que tem graça é o seguinte: este meu amigo era um animal, um gajo impecável mas de pavio incrivelmente curto.
Entretanto, mudou muito a virou mais ascético e metafísico e budista e tal.
Não o gozo por achar que se transformou nisto porque o entendo como sincero e nada tenho a apontar aos que querem procurar evoluir no sentido em que acham dever ir.
Agora,
toda a meditação e chacras e cenas foram - como vão sempre - com o caralho quando se estala o fino verniz que nos cobre.
Quando o irritaram (e não teve de ser muito) o Buda teve de dar um tempo para ele voltar a ser o gajo que há 15 anos batia primeiro e falava depois quando provocado.
Disse-me: pá, fiquei muito irritado por ter respondido assim ao gajo e por ter pensado em fodê-lo...
Respondi: pois, eu sei o que isso é. Também já acordei fodido por ter partido alguém que não merecia mas se merece, é sa foda! E não te preocupes, um gajo pode e deve tentar contrariar a sua natureza quando não gosta dela mas às vezes falhar....e não lhe bateste, o que é um claro progresso!
Somos sempre os mesmos animais.
Friday, November 13, 2015
Darwin Só Pensou por Fora
A teoria evolucionista, lamentavelmente, tem pouco de intelectual, é um processo adaptativo primordialmente físico; mais pêlo, menos pelo; mais erecto, menos erecto; mais barbatana, menos barbatana.
No âmago, nunca mudamos, apesar do que nos querem fazer crer. Somo sempre os mesmos e parvos por esperar por resultados diferentes para a mesma actuação (a loucura, segundo diria Einstein).
O PS E O GOVERNO
Parvo me assumo: quando no dia seguinte às eleições vi o PCP esticar a mão ao PS e o PS ponderar se a agarrava, pensei que fosse uma forma de valorizar o peixe de que dispunha para vender à PAF, o partido vencedor. Cheguei, até, a dar de escárnio num outro blog onde costumo participar porque lá tomou-se por séria a hipótese de uma OPA um pouco hostil da comunagem à Assembleia da República e ao PS.
Ri-me, fodi-me.
Onde errei?
Não me escapa a natureza egoísta da humanidade nem a sua vontade de salvar o couro à custa de quase tudo (a lei contém, até, uma coisa chamada estado de necessidade, um momento em que a necessidade própria é passível de servir de desculpa para qualquer coisa).
O que aconteceu, aqui, na minha cabeça e em resumo, contudo, foi isto:
Foda-se, o Costa não se vai juntar a gente que só o quer esfaquear e nem sequer esconde! Ele não vai, à pala de meia dúzia de meses no Governo, juntar-se à corja anti-europa e anti-mundo e anti-democrática e nem é por princípio...é que quando der merda ele e o PS vão ficar agarrados ao chicote e levar uma pancada eleitoral que não é certo alguma vez recuperem...
Vêem? Nem se quer foi um pensamento inocente nem centrado em Portugal e no que o País precisa, é, também, de sobrevivência! Era um pensamento egoísta mas compreensível.
Como me enganei?
Ainda é difícil, para mim, encontrar uma resposta clara mas o vil da humanidade pode suplantar o que dele espero e eu espero muito!
O Costa terá pensado apenas no seu pescoço. Foi tosquiar e acabou tosquiado; do poucochinho que criticou ao Seguro levou uma pancada de criar bicho! Deve ter pensado, então, secundado por uma corja próxima do 44 (Ferro Rodrigues para Presidente da Assembleia? Mesmo? O abraçador de Paulo Pedroso e Sócrates? Mesmo?!), que mais valia Rei por um dia, independentemente do custo que isso venha a ter para o País e para o próprio partido.
Nisto, para piorar, abraça partidos não democráticos e parasitas da democracia que odeiam mas afirmar amar (negrito porque nunca é suficiente repisar este assunto!) que o engolem porque...bem, porque podem e nunca devem ter pensado possível.
A líder deste ajuntamento de gente maluca é a Catarina Martins e não o António Costa!
