Saturday, June 29, 2013
Desde cedo me dei conta de que as pessoas deixaram, em larga escala, de entender um comentário como apenas isso mesmo: um comentário.
Como não sou tão diferente da maioria como às vezes gostaria, também fico incomodado quando me sinto atacado e quando me parece que a opinião transmitida não é o fim em si mesmo mas antes um meio para, de forma encapotada, atacar, ferir ou insultar.
Felizmente, desde o fim da adolescência (sendo que a minha durou até, talvez, um pouco menos do que o meio dos 20s) deixei de sentir tudo como ofensivo apenas porque discordante.
Vamos então aos círculos...eles mesmo meio adolescentes.
Há muitos motivos para procurarmos quem concorda connosco. Desde a vontade de ser aceite passando pela validação de que somos inteligentes e admirados por essa inteligência. É uma coisa entre a vaidade e a insegurança e isso nada tem de mal, faz parte da carne. O problema é quando não é ultrapassado.
Aprenderemos sempre pouco com quem partilha a nossa visão e quanto mais próxima for essa partilha menos aprendemos.
São as visões diferentes, às vezes antagónicas, que permitem a questão e é a questão que ajuda a eliminar a dúvida e é a aliminação da dúvida, uma a uma e que em seres inteligentes é um stock ilimitado, que se aprende.
Por exemplo:
Ontem vi o América Proibida, um dos meus filmes favoritos.
Gosto do elenco, gosto da história e gosto da visão que é dada (há momentos preciosos como, por exemplo, o preto que se torna amigo do nazi lhe diz não te esqueças que na prisa o preto és tu ) mas há algo que é indesmentível:
Não se converte um nazi numa pessoa normal num dia; não se pode desculpar tudo por causa da raça (seja ela qual for) nem da situação sócio-económica (seja ela qual for); nem todos os pretos que são presos o são por conta de uma maquinação; a raça pode ser uma vantagem como aconteceu com o OJ Simpson.
E isto é meramente exemplificativo.
Eu vejo o filme, eu gosto do filme, eu concordo com a mensagem... mas eu sei mais coisas, mas eu sei que o filme é faccioso.
Compreender não é desculpar.
Friday, June 28, 2013
Gente Perdida
Há um erro muito comum entre pessoas bem sucedidas e quando digo bem sucedidas enterro aqui, a custo, as celebridades que o são por nenhum outro motivo do que serem celebridades (há uns tempos vi um estudo que o que os jovens mais querem ser é famosos...triste mas verdadeiro, como a música dos Metallica).
Esse erro é perderem-se no seu próprio mito, mito esse de criação própria ou alheia. Uma mistura de sobranceria com cogumelos onde os cogumelos são o que os outros dizem deles e a sobranceria a crença de que são assim tão especiais.
Case and Point: Lance Armstrong!
Admirei e admito o Armstrong por ter vencido um cancro agressivíssimo e, a acrescentar, ter vencido 7 Voltas a França. Foi dopado, é evidente agora como era evidente na altura, mas ainda assim ganhou, dopado como os outros ou ainda mais, depois de ter vencido a doença.
Esta história seria sempre inspiradora...caso o Armstrong não se revelasse a besta que se revelou...o que era evidente na altura e agora também.
Não fosse a destruição de pessoas e carreiras, o insulto gratuito a tudo e a todos e a soberba de quem se acha muito mais e muito melhor e ninguém o veria, como vê agora, como o maior flop do desporto. O que ele não é!
Há coisas que as pessoas não aprendem: Não é o erro e o encobrimento!! E quanto mais agressivo o incumprimento, pior!!
Por exemplo: alguém, além dos Republicanos, quer saber que uma estagiária fez um bico ao Clinton?! Evidentemente, não.
Agora, alguém se interessa pelo facto dele ter mentido com todos os dentes a respeito?! Evidentemente, sim!
Case and Point: André Villas-Boas!
Eu gosto do André Villas-Boas. Acho-o educado, inteligente e simpático...mas já não o acho muito diferente dos outros bem sucedidos. Como eles, pode ser uma besta ainda que o não pareça e ainda que o seja apenas a tempo parcial.
Este fim-de-semana que passou, ele participou numa corrida amadora na Boavista juntamente com outros desportistas, políticos e afins. Todos levaram a coisa na desportiva menos ele.
O Villas-Boas fez uma ultrapassagem completamente assassina que beneficiou do facto do outro piloto não querer tornar a coisa triste e mandá-lo contra um muro (o que deveria ter feito); depois, na cegueira de perseguir outro, foi, de lado contra a vedação lateral.
