"Lobo monstruoso da mitologia nórdica, os deuses temiam-no pela sua força crescente e pelas profecias de que o lobo seria a sua destruição. Duas vezes, Fenris concordou em ser acorrentado e, pelas duas vezes, ele estourou facilmente os elos que o prendiam"
Saturday, August 29, 2020
Roubar aos Leões
Há uma tribo em África - acho que ainda há... - que para sobreviver, entre outras coisas, rouba comida aos leões. Para ser mais preciso, as armas para caçar de que dispõe não são suficientemente avançadas para matar, de imediato, a caça e, por isso, a caça anda uns tempos em fuga antes de cair.
...no entretanto, não só os caçadores vão atrás da presa mas também outros predadores, entre os quais se contam os leões.
Os tipos desta tribo não têm vontade de enfrentar leões com paus mas têm de o fazer. É necessidade, não valentia.
A comprovar isto, os próprios (vou parafrasear, claro)
Um gajo não quer é ter de combater com leões velhos. Os leões velhos não têm vitalidade para fugir, e sabem disso; os leões velhos não conseguem caçar animais sãos, e sabem disso. Então, vão dar a vida contra nós enquanto um leão jovem pode considerar que o risco não compensa. (os leões também não são valentes se não tiverem mesmo de ser)
(numa caçada em que crianças foram acompanhar os adultos para aprender) É claro que subiram a árvore quanto viram os leões chegar! É preciso sobreviver para poder ser-se um caçador! Se pudesse, teria feito o mesmo! (não foram as crianças consideradas covardes mas teriam sido consideradas parvas se não tivessem fugido)
Não pode deixar de ser considerado uma anormalidade para estes povos rudimentares haver, por cá, gente que salta de um avião em perfeitas condições. E é.
Para estas pessoas que podem ter numa perna partida uma sentença de morte, não existem riscos que compensem a menos que não possam ser evitados.
Nós, os desenvolvidos, temos uma vida demasiado desocupada e, por isso, precisamos de emoção e de provar uma bravura antiga de que já não temos necessidade. Devem ser remeniscências da adrenalidana que a necessidade obrigava a produzir mas que pólvora e a ressonância magnética tornaram desnecessárias.
Se calhar não somos todos. Se calhar, nem é a maioria. Mas de certeza que somos muitos.
É uma conta difícil de se fazer, até porque só se torna visível esta fragilidade depois de revelada pela arame que se quebra.
Quando um idiota entrou por uma igreja de pretos dentro e começou a aviá-los, procuraram-se muitas explicações - procuram-se sempre. Um amigo dele terá dito que o gajo nunca tinha sido racista e não entendia o que tinha acontecido...mas lá revelou que a namorada o tinha trocado, há uns dias, por um preto.
Isto é parvo? É um bocado.
O gajo já era capaz de ser mal aparafusado? Provavelmente.
...mas nada disso torna falso que este mentecapto tenha matado todos aqueles pretos por causa do que referi. Partiu-se-lhe o arame.
Isto é muito desagradável, claro.
É algo como a versão biológica ou psicológica da teoria do caos e do efeito borboleta. Não estamos preparados para o acaso e para a aleatoriedade. Não concebemos o que não tem uma explicação que podemos entender como lógica.
Mas a realidade cagou um bocado na nossa preparação. Podemos inventar as ligações que quisermos que nada muda o que aconteceu e o que irá acontecer; não o que irá acontecer em termos deterministas ou de fado mas o que irá acontecer e que não temos como controlar porque é desordenado.
Reparem, por exemplo, nos filmes e, em grande medida, também nos livros.
É verdade que alguns têm sucesso com base em nuances e na realidade (talvez o Magnólia seja um exemplo e, em alguma medida, também o Paris, Texas) mas a esmagadora maioria não. E não porque é desconfortável achar que 1 minuto pode valer alguma coisa mas é muito mais confortável o acontecimento terrível que tudo muda...porque a probabilidade de ficarmos face a um acontecimento deste tipo é baixa.
Há uns anos, um escritor de novelas brasileiras disse que uma das suas novelas tinha sido um fracasso porque as personagens não eram suficiente marcadas. O que ele queria dizer é que as personagens deste falhanço não eram perfeitas no que haveriam de desempenhar, pelo que não existia, preto no branco, bons e maus.
Ele tinha razão. É preciso que nos digam por quem torcer e quem desprezar porque, voltando ao que entrou a disparar na igreja, o gajo era maluco! o que significa que eu (ou tu ou ele) nunca farão uma tal alarvidade porque não somos malucos.
...mas não.
Todos somos muito frágeis e todos somos capazes de actos reprováveis - se formos sortudos - ou condenáveis - se tivermos menos sorte - mas esses actos, que pelas suas consequências devem ser castigados porque a sociedade e a ordem assim o exigem, não deveriam ser aptos a apagar tudo o resto que também somos e que não é reprovável e nem condenável.
Eu sei, eu sei. Este discurso parece uma merda new age e super progressista. Sou nenhuma dessas coisas, felizmente.
O que sou é um gajo que entenda as suas limitações e que reconhece que o monstro que vive nos outros também vive em mim.
Somos todos capazes de actos inomináveis porque somos humanos.
...mas a condenação e o castigo não podem ser revogados porque os outros não têm culpa das nossas limitações e dos nossos demónios, pelo que não têm de pagar por eles.
Bem, eu só aprendo realmente as coisas que compreendo. As outras, como uma grande parte do meu curso comprovam, ficam para ser regurgitadas, na melhos das hipóteses.