Os vencedores são os Comunistas que travam privatizações que aniquilariam os grevistas profissionais (reparem, nada contra a Greve enquanto tal mas contra a sua profissionalização)!
O que ganha o PS com isto? Suponho que um ou outro tacho, um PM tetraplégico e, suponho, uma necessidade de vaselina como nunca tinham imaginado (vaselina que serve para o rabo e não para os cotovelos, como diz agora o anúncio e só para não se fazer confusão).
É baixo!
É mesquinho!
É reles!
Não previa...fui burro. Não imaginei que a estupidez e a cupidez fossem tão longe.
Darwin não deu com estes fósseis lá na Ilha.
A CEGUEIRA
(uma nova referência, que aí vem, ao Comunismo não foi planeada, porque não é o tema, mas não me chateia)
Durante a IIGGM, houve uma altura, mais para o fim mas antes do fim mesmo, em que houve publicidade pró-Estaline pelo Mundo. Foi, a dado momento, realizado um filme (cujo nome me escapa) em que se demonstrava o líder visionário e justo que Estaline nunca foi. Por esta altura, momento em que os Russos eram a barreira mais forte aos Nazis e em que havia uma tendência rosácea em Londres e, de vez em quando, em Washington, pensava-se que a URSS havia encontrado algo fantástico e que o futuro do pós-guerra podia passar por lá.
Escritos fidedignos revelam, inclusive, que Churchill e Roosevelt não desgostavam de Estaline (ainda que mais o segundo que o primeiro) e que o defenderam perante a opinião pública.
Precisavam dele pareço ouvir-vos dizer e não me parece errado. Pensei mais ou menos o mesmo.
O que retirei, depois, foi uma outra coisa:
Os polacos (o seu assassinato massivo e deportação) pelos russos era conhecido; houve mais do que meia dúzia de gajos que relataram o pessoal que era abatido no meio da rua pelo NKVD e deixado onde caíam; o fenómeno dos kulaks era conhecido e assumido pela cúpula comunista; Estaline tinha feito um acordo com os Nazis de não agressão antes dos últimos se mandarem para a matança e prestaram-lhes auxílio (com víveres, por exemplo) enquanto eram amigos; o pelotão de fuzilamento comunista que varria a traseira do próprio exército e que servia para matar os soldados que batiam em retirada (pois é! Vitória ou Morte!) não era segredo...
....e nada disto interessou no momento em que se quis acreditar que o carniceiro Estaline era, afinal, florista.
As evidências não interessaram mas o milagroso acreditar, sim.
Como se sabe, Estaline só terá plantado flores, se alguma vez o fez, na sua datcha (não sei se se escreve assim).
A esperança não fundamentada é estúpida mas só se sabe depois, o que é uma grande merda.
....e isto será uma das coisas em que mais queimo neurónios: o esforço por ver o que lá está e não o que imagino.
Quero muito ser bem sucedido.
A CAVERNA DE ONDE NUNCA SAÍMOS
Há uns anos, fui forçado a andar em ginásios.
Não é nova a minha relutância a máquinas e gente a admirar-se ao espelho (o que, com pena, de vez em quando também faço) e pretensas preocupações com saúde que são eufemismo para ficar bem de fato de banho.
De todo o modo, na minha busca por atenção juvenil, achava engraçado o ar consternado com que os bombados eram expostos a um miúdo que puxava 3 vezes mais peso que eles sem precisar, de quer, de esgar de dor ou guinchar.
Este sainete nunca o presumi para com o elemento feminino, As mulheres, pensei e continuo a pensar, não admiram conscientemente demonstrações puras de força, especialmente quando a força é efectiva e não acompanhada de músculos definidos que nunca tive.
Fastforward na minha vivência e experiência e vontade de compreender como funciona a humanidade e a minha percepção dos tempos de ginásio e do efeito no elemento feminino não mudou mas sofreu uma nuance.