Antes da corrida, o tipo foi o ser que sempre mostra ser: simpático, inteligente e tal. Depois da corrida foi esse mesmo tipo, novamente...o problema foi no meio!!
Não o comparo com o Lance de maneira nenhuma. Não o acho uma besta nem sequer um gajo enredado no próprio mito. O que digo é que, como todos os tipos que chegam ao topo, há momentos de comer sem contemplações nem amizades nem regras e isso mostrou-se, até, numa corrida solidária.
Há mais, muitos mais...mas por agora é isto.
Paul Theroux
Há uns tempos devo ter escrito alguma coisa sobre ele porque andei a ler todos os livros de viagens a que consegui deitar mão.
Devo, também, ter feito apologia à forma como ele viaja porque, medidas as distâncias (que são gigantes), é parecida com a minha mas não é disso, em específico, de que me apetece falar.
Quando li os livros do Theroux, mais especificamente o da viagem por África por ter sido o primeiro, senti que havia ali coisas com as quais concordava em absoluto, porque também as vivi, mas que via como um falhanço ou algo que não queria partilhar. Não tanto porque tivesse vergonha mas porque, por educação e feito, acho que o sofrimento e a desgraça deve ser digerida em solidão ainda que não entenda nem uma coisa nem outra como uma vergonha, como disse, e encoraje a que as pessoas se partilhem.
A primeira viagem que fiz sozinho senti-me só, a espaços. Não só nos termos em que me agrada, ou seja, quando o escolho, mas só porque não tinha ninguém comigo. É uma espécie de angústia porque somos animais sociais, ainda que uns mais do que outros (há uns dias uma amiga dizia-me que acreditava na vida alienígena e respondi-lhe que preferia não pensar nisso até porque já há gente a mais por aqui). Detesto coisas como a angústia porque me fazem sentir a perder mas, independentemente de gostar ou não ela estava lá.
Theroux padece do mesmo nas suas viagens e suponho que todos os que as fazem nestes termos sofram do mesmo mas encarava tudo isto como parte integrante da coisa...e eu, sem saber, fazia o mesmo porque se entendesse como sofrimento deixaria este martírio de lado, por falta de talento para mártire, e nunca o fiz.
Viajar sozinho é a melhor maneira de viajar e, se descontarmos turismo, é a única maneira de viajar.
Foi refrescante e libertador ver alguém explicar com naturalidade o que me custava aceitar. Empatia pura sem qualquer contacto prévio e sem a menos vontade de contacto futuro.
Afinal, nunca se saberia o que é o doce se nunca houvéssemos provado o amargo.
Wednesday, June 26, 2013
Câmara do Porto
Reconheço, desde o início, o mérito de Rui Rio enquanto presidente da câmara do Porto. As suas qualidades são óbvias mas, como é frequente em casos destes, também o são os seus defeitos.
Dentro das qualidades, parece-me um homem sério e pouco atreito a tachos. Posso estar enganado mas não me parece e, nos dias de hoje, escrever sério sem ironia quando se descreve um político é o mesmo que atribuir uma medalha de honra.
Dentro dos defeitos, possui uma teimosia e uma limitação de visão que tem pouco paralelo. Foi-lhe impossível distinguir, por exemplo, o que é a subserviência ao futebol e a justiça que lhe é devida. Não há nenhuma marca do Porto (sendo certo que o vinho só lhe tem o nome e nem as caves cá se encontram) tão forte e benéfica como o FCP. Nenhuma. É inadmissível que o clube que mais do que pluri-campeão nacional foi campeão Europeu e vencedor, por duas vezes, da Taça Uefa não seja recebido, em júbilo, pela câmara a que pertence. Não me esqueço, também, que quando a baixa começou a ser revitalizada à custa dos negócios nocturnos que lá foram pulular a primeira intenção do Rio foi acabar com a brincadeira. Quando percebeu que a coisa ia bombar, fingiu que apoiava e cavalgou a onda que pretendeu matar.
Então, e agora?
Jamais votarei Menezes. JAMAIS!
Nunca votarei no arquétipo do político que nos trouxe até aqui.
Nunca votarei em ninguém que tenha o apoio de Miguel Relvas.
Em abono da verdade, há uma coisa em que Menezes é incomensuravelmente melhor que Rio: Menezes tem visão!
Jamais Menezes criaria a tensão que se criou com o FCP e jamais pretenderia matar uma dinamização que muito faria e fez pelo Porto.
O problema é que a medalha de seriedade lhe fica mal. O mal é que pediu um parecer para comprovar que podia candidatar-se a outra câmara (sim, era um parecer com resultado a pedido) e foi a Câmara de VN Gaia que o pagou.