E preciso de compreender os erros para não os voltar a cometer e porque sou pouco ambicioso a minha única exigência é não fazer a mesma cagada duas vezes.
Ps. não ia ser nada disto o que vim cá escrever mas foi.
Uma das primeiras coisas de que me dei conta e para a qual não tinha sido avisado - ao contrário de tantas coisas para que me avisaram mas que não se concretizaram - foi a incapacidade de me concentrar da mesma maneira.
Poderia ser por conta da falta de sono; não é.
Poderia ser por conta do constante choro; não é.
Tenho tido muita sorte. O meu sono não anda perfeito mas anda bastante bem e a menina só chora com fome ou uma cólica ou outra. É certo que quando chora chora com muita vontade e com ambos os poderosos pulmões mas é - segundo me parece - raro e dura pouco (não esconderei que já entrei quase em desespero mas não por culpa da criança. Eu não aprecio barulho e o barulho deixa-me confuso. O problema sou eu).
O que acontece é que sinto o meu cérebro constantemente ocupado mesmo quando não há motivo para isso naquele momento. Está sempre ocupado e até ler se tornou difícil.
...como de costume, não era propriamente isto que ia escrever.
Tenho andado à procura de alterações - não consigo ler nem pensar com muita acuidade e tenho de me entreter, não é? - e não tenho sentido nem visto muitas.
Atalhando para não perder tempo que não me apetece com os pensamentos falhados, dei conta que, agora, quando penso em família penso nelas as duas.
Antes, pensava na minha mãe e no meu irmão. Agora, penso nelas.
...e é esquisito.
Mesmo depois de casado, não passei a entender a família dela como sendo minha (esqueço-me tantas vezes, sequer, que me casei...);
Agora, Ela não passou a ser mais importante para mim do que era antes, isso também não mudou. Dei por ela que antes de termos a nossa filha pensava nela como minha namorada/mulher. Pensava em nós como um casal e não como uma família.
Mas, agora, acho que a minha família é outra e não tem nada de racional. Eu não decidi que assim ia ser. Não achei que era o passo seguinte. Não considerei que era o que tinha de acontecer.
Dei por ela e já era.
E isto que direi tem tanto de injusto como de parvo. E dói-me escrever. Mas nunca fui de fingir ou sentir-me culpado por sentir coisas ou achar merdas: Agora tenho uma família.
De vez em quando tenho precisado de lutar contra o sono, o que me leva a zappings e a programas onde, normalmente, não atracaria a minha atenção. O Naked Attraction é o mais recente fenómeno.
Este programa consiste num gajo/gaja, hetero/homossexual que vai escolher com qual dos 6 candidatos vai sair. Todos nus.
Na primeira fase, vê-os até à cintura (pila e xana incluídos); na segunda fase até ao pescoço; na terceita fase a cara; na quarta fase ouve-os dizer meia dúzia de palavras.
Isto é muito estúpido, certo? Certo.
Tenho visto isto com curiosidade mórbida mas o programa, para o caso, interessa menos.
Uma das concorrentes era uma heterossexual que tinha decidido que, se calhar, era altura de sair com uma gaja. Nunca o tinha feito. Não dei por ter dito, alguma vez, que se sentia atraída por gajas.
Acho que admitiu expressamente que só estava desgostosa com os gajos.
Ok. É estúpido?
Bem, não me interessa muito para que lado ela se quer deitar mas não há um cheiro nauseabundo a desespero quando não há uma atracção pelo sexo em questão mas apenas um ressabianço para com o outro.
Para ser honesto, é-me tão irrelevante este tipo de palermice que nem teria vontade de escrever a respeito; não acho que seja de apoiar nem de criticar. Aos meus olhos, é apenas parvo.
MAS no fim, quando sobravam duas candidatas, a tipa que escolhe também aparece nua e esta de que falei nas últimas linhas apresentou-se com pêlos nas pernas e na parreca.
Ak, K, qual o problema?
Para mim, nenhum. Pêlos nas pernas, dispenso e não dá para mim. Pêlos na parreca, prefiro não (mas não ao ponto de não haver nenhum e parecer uma criança) mas já papei muita relva porque não vou para novo.
O que aconteceu foi que a apresentadora perguntou-lhe o porquê da pelugem e a resposta foi qualquer coisa como estou a assumir os meus pêlos. É uma manifestação de poder feminino!
Quando falo a sério, sou pouco dado ao auto-elogio. Há mais do que um motivo para isso. Por um lado, apesar de me ter em boa conta não acho que a minha conduta mereça elogio porque se limita a ser aquilo que acho que deve ser. Por outro lado, porque não procuro aprovação não sinto a necessidade de que publicitar as coisas que faço bem. Não por fim mas por um outro lado ainda, estou pouco interessado em falar.
...e como sinto mais confiança naqueles que revelam os seus falhanços, tendo a fazer o mesmo.
Não será, propriamente, enaltecer defeitos mas reconhecer a realidade do que acontece e saber que o melhor que se pode fazer é trabalhar no que se falha e não repousar no que se acerta.
Acresce que as falhas são sempre mais interessantes do que as imperfeições, não me interessa o quanto se teçam loas à simetria. A Bardot tinha demasiado espaço entre dentes; a Bellucci será, pelos padrões actuais, um bocado pró gordo; é irrelvante. Mais do que lindíssimas são interssantes porque não como as demais.