Ilustrando antes da conclusão:
Há algum tempo, que não muito, houve uma mulher que se mandou mais ou menos para a piscina. Ora, como repito com frequência, não sou uma metralhadora na noite e nem sequer uma espingarda de precisão. Provavelmente, como me disse uma das minhas exs eu não tenho estrutura para ser rejeitado, então preciso sempre de um incentivo mas depois de cheirar sangue na água...
Voltando,
a mulher demonstrou algum interesse mas nada de muito avassalador, sendo certo que foi o suficiente para me cheirar a sangue na água e depois da coisa se ter concretizado dei por ela agarrada ao meu braço. Não sendo a coisa em que mais frequentemente sou agarrado, perguntei-lhe porquê toda aquela vontade (sim, eu quero SEMPRE saber o que não entendo) e ela respondeu-me qualquer coisa como: eu achei-te graça, foi óbvio, mas quando me puseste o braço à volta da cintura percebi que não iria acabar a noite vestida. Mantive o silêncio que empurra as pessoas para preencher o vazio (obrigado, Daniel Oliveira) e ela continuou: ...não sei dizer porquê mas quando me agarraste achei que podia acontecer tudo à minha volta que a mim não me ia acontecer nada.
E a conclusão:
Vivemos num Estado de Direito em que a violência é um monopólio estatal. Somos ensinados que a polícia existe para nos proteger caso alguma coisa aconteça. Que diferença faria o meu braço especialmente sem nenhuma ameaça por perto?
Vivemos numa época em que as armas andam cada vez mais à nossa volta, tornado a sua exibição algo não tão estranho assim. Que diferença faria o meu braço perante uma bala?
Em qualquer um dos casos, a resposta é nenhuma mas o cérebro dela, que vem de há milhões de anos como todos os outros, está programado para reagir ao que a consciência não entende e o que ela sentiu, naquele momento, foi presença e protecção, ainda que desnecessária.
Se ela me tivesse visto a puxar ferro, não acredito que ficasse impressionada.
Quando ela sentiu o resultado de conseguir puxar tanto ferro, ficou impressionada ainda que o não soubesse.
Somos todos e sempre animais.
IA SER DIFERENTE
Ia acabar isto com uma história engraçada que resultou de ontem, depois de um dia mais bem passado do que seria de esperar ainda não saiba explicar por que motivo esperava menos, passei por um grupo de 4 miúdas (deviam ter entre 12 e 15 mas sou péssimo em idades) que cantaram é lindo, é gostoso quando estava a passar e dois passos depois imitaram um gato a miar.
Ia falar sobre estas duas coisas, o dia e o seu fim mas tive de sair para acudir a uma urgência, no entretanto, pelo que:
O avançar da idade tem coisas boas e coisa más e ainda coisas boas que, em certas circunstâncias, me parecem más.
A minha evolução levou-me a que pense antes de queimar. Ainda queimo com alguma facilidade mas, agora, tendo a contar até 10 ou embrenhar-me em trabalho ou vir aqui queimar uns minutos ou algo que me impeça de reagir como quero naquele momento e espero querer a mesma coisa uns tempos depois, momento em que tomo uma atitude.
Ora,
de vez em quando, fico profundamente fodido por pensar que não devia esperar mas antes encharcar tudo com gasolina e fazer tudo arder!
Nesta urgência, que pareceu mais do que o que era, fui outra vez exposto à estupidez que me anda a roer por dentro há muito tempo.
Então, se já contaste até dez e não mudou, por que continuas nisso?!
Pergunta que me faço muitas vezes. Pergunta a que respondo com a necessidade de me sacrificar (coisa que detesto) em prol de quem entendo merecer.
Quanto tempo vai durar é imprevisível mas queria que já tivesse acabado há muito!
Há 10 minutos atrás, vi passar-me à frente - não de forma tão figurada assim mas não literal - uma imagem em que esmago uma traqueia com a sola do pé direito. Caralho. É uma vergonha.
Depois de acudir ao que tinha de acudir e, quando já não deveria ser preciso, continuei porque alguém teve de atender telefonemas, entrei no silêncio que precede a tempestade, tempestade que se avizinha há anos e de que ando em fuga. Calei-me e comecei a contar.