O problema é que mais que não criar tensões com o FCP lhe é subserviente, daí ter lá nascido o centro de estágio.
Acho, por exemplo, que o Rio seria um bom Ministro das Finanças mas nunca um bom PM. O que lhe sobra em merceeiro (sem qualquer tom pejorativo, é imprescindível alguém que controle contas) falta-lhe em visão; falta-lhe ver mais do que números; falta-lhe resistir a esta coisa moderna de tudo ser calculado em euros.
Isto pelo Porto está tão difícil como em todo o País. Difícil...
Não encontro escolhas óptimas e doi-me ter de ir atrás do clássico mal menor.
Não voto Menezes. Não voto Comunistas. Não voto espantalhos que desconheço.
Vai-me sobrar o Rui Moreira... e isso não me deixa excitado!
Manifs no Brasil
Nunca pensei ver tal coisa!
Não me refiro às manifs em si nem às cenas, ainda que, de alguma forma, marginais, de violência que se vão vendo.
O que nunca pensei ver era o povo brasileiro a dizer, alto e bom som, que não queriam saber da copa para nada! Que o que os preocupava eram as escolas e os hospitais, por exemplo, e não estádios de futebol ou coisas do género.
É uma manifestação de cidadania impensável há, por exemplo, 5 ou 6 anos atrás e, para mim, impensável agora, em 2013, se me dissessem que ira acontecer.
Estas manifestações resultam, na minha opinião, do alargamento que sofreu a classe média, o motor de mudanças em todos os regimes e em todos os países. O emergir de uma classe que entende o seu papel e que deseja lutar para que lhe seja proporcionado aquilo que entende (e é) seu por direito.
Esta maravilha da cidadania, contudo, terá um peso muito negativo em outras partes do globo. Este tomar de posição legítimo será um alerta para muitos lugares que se encontram mais perto ou mais longe de dar à luz uma classe média.
À cabeça, lembro-me, por exemplo, da China.
Depois de ter visto a pujança brasileira a nomenklatura chinesa tenderá, naturalmente, a reprimir mais, a constranger mais, a permitir menos.
Para que a China continue a crescer ela vai precisar de uma classe média que é, ainda, embrionária mas essa classe média será, como sempre é, a génese da tempestade que se abaterá sobre o Poder.
Os poderes chineses terão, mais cedo do que mais tarde, de decidir se querem a pujança económica ou o braço de ferro com que governa a sua população.
Tendo a achar que optarão por menos economia para manutenção do poder.
O mesmo se poderá dizer de outros países tais como Angola ou a Rússia. Enfrentarão as mesmas questões e, enquanto conseguirem, tentarão a mesma solução de repressão.
É extremamente interessante como a alforria de uns vai ser ou é o aviso à navegação para que se impeça a de outros.
Os movimentos são inelutáveis e acabarão por vencer, como a história nos ensina. Quantos corpos ficarão pelo caminho é uma outra questão.
Saturday, June 22, 2013
Funcionário Públicos
Nestes tempos de discussão quanto ao execesso ou não de FP, do drama de aumentar o desemprego e de toda esta desgraça que nos rodeia, tendo a ser sensível ao desespero de despedir um sem número de pessoas.
Infelizmente, depois deparo-me com a realidade e tudo se torna muito mais nebuloso e complicado.
Como milhões de portugueses deparei-me com a questão do IUC e como milhões de portugueses vi os FP queixarem-se do abalroamento de cidadãos.
Como entendo que o IUC não é devido, da minha parte, apesar de ter poucas esperanças que a Autoridade Adoaneira venha a concordar comigo, elaborei um requerimento para apresentar a minha reclamação e, porque tinha tempo e o correio está caro, decidi entregar em mão na repartição das finanças competente.
O que aconteceu, com a brevidade possível, foi o seguinte:
Entrei e tinha um funcionário a distribuir senhas. Questionado se pretendia pagar ou dirigir-me à parte de contencioso, optei, naturalmente, pela segunda. O meu número era o 4 e, no mesmo momento, o de pagamento era o 26.
Havia 16 balcões, julgo, e estavam activos, às 9 horas da manhã, quando abriu, 6, sendo que dessas 6, 3 estavam à minha frente.
Uma delas conferenciou com a que estava ao lado durante algum tempo.
A da ponta, apesar de lá andar, atendeu 2 pessoas numa hora e conferenciou com um gajo que veio de lá de dentro.
A que estava à minha frente conheceu a sua fincionária às 9.21 mas por pouco tempo; esta funcionária ligou o computador, arrumou os agrafadores, cortou uma folha A4 em duas e mandou-se novamente, voltando 16 minutos depois para, pasme-se, atender uma pessoa e raspar outra vez.