Mas, regressando ao elogio:
Aquando do início da pandemia, mandei um sms a um dos meus melhores amigos (que não vejo há 2 anos e que da última vez que o vi foi por ter estado internado no hospital dele, estando eternamente grato por fazer tudo o que pôde para ajudar) perguntando como ele estava; ele e a família. Terminei dizendo que se ele ou os dele precisassem de alguma merda, era dizer.
Respondeu-me, pela mesma via (não somos os maiores apreciadores de telefonemas e também quase nunca atendemos os telefones) dizendo que fui o único que não perguntei nada sobre a pandemia nem a pedir informações...só quis saber como ele estava.
Tenho um outro amigo que viaja (mais viajava, na verdade) sozinho e deixa por cá a mulher e a filha.
Sempre que soube que ele ia ou que ficava onde estava e que elas ficavam por cá, mandava mensagens com um teor parecido com o que descrevi mas, neste caso, manifestando apenas a disponibilidade para fazer o que fosse preciso - se fosse preciso - enquanto o gajo não voltava.
O que este segundo caso tem de mais engraçado é que a mulher dele nem sequer gosta muito de mim mas isso não interessa, não é?
O intuito é ajudar as pessoas e não esperar que, em troca, fiquem enormemente gratos e percebam o quão espectacular eu sou...até porque não sou.
Eu gosto de ser assim e preferia que assim fossem os outros mas não o espero.
Se eu achasse ou esperasse que os outros fossem assim teria muitos mais amigos, não é?
Não, não é.
...não dá para dispensar muita atenção a muita gente. É justo e, até, um bocado fisicamente impossível.
O que é de pasmar, contudo, é o seguinte:
não há muita gente que faça o que já descrevi nos termos em que o descrevi mas há muitos que dizem que se for preciso alguma coisa, estão lá para ajudar.
O somar dos dias ensina-nos, contudo, que esta oferta é parecida com o como estás? que serve como saudação e não propriamente como pergunta.
Quando se pergunta está tudo bem? não se quer resposta, é uma mera saudação. A pergunta é vazia (faço o mesmo, de vez em quando) e não destinada a inteirar-nos do que se passa na vida das outras pessoas.
O se precisares de alguma coisa, avisa é, normalmente, a mesma coisa. Uma oferta vazia que espera nunca vir a ser pedida e, caso seja, que não se pretende cumprir.
Mas eu tenho tantos outros defeitos...
Esta virtude é como a andorinha que não faz a Primavera.
Ainda durante a gravidez, houve uma meia dúzia de pessoas que me perguntaram quem nos ia ajudar quando a criança nascesse.
A mãe e eu não são pessoas suficientes? perguntei no primeiro par de vezes mas, depois, percebi que existia uma presunção de que eu não iria fazer merda nenhuma, por isso seria necessário que a mãe dela ou a minha estivessem presentes.
...e assim continuou.
Ainda na maternidade, a pergunta voltou a surgir por parte da parteira e, se não estiver em erro, de mais uma das enfermeiras.
Depois da maternindade, na primeira consulta de pediatria a coisa voltou mas, desta vez, não sob a forma de quem vos vai ajudar mas antes com uma extensa lista de necessidades que teriam de ser supridas para que a mãe se pudesse dedicar à criança; coisas como, por exemplo, cozinhar.
Não tomei nada disto como pessoal porque, no final de contas, nenhuma destas pessoas me conhece mas fiquei meio aterrorizado com a ideia de que os homens não fazem nenhum. Aliás, pior que isso: uma vez que se tratam de profissionais que fazem disto vida, todas estas recomendações e preocupações e sugestões haverão de ter chegado acompanhadas de experiência adquirida.
Sempre achei que era dos mais imprestáveis dos homens no que à lida da casa diz respeito mas, pelos vistos, estava enganado.
O meu raciocínio quanto ao meu papel é simples:
a figura do pai, pelo menos nesta fase inicial, é de mero facilitador, não é quem conduz, é quem vai ao lado.
Faço o que consigo e facilito o mais que posso...e nem acho que faça muito.
Mudo fraldas, dou leite, vou às compras, cozinho, trato das burocracias e por aí fora mas sempre na retaguarda.
É a mãe que tem de acordar a meio da noite para dar de mamar e é a mãe que a acalma quando eu já não sei mais o que fazer. É a mãe que, muito primeiro que eu, sabe que é fome ou cólicas ou manha ou qualquer outra coisa.
Eu pergunto cenas e tenho uma ou outra opinião mas, em geral, tento fazer o que me mandam.
(tudo o que escrevi é verdade mas serve, também, como lembrança de que o meu feitio é uma merda.
Esqueço-me, de vez em quando, que é um bebé e irrito-me com o choro e com não saber o que ela quer. Fico irritado quando a mãe demora mais do que eu e a bebé achamos que devia - o meu feitio de merda é capaz de ter ido nos genes, juntamente com o meu nariz.
...mas que, pelos vistos, há homens bem mais imprestáveis do que eu, isso parece que há)
Sabia o que era o movimento ANTIFA nos EUA mas, há dias, numa manif anti-fascista dei por uma manifestante com uma máscara (COVID, não de outro tipo) com ANTIFA escrito.
...e aqui vamos nós pela ignorância dentro...
O meu instinto diz-me que muita da gente ANTIFA o é por presumir que se trata de um movimento anti-fascista; afinal, está no nome, não é?
Fosse tão simples como isto e também eu seria ANTIFA, da mesma maneira que se o Comunismo fosse, de facto, pró-democracia e pró-liberdade e pró-igualdade, também seria comunista.