Agora, estou a arder.
Ah, parabéns! Seguraste-te!
Admitiria e aceitaria os parabéns com alegria caso isto tivesse sido pontual e, por isso, merecesse ser evitado.
No caso, vai-se repetir e é porque se repete com frequência que passei de pensar vai para o caralho para imaginar pisar traqueias. Está a aumentar e não tende a reverter.
A minha cabeça diz que aguentar só vale a pena se o período em que tal é necessário for suportável, caso contrário uma bombinha de carnaval tende a tornar-me uma bomba mesmo.
(isto não era suposto acabar mal mas...)
Wednesday, November 11, 2015
We humans fear the beast within the wolf because we do not understand the beast within ourselves
Gerald Hausman
Tuesday, November 10, 2015
Vou Ter de Fazer Alguma Coisa a Respeito....
Hoje fui ver um concerto do Lenine.
Aconteceu da forma que mais me agrada: um reportório que nem conhecia muito bem (excluídas uma ou duas), acústico e que aconteceu com um K, hoje temos bilhetes para Lenine, queres?. Eram umas 4 da tarde.
Só boas notícias, o que haverá a fazer a respeito?
Primeiro, começo a ter menos paciência para música ao vivo no estrito termo da coisa. No Youtube raramente ouço álbuns de estúdio, tendo muito mais para concertos completos mas a minha vontade de estar lá fisicamente anda a diminuir (não ajuda os artistas dizerem coisas como a minha tecnologia favorita é a ternura e as pessoas explodirem em aplausos pela banalidade...).
O pior, contudo, não foi isso...
A dada altura, dei conta que ao meu lado estava um camelo que passou o concerto todo a gravar...o concerto que estava a assistir.
Há uns tempos, vi um gajo a guiar com o braço de fora, a filmar, uma paisagem extraordinária...que estaria a presenciar naquele momento.
Foda-se.
Excluindo o claro desrespeito pela propriedade intelectual do artista, estes idiotas perdem tempo a gravar o que estão lá a fazer? Filma-se para se ter em vídeo (PIOR quando é para partilhar) o que se perdeu naquele momento?
Geração selfie stick de merda!
Bem... fica a minha música favorita do concerto:
Desta Vez, Logo a Abrir: Não Fumei Nada (além de cigarros)!
É muito chato o determinismo, especialmente para quem tem problemas com a autoridade mesmo quando essa autoridade é interna e, por isso, auto-infligida.
É muito comum ouvirmos que é uma chatice o esquecimento. É chato esquecermos números de telefone, é chato esquecermos datas, é chato esquecermos a matéria sobre que versará o exame a realizar, é chato esquecer um compromisso... e tudo isto é justo porque, conscientemente, não queremos que nada nos escape.
O preço deste esquecimento, contudo, é bem pago.
(já por aqui rolou a explicação fisiológica da necessidade e benevolência do esquecimento que o cérebro impõe, caso que ilustrei com o melhor exemplo que conheço: o esquecimento, pelas mulheres, daquilo que dói dar à luz, pelo que não voltarei ao tema)
Outro sinal daquilo que me parece uma imagem de gente sã e esclarecida é agradecer este esquecimento. Tomar consciência das virtudes de não se lembrar de tudo como mais valiosa do que não se esquecer de nada porque, a dada altura, a memória, se muito presente, é mais um fardo do que uma bênção (ia usar maldição em vez de fardo mas pareceu-me demasiado dramático).
É um sinal de desenvoltura mental conseguir representar que é bom esquecer quando todas as nossas células nos empurram para o contrário; é um sinal de maturidade entender, aceitar e, até, querer que o célebre quem bate esquece mas quem apanha, não. Às vezes, que não serão tão poucas como isso, é melhor esquecer que apanhámos mesmo correndo o risco de apanhar de novo.
....e de volta à minha estupidez.