A que estava à minha esquerda atendeu duas pessoas e nunca mais a vi.
Agora, a puta da loucura!
A que me atendeu (lembre-se, eu era o número 4!) demorou cerca de 45 mins a atender os 3 anteriores.
Enfim, poderia fazer sentido porque as coisas poderiam (na verdade não poderiam...) ser muito complicadas e as pessoas muito chatas. Mas não, seguramente não foi isso.
Como disse no início, fui entregar um requerimento. Para quem não sabe, entregar um requerimento consiste em dizer Bom dia, queria entregar o requerimento e gostaria que me carimbasse a cópia para comprovar a entrega (sendo desnecessária a segunda parte mas...); feito isto, a mulher deveria pegar no requeimento e guardá-lo, pegar na cópia, carimbá-la e entregar-ma. No limite, diria Bom dia e obrigado, como eu fiz quando recebi a dita cópia.
Nada disso!
A entrega demorou 11 minutos!! 11!!
Pegou e foi para outro computador; uma vez que o outro computador não deve ter dado a resposta pretendida, foi a um armário buscar uma pasta qualquer; também a pasta se recusou a responder; na falta de resposta do computador e da pasta, foi para dentro procurar a resposta noutro lado; voltou de lá de dentro, suponho, com a resposta, carimbou a cópia e entregou-ma.
É a puta da loucura!! Se sem ter nada a que responder e nada a perguntar demora 11 minutos...
Poderiam dizer que ah e tal, cada um está para o serviço que está e se não há contribuintes para ele a gente ficámos paradas! Imbecilidade!
A gaja que me atendeu (lembre-se, para contencioso) imprimiu referências para IUCs dos que se iam queixar mas que terão ficado convencidos.
Se não há nada para fazer ou se já tomaram demasiados cafés ou se já discutiram se deveria sair a Fanny ou o Kapinha, porque não seguiram as senhas para imprimir (IMPRIMIR!!) referâncias para os que aguardavam e, por esta via, teriam de aguardar menos?!
Foda-se!
Uma hora e meia deste desatino fez-me sair a pensar Foda-se, despeçam-nos todos. Pó caralho!!
Wednesday, June 19, 2013
Turmoil
Há bastante tempo que tento evitar os telejornais e as mais das vezes consigo fazê-lo.
Apesar de não dispensar as notícias comecei a sentir que faria pouco sentido pôr-me a par delas enquanto janto (ou imediatamente antes); é indigesto!
Muitos dirão, com alguma razão, que é o mundo que temos e que não vale a pena escondermos a cabeça na areia, sob pena de nos crescerem as pernas e ganharmos penas; outros, em contraste, acham que faltam notícias positivas que nos levanten a moral mas lições de moral são muito chatas.
Eu quero saber a realidade mas dispenso-na durante a hora que estou sentado à mesa. Para alguma vergonha minha, mas não a suficiente para que a esconda, tenho a televisão sintonizada, quase sem som, na Guerra dos Sexos enquanto janto. Faz barulho de fundo e tem gajas boas. E às vezes até me faz rir.
Mas, como diria o optimista ao pessimista quando este diz que as coisas não podem ficar pior, podem podem!
A coisa está em fogo na Síria, na Turquia, no Brasil, no Iemen e supõe-se que o estejam também na Síria e em mais, talvez, uma dúzia de países Africanos. Mas como nos países Africanos a coisa é regular, liga-se menos (como à Coreia do Norte que, de um momento para o outro, desapareceu do mapa noticioso).
Dos países que enunciei pelo nome, a Turquia e o Brasil são caso, actualmente, de sucesso económico. Interessa? Nada, tudo a ferro e fogo.
Se acompanharmos o noticiário de fio a pavio vamos encontrar Peste, Guerra, Fome e Morte. Não falta um único cavaleiro.
Não acho que só agora assim seja, até é possível que em média histórica esta seja uma época em que cada um dos Cavaleiros seja menos actuante (é possível!) mas é, também, a época em que têm mais tempo de antena.
É como a cena da segurança. Há uns tempos vi um estudo em que os Portugueses eram dos tipos com mais sentimento de insegurança e viviam, ao mesmo tempo, num dos países com o menor índice de criminalidade.
Por conta da empolação, que sei que existe, tendo a acreditar que as coisas não são nem estão tão más como parecem, até porque, se estiverem, tá tudo fodido e sem salvação.
Talvez opte por me crescerem as pernas.
Tuesday, June 18, 2013
A Virtude ao Meio?