Apesar do meu instinto ser o que descrevi, vou contrariá-lo e achar que o pessoal que anda na rua a dizer que é ANTIFA é mesmo ANTIFA e sabe o que diz.
Pois bem:
o movimento ANTIFA é militarista e se muitas das suas acções fossem praticadas por cidadãos de outro país e não por nacionais era bem capaz de se considerar terrorismo.
Não é raro, bem pelo contrário, que os ANTIFAS sejam violentos e agressivos e que amigos de, por exemplo, destruir propriedade alheia como muito bem se viu nos motins que se seguiram ao caso Floyd nos EUA.
A finalizar, porque não sei o suficiente para ir muito mais fundo e porque para o efeito pretendido não precico de mais, o logo do movimento tem duas bandeiras: uma representativa do anarquismo e outra do comunismo.
Então,
é muito engraçado que um grupo reaja a outro da mesma forma como o primeiro, em tese, se comporta. Não concordarão?
Concordarão se não disserem ah, K, mas isso era se a extrema-esquerda tivesse o mesmo tratamento que a extrema-direita em Portugal!. Sim. Ouço a campaínha tocar considerando que a resposta dada está certa.
(dá-me sempre ânsia de vómito dizer que o Ventura tem razão em algumas coisas...nada na sua ideologia (?!) me atrai e muito menos o seu discurso empolado e desbaratinado...e ainda por cima é benfiquista)
Nas manifs onde andavam os ANTIFA, a esmagadora maioria quer calar o Ventura porque não gosta do que ele diz.
Como já disse anteriormente, ainda não dei por nenhum crime - além da ofensa ao bom gosto - no CHEGA, pelo que...porque não haverá de poder falar?! Os votos que o CHEGA apurou merecem menos importância do que o dos, digamos, VERDES que nem um partido de facto é?
Mas os ANTIFA querem coartar as liberdade de expressão, como todo o bom extremo-esquerdo.
Pensam que chega? Não chega.
O Jerónimo considera que o que se anda a dizer quanto à realização do AVANTE é um ataque ao PC. Teve, inclusive, o mau gosto de usar o termo confinamento.
Que ataque? Respeitar as mesmas regras que são aplicadas aos outros eventos do tipo, onde se inclui a Champions!
É uma palhaçada...
Interessa? Nadinha. Porque a maioria não entende as palavras que usa e nem sabe as ideias que foram um movimento que apoiam, ainda que sem querer.
Talvez ler, por exemplo, As minhas aventuras no País dos Sovietes, do José Milhazes, fosse uma boa leitura de verão.
Ainda não me tornei um Velho do Restelo e espero não me vir a tornar...mas já dei - e dou - por mim a lamentar o tempo que passou mas apenas de vez em quando.
As minhas maiores queixas quanto aos tempos actuais estão, as mais das vezes, ligados à desconexão com a realidade e à hiper-valorização dos sentimentos próprios e, por esta via, da importância que o pessoal se anda a dar no plano geral.
O advento das redes sociais e do progresso vende que podemos ser o que quisermos mas não podemos. É um facto!
Muitos dos que trabalham comigo, por exemplo, podem muito querer ser tão espertos como eu e isso nunca vai acontecer;
Muitos dos atletas com quem convivi e que vi eram e seriam sempre muito melhores do que eu por mais que treinasse.
Poderia ser dito que podes sempre fazer mais e ser melhor, o que considero verdadeiro mas não que se te esforçares vais conseguir ter o sucesso que o Jordan teve. Não vais. Ou melhor, é um erro estatístico se fores.
Sucede que muita gente confia que as palavras/acções e realidade são uma e a mesma coisa mas não são.
...é um problema de educação, não é?
Sou plenamente favorável a dar toda a confiança que se conseguir a quem se está a criar mas é bom que essa mesma criança entenda que esforço é importante mas não tudo, às vezes perde-se e há gente que é melhor do que nós.
Medalhas de participação é o caralho!
(enquanto escrevia esta última frase, lembrei-me que a parteira estava a falar do neto e demonstrou orgulho quando disse que ele tinha chorado porque não tinha tido 5 a tudo. Pensei pá, não devias ter orgulho nisso...não é bom... porque apesar de não me lembrar de chorar pelo mesmo motivo, essa criança era eu)
Mas o assunto nem era este...
Quando Ela descobriu que estava grávida, quis fazer um curso de maternidade.
Naturalmente, achei estúpido porque a quantidade de atrasados mentais que conseguem desenrascar-se prova que é muito mais do que possível! e disse-o convictamente. Mas, no mesmo fôlego, disse, também, que se quiseres, fazemos isso.
E disse-o porque saber mais é sempre melhor do que saber menos e estar preparado é melhor do que não estar preparado.
Se eu acho que o negócio da maternidade é nojento?
Acho.
Acho que é um negócio que se apoia no sentimento de culpa que consegue transmitir às futuras e recém mães caso não comprem um determinado produto ou não tirem um determinado curso. Detesto-o por isso.
...mas nem sempre é fácil, com o preconceito - justificado! - que descrevi aferir o que é mesmo preciso e o que nos tentam impingir.
Bem, o curso, por peripécias várias, acabou por não ser feito mas tivemos um curso intensivo aquando do parto e nos dias que se seguiram.
Se o achei fundamental? Não, não achei...MAS!
Quando o meu irmão tinha uns meses de vida teve de ir para o Hospital com ar de quem ia tombar. Acho que esteve lá perto.
Pelos vistos, o médico meteu-lhe um termómetro no rabo, ele defecou-se todo e voltou, quase de imediato, ao normal.