Acabo de elogiar quem entende as vantagens de não se lembrar de tudo, mesmo à custa de se esquecer o que se não quer;
Acabo de demonstrar consciência de que o caminho para se ser mais feliz há-de ser este: o do esquecimento que, se fecharmos os olhos, se coincide com o do perdão;
E no ponto final desta frase revelarei a minha incapacidade, até hoje, de fazer o que me faria bem, à imagem do que faz bem a todos.
Quando foram descobertas pessoas que se lembravam de tudo sobre as suas vidas (TUDO!!) foram alvo de admiração porque, afinal, conseguiam o que todos achávamos querer: Nunca Esquecer.
Depois de uma festarola de elogios e admiração, veio uma outra face da mesma moeda: Nenhum deles conseguia manter, por exemplo, uma relação durante muito tempo.
Estranho? À partida, sim, mas se perdermos meia dúzia de minutos...
Então,
o sentimento devastador de sermos agredidos ou desiludidos ou traídos ou desapontados (mais devastador para uns do que para outros, claro) tenderá a mitigar-se com o tempo. O desapontamento de hoje não será sentido da mesma maneira daqui a 1 ano, certo?
Certo se conseguirmos esquecer.
Para as pessoas que têm aquele defeito (É UM DEFEITO), são desapontadas todos os dias e para sempre durante o resto das suas vidas. Será sempre presente porque foi sempre agora; não esquecerão uma dor ou um desgosto que ocorre constantemente porque tudo foi gravado, quase literalmente gravado.
E não houve - nem sei se há - relacionamento que aguente a falta de esquecimento e a erosão da memória.
Sou um trabalho em evolução.
Um dos sinais dessa evolução é que sou capaz de reconhecer, hoje, que é possível que seja melhor esquecer mas incapaz de o fazer automaticamente porque está, ainda, entranhado.
Hoje, tento controlar e relativizar.
Não é que exija perfeição aos outros mas exijo-me (ainda que o tente fazer cada vez menos) não me pôr a jeito.
Problema detectado e problema a ser tratado.
Agora....sucesso na empreitada....
Friday, November 06, 2015
Chuva
Gosto de chuva. A chuva ajuda-me.
Uma vez, há anos, veio uma amiga visitar-me no inverno e disse-me que o tempo estava muito nublado e concordei porque estava mesmo mas apressei-me a dizer-lhe que era o melhor tempo para ver a minha cidade porque era o que mais se adequava a ela.
A chuva tem algo de semelhante no que a mim diz respeito e provoca-me sensações boas e, até, recordações do mesmo tipo.
A chuva ajuda-me a dormir, o som do choque com a janela embala-me;
A chuva ajuda-me a descansar, o negrume e o dilúvio fazem-me querer estar quieto e a fazer coisa pouca e coisa pouca poupa o músculo mas liga as pessoas, quando lá estão, e abre a mente, quando lá está.
A chuva faz-me querer ficar na cama e eu raramente gosto de estar na cama e momento que não a dormir.
Com chuva já fiz das viagens mais agradáveis da minha vida.
Com chuva já estive horas sentado no passeio com quem, naquela altura, queria estar.
Com chuva já vi a minha tristeza raiar o impossível para a seguir se esvair com ela.
...e algo que tem o condão de me envergonhar porque é demasiado etéreo e tenho dificuldades com o etéreo - por exemplo, para cavar ainda mais o buraco onde me meti, entendo o Amor como entendo Deus, uma presença não palpável mas difícil de negar - é o facto de sentir que a chuva lava por dentro e por fora.
Talvez seja uma projecção do facto de não conseguir chorar e tanto ter ouvido que lava a alma.
Eu acho que o Mundo acorda mais limpo depois da enxurrada e eu também.
Ps. não fumei nada, hoje. É esquisito mas resulta de ser sexta acrescido de ter trabalhado mais do que era preciso no resto da semana e estar há uma hora a pastar.
As Coisas
Não é novidade que eu não ligo a coisas.
Não foi sempre assim, foi algo que aconteceu de forma quase inconsciente ou, eventualmente, visceral; lembrei-me que poderá ser visceral porque o meu corpo, que não a minha cabeça, começa a ter pouca vontade de comer carne.