Não é a primeira nem a segunda vez que ouço fazer um paralelismo quanto ao estado em que nascemos e aquele em que morremos, partindo do princípio que chegaremos a velhos.
O Bnjamin Button foi pouco subliminar nesta imagem ao nascer velho com todos os problemas da velhice a ao morrer bebé com todos os problemas dos recém nascidos que em muitos casos se assemelham, por exemplo no que concerne à incontinência.
Não sei até que ponto concordo com isto em termos fisiológicos mas em ambos os casos aceito certas características pessoais como inevitáveis. Ora porque é muito cedo ora porque é muito tarde.
Vou-me dar como exemplo.
Quando era miúdo padeci de problemas de homofobia, xenofobia e até de algum racismo.
Quanto à homofobia percebi que era uma afirmação vazia de masculinidade e de incapacidade de perceber que não temos de detestar diferenças; quanto à xenofobia foi uma coisa mais de manel vai com as outras, a dado momento dei-me com gente que, sei agora, pertencia à extrema direita ou, talvez para ser cool, fingia ser essa a sua crença; o racismo já foi diferente: nunca tive nada contra pretos por serem pretos mas fui martelado durante muito tempo, em todo o lado, pelo preconceito de que eles eram menos inteligentes do que nós, os branco.
Ultrapassei tudo isto.
Deixei de me sentir menos macho por me ser indiferente quem dá o que é seu a outra pessoa;
Deixei de ser xenófobo porque eu não passaria a ser uma besta quando atravessava a fronteira para Espanha e, por isso, o inverso será necessariamente verdadeiro;
Deixei de ter ponta de racismo porque aprendi que as pessoas - TODAS - são resultado do meio ambiente e do historial que, neste caso a raça, lhes marcou.
Voltemos, então, à cena dos novos e dos velhos.
Quanto ouço miúdos com ideias parvas acho normal. Desde aquele sentimento de revolta sem fundamento à vontade de ser diferente que os conduz a serem, na verdade, iguais porque querem ser aceites.
Os miúdos crescerão com o passar dos dias e, se tudo correr bem, aprenderão coisas que julgam no presente inimagináveis, como me aconteceu a mim e tenho a certeza que a muitos outros como eu.
Quando ouço os velhos com ideias parvas a questão é diferente. Não tenho a esperança que tenho nos miúdos, porque as raízes são mais profundas, e aceito, sem problemas, que eles serão assim sempre. Já não vão a tempo de mudar.
O meu problema é com os adultos que ainda não são suficientemente velhos para serem velhos mas também não são suficientemente novos para serem novos.
Sinto que não aprenderam o que deviam, não são os seres humanos que deviam, não são tão inteligentes como julgam e não acrescentarão nada de novo aos seu filhos e muito menos aos filhos dos outros.
Nas crianças temos esperança.
Nos velhos temos resignação.
Nos adultos é só triste.
Sabedoria no Feminino
Já devo ter escrito sobre isto por aqui mas não há-de ter sido há pouco tempo.
Uma antiga namorada minha (o clube é mais restrito que o mile high) disse-me uma vez que só me via feliz um bocadinho antes, durante e um bocadinho depois, referindo-se, claro, ao acto de a malhar ou de ser malhado.
Ri-me quando ela me disse isto (não muito para não correr o risco de parecer feliz) mas, quando pensei posteriormente na afirmação acabei por achar que ela tinha mais ou menos razão. Não é uma verdade absoluta porque também fico feliz quando o Porto ganha ou quando janto divinamente mas será, digamos, uma verdade relativa.
Não sou um gajo satisfeito, por natureza.
Não sou dado a felicidade, não sou dado a rir-me por coisa pouca e sinto um intenso vazio que não me parece preenchível.
O pior de tudo, ainda assim, é que não é um vazio perene; quer dizer: imagine-se que eu sentia o tal vazio porque não tenho mulher/namorada ou afim. Quando arranja-se mulher/namorada ou afim o vazio não seria preenchido, limitar-se-ia a mudar de localização e a alterar o seu apetite.
Isto aconteceu-me a vida toda e começo a perder a esperança de que mude.
Mas vá lá!
Se continuar a sentir-me feliz um bocadinho antes, durante e um bocadinho depois será sinal de que, pelo menos, ando a malhar o que, por si só, é muito positivo!
Monday, June 17, 2013
Justiça Impossível
Já terá acontecido a toda a gente ter feito o que se não devia a fazer a quem não merecia que o tivesse sido feito.
Este tipo de situações são das mais dramáticas para mim, por isso tenho um especial cuidado para que não se cruzem na minha história.
Tendo a pensar uma e duas e três vezes quando aos alvos da minha irritação e à culpa que estes têm em sofrerem com ela.