Ora, a minha filha - acho que como todos os recém-nascidos e bebés - sofre de cólicas mas, em virtude do curso não precisará de um médico nem de ir para as urgências pelo mesmo motivo que o meu irmão foi; nós sabemos (e já fizemo) a cena do termómetro.
É muito fácil olharmos para trás e achar que aquilo é que era.
Lembra-me sempre da minha ex que me ligou a dizer que a nossa relação era incrível! Ela já não se lembrava do motivo de não ter durado ou de ter acabado. É selectivo.
Também eu sofro do mesmo, quando me esqueço.
Mas, depois, um gajo vai ver a evolução das estatísticas da mortalidade infantil, por exemplo, e a realidade demonstra-nos que o avanço tecnológico é very cool.
No Witcher o pessoal é muito temente do destino mas não a personagem principal.
O pessoal acha que alguma coisa quer dizer alguma coisa mas isto é só caótico, não tem sentido nem lógica (parafraseei).
Depois, claro, abichana e vai de encontro ao destino.
Eu gostei da série mas isto não é sobre a série.
Também eu acho que isto é caótico e sem sentido. Fazemos o melhor que conseguimos (ou o pior, depende das circunstâncias) e apenas isso. Mas o resultado é independente da conduta, em larguíssima medida.
Pode-se nunca fumar um cigarro e morrer de cancro;
Pode-se nunca ter guiado um carro e morrer num acidente de viação;
Pode-se nunca ter bebido uma gota de álcool e ser abalroado por um bêbado.
A vida não é justa e eu também não.
Não se pense, contudo, que acho que nada vale a pena e que nenhum esforço tem resultado. Nada disso.
Se não fumasse, a probabilidade de cancro era menor como se atravessar sempre na passadeira a hipótese de ser atropelado diminui...ainda que mesmo tendo estes cuidados possa acontecer de qualquer maneira.
(não serão todas as religiões uma forma de tentar ordenar o caos? Além de outras coisas, claro.)
O que ainda não decidi é se isto liberta ou aprisiona.
Se conseguisse ser aquilo que imagino que deveria ser, seria sempre libertador.
Perceber que se pode fazer muito mas não controlar tudo haveria de permitir um exalar último e profundo, abraçando o ar que não se toca mas que se sabe estar lá.
E, ainda melhor, seria verdade e a verdade é sempre cool.
...mas não nasci no momento em que descobri ou julgo ter descoberto a racionalidade. Nasci muito antes. Demasiado antes.
Quando a (suposta) luz me encontrou, já muitas pedras tinham sido colocadas em cima uma das outras e já muito tinha acontecido. Já era uma pessoa. E uma pessoa de feitio especial.
Parvo mas continuo a tentar controlar.
Estúpido mas continuo a ter uma consciência.
(e agora, para compor o ramalhete, estou a ver o Million Dolar Baby, só para deprimir!)
Estive a ver, ainda que não de forma completa, o programa do José Gomes Ferreira que, desta vez, versou sobre a venda dos imóveis do Novo Banco a um fundo que, aparentemente, pertence ou tem ligações ao principal accionista do Banco.
...esta é uma das coisas que me faz desacreditar dos especialistas e comentadores das televisões e dos jornais: sempre que o assunto de que tratam está dentro daquilo que conheço - e nem precisa de ser profundamente - chego à conclusão de que de especialistas e conhecedores têm muito pouco...e fico a pensar as alarvidades que dizem sobre assuntos em relação aos quais nada sei.
O grande choque deste assunto foi a diferença entre o que os imóveis valiam e o valor pelo qual foram vendidos.
Pois bem, este negócio foi igual a tantos outros e o que os imóveis valiam não é, de facto, o que valiam na vida real porque, se fosse, o Banco tinha-os vendido...
O que se passa é o seguinte:
Os imóveis foram inscritos como tendo um determinado valor aquando da garantia para que serviram e para justificar o crédito que, entretanto, foi incumprido;
O magote dos imóveis é vendido, por atacado, pelo valor que alguém paga por eles;
O Banco encaixa dinheiro fresco e liberta provisões que tem cativas - i.e. dinheiro preso.
Quanto ao valor foi isto que aconteceu e acontece todos os dias.
O que poderia (e deveria, talvez) merecer ênfase seria:
1. quem é o fundo e quem é o seu dono (questão transversal que não serviria apenas para esta questão)?
2. será que porque o Novo Banco sabia que a diferença contabilísta e efectivamente recolhida seria compensada pelo Estado preocupou-se menos?
3. como se admitiu um acordo/venda nos termos em que o foi, especialmente considerando que, provavelmente, depois de tudo isto o Novo Banco ainda acabará nacionalizado?
Há mais perguntas a fazer, claro mas, uma outra vez, transversais.
Não se dará o caso de as avaliações dos bens que vão garantir um empréstimo serem feitas de forma a que correspondam ao valor que se quer mutuar?
Não se dará o caso de a cegueira de novos créditos e novos clientes (dois dos principais indicadores para a avaliação das acções pelo mercado) levar a um comportamento de Casino?
Eu sei, eu sei: é muito mais impressionante dizer que alguém comprou por metade o que valia o dobro mas ainda que seja impressionante não torna a questão digna de interesse.
Houve quem oferecesse mais e preferiu-se a pior proposta? Parece que não mas isso não interessa.
Foi para não vender por menos que o Novo Banco financiou a aquisição, tornando, assim, o custo de capital inferior para o investidor que, assim, pagou mais? Não se sabe...