Uma coisa aconteceu, a outra está a acontecer mas o percurso parece-me o mesmo. Não foi forçado, não foi pensado...foi sendo...
E o que é engraçado é isto:
Há (vou dizer 10 anos mas não consigo apontar a data da mudança) 10 anos, a minha ideia era a seguinte:
1. Quando tiver um Girard - Perregaux, serei bem sucedido;
2. Carne é a melhor coisa do mundo!
O que é, também, engraçado é que lendo sem me conhecer poderá haver a ideia que ando de túnicas e faço acampamentos do BE para aprender a usar malabares; tudo muito longe da realidade.
Então,
vamos esquecer cenas metafísicas e de evolução moral e de âmbito social (o facto de sermos educados apenas para consumir e para medirmos o nosso sucesso pela quantidade de coisas que conseguimos ter) e centremo-nos na realidade pura e dura:
Portugal e a(s) sua(s) falência(s) são um exemplo que grassa pelo mundo da escravidão da dívida e a dívida é feita, quando neste tamanho, porque se quer ter cenas.
Não é difícil extrapolar isto para os indivíduos: quantas mais coisas, quantas mais prestações, quantas mais vontades consumistas e por aí fora mais dependentes nos tornamos. Temos de nos sujeitar ao que, se calhar, não nos sujeitaríamos se não tivéssemos decidido querer um relógio como o que referi em 1 ou o carro X ou o telemóvel Y.
As coisas mandam nas pessoas e eu odeio que mandem em mim.
Coisas Com Graça
1. O Bloco de Esquerda é o braço político do Chapitô.
2.
- Pá...agora só caio na caça se não conseguir evitar! Tenho mais ou menos namorada.
- Só acho isso bem!
(10 minutos volvido)
- Oh J, eu sonhei ou o gajo que há 10 minutos só entrava na caça se não conseguisse evitar está ali em ataque frontal?!
- Não, K, não sonhaste. Não conseguiu evitar...
E rimo-nos muito!
Wednesday, November 04, 2015
Ser Comum é Chato...
Por muito que me esforce - e esforço -, às vezes é-me difícil perceber nos outros o que, infelizmente, também tenho em mim.
As evidências são uma delas.
É-me de uma dificuldade extrema perceber que alguma coisa que demonstre seja uma surpresa quando a digo.
Suponho também sofrer desse mal mas, muitas das vezes, parece mais do que é.
Como sou como todos nós, gosto de ouvir cenas mas não tenho uma real necessidade disso. Se for o mais honesto que consigo, e nunca é tudo, as vezes em que me parece que tenho a necessidade com que iniciei este período nunca o revelo; sou perfeitamente capaz de provocar quando acho graça mas dificilmente quando me parece que preciso.
...o que sinto, com frequência, é que se torna necessário tomar contacto com a realidade como o vejo e como ela por lá anda.
É uma cena parecida com o método Socrático (que não o engavetado) que consiste, em grosso, em colocar questões para as quais já sabemos a resposta mas que ao responderem os emissores tomam consciência dela.
Concedo, sem dificuldade, que é muito fácil confundir aquele que faz uma pergunta sabendo a resposta com o que a faz não sabendo;
Da mesma maneira, é fácil e nada criticável confundir o querer que outro reconheça, ao dizê-lo, com o querer ouvir.
Tuesday, November 03, 2015
Monday, November 02, 2015
....e se já não andava grande coisa...
- Olá, K. Precisava de te perguntar uma coisa. Lembras-te de te ter falado da "cena"? Isso está resolvido mas agora queria saber como posso apresentar uma queixa na X.
- ....
- Pois. o FDP (altura em que deixei de ouvir)!
- ...
- E foi por isso que liguei. Ah, e para saber como estavas. Quanto é que estão os Y? E o trabalho?
- Tudo certo. Tudo óptimo.
- Pronto... como não me dizes nada pensei que tinhas perdido o meu número!
- Não. O número ainda aparece identificado.
- "Ainda"?
- Ainda.
People Suck!