É algo que me incomoda tanto que por vezes lembro-me de coisas que fiz e disse há anos atrás e não consigo evitar um esgar visível de dor e uma sentimento invisível de profundo nojo por não ter conseguido evitar injustiças deste tipo.
Infelizmente, nem sempre se consegue evitar mesmo para quem faz disso uma espécie de missão de vida, como eu.
No meu caso, é uma situação semelhante ao wiskey a mais que tomei numa determinada noite; posso tomar vinte ou trinta mas normalmente consigo identificar aquele que ultrapassou o limite, a unidade que excedeu...apesar de depois disso não ter parado.
Para pessoas que não consigam, porque felizmente nunca a viveram, entender o exemplo acima a forma mais simples de o ilustrar é a gota que faz transbordar o copo ou o balde. O mal não foi apenas daquela gota mas foi ela a responsável pelo limite ter sido ultrapassado.
É fodido.
É uma perda de controlo.
E eu odeio perdas de controlo.
Saturday, June 15, 2013
Snobismo
Acho que não padeço do mal de ser snob mas não posso jurar porque é daquelas coisas que se vê melhor de fora. Aceito, ainda assim, que de tempos a tempos o posso parecer porque de tempos a tempos fico irritado e nessas alturas sou tudo de mal que pode haver no mundo.
Podia utilizar milhões de exemplos mas vou ficar-me pela música.
Para muita gente é absurdo alguém gostar de Toni Carreira ou de Britney Spears ou de Rihanna ou de George Michael ou de Muñoz e Mariano ou de tudo que a este tipo de cantores se assemelhe. E é absurdo por várias razões, algumas delas até justas, mas a principal delas é que muita gente gosta de os ouvir cantar e isso será um dos maiores crimes que um cantor pode cometer!
(Há uns anos, aquando do sucesso, perguntaram ao Ben Harper o que ele achava da desilusão dos fãs mais antigos que acharam que ele se tinha vendido ao tornar-se comercial. Ele respondeu que não percebia porque a única diferença, na música dele, entre o antes e o depois era que agora tinha mais gente a ouvi-lo e não achava que tivesse de pedir desculpa porque teve a sorte de começar a passar na rádio.)
Há, ainda assim, dois tipos diferentes: os que não gostam porque acham pobre musicalmente (o que vale para, por exemplo, o Munõz e Mariano mas já não para o George Michael) e aqueles que os acham pimba e meramente comercial (poderia dar exemplos disso e do seu contrário como fiz anteriormente).
Ainda assim, o crime é o maior número de gente que os ouve e isso faz com que a minoria (pretensa porque ouve a mesma coisa mas imperceptivelmente) não se sinta especial.
Para mim, há música boa e música má, só e apenas.
Off Topic mas ainda relacionado:
Ontem fiz isto:
Perguntei a um amigo se gostava de Rihanna e de Britney Spears sabendo que a resposta ia ser, como foi, negativa.
Em seguida, mostrei-lhe, no Youtube, o Hit Me Baby One More Time (Spears) cantado pelos Travis. Como não identificou a música, gostou.
Depois, mostrei-lhe o Please Don´t Stop The Musica (Rihanna) cantada pelo Jamie. Como não identificou a música, gostou.
A diferença das covers para as originais nem sequer é grande. O ritmo até pode ser diferente, bem como a execução, mas a melodia é a mesma e, obviamente, também as letras o são.
As pessoas ouvem o que querem ouvir e não o que está a tocar.
Thursday, June 13, 2013
Use Your Words!!!
Nem sempre conseguimos usar palavras para descrever o que se passa.
Umas vezes será por incapacidade linguística outras será por desconhecimento e ignorância.
Durante a esmagadora maioria da minha vida - até agora - sempre tive um estômago de ferro! Comi e bebi aquilo que me apeteceu sem problemas aparentes. Outras pessoas não tiveram a mesma sorte que eu e sempre ouvi falar de coisas como azia e afins, tanto pessoalmente como por via de anúncios de tv ou outros meios de comunicação.
Certo dia (em Ponte de Lima, não me esquecerei) acordei muito mal disposto e com uma sensação absolutamente desconhecida... quando a tentei descrever a quem comigo estava disseram-me que era azia e, naquele momento, tomei contacto e conheci na primeira pessoa esse mal estar de que tanto havia ouvido falar.
Não desconhecia a forma de expressar aquele sentimento, desconhecia o sentimento por completo.
Isso aconteceu, acontece e, quase de certeza, acontecerá muitas mais vezes.
Umas vezes não queremos mas outras não sabemos.