Podem, chegado aqui, presumir que tenho uma qualquer preferência por bancos e banqueiros.
Não tenho.
Tudo que vem do Novo Banco cheira mal, incluindo este negócio dos imóveis...mas o principal problema não é o preço.
O principal problema é que, para o que escrevi, é que quem vem dar notícias ou é ignorante ou vende o interesse em benefício das audiências; devo confessar que acredito ser uma mescla de ambos.
A informação é nenhuma.
O sensacionalismo é o mais possível.
Para terminar, porque estou a ficar cansado, fico estupefacto com a superioridade com que os meios de comunicação social sérios olham para a CMTV, por exemplo.
Aceito que o ALERTA CM para uma unha encravada numa velha está um metro à frente do que os outros fazem. Mas só está um metro.
Para quem possa estar por fora disto, o Olavo Bilac foi contratado para cantar num jantar do Chega e, no fim, tirou uma selfie com o Ventura e a coisa pegou fogo; e pegou fogo de uma tal maneira que o Olavo veio pedir desculpa (?!) por ter tirado (ou permitido tirar?!) a tal fotografia.
Primeiro temos de ter em consideração que o Olavo é músico e foi ganhar o dele. Criticar alguém por ir ganhar o pão, especialmente numa época em que não há pão para músicos, é ridículo.
É sempre fácil criticar quem se sujeita quando se está de barriga cheia.
Moralistas. Detesto-os.
Segundo há que entender que se o Olavo fosse um apoiante do Chega seria lá com ele. À data, não consta que o Chega seja uma organização criminosa e nem que ande a organizar Festivais (olá, PCP) para ganhar o seu em prejuízo da saúde pública.
Mesmo que se aceitasse que o Chega é um partido racista (e não é um esforço muito grande para que se imagine que o seja...), ninguém teria nada que ver com o facto de um preto o apoiar; é certo que poderia considerar-se estúpido mas não vejo nem nunca vi a mesma intensidade de reacção para com, por exemplo, homossexuais que sejam católicos nem para ricos que se digam do BE ou semelhantes (não é, esquerda caviar?).
Terceiro o advento das redes sociais trouxe toda a ignorância à tona e, pior que isso, tornou a ignorância um monstro que se alimenta de si mesmo e é bem mais contagioso que o COVID.
Li - vou parafrasear e lamentar, sequer, ter lido - a Iva Domingos a dizer que nos países de esquerda não há criminalização da homossexualidade e mais uma quantas coisas deste tipo...seguramente, por contraposição a países de direita.
O que é um país de esquerda e um país de direita a Iva não diz. Por uma questão de raciocínio, vou imaginar que estaria a pensar em países fascistas ou fascizantes (correndo o risco de estar enganado, de momento o único que poderá corresponder a este tipo de estado será a Hungria e, se me quiser esforçar, talvez a Rússia...sendo que nenhum deles é, para mim, fascista).
O contraponto a estes países de direita teremos a China e a Coreia do Norte, por exemplo porque, podem correr e saltar, o contraponto do fascismo é o comunismo.
É possível - não sei o suficiente - que a homossexualidade não seja um crime na China nem na Coreia do Sul mas...
....bem, um dos problemas com que estes países de esquerda se confrontam é com a existência de campos de concentração (ring a bell?); na Coreia do Norte, seguramente, e na China quase seguramente.
Não desconsiderando o quão ridículo é criminalizar a homossexualidade, talvez campos de concentração sejam piores. O Gulag não era cool, pois não?
Mas tudo isto é irrelevante porque não é nem woke e nem progressista.
O que fica bem é cavalgar a estupidez sem perguntar de onde vem e tomá-la como certa.
O coitado do Olavo teve de papar o chaço de ir cantar a um jantar para ganhar uns cobres e, depois, de se desculpar por o ter feito para que possa ter mais uns jantares onde se alimentar.
Deixo-vos com isto.
Quanto ao Chega, não lhe tenho nenhum apreço. Não gosto do discurso e nem das idéias ainda que não considere um partido fascista, admitindo que pode lá chegar (não olvidando que o PC há muito é Comunista e isso nunca foi um problema).
Ainda assim...os Ciganos.
Terá o Chega razão na caça ao Cigano? Não, não tem.
MAS permitam-me isto: se a comunidade Cigana, acolhida ou nascida neste país, decidir implementar casamentos com crianças menores de idade, haverá de ser perseguida.
Não por ser cigana mas por ser criminosa.
Percebem? Isto não é racismo nem xenofobia.
É possível identificar um problema por ser contrário à sociedade e às Leis em que se insere sem que seja um problema de cor de pele.
Quanto a uma outra palhaçada.
Não considero isto racismo.
Admito que possa incomodar a etnia em questão ou elementos dessa etnia mas humor que não incomoda não é humor.
Agora....se não fosse o menino bonito da esquerda a fazer esta merda...
A fotografia do Olavo com o Ventura é mais ofensiva?! Mesmo?!
A primeira fotografia da minha filha que apareceu no Instagram tinha-a a ela e a mim como figuras, ainda que tenha sido colocada na conta da Mãe.
O motivo para isso foi simples: considerando que Mãe tinha-a apresentado à vida nesse mesmo dia (ou no dia anterior, não tenho a certeza), não tinha vontade de aparecer porque considerou que ainda não se encontrava restabelecida - mas estava. Ela estava linda antes da gravidez, continuou assim durante e assim estava depois.
Em termos simples, era a melhor fotografia que havia. Mas não só isso. Acontece que, felizmente, são também as suas duas pessoas favoritas.
A dada altura, disse-me que devia estar toda a gente à espera que fosse uma fotografia minha e dela mas levaram contigo.
Gosto de achar que entendo as pessoas, quer goste das suas reacções ou não, mas enganei-me quando perguntei será?!
Ora, hoje, pela primeira vez, uma pessoa com quem estivemos disse isso mesmo: estava eu à espera duma foto da Mãe e da menina e aparece o Pai e a menina!!
Em abono da verdade, esta apreciação nada teve de crítica ou julgamento. Foi apenas uma constatação daquilo que lhe parecia óbvio.
Ela tinha razão. As pessoas devem mesmo ter achado estranho...
...eu não entendo.
Levo as fotografias a sério e as minhas (as que tiro e que publico) têm como único intuito serem bonitas e interessantes; mais interessantes do que bonitas, até.
E, a esmagadora maioria das vezes, tão esmagadora que dizer todas não seria uma hipérbole mas apenas um muito ligeiro exagero, não me considero interessante e, por isso, quase nunca apareço.
Podia dar-se o caso de me achar feito. Não acho.
Podia dar-se o caso de ser tímido. Não sou.
Podia dar-se o caso de não me ter em boa conta. Mas tenho.
O que não tenho é a veleidade ou vaidade de pensar que sou o centro de tudo ou que o Mundo devia ficar agradecido por receber mais sobre mim tanto sob a forma de aparència como de pensamento.
Não devo ser eu a vender a minha importância e nem a minha inteligência.
...então, por que motivo é estranho colocar-se outra pessoa no centro daquilo que é nosso?
Por que motivo haveria Ela de evitar publicar a filha e o Pai para se colocar a si com a filha?
...acho que a maioria daqueles que nos rodeiam não entendem o que é Egocentrismo e muito menos Altruísmo. Talvez sejam, até, incapazes de perceber que há quem mereça mais importância na nossa vida do que nós mesmos.
Todos querem salvar os animais e acabar com a fome em África mas só depois de termos uma vivenda à beira mar e de nos saciarmos com caviar.
...mas o pessoal não se dá conta disto. O pessoal acha que basta dizer que se preocupa com o Mundo para parecer que se interessa e, verdade seja dita, se todos fizerem o mesmo é bem capaz de chegar.
Não sou gajo para desejar o mal a ninguém mas sou gajo para me importar menos - ou nada - com os infortúnios daqueles que entendo estarem a pedi-los.
...esta coisa da Ellen é um desses casos.
Além de não pertencer à demografia alvo do programa da Ellen, nunca gostei daquilo. Nunca gostei dela.
Achava o monólogo sofrível; achava as entrevistas paternalistas e, muitas vezes, desagradáveis para o entrevistado; achava aquilo de dançar apenas estúpido.
...e também não gostava dela.
Não via ligação emocional alguma - e o programa era SÓ sobre isso - e desconfiei da bondade em todas as esquinas.
Reparem: eu não vejo programas com epifanias e lições de vida e merdas; não preciso de esperança fácil nem de exemplos de papel para criar moldes para a forma como encaro os dias. MAS a rainha destas cenas era a Oprah e a Oprah conseguia uma ligação e empatia que a sua versão OMO nunca atingiu.
Aqui, permitam-me mais honestidade:
farto-me de dizer que as pessoas com imenso sucesso não são o que se pode chamar de boa pessoa.
É só ver o documentário do Michael Jordan; É saber como funcionava o Schumacher; É entender como trabalha o Mourinho; É estudar o que fazia e como fazia o Jobs e por aí fora.
Por isso, ainda que considere a Oprah mais genuína e mais bem intencionada, não tenho qualquer dúvida que a gente que trabalha para e com ela tem de andar na linha e as pessoas que põe as outras na linha não são o que há-de considerar impecável.
Então, obviamente, não lhe levo - à Ellen - a mal ter rédea curta nas gentes e não ser apreciada por isso.
MAS...
a Ellen beneficia (agora, não antes, claro) da sua orientação sexual e passava uma mentirosa imagem de ser super woke.
A Ellen faz parte integrante e entusiasta do believe women e de todas as modas extremas de pseudo-igualdade e pseudo-bondade e pseudo-liberal.
...e, agora, a cancel culture que alimentou virou-se contra ela. E ainda bem.
Quando o karma funciona, o destino da Ellen é o destino de todos os moralistas.
É-me muito fácil esquecer as coisas boas ou as felicidades em detrimento do que há a melhorar e do problemas que precisam de ser resolvidos; esforço por ser o gajo que pára para cheirar as flores mas a minha natureza é de seguir em frente e não lhes ligar muito.
Há sempre um livro para acabar, por exemplo. Não tanto para ler mas para acabar. Tudo é missão. E ainda que haja claras vantagens em encarar tudo como um trabalho a ser concluído há também desvantagens...e uma delas é não apreciar o caminho porque só vejo meta.
Tudo isto, até aqui e daqui prá frente, por causa dEla.
Ela faz, por mim, algo de admirável e muitíssimo raro: aceita-me como sou.
Não é que não tente ajudar-me a ser uma pessoa melhor; não é que não saiba quais os meus defeitos (e não sofra com eles); não é que não perceba o que me torna insuportável para muitas e variadas pessoas; não é que não entenda que a vida seria mais fácil se algumas das minhas características fossem amansadas...
...mas aceita-me e nunca me tentou mudar.