Tuesday, June 11, 2013
O Mundo é Pequeno
Mais pequeno que o Mundo é Portugal.
Este fim-de-semana numa conversa absolutamente inofensiva descobri que uma amiga minha estaria grávida, uma daquelas pessoas que apesar da passagem do tempo e da falta de contacto regular é, ainda assim, minha amiga.
A estranheza de eu desconhecer este facto é, ainda assim, a menor. A maior é que quem me deu a notícia desconhecia que ma estava a dar porque não fazia ideia que eu conhecia a tal pessoa e nem eu imaginava que estava num jogo parecido com os seis graus de Kevin Bacon.
Mais tarde nessa noite mandei uma mensagem para saber se, de facto, existia uma gravidez que desconhecia.
Não existia, já tinha acabado. A criança já havia nascido.
Tudo bem, pensei eu. As coisas acontecem e dei os parabéns.
A coisa não tinha acabado.
Perguntou-me a recente mãe que mais eu sabia e não estava a dizer. Nesse momento comecei a imaginar que havia sido um parto difícil, que a criança padeceria de uma deficiência qualquer, que, que, que...mas não fazia ideia. Na verdade, como lhe disse, nem sequer sabia que a criança já tinha nascido pelo que laborava em notícias antigas e nada mais sabia.
Pelos visto, além da maternidade, tinha-se divorciado e além de se ter divorciado tinha mudado de latitude e além de ter mudade de latitude a dela agora era muito próxima da minha.
Senti que tinha metido a pata na poça e, caso não fosse uma metáfora mas antes uma realidade, ter-se-ia ouvido o meu queixo a arrastar-se pelo chão.
Assim, além do mundo ser pequeno levamos com muito mais informação do que a quer esperávamos e eu detesto ser apanhado de surpreso (sendo certo que ela deve ter detestado mais divorciar-se e tudo o resto).
Que nunca se pergunte nada quando não se sabe, à partida, qual será a resposta.
Friday, June 07, 2013
Tecnocratas
Dependendo do período em que nos encontrarmos, podemos aperceber-nos que umas vezes os tecnocratas são queridos e outras vezes não. É indiferente quem são, apenas interessa, para o caso, o perfil em questão.
Quando ainda estava o Sócrates a governar houve uma tendência para que a ideia generalizada era a de que precisávamos de tecnocratas; gente de inquestionável valor técnico, quer este fosse académico ou experiencial no que toca ao mundo real, e que estivesse afastado o mais possível sem que lhe fosse absolutamente alheio do mundo político.
Este desejo foi mais ou menos atendido e, passado algum tempo, os tecnocratas, afinal, não era bem o que se precisava, seria necessário o regresso dos políticos (como se eles tivessem ido a algum lado).
É esquisofrénico mas quase tudo é esquisofrénico.
O que me parece?
É uma resposta difícil porque nada é preto e branco.
A vantagem dos tecnocratas (vou partir do princípio de que são todos competentes) é que têm uma conhecimento técnico aprofundado sobre as respectivas matérias e saber como as coisas funcionam é sempre uma vantagem e quanto mais se souber melhor. Além disso, no imaginário, são pessoas sérias que se dedicam a fazer uma determinado trabalho e não têm por finalidade os votos, algo mais emocional e para o que estão menos preparados.
A desvantagem dos tecnocratas reside, como acontece com frequência, nas suas virtudes. Quero com isto dizer que o enorme e profundo conhecimento técnico é um entrave à inovação; é muito difícil a quem vive embrenhado na solução de determinados problemas para os quais estão profundamente preparados entender que os problemas podem não ser aqueles mas antes parecidos. E tá tudo fodido.
Todo o ensino é doutrinação e quanto mais peritos formos no ensino mais peritos somos na doutrinação. É uma pescadinha de rabo na boca mas...as coisas são o que são.
Por exemplo:
não me causa qualquer problema que o ministro das finanças seja um tecnocrata (embora a cada dia que passa tal se torne cada vez mais discutível) mas já tenho problemas que ele mande mais do que o que deve.
Por natureza, e isto é sempre susceptível de excepções, a um tecnocrata falta-lhe visão.
Wednesday, June 05, 2013
Irritação
Com o passar dos tempos fui optando por transformar a potencial irritação em pequenas anedotas que me façam rir pela sua estupidez. Consegui, assim, limitar em muito esta minha propensão para me irritar e, de caminho, tornar a minha presença social menos fracturante.
O que acontece, contudo, é que não me transformei num banana e, às vezes, tenho a sensação que esta minha táctica é óptima quando funciona mas quando falha potencia mais o meu mau feitio.
Porquê?