Na verdade, esforço-me muito mais por ME mudar (mesmo que sem sucesso) do que Ela em mudar-me.
Pá...tu és assim. Não vale a pena sofreres com isso. Se fores diferente também és outra pessoa e não me apaixonei por outra pessoa (parafraseado).
Deve ser Amor.
Eu sinto-me Amado.
...fico, de vez em quando, com peso na consciência por não poder fazer mais do que o que faço.
...e esforço-me muito por aceitá-la como Ela me aceita a mim mas, por ser como sou e não como devia ser, não consigo.
Encaro-a como me encaro a mim: um trabalho em desenvolvimento. Mas, ao contrário dela, também o melhoramento - ou o que eu acho ser um melhoramento - da outra pessoa é uma missão; e como em quase tudo o resto...a bem ou a mal.
Percebem o que torna tão raro aceitarem-me?
Bem, se forem tão honestos como eu estou a tentar ser, sabem tão bem como eu que apesar de se ler e ouvir dizer que se aceitam ou outros como são e merdas do tipo, isso não é verdade. Somos demasiados egoistas para aceitar os outros como são.
Queremos sempre que sejam o que são mas apenas na medida em que não cheteia. E isso não é aceitar.
Ela aceita-me. Mesmo quando chateia. E isso é muito raro.
É uma coisa demasiado ternurenta para não me sentir um bicha quando penso nisso.
Não tenho por hábito sentir-me culpado por não corresponder ao que é suposto.
Um dos motivos para isso é que não sinto dever nada a ninguém. Não tenho nenhum interesse em impressionar os outros.
Outro dos motivos é que não confio no que as pessoas dizem. Sempre foi assim mas piorou com o advento das redes sociais; quantos estão a viver a vinha com que sempre sonharam, ontem, e deram um tiro na tola - ou equivalente - hoje.
...e voltou, mais ou menos, a acontecer agora.
Por causa do COVID, quando fui à primeira ecografia depois do estado de emergência estava um matagal de gente indignada porque a ecografia seria apenas com a futura mãe e sem o futuro pai e não estavam a permitir a visita dos pais aos recém nascidos.
Estava no meio desta gente mas não como esta gente; aceitei, relaxado, não poder assistir e pareceu-me justo não admitir a visita a recém nascidos. O que interessa não é a minha alegria nem bem estar mas antes a saúde e segurana dElas.
Quando a minha filha nasceu não dei por ter ficado feliz como se ouve e escreve por todo o lado. Não vi a luz. Não achei que agora conhecia o que era o amor. Não passei a sentir o coração a bater-me fora do corpo.
O que senti foi um alívio imenso por Ela ter saúde e todos os dedos. Senti um imenso alívio porque Ela (aqui, a minha mulher) estava bem depois do parto.Alívio. Não felicidade.
Com o passar dos dias - ainda não se passaram muitos - estou, agora, a começar a ultrapassar a preocupação. Começo, agora, a deixar a realidade do que está a acontecer abraçar-me sem que esteja, apenas, preocupado.
E preocupado porquê?
A alteração de paradigma é óbvia e comum. Nada tem de especial. Mas eu não sou como os outros.
Porque não culpo ninguém por nada do que me acontece, sinto o peso de toda a responsabilidade de uma forma muito intensa. Tão intensa que não aprecio. Agora, tudo depende de mim, ainda que seja óbvio que não depende tudo de mim. Não estou sozinho nisto.
Sem desligar do que escrevi, assumo todas as minhas decisões e quase nunca sofro por causa das consequências; ou seja: as minhas decisões estão longe de serem perfeitas mas só me dói na pele a mim por isso, não me queixo e só pago. Para a próxima farei melhor, se der mas, agora, não acho que possa fazer isso.
A anestesista veio visitar a menina e perguntou-me como me sentia.
Respondi preocupado. Era verdade. É verdade. Independentemente disso, não paraliso e faço o que tenho de fazer por Elas e com Elas...mas estou preocupado.
As médicas - TODAS médicas - não aparentam simpatizar muito comigo. Isto achei, relativamente, estranho.
Suponho que por serem as especialidades que são, tentam ser menos analíticas e esperam que os pacientes o sejam também...mas eu nunca fui para uma consulta de nenhuma especialidade falar de sentimentos...
Queria saber números e dados e expectativas. Caguei, sempre, para as ecografias a 4D e em saber se era rapaz ou rapatiga e, depois, com quem era parecida.
Peso? Posição? Tamanho? Batimento cardíaco? Expectativa de nascimento? É melhor parto normal ou cesariana?
...mas acho que não apreciaram. Ou o produto que estavam a vender não ia ser comprado. Ou pensaram que eu era um sociopata.
(a pediatra, comigo presente, discorreu sobre como Ela precisava de ajuda e que toda a atenção seria para a criança e não devia pensar em arrumar ou cozinhar. Estava, claramente, a dar-me um recado e, pareceu-me, esperava uma qualquer reacção da minha parte que não teve. Não lhe devo explicações nenhumas e não lhas ia dar mas Ela, por ser melhor pessoa que eu, decidiu dizer-lhe não se preocupe com isso. O K faz tudo e sempre foi ele que cozinhou. O K muda fraldas e tudo o resto.
Não me ofendeu que ela pensasse que eu não fazia nenhum, deve ser mais ou menos comum. E, a juntar, porque não estou a trabalhar, ando sempre de calções e, estando a trabalhar ou não, a minha barba é muito mal amanhada. Presumiu que além de ser como os outros...se calhar ainda era pior porque...pareço saído das cavernas.)