Vamos imaginar que eu conheço um idiota qualquer. Esse idiota irrita-me mas, com esta minha nova táctica, acho engraçado que alguém possa ser tão idiota.
Este idiota passa, então, a mostrar a sua idiotice em maior esplendor e, já muito consciente, continuo a rir-me disso, continuo esta substituição que se destina a tornar a minha vida e a dos outros mais fácil.
Até aqui, tudo em perfeito funcionamento.
Imaginemos, agora, que este idiota passa uma linha invisível que, em boa verdade, posso nem ter visto a aproximar-se e, nesse momento, deixo de achar graça para voltar ao meu antigo e irritável procedimento.
Porque será pior?
Então: neste momento em que perdi a rédea da graça ficarei dulpamente irritado.
Primeiro porque o tipo é idiota, o que eu sabia desde o início.
Segundo porque tolerei um idiota quando não o devia ter feito, o que faz de mim parcialmente idiota, pelo menos.
E a lava sai em dose dupla...
Monday, June 03, 2013
Subserviência?
Não conheço outro país onde as pessoas se esforcem tanto para comunicar com os estrangeiros na língua destes. E tal não se limita a estrangeiros que cá desaguam, o mesmo se vê quando são portugueses a mandar-se para outro lado.
Repare-se, por exemplo, os falantes de espanhol que por cá se encontram e vamos colocar a nossa atenção nos jogadores e treinadores. Continuam a bombar em castelhano sem que se note qualquer esforço para o fazer na língua de Camões.
Repare-se, então, nos treinadores portugueses que se mandam para fora do país. Nos países em que se conseguem ligar à língua (estou aqui a deixar de fora os Árabes e os Alemães e os Russos) tentam sempre fazê-lo. É ver, por exemplo, o Mourinho a comunicar ou a tentar fazê-lo em Inglês, primeiro, em Italiano, depois e em Espanhol, por fim.
Eu fico com um amargo de boca, quando penso nisto.
Se por um lado acho cosmopolita esta nossa facilidade com línguas e em ser amáveis com pessoas de outros países, por outro sinto, de vez em quando, como um atestado de menoridade.
Quem visita um outro país deve ter em atenção as suas tradições onde se inclui a língua. Não é que devem aprender todos os idiomas do mundo mas quando param tempo suficiente num país que não é o próprio parece-me elementar tentar comunicar na língua local.
Em contrapartida, se nós temos mais facilidades em adaptar-nos a eles, por que não o deveríamos fazer? Para provar um ponto de vista? Talvez.
É absolutamente espantoso, por exemplo (e contra mim falo) que quer um português vá ao Brasil quer um brasileiro venha a Portugal é sempre o mesmo que tenta adaptar-se ao linguajar do outro...e nunca é o brasileiro.
Saturday, June 01, 2013
Drones
Esta discussão tem vindo para a praça pública e levantado muitas dúvidas quanto à legitimidade de utilizar estes aparelhos de guerra e quanto à própria forma como se usam.
Uma das partes mais interessantes da coisa é que é um Prémio Nóbel da Paz quem faz o apanágio da sua utilização e quem os guia, metaforicamente.
Perante a indignação generalizada quanto a este facto, tenho a dizer que a única coisa que me faz alguma confusão é o Obama ter aceitado o prémio. Era evidente que não poderia fazer jus a este epíteto quando, à data, já estava envolvido em duas guerras.
Esta tentativa de o condicionar foi, também ela, evidente e mais evidente (uma terceira vez, tão clara é a coisa) era que ele não aceitou comprometer-se em totnar-se a Madre Teresa como demonstrou no próprio discurso de aceitação.
Outra parte que me parece interessante é que fosse Bush a dar tanto uso aos Drones e talvez a coisa fosse menos bem aceite do que é agora.
Aqui, o que me parece é que se junta a cor do Obama, o facto de ele ser, de facto, cool, hip e com mais sentido de Estado, bom-senso e inteligência.
Ainda assim, não é descabido pensar que o mesmo assassinato tem pesos diferentes dependendo da mão do assassino.
A terceira coisa interessante é a inevitabilidade.
Não me parece plausível que os Drones, por muita pressão que se faça ou venha a fazer voltem a não existir. O coelho saiu da cartola, nada há a fazer.
Nem mesmo os americanos que são contra a utilização de Drones poderão dizer que não quando confrontados com a pergunta se preferem comprometer um pouco (ou muito, depende das perspectivas) a sua integridade ou que morram mais soldados do que o que seria necessário. Pergunta ingrata mas inevitável.
Os Drones são o passo seguinte à, por exemplo, Internet.
Parece que estamos todos ligados com a humanidade mas a humanidade é uma outra coisa.